sexta-feira, 30 de março de 2012

Mudares


Deve-se mudar a muda.
Deve-se falar da muda.
Deve-se e eu quero pagar pra ver.
Uma muda de uma plantinha que ganhei no dia dos professores raiou como raia os sóis.
Lá está ela, toda muda e falando tanto, nada quieta.
A menina perguntou-me se eu não tinha uma muda de tênis.
Respondi que não.
Tenho apenas esse mudo, que me fala do amor falado, vindo da minha pequena grande bailarina.
Dura que dura bastante e muito.
Dura e doura meus pés que já andaram bem mais do que andam hoje, porém ainda dão muito pé pra manga.
O pé de manga também já foi muda e hoje cresce junto às crianças da escola pública.
O público gosta dos desenhos pequenos que vivem pendurados nas minhas pernas.
A menina também adora.
As pernas finas que são sustentadas pelos meus pés bonitos.
Dentro desse corpo e rosto de beleza complicada, mora uma coisa que gosta bastante dos pés bem desenhados.
Essa coisa doidinha acha de encontrar encanto em todas as perguntas.
Quando pús pela primeira vez meu par de tênis, meu filho professor exclamou:
Foi minha irmã que te deu!
A certeza vinha das impressões branquíssimas quase gritando:
Cheguei!
A bailarina gosta das coisas que chegam assim.
Hoje as coisas não são tão alvas nem tão verdes, mas a mudez sincera vem apresentar-se de forma clara.
Ando a precisar de mais calçados, porém só voltarei a pensar nisso após as calçadas serem revestidas com menos famintos, menos pepelões e muito, muito mais sementes que acontecem mudas