segunda-feira, 30 de abril de 2012

Cachos d'água


A chuva cai lá fora e o desejo de tomá-la é grande.
Tomá-la no colo, no dorso e na cabeça.
A chuva que cai cinzenta vai iluminando a poesia.
Limpa o ar que a gente nem mais percebe poluído.
O ar que a gente consome no meio de tantas outras coisas aparentemente mais complexas.
Latas de massa de tomate, latas de refrigerante, lixo orgânico, plástico, vidro e metais.
No monte de entulhos despejados pelos caminhões a gente não saberia o que pegar primeiro, a título de selecionar o que mais nos interessa.
Não interessa mais - a gente joga fora.
Eu adoro pegar tudo o que é jogado fora, pra colocar dentro de uma composição harmônica e equilibrada.
Equilibramos os nossos instintos e gostos usando um pouco do senso que ainda nos resta.
A chuva cai lá fora e a cidade escorre pelas impermiabilizações que oferecemos ao solo.
A bailarina em solo, coreografa o seu gostar de pegar coisas pequenas na rua no tempo da sua infância.
O sol resseca - e a chuva - cachoeira.
No meio de tanta sujeira, ainda nos resta o olhar.
Os olhares que chovem pra dentro - nos nossos corações marejados - levemente salgados no temperamento do espírito