segunda-feira, 30 de abril de 2012

Cachos d'água


A chuva cai lá fora e o desejo de tomá-la é grande.
Tomá-la no colo, no dorso e na cabeça.
A chuva que cai cinzenta vai iluminando a poesia.
Limpa o ar que a gente nem mais percebe poluído.
O ar que a gente consome no meio de tantas outras coisas aparentemente mais complexas.
Latas de massa de tomate, latas de refrigerante, lixo orgânico, plástico, vidro e metais.
No monte de entulhos despejados pelos caminhões a gente não saberia o que pegar primeiro, a título de selecionar o que mais nos interessa.
Não interessa mais - a gente joga fora.
Eu adoro pegar tudo o que é jogado fora, pra colocar dentro de uma composição harmônica e equilibrada.
Equilibramos os nossos instintos e gostos usando um pouco do senso que ainda nos resta.
A chuva cai lá fora e a cidade escorre pelas impermiabilizações que oferecemos ao solo.
A bailarina em solo, coreografa o seu gostar de pegar coisas pequenas na rua no tempo da sua infância.
O sol resseca - e a chuva - cachoeira.
No meio de tanta sujeira, ainda nos resta o olhar.
Os olhares que chovem pra dentro - nos nossos corações marejados - levemente salgados no temperamento do espírito

domingo, 29 de abril de 2012

Antilixo


O lixo extraordinário.
Bonito filme, realidade bruta, sensibilidade e um tipo de ajuda à quem está vivendo em situação de risco.
São inúmeras as situações de risco, umas mais arriscadas do que outras.
O artista professor também trabalha na vivência de ajudar outras pessoas a passar menos brutalmente por algumas situações difíceis.
O humano é difícil.
Ser humano é complicadíssimo.
Estamos todos à mercê de instantes que nos arremessam sobre a parede e vão nos enquadrando.
Situações de risco.
Nesses momentos próximos estou trabalhando com riscos.
Riscos que atualmente modelam rostos e suas expressões, não cabendo mais saber se as expressões são do humano, ou dos riscos.
O risco aqui é traçado, é traço, é linha sobre linha num tramado constante, gerando um contraste de claro/escuro.
A vida imita a arte e a vida e a arte são extraordinárias.
O cuidado que tomo é esse, para que a vida não seja ordinária.
O contraste, a trama, o não planejamento traçado, tudo isso assentado na minha descrença na produção artística como sendo algo terapêutico.
Hoje, vou riscando sobre o tecido encontrado numa caçamba, sem esquecer tudo aquilo que me cerca e me enquadra.
Gosto muito de tudo isso e continuo achando tudo interessante.
Tudo isso me interessa, já que o seu abraço é o que mais me toca

sábado, 28 de abril de 2012

Coisas semânticas


Uma coisa certa.
Tudo o que eu falo as pessoas entendem como filosofia, no seu sentido mais ínfimo, qual seja, ser muito difícil de entender.
A moça observou que o que acontece é que as pessoas já se perguntam:
O que esse cara está querendo dizer com isso?
Por exemplo: O que devem pensar quando eu digo que existe uma toalha sobre a mesa?
Talvez invistam no imaginar que a pele reveste o corpo, assim como a toalha reveste a mesa.
Não!
Eu simplesmente quis dizer que a toalha está sobre a mesa - apenas isso.
Enfim, eu tenho a certeza que os esquisitos e estranhos são os outros.
Dito isso - escrevo às gargalhadas cada palavra em sequência - visto que as pessoas pensam exatamente o contrário.
Vivo ensinando que o estranho e o esquisito são dois irmãos de sangue que são sujeitos legais, que não precisam participar de cursos e palestras de auto ajuda para compreenderem-se a si mesmos e aos outros.
É dessa maneira que o mundo vai viver dialeticamente momentos de sabedoria, ironia, bobeira e sanidade, dialogando o estranho com o comum e o squisito com o aparentemente óbvio.
Tudo girando num compartilhar de experiências diversas, tanto no campo do entretenimento, quanto no âmbito do estudo analítico crítico sobre a física quântica.
Esse fim de semana tem derbi em campinas.
O que será que isso tem a ver com esse texto?
Responde meu coração

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Tango


Menos reclamação e mais proclamação.
Tereis sempre a farinha na sacola e o óleo na candeia.
Para isso proclamemos a cura pelo abraço.
A cura vinda da palavra bonita e sincera, daquela sinceridade vinda de dentro.
Vinda de tão dentro que vem do inimitável e indescritível, ou seja, nascida e criada no espírito.
O espírito é esse - abraçar linda e fortemente.
Um espírito que não vem mais do alto, posto aquele que nos afirmava olhar muito e demasiado para cima.
Hoje, esse espírito vem vindo do mais alto grau do auto entendimento e da sua respectiva força aliada à força semelhante que reside e transpira no outro.
Para quem - como eu - que ama escrever palavras, falar sobre algo indescritível é puro encantamento.
Perfuma o ar com sua presença não olfativa.
Perfuma com a presença ativa da sensação plena de instante e momento.
Reclamar pra que da inconsequência juvenil, se sabemos aos montes, que o tempo apresenta e reapresenta as consequências e suas ampliadas provações de mudanças?
Hoje observei pela milésima vez o conjunto multicor de construções modernas e contemporâneas e o seu ansioso e caótico movimento, porém desta feita, me tranquilizei na consciência da vida em abundância.
A moça gosta bastante do simples e delicado movimento do desenho dos troncos.
Tenho o fermento e o óleo e faço com essa suficiência, mais um dia de graça e abraço forte

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Flácido e plácido


Um coraçãozinho flácido daqui há muitos anos.
Mais uma possibilidade para que esse coração possa dar-se ao sossego.
Li na net que sou da gang do ovo, se mexer comigo, eu frito.
Frito nada, eu ainda acredito muito nas pessoas, afinal acredito demais em mim.
Alguém, não frito, nem cozinho.
Caminhamos bem juntos, no toque e na ligação afetiva e mística da distância.
Placidamente caminhamos nas ruas da cidade enorme que nos parece tão miúda.
Não gosto de miúdos de frango, ou de boi, ou de bicho nenhum.
Cérebro só aqueles que me fazem pensar bastante, para que de tanto pensar, eu acabe sentindo bastante.
Sinto o seu cheiro sem perfume.
Esse momento da escrita, transcende a possibilidade de perder-me em miudezas.
O mínimo que posso transcrever é que o aroma sem perfume não é figura de linguagem.
Na minha escrita é azul.
Azul é a fonte forte desse exercício que não deixa flacidez alguma.
Exercitemos pois, a fonte, que pensa e sente acordada, sonhando num breve cochilo 

terça-feira, 24 de abril de 2012

Tíbia e perônio


Atchim!
Saúde.
A palavra saúde começa com a letra esse, assim como a palavra sorte.
Eu gosto bastante de prevenir até onde eu posso e o quando posso, reside basicamente nas coisas da alimentação.
Não me importo nada de comer apenas frango e peixe todos os dias.
Não tenho restrições à repetição do cardápio e seus temperos, por dias a fio.
Adoro alface e tomate e aprendi a comer espinafre, chicória, agrião e muitas outras coisas que como por necessidade de gostar.
Tenho essa facilidade, porém estamos sempre expostos às doenças, às bactérias e vírus e a todo tipo de causa morte.
Pensando em tudo isso, li numa revista da cidade, uma frase de um repórter famoso que começava assim:
Não gosto nada da morte...
Eita coisa inevitável...a morte, porém se ela puder nos alcançar bem mais lá na frente, melhor.
Eu adoro as palavras tanto quanto gosto da vida bonita e veja que eu gosto muito das palavras.
Vamos tomando conta das nossas novas configurações internas, a partir dos remedinhos que vão nos receitando a título de prevenção.
Previno-lhes que tudo isso é hipótese, análise e síntese.
O que é uma confecção de história se não a especulação sobre a ideia que fazemos das coisas?
Dizem que a única coisa certa nessa nossa vida imediata é a morte, porém tenho certeza que existem muitas outras coisas certas, transcritas nessa corda esticada entre dois prédios, por onde andamos segurando apenas um bastão de fêmur

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Quente


Uma aluna vibrou ao entender uma mensagem publicitária de um rei dos hambúrgueres que dizia:
Chega de palhaçada, pois agora chegou o rei!
Eu disse a ela que no cultura documentário de ontem, houve uma conversa entre um músico e um coreógrafo que foi espetacular.
O músico produzia ruídos rigorosamente descritos em partituras.
O coreógrafo e eu, entendíamos exatamente o que ele queria dizer e o que ele disse foi que conhece quatro músicos que tocam no tempo dos seus órgãos internos.
Existem coisas que parecem fáceis e não são simples.
Outras existem simples por serem fáceis e outras ainda são fáceis por pura simplicidade.
Todas as outras coisas são complexas.
Uma folha é simples pelo fato de ser vegetal na sua forma arbórea e na sua forma papel.
Uma folha, fácil e simples.
Complexo ela tem de ser perecível, tanto numa forma, como na outra.
Perecemos toda vez que parecemos paisagem, ou folha, ou gente, ou xícara.
Perecemos coisas e aparecemos luz.
Vejo daqui um reflexo impresso no vidro da sala.
Vejo-o atrás da cortina.
Como o vejo?
Imagino que esteja ali, afinal o sol é forte lá fora e sinto um calor imenso - aqui dentro 

domingo, 22 de abril de 2012

Tampas


Faz bastante tempo que uso uma embalagem de xampu e depois de todo esse tempo, desrosqueando totalmente a tampa, descobri visualmente, que basta dar uma giradinha e o líquido sai por um buraquinho central residente na mesma.
Já mais rapidamente, tive a ideia de desrosquear totalmente a tampa da pasta de dente que tem aquela tampinha que abra ao toque.
Abrindo ao toque, quando se fecha, faz-se uma sujeira incrível ao redor da tampinha.
Foi a partir desse comentário de minha mãe - sobre a sujeira restante - que tive a ideia de abrir a tampa toda, desrosqueando.
Ela achou o máximo.
Assim fazemos constante a observação sobre todas as coisas.
Tenho repetido à exaustão essa história da observação atenta sobre tudo que há.
Seus signos e suas aptidões que nos orientam sobre criarmos novas possibilidades, além daquelas que lhes são claras obviedades.
Uma cadeira serve ao sentar, porém também é serve à espera, ao descanso e quando revestida com brim, também serve de brincadeira.
Existem muitos e muitos e mais muitos literatos e leigos, que abominam os trocadilhos.
Eu os acho o máximo da invenção sobre a forma das palavras e suas justaposições.
Viver a vida assim, perambulando entre - ao lado - e sobre os significados das palavras inventadas para cada coisa é tarefa huma, afinal a memória genética do serviço do viver para morrer é coisa dos animais e das plantas.
A gente morre de morrer bem antes.
A gente vive de imaginar o que vai inventar muito antes do inimaginável acontecer

sábado, 21 de abril de 2012

continha


Nem por cá passou maria.
Não fiz a menor ideia.
Nem lembrar lembrei, que poderia ser assim, ou assado.
Demorou uma vida inteira mais seis meses pra eu fazer ideia que a maria poderia passar e estar - e aqui ela está mais viva do que nunca.
A ideia.
Uma conta criada, mistura-se às industrializadas.
O comprometimento com as dores e os sabores de um exercitar constante da paixão e dos olhares sãos.
Atravessamos uma rua cheia de obstáculos e seguimos os sinais, de vez em quando.
Vez ou outra, atravessamos veielas e avenidas prestando atenção em outro assunto e raras vezes, desviamos das placas e luminosos que nos olham com olhar atento.
Iluminar sempre, mesmo que o lado escuro da lua pareça ser tão obscuro.
Por cá passa maria sim.
Com a massinha fimo, firmamos a ideia de agendrarmos um enredo ao curso.
O curso do nosso caminhar esbarra nos aparelhos da terceira idade e a gente percebe que a idade do céu é essa.
O universo sempre esteve e está em expansão.
Para nós, por cá sempre esteve presente essa ciência e essa mágica.
Se o amor não nos quiser, azar do amor que não nos soube amar.
Você deve ter pensado:
Meu deus, que sacada fantástica do poeta.
E foi mesmo, porém o poeta não sou eu e sim o menino calderoni do grupo cinco a seco.
Maria passou por cá e sorte a minha - que de azar não tenho nada - a não ser o azar que existe na ideia invertida.
A vontade da continha

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Cheios de graça


Exames médicos com resultados muito bons, conseguidos depois de um regime organizado a base de peixe e peito de frango.
O açúcar eu não controlei, homenageando o chocolate e o café adoçado.
Resultado: a glicose permaneceu alteradinha.
Tudo isso prova que nós podemos controlar a nossa atitude e os resultados são muito satisfatórios.
Viver cada dia e cada instante é um fazer fantástico, porém antever fatos desagradáveis que comprometem a nossa saúde, também é viver em abundância.
Viver o instante e, concomitantemente, agir para viver mais e solidariamente.
Essa forma de pensar significa, que viver mais tempo é ter mais tempo para fazer coisas lindas para os que precisam do nosso acalanto e do nosso abraçar a causa da elegância fina.
Essa beleza está encarnada na nossa consciência observadora da aflição do outro.
Volto ao meu egoísmo e tenho certeza que recebo em dobro quando troco e ofereço.
Talvez a pessoa seja um pouco menos estimada do que a gente mesmo.
Os exames e a provas são constantes na nossa escrita diária.
O conjunto dessas estranhezas na linha retíssima do nosso registro histórico, desenha novos formatos no nosso corpo traumatizado pelo tempo.
Esses traumas são as rimas belas que fazem da nossa carne a modelagem sincera e transparente do nosso espírito engraçado

quarta-feira, 18 de abril de 2012

valél


Um pedaço de papel serve para muita coisa.
Eu já cheguei a pensar sobre um pedaço de papel.
Num painel, jazia um pedaço que inscrevia duas palavras de velhos.
Matutino e vespertino.
Sei que são palavras de velhos porque muitos jovens leram aquilo e não decifraram.
Existe uma elite que circunda um pedaço de papel.
Com um pedaço desses eu fiz um cartão que move a parte superior através de um pequeno gesto de puxar.
A moça acha lindo aquele pedaço de papel, que ao ser aberto, mostra a figura de um abraço.
Um pedaço de papel guarda muita coisa mesmo estando em branco.
Muitos queridos mostram-me o papel e dizem que não é o nada que mora ali, mas a grama que a vaca comeu.
Cadê a vaca?
Ela deixou o pasto.
Posto tudo isso, o papel da gente é ser montado aos pedaços.
Podes crer que há pedaços de sobra para que eu seja montado e remontado.
Vale muita coisa esse papel.
Talvez o nosso papel mais generoso é não deixarmos faltar celulose para ninguém.
Esse ato altruísta de oferecer papel a todos, gesta um senso da necessidade de registro da multiplicidade de ideias.
Ideias múltiplas devem passar agora - na sua cabeça - sobre a validade de um pedaço de papel.
Passou?
Espero que isso não passe.
Valeu, cara, valeu

terça-feira, 17 de abril de 2012

Moelas


Várias moedas estão sobre o tapete.
Algumas são mais brilhantes do que outras.
São cinco e daqui parecem-se com estrelas numa constelação pequena.
O que mais aparece é o tapete e suas figuras bonitas.
São cavalos, alces e cavaleiros.
Percebo que os alces pastam por conta do instantâneo dos seus movimentos de pescoços.
Estão todos a colocar as bocas na direção das patas.
Os cavaleiros posicionam seus animais, um na frente do outro.
Apesar da repetição das figuras, as selas dos cavaleiros são diferentes entre si.
Interessante notar que o que dá estrutura às imagens do tapete são as várias molduras retangulares.
As figuras nas molduras repetem-se ao extremo da sua volta.
Volto pois, à observação das moedas com os seus brilhos.
Minha mãe curvou-se e colocou as pratinhas na carteirinha que guarda estrelas que compram alvejantes.
Alvejar é um verbo dúbio.
Alveja-se para tornar mais branco e alveja-se para ferir à bala.
Tornar o branco um símbolo da paz não exerce força suficiente para termos paz nos mais diversos conflitos, porém, os símbolos são feitos para que possamos ter mais recursos para interpretarmos a razão das coisas.
Gosto dos noventa minutos de um jogo de futebol.
Gosto do movimento dos pés - no toque sutil na pelota - a fim de assistir um companheiro em melhor condição de concluir para o golaço.
O golaço aqui, pode ser um gol enorme para colocar a gorduchinha, ou um gol feito com beleza elegante.
Há mágica nas simbologias e há razão para buscarmos decifrá-la

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Senha


Deve ser dificílimo alguém fazer algo sem saber o que está fazendo.
Ou será ainda mais difícil alguém fazer algo sem saber porque está fazendo?
Escrevi o porquê junto, afinal fiquei em dúvida se nessa forma do questionamento o porquê se escreve junto, ou separado.
Ouvi dizer que sempre que se pergunta, o porquê é separado e sempre que se responde, o porquê é junto.
Tem uma lógica bacana essa regra, porém, como toda regra tem excepção, esse sem saber porque está fazendo - nessa pergunta - talvez seja tudo isso junto.
Junto tudo isso e tento explicar porque essa minha narrativa feita com estilhaços e fragmentos - ao final - pode até ser interpretada de maneira parecida com a minha ideia inicial.
No instante da escrita, todos os fragmentos e estilhaços queriam dizer que a maioria da gente nem sabe porque está a fazer tal coisa, mas agora, toda gente sabe que o que não quer fazer agora é se dar ao trabalho.
Dar-se ao trabalho é coisa que aprecio, de tal forma que estava com uma senha na mão com o número 186 e o número da próxima chamada era 160.
Achei que ultrapassaria o meu horário de exame.
Fiquei esperto e percebi a mocinha dizer à uma senhora indignada, que como o caso dela era encaixe, poderia ser que ela tivesse que esperar uma hora e meia para ser chamada.
Deduzi que as pessoas - como eu - que tinham hora marcada eram chamadas primeiro, sem precisar da senha.
Esperei a moça chamar o próximo nome da listinha que ela trazia nas mãos e perguntei sobre o procedimento.
Ela me disse:
Qual o seu nome?
Apresentei-me e ela apressadamente me respondeu:
Dê-me o seu pedido que você é o próximo da lista.
O que quer dizer tudo isso?
O que significa esse conjunto de estilhaços e fragmentos textuais?
Quero dizer que se você não sabe o porquê de quase todas as coisas, você vai ficar uma vida inteira e mais três meses com todas as senhas, dispersas nas suas mãos

domingo, 15 de abril de 2012

O envelope e a máscara a circular


Devolvi um envelope vazio.
Ele carregou na semana passada um tecido pintado com aquarela e tinta branca em spray.
Deixei o fogo baixo depois da água ferver a fim de cozinhar o arroz branco.
Mal sabia que havia um pedaço de papel chupão descansando sobre a lateral do fogão.
Uma brisa, um vento leve, levou o pedacinho de papel para a chama ardente.
O fogo do papel começou a alastrar-se para o pano de prato.
A moça chegou a tempo de presenciar a cena e apagar tudo.
Veja como a presença mostra-se sempre importante.
Presenciar e agir fortemente para que as coisas aconteçam de forma um pouco mais segura.
Adoro ainda mais o nome que deram aos produtos de limpeza.
Ontem o filósofo alertou para duas questões.
Antes tinhamos segurança e clamávamos por liberdade.
Hoje temos liberdade e carecemos de segurança.
Achei o máximo os meus pais, no passado, expressarem a ideia que dizia que quando casássemos a coisa sararia.
Havia uma intensa confiança no tempo futuro.
Hoje a gente deixa o fogo ligado para produzir um gostar tão bom e de repente uma brisa incendeia o nosso futuro.
Em verdade, em verdade vos digo, que a raça humana nunca teve certeza alguma sobre o futuro próximo e muito menos a tem agora e esse é o bem estar das coisas, afinal somos desesperados demais para aguentarmos o fato da nossa própria finitude.
Nessas horas lembro do meu mestre e pai.
Infinito na lembrança de todos os dias onde acontece alguma coisa.
Meu mestre me ensinou a inventar e a minha mestra ensinou-me que todas as proparoxítonas levam acento.
Acento-me na minha convicção sobre o amor antidiscursivo das coisas para com as coisas e gosto cada vez mais de ser surpreendido pelo vento humano dos desquestionamentos.
Eu já me questiono sempre, afinal a minha hiperatividade mistura-se facilmente com a brutal ansiedade com que as imagens teimam em me tensionar contra a a minha mágica desatenção 

sábado, 14 de abril de 2012

Torradas e torradeira


A tostequeira branca fica estacionada sobre a fórmica branca.
O branco é naturalmente passível quando se trata de aplicações feitas sobre a sua superfície alva.
O branco é vulnerável.
Tudo o que se quer aplicar sobre o branco, faz-se com rara tranquilidade.
Sobre o branco risca-se traçados azuis, escreve-se letras vermelhas, atira-se tinta roxa e até cobre-se totalmente com estupidez.
Ao branco também oferece-se a possibilidade das escrecências humanas e animais, quando fazemo-nas metaforicidades, referindo-as às falcatruas e atrocidades.
O branco acrílico sobrepõe totalmente espaços pretos, já o branco oleoso mistura-se ao outro de forma a originar nuances de cor e tons.
A mistura é sempre salutar em todos os sentidos, tanto que é assim que sentimos a necessidade da transformação pela ação mista.
Um misto de isso com aquilo e tudo torna-se diverso, controverso, estimulante, reflexivo, a ponto de podermos sentarmos à mesa e chegarmos a um denominador comum.
O nome de todos em comum.
Parece que a maioria das pessoas não produz ações dessa natureza, preferindo referir-se ao próprio umbigo e afagá-lo ao extremo, agradecendo a si mesmo por toda altivez e auto refrescância.
Dizem que um espaço pintado de branco dá a noção e a impressão de mais espaço.
O branco é espaçoso e as outras cores idem.
Todo o conjunto da obra é espaçoso.
Há torradas para todos, porém a máquina que as faz, é só aquela torradeira que o texto inquire e pressiona


Ilustração fotográfica de Diana Della Nina

sexta-feira, 13 de abril de 2012

É treze


Dia treze, sexta-feira.
Em abril é dia do beijo.
Um beijo dado delicadamente no rosto em sinal de profundo respeito pela elegância.
Um beijo dos dedos na caneta preta.
Um beijo da ponta fina no papel que só espera o ato para desatar as figuras.
Acabei de ler sobre o expressionismo abstrato.
Dá a impressão que a liberdade total está expressa na obra, porém essa é apenas a metade da verdade.
O cálculo muitas vezes matemático, da aplicação das cores e das texturas, nos dá a noção da técnica que nos prende mais do que solta.
O que é isso não é exatamente o que significa isso.
A maçã é essa e a maçã é a do rosto que é esse e é o do livro.
Hoje é um rosto levemente mordiscado pela alegria do dia.
O que significa tudo isso?
Nada seria uma expressão fácil - só não o é - posto que as braçadas devem ter a dose suficiente de energia para mover montanhas.
A letra B é um treze e hoje ainda sinto-me mais feliz, porque pude aprender que o pretérito pode ser ainda mais que perfeito, já que o ato de perfazer é fazer completamente.
Devo esforçar-me para compreender completamente o que as coisas são, para poder impregnar-lhes com outros tantos significados, porque esse é o meu desejo e prazer.
Pretendo sempre resignificar.
O seu significado para mim é um beijo demorado.
De tanto morarmos nele, ele é por nós melhorado.
Dar um novo significado a cada coisa é ter predileção por oferecer um amor profundo.
Todo amor que está no fundo deve subir à tona para soltar-se oxigênio.
Desprendermos gás carbônico é um fato, inspirarmos oxigênio é podermos receber e absover a oferta

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Fazer ideia


Fazer ideia.
Essa é a tarefa de uma vida inteira, fazer ideia sobre alguma coisa.
O encantador é isso.
Quantas coisas naturais não existem para que façamos ideias delas?
Muitas coisas multiplicadas na nossa frente para que a gente possa nomear, transformar-lhes a nomenclatura, classificar, desclassificar, condicionar e descondicionar.
Ideia que nos faz perceber que o tamanho da largura do papel não ultrapassa vinte centímetros.
A mesma ideia que não admite que um seguimento horizontal colocado nessa largura possa medir vinte e dois centímetros.
Um acalanto para a imaginação é reler as duas frases anteriores e ficar impondo imagens à elas.
A ideia do acalanto, da delicadeza e da elegância vai animando as mãos numa massagem sensível sobre a pele dolorida, por conta de um capotamento acontecido num passado mais distante.
Próximo, comungamos da mesma ideia genial que reflete-se no toque na lâmpada.
Uma fumaça imaginada invade o espaço amplo que nos funde e a geniosidade transparece lúcida.
O humor é a parte mais tênue da ideia que fazemos das coisas.
Observo daqui um monte de terra de cor diferenciada da que cobre o caminho estradeiro.
Um caminhão de estrada que ainda temos para percorrer na busca de uma ideia mais segura sobre a inconstância das convicções.
Você faz ideia do que é isso?
A nós foi deixado o espírito santo, que é uma ideia genial sobre a nossa escolha mais sensata.
Santo deve ser alguém que preza por escolher a dificuldade em detrimento da facilidade escancarada.
Escolher a ideia mais difícil - qual seja - oferecer alguma coisa muito especial para alguém que não seja a gente mesmo

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Posta a prova


Alunos que estiveram na mesma série no ano passado sentam-se na sala.
As crianças fazem provas e todos nós passamos por elas.
Provação constante e até quando os vírus e as bactérias provam a nossa resistência.
Fico no fundo da sala olhando os queridos pelas costas e eles empenham-se em provar com clareza e conhecimento, as questões inscritas no conjunto de papéis xerocados.
As várias questões são respondidas à tinta e muitas delas, daqui uma semana, já serão deslocadas da memória.
Nossa máquina terá várias outras oportunidades de apreciar e recuperar essas questões no futuro.
Penso nos poucos geômetras gregos , penso em pitágoras, penso no teorema de báscara, penso tudo isso pensando na linha reta, na semi reta e no segmento da mesma.
Lembro-me que a soma dos ângulos internos de um triângulo é igual a cento e oitenta graus.
Gosto de ler as coisas e gosto que me leiam e sobre a mesa há vários tipos de borracha.
Leio o apagar dos erros como uma necessidade que temos de passarmos por eles para podermos transformá-los.
Gosto de pensar que erro muito que o meu erro possa não esbarrar no acerto do outro.
Acerto ao pensar nas dores da mães quando vejo os meninos passando pelas mesmas provações do ano que passou, mesmo que tenha passado tão rápido.
Eternidade para os meninos.
Espreito o dia em que eles estarão de cara com questões adultas e nessa hora não dispensarão a essência fraternal que eles  trazem tão dentro.
Há uma questão no parafuso central que prende a lousa branca na parede da mesma cor.
Sempre existem questões para os humanos.
Existe um segmento de reta que reparte o branco da lousa, posto que a peça de fórmica não tem o tamanho suficiente para cobrir a lousa toda

terça-feira, 10 de abril de 2012

Nada na areia da ampulheta


No canto esquerdo da sala direita, um sapato dormia depois de uma caminhada longa e perturbada.
As meias estavam amassadas jogadas no mesmo canto e cheirava como o couro desgastado do companheiro.
Pés não havia nenhum nesse lugar tão quieto.
O que havia sem dormir era um pequeno cuco silencioso.
O feitio do móvel que guardava o relógio era de um feito mais velho.
Poucas cadeiras, ardiam sem murmúrio algum que pudesse ser provocado por algum pequeno terremoto.
Um quadro feito de parede era visto apenas pela moldura branca.
Muitos chamariam de buraco, aquilo que era pintura azul caiada com tingidor.
O barulho parecia uma britadeira torta.
Nada se mexia.
Nada rugia, ou murmurava, até que um pelo andou sobre os tacos, revirado pela brisa que vinha cantando pelo pequenino espaço desenhado entre a porta e o assoalho.
A janela fechada com vidro e cortina ouviu tudo isso e aquilo.
Eu não vi nada e nada ouvi.
Senti nada na pele, nem na cartilagem do nariz.
Não tateei um texto e nem tanto.
O que houve é que ao menos alguém leu o pelo que nasceu na escrita.
A sala sempre esteve repleta de palavras e línguas.
Nada, nada - e nascemos na praia.
Essa que o vidro e a cortina esconde

segunda-feira, 9 de abril de 2012

semente do feitio


Ovos de chocolate são símbolos.
Ganhei vários, assim como variado e farto foi o meu almoço e petiscos.
Comprei um ovo específico que é o segundo na linha do gosto da minha filha.
Achei na capital o seu ovo predileto.
Hoje, coloquei o ovo que havia comprado primeiro e elegi o senhor que cuida do jardim do colégio para ser o guardião e comilão.
Foi o primeiro sujeito que encontrei na escola.
Ele sorriu lindamente e me disse:
Que Deus o abençoe e lhe dê em dobro.
Eu retruquei dizendo-lhe que o que ele mais faz é me ofertar em dobro.
Foi o tempo de subir a escada e a mocinha do nono ano me diz com voz suave:
Você ganhou a rifa do ovo de páscoa.
Achou tudo isso fantástico?
Tudo nasceu de uma oferta:
Professor, você quer comprar uma rifa da nossa classe?
É um ovão de páscoa.
Eu só trabalho com cartão de crédito.
Não tem importância.
Coloquei a mão no bolso de trás e encontrei uma nota de dois reais.
Quanto custa essa rifa?
Dois reais e é um sorteio com nomes.
Então vê se aí na cartela se tem gertrudes.
Ela vasculhou a cartela na sua frente e no seu verso e disse que gertrudes não havia.
Pois então marque sandra que eu vou ganhar essa rifa.
Fetiche é feitiço e eu sou enfeitiçado pelo interesse.
As pessoas falam tanto em destino, falam em ficar atento ao fato, falam de crença e de descrença.
Eu falo que a pelúcia não é o pelo, porém com ele se amacia.
O lisismo e o odor tão belo sem perfume, é o que suporta a bonitez da ideia

domingo, 8 de abril de 2012

Ressurge na ponta de um dedo


Ressurgir não é tarefa simples.
Surgem várias ideias que tornam-se produtos de maneira artesanal.
Outros itens surgem a partir da produção industrial e outros ainda surgem fonograficamente.
Os registros surgem, viram moda e ressurgem de tempos em tempos.
Os coelho aparecem a cântaros e aos montes, os ovos aparecem célula a célula e assim as coisas surgem na medida e na proporção da natureza e dos homens nela aparecidos.
A dinâmica do surgimento é tarefa natural e cultural e a ressurreição talvez seja parceira da tese que diz que na natureza nada se cria e nada se perde, tudo se transforma.
Transforma-se a nossa arrogância e autosuficiência?
Faz-se transformada a nossa apatia diante da necessidade dos outros menos afortunados?
Ressurge em algum momento o amor por nós mesmos que surge vivo no abraço irmão?
Respostas difíceis de nos suscitar gana e força?
Que essa perspectiva possa renascer a partir da nossa lembrança e da nossa memória atávica advinda de uma ancestralidade sublime

sábado, 7 de abril de 2012

Imita ações rendadas


O que é alegria?
É a cria de uma convicção feliz.
A minha parece eternizada no caminho da compra das batatas.
A calçada era a mesma do jovem senhor que estava sentado e sonolento, sem freguês na frente da sua barbearia.
Perguntei pelo empório e ele, sorridente, disse que bastava uns vinte passos e eu já estaria no dito.
E lá estavam - eu e a alegria - juntos a comprar batatas.
Na minha volta, o barbeiro já estava a trabalhar nos pelos do rosto do sujeito espantador de sono. Meu automóvel eu antevejo de longe e você já está tão perto de saborear a receita.
Não há resposta perfeita para todas as perguntas e nem perguntas perfeitas para todas as observações feitas a partir de uma perna de pau.
Não há receita.
Não receio que minha perspectiva pareça simplória, afinal ela é tudo, menos simplória.
Sento-me na cadeira do papai para prosear com a minha trilha, a sua, a nossa e a deles.
Ofereço meu tênis quase branco para que o aluno distante pergunte-me se fui eu que imprimi as tribais sobre o couro.
Ofereço as respostas desobjetivas que só fazem amarrar os cadarços que insistem em esfregarem-se pelo chão impregnado de chicletes velhos.
Ofereço o meu tempo para que eu mesmo possa viver me perguntando sobre variadas estampas.
E talvez um bordado pronto e uma imitação rendada

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Folheando riscos


Um zero vírgula nada de água.
Precisa pouca coisa para a flor ficar bela quando o agrado é maior do que tudo.
Eu quero é desenhar.
Dê-me um pedaço de qualquer suporte e eu faço um campo recheado de traçados ordenados.
Adoro de adorar o traço, o risco, o rabisco, a linha.
Adoro dizer sobre o construtivismo e o concretismo na pintura.
A construção vai sendo feita colocando as figuras lado a lado em justaposição.
O concreto da matéria vai construindo as formas que vão se conformando ao espaço.
Desejo colorir a vida rotineira com essas sutilezas objetivas.
Essa vida inteira mais três meses.
É um algo a mais que se torna mais e mais intenso a cada encontro que a elegância propicia àqueles que se sentem dispostos a postar uma mensagem docemente construída na concretude.
Armação de concreto sem ter construído armadura alguma.
Hoje sim, contruímos um caderno usando as folhas secas que guardamos no dicionário que folheamos na escola primária

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Botões


Muitos jovens têm tido apreço enorme pela escrita da boniteza.
Versos.
Encadeamento de palavras que encantam no início, no fim e no meio.
O tema central é o amor e a morte.
Os enigmas, as incógnitas, o xis da questão e as várias tentativas de descobertas.
A menina falou sobre a flor que desabrocha e escapa da gente.
Ela chama a flor de amor.
Quando ele escapa da gente, é ele quem morre, segundo o pequeno texto que ela me apresentou.
Apresentou-me e eu recitei em voz grave e firme.
O amor não deve escapar da gente.
O amor fica - com certeza - aconchegado dentro da gente.
Orgânico.
O provérbio chinês preconiza que todos nós trazemos por dentro dois dragões.
Um mal e o outro bom.
Somos aquele que mais alimentamos.
Bonito em verso e prosa, dito e escrito, sentido e pensado.
A minha flor alimenta-se e ainda cresce, num reduto sem dor.
Segundo o poema, a flor crescia num terreno dolorido.
O amor ali, ao desabrochar, saiu e morreu.
Como não existe maneira de fugir das dores, imagino a minha flor amorosa sendo mais forte na fortaleza de um botão.
Preparemos pois, todos os dias, momentos mais mágicos para o instante do florescer.
Os botões da blusa que você usa chama a flor em chamas que não ressecam.
As casas tecidas na camisa são minimamente mais abertas.
Os botões me fortalecem por dentro e não os uso para fechar coisa alguma

terça-feira, 3 de abril de 2012

All gemas


Ouvi que um poema algema.
Constava de um contexto eleito na gema da ideia.
A algema é um lema de aprisionamento e dependência obsessiva.
O poema dito também fala das asas das coisas, portanto, as algemas devem ser bem frouxas.
No meu gosto, algemas não devem exigir a existência.
Gemidos do vento só anunciam as desgraças de um amor inexistente.
Gemidos de vento acontecem no contato do ar com algum atrito delicado.
Atritos delicados são os pulsos algemados.
O pulso da essência melhora as flores não plásticas, já que a seiva que percorre o caule, pulsa sedenta de animar as partes.
Um poema anima as palavras de forma que as imagens nunca são as mesmas, mesmo que sejam demasiadamente semelhantes.
A forma das algemas tem maior beleza quando abertas ao diálogo do material metálico sem a pele.
Você deve estar se perguntando como acontece um diálogo sem uma das partes.
Não acontece sem, acontece com a imagem que formamos da ausência da parte mais delicada.
O poema é forte, musculoso e luta contra as maldições das despalavras.
O nosso ouvido ouve a pele anunciando seu desejo de ser perfumada pelo metal pesado de uma guitarra palhetada.
As cordas que os meus dedos dedilham, fazem soar um aroma quase único, que nos faz lembrar uma palavra chave.
Que palavra é essa que é a chave mestra que a fechadura abre?
Fechadura nenhuma abre alguma chave de braço enrijecida

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Óculos


Um desenho feito com grafite mostra uma armação bonita.
O desenho existe em preto e branco.
A representação dos óculos é detalhada, riscada numa espécie de emoção de terra plantada.
Meus óculos surgiram quando eu tinha quatorze anos.
Astigmatismo e hipermetropia.
O doutor me disse que depois dos trinta iria surgir uma miopia qualquer.
Surgiu como surgem os desenhos, com o tempo, com a maturação e com os elogios prematuros.
Elogiar elege outrem.
Hoje professei sobre a razão de existirmos nesse reduto chamado vida.
Existimos pra fazer alguma coisa além do previsto.
Adoro saber que o previsto é acordarmos, alimentar-mo-nos, reproduzir-mo-nos e irmos dormir de novo.
Adoro - bem mais - imaginar todas as outras possibilidades que vão muito além dessas.
Adoro as que nos aproximam mais de deus, a que nos aprimoram como curiosos e as que nos mandam ver além dos espaços reduzidos das linhas e das entrelinhas.
Adoro remover, revolver, redizer, reanimar as necessidades calóricas das guloseimas invisíveis.
Eu represento o invisível sim e faço dele, tudo o que a minha artimanha pressente.
A minha armação tem moldura escura.
Quando comecei a usá-la as pessoas colocaram reparo, afinal a outra era praticamente invisível.
A armação do desenho é clara e claro é o meu dever saliente que me mascara o rosto, porém luta para não me reduzir a transparência




Desenho de Iana Maciel dos Santos

domingo, 1 de abril de 2012

Primeiros


Primeiro de abril.
Brincadeira.
Nós cobrimos a cadeira com o brim de calças velhas e brincamos.
Brim cadeira, meio riso e totalmente lacaz.
Um primeiro dia de um mês que exalta a abertura, a probablidade da expansão, abriu.
Redescobriram que einstein tinha razão quanto à sua observação sobre o universo expandir-se.
A gente vai tentando abrir-se mais, vai tentando dar mais espaço ao espaço que se apresenta.
O show da nossa vida, abrindo-se tal qual a porta no labirinto do fauno.
Muitas vezes aparenta que o nosso caminho dentro desse labirinto é quase o mesmo e sempre.
A dúvida perpétua se o fauno era parte do bem ou do mal, sem vírgula.
Caminho que apresenta seus esqueletos espalhados pelos cantos de um caminho único e repetitivo, no repetir-se aparentemente sem saída.
A arte subverte essa ordem e seus produtos movimentam as nossas cabeças e os nossos cérebros.
Um pedaço de pano tingido à maneira do tai dai, apresenta um conjunto de linhas pretas formando um desenho surrealista.
A coleta das figuras representadas e a leitura do seu conjunto, remete à uma história transformadora, que faz do nosso mundo, um mundo desenvolvido de forma sustentável e com responsabilidade social ampla e irrestrita.
PRIMEIRO DE ABRIL