quinta-feira, 31 de maio de 2012

Dado o fato


Fui assinar um papel e constatei que hoje é dia 31.
Um dia 13, ao contrário.
A minha cabeça fica feliz com essas relações que parecem místicas, porém são apenas estéticas, bonitas de se achar bonita quase que sozinho.
Quase.
No almoço comi pela primeira vez um purê de abobrinha.
Doce de doçura sua.
Depois de meia hora de explicação desenhada, falada e redesenhada, sobre como colocar seis quadrados agrupados no canto inferior direito de uma folha branca de papel sulfite, a menina me perguntou se era pra fazer, realizar e colocar na prática.
Eu disse que não.
Tudo aquilo era apenas um exercício solitário de animação abusada e que depois que eu fizesse surgir - dos seis quadrados de papel - um cubo com seis palavras, uma em cada um dos lados, o faria rolar quatro vezes e a partir de cada palavra que fosse sorteada daria forma a uma frase.
Até hoje a gente aprende na escola que um conjunto de quatro versos é uma estrofe.
Hoje é dia trinta e um?
Amanhã eu termino o poema de um junho dado 

quarta-feira, 30 de maio de 2012

O mito


Houve a observação:
Numa mesma família, com a mesma criação e o mesmo carinho, assim mesmo os filhos são muito diferentes entre si.
Observei que tudo pode diferenciar-se num segundo.
De repente, zás e um indivíduo emudece, obscura-se, torna-se alvo do seu próprio medo, por exemplo.
Quem observara antes, comunica sobre os estudos do cientista psicanalítico em camundongos.
Várias explicações podem ser dadas para que, na mesma família, as pessoas sejam muito diferentes.
Escrevo tudo isso para dizer que eu aprendo com tudo o que ouço, tateio, provo pelo paladar, pelo cheiro, e por tudo aquilo que vejo.
Venha a informação de onde vier, mas principalmente dos pensadores céticos e ateus.
Amo a superficialidade com que trato as coisas, já que apenas para o aprofundamento tenho alguma preguiça.
Amo a pele das coisas e adoro professar inventando.
Invento moda, a de viola e a de vestir, invento histórias, invento tudo o que posso imaginar com algum sentido.
Adoro o pensamento ateu, para poder ver espiritualidade em tudo.
Ao experenciar algo inusitado, algo parecendo almático, acho lindo pensar como os ateus tratariam o tema, afinal, eles são profundos conhecedores do que é profundo.
O problema dos meninos e meninas hoje, foi personificar o conhecimento, ou um sentimento e escrever, escrever, escrever.
O conhecimento adentrou a caverna iluminada e desprendeu-se totalmente do problema, que ele originalmente havia criado

terça-feira, 29 de maio de 2012

Caminho às voltas


Eu admiro a poesia, adorando-a.
Aprecio demais não ir direto ao ponto, porém o problema relativo ao ponto deve - por mim - ser resolvido.
Nada mais tenho a dizer além da beleza que existe no caminho da resolução.
Ser direto é ser aquilo que toda a selva e a floresta prescrevem na sua natureza.
Alguém não acredita na natureza humana, mas põe fé na sua criação.
Eu boto fé na minha.
Fui convidado para ministrar um dia inteiro de uma aula sobre criatividade.
É possível um violão ser uma faca colocada inteira na faringe - com a ponta para cima - sem derramamento de sangue?
Eu não irei direto ao ponto de jeito nenhum.
Apontarei minhas caravelas para equilibrarem-se no fio da navalha.
Quando chegarem no final da lâmina, restará a elas apenas a pele que reveste a garganta.
Não restando mais alternativa ao homem, ele as vomitará para o paraíso

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Botens


Na periferia, árvores.
Pra lá das casas e dos fios.
Na cidade - no centro cheio de fios e cabos - cortem todos os caules, galhos e raízes.
Mesmo que a gente não veja, cortem as raízes.
Que imperem os fios, os cabos e a eletricidade.
A eletricidade tem a cidade até no nome - imaginem - deixem apenas o asfalto, os postes e os fios.
Árvores apenas onde eletricidade não exista.
Nenhuma árvore nas vias, nas calçadas, no canteiro central das avenidas de mão dupla.
Nada de árvores entre a gente.
A gente só quer comodidade, rapidez, água fora das galerias, já que essas, estão entupidas por nossos entulhos.
Corredeiras com as águas de março e as de qualquer outro mês que as tenha.
Inundação de bens de consumo urgente pra nós todos que somos gente urbana, árvore nenhuma.
Chega de hipocrisia minha, chega mais, chega mais perto.
Os botões da blusa que você usa parecem aqueles que são guardados pela redinha, que por sua vez são guardadas na perua, que nada tem a ver com você

domingo, 27 de maio de 2012

Eros


Há uma encosta onde - você estando em pé - avista o mar e todos os barcos e navios caminhadeiros.
Existe um ponto onde a gente pode avistar tudo o que quer.
Normalmente vemos exatamente o que queremos ver, e desse ponto, enxergamos perfeitamente os nossos acertos.
Acertei de longe um insetozinho que se resguardava na porta do armário.
Essas histórias de acertos existem tantas quanto as dos pequenos erros.
A medida dos erros, quando não exagerados pelo ódio e pela raiva, podem e devem ser repensados na reação do perdão e do reacerto.
A conta de luz pode vir pelo email.
Recomenda-se essa prática para que haja menos consumo de papel.
Talvez se tenha feito a mesma relação com a dispensa das sacolas plásticas nos supermercados.
Aqui, tanto no erro como no acerto, o esconder a verdade é preservado 

sábado, 26 de maio de 2012

tíquete


Um tíquete amassado dentro da pequena caixa de papelão.
Sem ele a cancela não levanta e o carro nai sai pra rua.
A pressa das criaturas no trânsito é pressa e impaciência.
Reclamamos da velocidade com que o nosso computador se comporta, nos comportamos a essa realidade e nos impacientamos em todas as situações que nos são impostas.
O rapaz disse que não tem nada pra fazer - sozinho em casa - e ficou vinte horas jogando seu novo game no celular inteligente.
Amanheceu um dia lindo de outono.
As carcaças dos orelhões estão cobertas por expressões variadas de artistas diversos e espalham-se pela cidade.
Existem muitas pessoas se expressando em desenhos e pinturas, por todos os cantos.
Na hora necessária o papel amassado não foi encontrado.
Estava escondido embaixo de uma das garrafas plásticas, justamente para ser encontrado na cozinha.
A tesoura de pior corte é deixada ali para usos mais rústicos.
O bebê que descansa no carrinho já sabe usar o botão de entrada

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Aos baldes


Um elefante subiu no telhado.
Os jovens expressaram suas ideias sobre a nocividade do consumo de álcool.
Alguns com mais ideias do que outros e todos com alguma paciência.
Um pensador das inteligências múltiplas falou sobre a capacidade que todos nós temos para resolver problemas.
Fiquei pensando até hoje, que a percepção dos problemas e até a proposição deles, têm a mesma importância do que as suas resoluções.
Uma imagem me chamou a atenção:
As pequenas mãos de uma criancinha tentava encaixar aquelas peças piramidais, cúbicas e paralelepípidicas nos buracos opcionais da tampa do balde.
As mãos tentaram uma, duas, três vezes e depois tiraram a tampa com um tapa certeiro e jogoram todas as peças pra dentro do balde.
Uma fantástica resolução para problemas contemporâneos

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Sentista


Pedi para que imaginassem um objeto visto por todos os ângulos possíveis, sendo desenhado apenas no plano único do papel.
Sonhei que soubessem que anteriormente, os artistas desenhavam os objetos numa única perspectiva.
Essa imaginação, fora e dentro de todos os lugares das coisas, é muito que mais que bonita e interliga o fundo e as figuras, como quem une a alma ao corpo escancarado.
Um cubista analítico pensa.
Tem uma beleza intensa, poética e objetiva, lírica e racional.
Uma garrafa térmica descansa sobre a toalha lisa da mesa de madeira e fórmica.
Os pobres a tem vazia, de um vazio seco, que umedece os olhos de quem imagina e de quem assim, só sente

quarta-feira, 23 de maio de 2012

deu a nós



Já escrevi que deus é o deu no plural. 
Deus.
Doação total a si e ao outro, deu-nos.
Como é fácil agradar a mim.
Difícil talvez seja ser dócil ao outro sem ser escravo do seu.
Um abraço apertado é feito de braços entrelaçando as almas.
Um espírito poético, difícil e fácil.
Uma realidade provável e inquieta

terça-feira, 22 de maio de 2012

Entre as vistas


Assisti o momento da entrevista onde a moça revelou ter sido abusada sexualmente até os treze anos.
Fiquei com a palavra adulto na cabeça.
Sendo verdade que as pessoas não conseguem mudar quase nada em si mesmas no andar do tempo, decidi pensar no adulto como uma criança grande.
A diferença óbvia é que a pessoa com mais idade tem uma variedade muito maior de experiências no seu repertório do que uma criança.
As experimentações: traumas bons e maus que um adulto tem, deveria dar a ele condições de tomar decisões mais sábias, porém parece que na ansiedade de satisfazer os seus próprios desejos, o adulto acaba perdendo o senso de civilidade que permitiria uma vida em sociedade mais terna.
Deveria e permitiria, porém o amor ao próximo como a nós mesmos vai se distanciando cada vez mais da realidade.
Não apenas nas situações mais terríveis, como abusos, torturas, decapitações e martírios, mas também nas situações menos escabrosas onde deformamos a integridade do outro, deveríamos transformar nosso comportamento egoísta - autoritário.
Você deve estar observando que eu já escrevi sobre a imutabilidade do nosso jeito egoísta de ser, portanto, deve estar pensando que não há como nos civilizarmos em real medida. 
Não poder mudar - quase nada - ainda permite alguma mudança.
Olho do segundo andar do prédio onde moro - por cima do monitor pequeno - e vejo uma barra de chocolate meio amargo descansando sobre o braço do sofá.
Não posso comer nem um pequeno pedaço da barra, afinal se o fizer, perderei a doutrina do meu regime antiaçúcar.
São dois os meus desejos.
Um é o meu gosto apurado por doce e o outro é prolongar ao máximo, a trajetória dos meus passos sobre essa terra tão querida.
Tudo isso não garante nada, mas a minha convicção aprecia a ideia do bom senso e a noção dos fatos

segunda-feira, 21 de maio de 2012

coração vermelho sem vergonha


Anda fatigado com tanta imaginação?
Não há como fugir, nem há como fingir.
Elas estão aí pra quem quiser e puder, para quem vir e quem vier.
A fadiga não está na imagem em si, mas está na nossa pressa.
A gente a vê tão rápido, ou ela passa bem rápido?
A imagem que passa e a nossa cara de paisagem, ambas estampadas no face.
Essa expressão só pode vir da observação de uma paisagem silvestre - a cara de paisagem.
Uma paisagem urbana e central não nos permite uma cara passiva.
Uma cara agitada para um cara agitado é tudo o que podemos pensar de são.
A sanidade tem movimento, tem cores transpassando a nossa mente e somente assim é possível agir.
A ação vibrante, a ação veemente e contundente que não permite o movimento silencioso da rede.
Estamos em rede, porém não aquela que balança lenta, mas aquela que faz balançar a cabeça e o corpo todo.
Silêncio é para o agir dos inocentes.
O barulho da imaginação traz fadiga ao mais ingênuo, ao mais tranquilo e ao mais sonolento.
Tanta imaginação é capaz de fazer alguma coisa rústica e sutil.
Fazer é a questão singela do pós movimento pensativo.
Não é uma ação fútil, nem útil.
É o inútil resultado da imaginação.
Uma inutilidade que faz a comunidade toda ficar com cara de paisagem fotográfica.
Estática e estéril.
A fotografia não é um bom exemplo já que para atender o seu fazer foi preciso alguém novo.
Alguém sem preguiça nenhuma.
Alguém com a intenção da produção do imaginário.
Alguém que com o olhar sacou a coisa e mais do que a coisa fez

domingo, 20 de maio de 2012

Meramente


Falo das energias positivas e negativas.
Um amigo fala da sua dificuldade de relação com deus, mas também diz que a sua espiritualidade tem respostas na arte.
Arte não é religião e a arte responde muitas das nossas perguntas complexas.
Estamos carregados de energia negativa, ou essa energia nos é posta em contato?
Esse contato tateia nossos corpos entristecendo-os?
As duas situações caminham lado a lado, porém algumas pessoas têm mais contato com a positividade e emanam energia positiva em forma de carisma.
Eu adoro isso.
A energia positiva, já que o negativo é inevitável.
Na hipótese do ódio estar impregnado no gene humano e ser ele que perpetua a espécie, a energia positiva dá muito mais trabalho para ser incorporada.
A energia negativa seria intrínsica e a positiva seria construída.
Tenho certeza que a arte contemporânea trabalha bastante com a estética do feio, porém valorizo - deveras - a estética do belo.
Belo pra mim é um estado de inteligência emocional e cognitiva.
Obviamente esse belo do qual falo, tem muito mais riqueza do que tudo isso e aquilo que é meramente bonito


sábado, 19 de maio de 2012

Direção e sentido


Qual o sentido?
Tudo aquilo que deixarmos para os outros no sentido domiciliar, municipal, regional, estadual, nacional, mundial, ou planetário.
Vamos deixar mesmo.
Vamos deixar tudo isso e deixaremos algo na memória, ou na remanipulação de alguém, ou da comunidade.
Passamos o tempo que for, pensando e agindo sobre as coisas, deixando ideias, ou objetos que serão reagidos com as ideias de quem ainda estiver por aqui.
Quantos já foram e já me deixaram tantas coisas.
Meu pai, o tortelo, o mantovani e tantos outros, em bombocados, poses e frases.
O sentido é esse, sem nenhuma dúvida.
Fazemos tanto sentido a cada instante.
O momento me sugere a frase e a poesia constante fora da estante.
A estante é estanque e não me leva a crer que tudo acaba e pronto.
Está posto que eu adoro ver e sentir as coisas complexas surgirem tão simples.
Quero olhar para o seu olhar e perceber que olhas bem próximo.
Não um olhar igual, mas um olhar mais próximo.
Ao nos aproximarmos muito do objeto analisado - tomamos a sua forma aos goles - para que com ela toda por dentro, possamos transpirar um pouco do seu sentido

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Mesa de um lar


Hoje vou escrever sobre a viagem que alguém fará até o outro lado da rua.
Por mais que o sujeito observe, ele não estará totalmente seguro que não aconteça algum acidente no atravessar a dita.
Acidentes são assim, imprevisíveis.
O imprevisível não pode ser previamente visível e sendo assim, não há como descrevê-lo antecipadamente.
Exatamente o contrário da coisa poética.
Nela, a coisa nos aparece totalmente visível, mesmo que não possa ser vista por todo mundo.
A poesia é pré visível.
Quando coloquei um violão no centro da sala e perguntei aos alunos o que eles viam, logo uma garota respondeu:
Eu vejo a poesia do objeto.
Quando coloquei uma cadeira no centro da sala, um garoto foi logo dizendo:
É a espera.
Muitos disseram:
É um violão e é uma cadeira e os muitos continuaram insistindo na ideia que lhes foi imposta pela comunidade.
Além de ser pré visível, a poesia não é imposta, ela é a resposta da visão.
Nela, as coisas são postas numa nova ordem.
Talvez seja por isso que eu adoro o termo postar e mais ainda o respostar.
Acabei de ver um carro branco novinho, com inúmeros adesivos cobrindo a lata do lado direito que cobre a roda e o pneu.
O dono deu a resposta ao meu gosto de cobrir meu automóvel inteiro com sobras de adesivagem.
Aquele sujeito acabou de atravessar a rua e lancha sobre a mesinha do bar da esquina

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Pratos


Um prato cheio.
Muita coisa gostosa sobre a mesa e um copo com água.
Não que o copo com água não seja gostoso, porém foi posto ali, sozinho.
Uma tampa plástica - daquelas que fecham doces de padaria - hoje cobre o copo.
Tudo ali, transparente.
Não posso nem derramar sobre a mesa, o queijo branco fervido na torradeira.
A toalha plástica foi dada por pessoa importante e, além disso, se ficar retorcida perderá sua transparência e graça.
O que eu tenho deixado cair sobre mim, na maioria das vezes, é pena.
Não a pena que se sente as vezes, mas a pena do pássaro que é delicada pluma.
Não tem caído nada muito pesado, ou pelos menos não tenho sentido peso na cabeça.
Hoje - na toalha - não caiu nem pequenos restos de arroz, ou feijão.
Na toalha pousaram sabores, cheiros, temperos.
Temperei com azeite o tomate.
Não gosto de colocar sal na comida depois de pronta.
Estando pronta, está pronta.
Pronto!
A vida é como textos, ela escreve pelos solados dos sapatos.
É ela quem escreve, a gente só traduz.
Esse conjunto de palavras é muito difícil de traduzir?
Você ainda não achou o significado do prato cheio?
Talvez ele esteja acompanhando a vida, pra depois poder dizer sozinho, com o que ele quer encher-se amanhã.
Se o vazio também chamar-se prato, talvez precisemos olhar por mais tempo, o nosso solado

terça-feira, 15 de maio de 2012

Do plástico


Uma dobra no papel e um corte.
Surge um ângulo onde um pedaço encontra o outro.
Um pedaço do desenho começa num ponto e atravessa a angulação necessária.
Dependendo do seu ponto de vista, você tem uma nova percepção da figura.
Vivemos assim, reformulando a nossa perspectiva de acordo com a transformação da nossa posição em relação aos fatos.
Nada permanece alvo e tudo permanece alvo.
Atiramo-nos sobre as coisas naturais, a fim de darmos formas às nossas ideias.
Dependemos da ação sobre as coisas.
Que essa ação possa ser menos predadora.
Não é necessário que acabemos com os recursos que nos são oferecidos pela natureza autruísta.
Acabados os recursos, não existe forma a ser construída.
Seremos somente nós, agredindo aquilo que restou para ser agredido, perfurado, amarrado e deformado.
Estamos percorrendo esse caminho de auto agressão?
Não há como consertar esse excesso?
Parece não haver forma de equilibrarmos as nossas balanças.
Na minha cidade existe uma placa na frente de um escritório de advocacia, uma balança que pende para a esquerda.
Um símbolo realista da justiça hipócrita e tendenciosa que nós, no nosso ofício egoísta, tendemos a exercer.
Tentemos estender nosso desenho ao traço do outro para que possamos construir uma nova imagem, com alma e espírito


segunda-feira, 14 de maio de 2012

Um dia depois



Eu sei como começar esse texto.
Aqui vou eu, escrevendo além do coração, nesse presente instante, pretendendo chegar no aniversário das estrelas.
O presente do artista é a sensibilidade de quem vê por dentro o seu produto.
Mudar uma vida através das imagens, nos leva a pensar na competência do fundo.
O fundo dos momentos fáceis e o fundo dos difíceis, são os olhos do profundo sentimento de amor que nos une.
O esquecer nos lembra a necessidade de seguirmos qual guerreiros em trios, em conjunto, em frente.
Um saguizinho, um burro e um cachorro, vagam felizes pela selva da cidade.
O moleque vê a cena e vai – assim como vai um adulto – realizando os planos e os sonhos, de forma a modificar o que pensa e sente que deve ser modificado.
Não há música mais bonita do que um bom dia anunciado com o coração embebido na alma solta e abraçadeira.
Parabéns para todos nós que nos irmanamos ao vento, soprando e sendo levados como as folhas secas.
Talvez sejamos folhas, de uma secura que vai reunindo-se à outras, reanimando o solo para novos plantios 

domingo, 13 de maio de 2012

Dai a luz


Uma ideia na cabeça e uma caneta de tecido na mão.
Um dia de festa para as mamães e para o pano bege que espera o traço.
Tomara que seja uma festa para o suporte a ser preenchido, afinal existe muita dedicação para com ele, que não resiste a uma investida dos traços, formando uma nova figura.
Que eu possa ser sempre uma nova figura, melhorada sem borracha, a cada traço - passo encaminhado.
Desmaiado não sou.
Sou maio e nas quinze e quinze de curitiba.
De hoje e daquele dia.
Daquele dia e no caminho da construção de um suporte novo, eu que suporto a mim mesmo, buscando rabiscos que me preencham o campo.
O desenho de um dia é o resultado dos outros tantos.
A moça observa tudo com muito brilho e ciência, com o acessório certo para as horas incertas.
Eu, agradeço a elas, pelas mães que são e por aquelas que ainda são, mesmo tendo partido.
Parto o doce e divido o empenho.
Agradeço o instante, que a luz transforma

sábado, 12 de maio de 2012

Pra boi acordar


Nem tão bela, nem tão feia.
A história deve ser recontada.
Sendo verdade que quem conta um conto aumenta um ponto, ao recontarmos todas as nossas histórias vamos ganhando mais pontos no coração.
Os pontos aumentados, ou acrescentados, vão ampliando as possibilidades de intercâmbio das ideias.
Não apenas as nossas ideias, mas as ideias dos outros que costumam alimentar o nosso acervo poético e dar nova luz aos nossos passos.
É claro que - algumas vezes - somos realinhados e movidos para recontarmos nossa história por investidas menos edificantes das ideias dos outros.
Tudo isso é mola, é mote e motivo para observar o abraçar de palavras que tanto signficam, umas para as outras.
Um história aparentemente sem importância importa em nós sabedoria e ânimo.
Estou parado por alguns instantes vendo de longe uma garrafa de plástico ao lado de um sanduíche de mortadela.
Os dois descansam sobre uma toalha bordada em cruz, com linhas brancas, vermelhas e azuis.
A gente que pediu o prato não existe mais na cena.
Foi embora enrolar a massa do pastel deixando no local a esperança do menino, que antes guardava os carros na frente do estabelecimento


quinta-feira, 10 de maio de 2012

Dínamos


Uma estante cheia de livros é quase uma utopia.
Dá um google e pronto.
Temos estante de livros, carros, brinquedos, palavras, ventos, vasos e periferias.
Estamos grudados numa estante previsível, onde cada supermercado possui determinadas marcas de todos os produtos.
Cada centro nos oferece um tipo de produto, definindo as classes e o losango que mostra o inchaço da classe média.
Cá estou eu, perambulando por muitas delas, comendo com a mão e garfos de prata.
O que significa uma leiteira?
Não temos nem tempo para sentarmos todos juntos ao redor da mesma mesa doméstica.
Teremos tempo para colocarmos diretamente sobre a mesa a panela que a gente usou para ferver no fogão, ao invés de sujarmos outra leiteira de porcelana?
Uma senhora refinada e altiva, jamais vai aceitar esse meu processo despojado e desleixado.
Mesmo assim, a teimosia taurina insiste em dispensar as estantes.
Guardarei as minhas caixas de papelão nos pés da cama.
Ainda sobrará espaço para eu continuar inventando espaços para participar dessa festa dinâmica 

quarta-feira, 9 de maio de 2012

De vulgar


Uma incorrigível vontade de acertar.
Hoje lemos um texto escrito com um vocabulário difícil para os jovens compreenderem de imediato.
Fomos lendo e interpretando, no sentido de facilitarmos a tradução de cada palavra mais complicada.
Fusão, antagônicas, medieval, renascentista, contraste, feísmo e todos os demais verbetes passíveis de dúvida.
Precisamos a correlação entre os termos e assim, observamos o gosto do barroco pelas contradições, pelos contrários, pela ideia do antagonismo entre razão e fé.
É por tudo isso que amo as diferenças, as ideias divergentes, o feísmo e o bonitismo, as glórias e algumas derrotas.
Amo a mistura, o encadeamento das palavras e seus significados.
Amo as relações.
A intensidade e o rebuscamento da linguagem já gosto um pouco menos, porém não desprezo, acrescento.
O nós no início do texto é assim como eu gosto, no plural do eu, do tu e do nós todos.
Ao encher de traços um pedaço de tecido, não procuro mostrar as faces racionais, ou irracionais.
Procuro encontrar motivos para desaprender tudo isso e reinventar o que já foi amplamente divulgado

terça-feira, 8 de maio de 2012

Macas


Com os meus olhos fechando de preguiça e não restando mais tempo antes de dormir o sono dos justos, resolvi escrever apenas umas poucas palavras para o dia não passar em branco.
São elas:
Lápis, tesoura, borracha, papel, toque e imaginação.
Um lápis colocou-se na mão da pessoa e essa, enfiou dois dedos na tesoura prateada e cortou em pedacinhos a borracha verde.
Colou todos os pedaços no papel de pão que embrulhou os ditos.
Despojando-se da tesoura, a pessoa tocou levemente a imaginação daqueles que preparam-se para sonhar com as coisas que descansam nos armários, loucas para despertarem do silêncio 

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Pregas


Eu sou um contador de histórias.
A última é que o zelador do prédio onde eu moro já sabe quais os moradores que fazem questão de deixar aberto o portão automático ao sairem com seus veículos.
Disse ele que não são um, nem são dois, são vários.
O filósofo no café não menos filosófico, discursava ontem sobre o ódio ser um recurso vencedor na evolução da espécie humana, pensando na teoria darwinista.
Há guerra porque há ódio e tudo isso faz com que o humano sobreviva nessa terra de ninguém, ou de alguéns mais odiosos e raivosos, que vão se impondo à força sobre os mais pacíficos.
Com certeza, até entre esses existem os mais bravos e os mais rancorosos.
Sigo em paz, observando de perto e de longe esse andar das várias carroagens, hoje não feitas mais com abóboras mágicas.
Que o mundo anda cheio de coisas feias não há dúvida.
A dúvida que parou atrás da minha orelha é para onde estamos indo.
Pra frente, pra daqui a pouco, pra lá dessa hstória toda, enfim.
Em fim nada.
O fim ficou pra daqui a muitos anos.
Esse é só mais um pedaço que nos cabe nesse território pequenino de tempo e espaço.
Nesse território acredito demasiado no amor desapaixonado.
E se eu perder a cabeça, num fio certeiro de espada, pressionado pelo predador?
A história geral é muito grande  - e nela - somos quase todos, pregos com cabeça

domingo, 6 de maio de 2012

Ferrugem


Vocês não vendem o frango cortado?
Não, porque um cliente disse que a gente comia frango.
Quando um sujeito se julga o dono da verdade, os outros é que padecem.
Nada que a tesoura antiga do nono não resolva.
O exercício de misturar as palavras a fim de exercitar a imaginação dos leitores é incrível.
Um dos melhores lugares para a divulgação de exercícios é a escola.
Essa semana exercitamos o nosso poder de observação, análise e ação sobre a intolerância e o racismo.
Em entrevista ao jô, um climatologista alertou sobre a farsa que o capitalismo nos impõe sobre as catástrofes e o fim do mundo.
O sujeito é pesquisador há vinte anos e mostrou que - a título global - o clima é cíclico e tudo no planeta permanece em movimento, sendo uma pretensão humana, achar que as suas ações é que modificam de forma radical o processo natural.
No mesmo instante procurei no computador o filme curto: "A história das coisas" e percebi que nele, o tema é o total descaso com as pessoas e os recursos do planeta, imposto pelas corporações com o total aval dos governos e suas políticas financeiras.
Resumindo: As ações humanas, avalisadas pelos governos e colocadas em marcha pelas corporações, vão acabando com as reservas naturais das matérias primas em detrimento da qualidade de vida das pessoas, mesmo que publicamente seja propagada a ideia de felicidade, sucesso e progresso.
Um exercício incansável e farto.
Em quem acreditar?
No moço funcionário, finamente vestido com um uniforme impecável, ou no sujeito que quer o frango inteiro e aos pedaços?
Acredito na tesoura do meu nono que fazia bombocados com as gemas dos ovos caipiras - medidas em gramas - para que o produto fosse quase perfeito, sempre



http://www.youtube.com/watch?v=winWWplmyMk

http://www.youtube.com/watch?v=ZpkxCpxKilI


sábado, 5 de maio de 2012

Verão iglus


Caminhar no frio aquecendo os pés.
O calor que sobe do asfalto encharcado de sóis passados nos acalanta o passo.
Passo a passo vamos alertando o coração para que a prevenção vença o inevitável.
Evito algumas coisas por pura convicção.
Convicção é um dogma de fé.
Esse é um dogma não imposto por ninguém que não seja eu mesmo.
Uma ideia, uma mira, um motivo e uma meta.
Meto os pés no chão e encaminho o pensamento até o parque da matéria.
Matéria prima do exercício da memória e das pernas incansáveis.
A matéria de um corpo em movimento até que alcance o outro, a fim de movimentarem-se os dois, lado a lado.
Cabeça a cabeça, os dois pretendem chegar bem perto de algo que seja inesquecível.
Esquecer pra quê?
Simplesmente para lembrarmos que o esquecimento talvez sirva pra aquecer a nossa disposição de seguirmos em frente.
Pra frente é que se anda e com esse frio, aprendemos a construir iglus com uma única entrada e saída, já que somos nós mesmos que respondemos, enquanto seguimos perguntando 

quinta-feira, 3 de maio de 2012

A cala e o manto


A cortina está entreaberta.
Nosso coração totalmente escancarado.
Esses paralelos entre as coisas e os seus significados vão gerando muitas possibilidades de descobertas.
Descobrir - com a temperatura que está fazendo - parece uma coisa fora de propósito, porém o propósito da descoberta é o aquecimento certo, da nossa alma e do nosso espírito.
Além da alma e do espírito, nosso corpo todo movimenta-se no sentido de gerar as transformações necessárias.
Irmos além da formação normatizada, ou da formação do senso comum, nos faz motivadores de atitudes contundentes, a respeito da transposição do limite imposto pela intolerância.
A tolerância é a paciência que pretende transformar.
Formar algo que seja absolutamente diferente de tudo o que vemos e sentimos hoje, através de todos os nossos sentidos.
Temos sentido muito barulho por perto?
Temos sido expostos às múltiplas cores em movimento, dos ônibus, carros e motocicletas?
Doemos então, respiração mântrica.
Não ofertemos um suspiro de relaxamento total, que de tão total representa o nada.
Nademos na direção do todo, da análise e da síntese, do simples e do complexo.
Nademos com braçadas firmes, do tipo que arremessa as pálpebras e os cílios até o centro da coisa afetada.
O afeto que nos encerra, encerra em si, um dileto toque, que toca de leve e bem firme, nossa doce fraqueza

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Leve


A passagem custou vinte e dois reais e noventa centavos.
Coloquei vinte e três reais sobre o guichê.
Dei uma esperadinha e o sujeito - me dando o bilhete - disse:
Plataforma três, obrigado.
Eu não reclamo, assim como meu pai, que tirou todas as medidas para fazer um terno com o alfaiate e depois de uma semana recebeu o terno totalmente menor do que o seu corpo.
Meu mestre guardou o terno no armário e nunca usou.
Depois de algum tempo fez dele, uma doação.
A gente não reclama porque já clamou ao fato de achar que a gente não leva nada desse mundo.
Também por certa preguiça,  na certeza que existe muita gente que reclama e reclama forte.
Clamo a mim mesmo que a minha paciência não se esgote.
Minha irmã faz anos hoje e a ela dedico uma sequência interminável de palavras para que ela vá compreendendo todos os instantes que nos cercam e que nos une.
A união faz açúcar e o doce que há nele enfeita a festa que vibra dentro da gente.
A moça de lindo feitio, faz barulho e me ensina a desembaralhar as palavras.
Noutro dia o remédio custava sessenta e oito reais.
O moço deu um desconto e ficou por cinquenta e quatro.
A moça reclamou:
Na concorrente eu não comprei por quarenta e oito.
O moço replicou:
Eu posso chegar até quarenta e dois.
A moça docemente revestida de sorriso, disse:
Eu mais leve, levo

terça-feira, 1 de maio de 2012

Massa fina


Vendo a máquina de macarrão.
Não vendo de vender, mas vendo de observar de perto.
A receita perfeita para que nada grude.
Depois, passo a passo, rodada a rodada no botão de espessuras, a massa vai afinando, afinando, até  tornar-se fina como sua fina estampa.
Precisa-se esperar o tempo de um banho quente para poder colocar a massa no rolo específico para transformá-la em espagueti.
É necessário que a massa esteja mais seca para melhor desempenhar essa tarefa.
Assim somos nós, para nos transformarmos em alguma coisa mais saborosa.
Precisamos de um processo sutil, precisamos de ingredientes finos para nos moldarmos a coisas mais refinadas - não no sentido fútil - mas no sentindo mais próximo do refinamento da doação desinteressada.
Note que o desinteressado não é desinteressante.
Interessa-nos a competência que nos torna aptos a imprimir no outro a nossa marca, já que é imperativo  deixarmos que ele imprima a dele na nossa.
Essa é a dialética do ovo com a farinha, do sal com o açúcar, do coração com o cérebro, nos conectando aos beija-flores e aos morcegos comedores de frutas.
A massa deita-se na água quente da panela e ali esperamos ela boiar suavemente.
Colocamos as palavras na fervura e as mais leves boiam na nossa panela de ferro.
No prato elas exalam seu perfume textual.
Após o banquete, deixamos tudo limpo, usando algodão, bucha de espuma e a pele da palma lisa da nossa mão.
Essa que é pouco acostumada aos chicotes, aos açoites e aos duros espadins que cortam mais do que acariciam


Foto de Diana Della Nina Malimpensa