quarta-feira, 2 de maio de 2012

Leve


A passagem custou vinte e dois reais e noventa centavos.
Coloquei vinte e três reais sobre o guichê.
Dei uma esperadinha e o sujeito - me dando o bilhete - disse:
Plataforma três, obrigado.
Eu não reclamo, assim como meu pai, que tirou todas as medidas para fazer um terno com o alfaiate e depois de uma semana recebeu o terno totalmente menor do que o seu corpo.
Meu mestre guardou o terno no armário e nunca usou.
Depois de algum tempo fez dele, uma doação.
A gente não reclama porque já clamou ao fato de achar que a gente não leva nada desse mundo.
Também por certa preguiça,  na certeza que existe muita gente que reclama e reclama forte.
Clamo a mim mesmo que a minha paciência não se esgote.
Minha irmã faz anos hoje e a ela dedico uma sequência interminável de palavras para que ela vá compreendendo todos os instantes que nos cercam e que nos une.
A união faz açúcar e o doce que há nele enfeita a festa que vibra dentro da gente.
A moça de lindo feitio, faz barulho e me ensina a desembaralhar as palavras.
Noutro dia o remédio custava sessenta e oito reais.
O moço deu um desconto e ficou por cinquenta e quatro.
A moça reclamou:
Na concorrente eu não comprei por quarenta e oito.
O moço replicou:
Eu posso chegar até quarenta e dois.
A moça docemente revestida de sorriso, disse:
Eu mais leve, levo