sábado, 24 de março de 2012

Criado mudo


Uma churrasqueira chinesa.
Um buraco no meio da forma por onde passa a chama da boca do fogão.
A gralha encaixa-se em cima.
Qual a diferença que existe entre fazermos um peixe na grelha, ou o fazermos no forno?
O trabalhão que dá pra limpar a grelha com os grudes das postas.
Dá um trampo danado limpar as coisas.
Sujar é a coisa mais fácil do mundo, difícil mesmo é arranjar gente disposta a oferecer o seu tempo para a limpeza.
O sujeito achou que fazer limpeza era exterminar dezessete.
O que nós estaríamos dispostos a oferecer do nosso bem bom para promover o bem bom do outro, que normalmente encontra-se num mal ruim?
É difícil compartilhar.
Partilhar a mão esquerda e a direita, partilhar o emocional e o cognitivo.
O povo continua não entendendo o meu fiesta noventa e nove.
Continuam não entendendo o automóvel e não entendendo o fato que diz que eu adoro os seus mecanismos portais à mostra.
Adoro as suas pequenas batidas, riscos e trincas no vidro da frente.
O meu carro é a coisa mais inteligente que conheci desde que o encontrei.
Ele me dá aulas de matemática financeira e sobre a safadeza do mercado.
Entendam como quiserem.
Limpar a poeira da porta traseira deve ser como a japonesa que desenhou a atriz limpando o pó do seu gol vermelho.
Tira-se a poeira das áreas escuras da imagem e a figura aparece como por encantamento.
Busquemos pois tirar o pó do nosso porta malas.
Os assuntos sobre os quais me debruço são chatos e vivo tentando por em prática a filosofia anterior.
Venho tentando, com renovado esforço, limpar a mim, criado mudo