terça-feira, 1 de maio de 2012

Massa fina


Vendo a máquina de macarrão.
Não vendo de vender, mas vendo de observar de perto.
A receita perfeita para que nada grude.
Depois, passo a passo, rodada a rodada no botão de espessuras, a massa vai afinando, afinando, até  tornar-se fina como sua fina estampa.
Precisa-se esperar o tempo de um banho quente para poder colocar a massa no rolo específico para transformá-la em espagueti.
É necessário que a massa esteja mais seca para melhor desempenhar essa tarefa.
Assim somos nós, para nos transformarmos em alguma coisa mais saborosa.
Precisamos de um processo sutil, precisamos de ingredientes finos para nos moldarmos a coisas mais refinadas - não no sentido fútil - mas no sentindo mais próximo do refinamento da doação desinteressada.
Note que o desinteressado não é desinteressante.
Interessa-nos a competência que nos torna aptos a imprimir no outro a nossa marca, já que é imperativo  deixarmos que ele imprima a dele na nossa.
Essa é a dialética do ovo com a farinha, do sal com o açúcar, do coração com o cérebro, nos conectando aos beija-flores e aos morcegos comedores de frutas.
A massa deita-se na água quente da panela e ali esperamos ela boiar suavemente.
Colocamos as palavras na fervura e as mais leves boiam na nossa panela de ferro.
No prato elas exalam seu perfume textual.
Após o banquete, deixamos tudo limpo, usando algodão, bucha de espuma e a pele da palma lisa da nossa mão.
Essa que é pouco acostumada aos chicotes, aos açoites e aos duros espadins que cortam mais do que acariciam


Foto de Diana Della Nina Malimpensa