quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Mimese


Mimese é a cópia, é a imitação.
A mímica vem desse encanto.
A tal da realidade nos aparece e a gente copia, imita, a refaz quase igual.
Como fazê-la diferente?
A realidade natural tem esperteza própria.
A nossa ideia de evolução faz com que a gente vá gastando os seus recursos.
Penso sempre nas coisas manufaturadas, naquilo que criamos a partir do natural.
Gastamos suas coisas sem reposição.
É assim que nós fazemos a realidade natural diferente, degradando-a, subestimando-a, corrompendo-a.
A realidade sobrenatural nós inventamos com as linguagens artísticas.
Nossas linguagens diletas.
Essas coisas que ultrapassam a nossa consciência vã e que nos coloca próximos do espírito da floresta.
O espírito da pedra, da terra, da água, do oxigênio e do carbono.
Com papel carbono fazemos cópia e cópia roxa, sempre um pouco deslocada do original.
Sem esse espírito extra somos apenas mais uma coisa copiada.
Uma cópia ávida pelo consumo desenfreado, capitalista.
Agarro-me ao extra, àquilo que não apalpo, apego-me a isso que me distrai das coisas de beleza questionável.
A distração humana deve ser o questionamento.
Questionando, ainda teremos chance de nos mantermos na condição de fazermos da natureza - algo diferente  da realidade - posto que a realidade somos nós que a lemos, a reproduzimos e fazemos todos acreditarem.
Questionemos pois, a nossa capacidade de recriar o vermelho das carpas

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Gratidão


Agradecer é um verbo.
Uma ação consciente que é o recheio e a cobertura da elegância.
O nosso infinitivo agradecer, vai agradecendo a fantástica oportunidade que foi termos nos deixado encantar por aquilo que realmente vale a pena.
Um pequeno arbusto totalmente seco, com sua beleza limpa por uma quantidade intensa de água pura, esperou  receber novas folhas, mescladas que com verde e branco.
Ao ser prontamente atendido, ofereceu seu natural agradecimento à criação.
Nada importa mais do que a única forma de corresponder ao encontro nada casual entre aquilo que em nós é bom e aquilo que é muito bom em nós.
A gratidão é um presente grátis, que oferecemos a vista num prazo determinado pela eternidade.
Agradeço ao céu e agradeço à terra, ofereço meu pequeno espaço às nuvens e aos montes.
O processo que liquefaz as nuvens e a faz correr entre as montanhas é uma fotografia graciosa que nos enche os olhos com um rebanho que produz muito leite.
Agradecemos ao dom da ordenha que nos ordena a oferta que nutre a nossa inspiração.
Alimentamos a nossa graça com um compartilhar constante.
A partilha desapega e o agradecimento ressurge em forma de palavras e sons, desenhando uma composição única, que pode ser multiplicada somente se for sendo modificada, para que possa ser ainda mais bela e multiplicadora.
A multiplicação e a soma têm como resultado uma raiz.
Agradecemos por fazermos parte dessa equação, cuja seiva dos números reais, gera um único fruto que pertence a todos, sem distinção de sexo, raça, credo, língua, ou qualquer outro predicado.
A regra belíssima é essa: o nosso plural é a nossa singular gratidão 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Dez interesses


Gostar de saber sobre as coisas requer um querer intenso que vem como um furacão interno.
Não é um gostar pequeno, é um querer gigantesco, desses que é impossível não ser impulsionado a amar fazê-lo.
É muito fácil perceber que esse querer não é universal e talvez nem deva ser.
Assisti um desenho animado na cultura, onde as crianças precisavam criar algo diferente e útil.
Havia três personagens e apenas uma delas conseguiu criar um pega bagunça, usando uma fita durex larga e a própria roupa que vestia.
Criar e amar aprender coisas depende da curiosidade e isso dá bastante trabalho e é radicalmente contra a preguiça.
Existe um lugar apropriado para as pessoas se socializarem, fazerem amizades e obterem informações relativas a todos os assuntos.
A carga de informações excede - em muito - a capacidade que as pessoas têm de armazená-las todas.
Penso portanto, que as pessoas individualmente, selecionam as informações mais relevantes segundo o seu próprio gosto e os mentores mediadores, devem caminhar orientando com paciência, se desprendendo da sua predileção pelo seu particular assunto.
Infelizmente o nosso sistema orientado pelo capital ainda rege - que no final desse processo educacional básico - os jovens devem participar de um único exame que selecionará quem vai e quem não vai seguir adiante o processo em nível superior.
Tenho certeza que não é todo mundo que deseja e que almeja participar dessa trajetória e nisso, penso não residir mal algum.
Existe muita coisa além desse tradicional processo de aprendizado.
A educação auto didata tem um poder maravilhoso, afinal, ela depende do que dispus no início desse texto.
Num abraço caloroso, a menininha me diz:
Como são lindas essas linhas na sua testa!
Um sorriso vale muito mais do que anos de informações desinteressantes

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Doa a ação consciente


Vamos doar.
Doação das coisas lindas que recebemos do nada e transformamos em tudo, ou quase tudo.
A brincadeira é essa.
O lúdico.
As imensas possibilidades de jogadas, de reformas, de remontagens, de oportunidades diversas.
A doação surpresa.
Continuar surpreendendo.
Ir além dos leões e dos peões a eles atirados.
Ir também amaciando-lhes os dentes.
Ir amaciando também os chifres e as lanças nas touradas.
Vamos limpando os cascos.
Vamos deixando de lado as visões possíveis e tornando mais possíveis as ilustrações da oferta.
Vamos dar ao sensível um pouco mais de sensibilidade aos toques que vêem de todo canto e de todos os lados.
Surpreendente é o quanto nada valem as madeiras que dão forma ao retângulo.
Surpreender o impossível com a imaginação ativa.
Uma foto do produto no seu devido lugar.
O lugar do produto.
As paredes de variadas cores agora vêem as costas do tecido.
O lugar do produto é esse.
Esse instante que nos apresenta mais uma chance, mais uma escolha e mais uma forma de reverter o previamente proposto.
Esse instante que nos apresenta mais uma chance, mais uma escolha e mais uma forma de reverter o previamente suposto

Pazienza Giorgio


Não é verdade que no Brasil o ano começa depois do carnaval.
O carnaval é que começa depois que tudo isso veio a ser um brasil.
Ele é eternizado nesse território em brasa.
Tudo é festa, tudo é fiesta e tudo é uma brasa, mora?
Aqui resiste a alegria de compreendermos que tudo é interessante porque tudo interessa à cabeça pensante.
Interessando à cabeça, você imagina que interessa ao sentimento.
O sentidor começa a sentir pela cabeça.
É o sentimento que aflora o interesse dos olhos pela percepção.
Antes de tudo vem o sentimento, que como a palavra pressupõe, vem do sentir pelo tato, pela audição, pelo paladar, pela oufação e pela visão.
Até os ditos irracinais sentem e depois processam, a diferença é que os racionais simbolizam e os bichos fazem.
Os pensadores também são bichos estranhos.
É bem fácil escrever que a percepção é a racionalização do sentimento.
Talvez seja difícil se reanimar diante da constatação de que perceber e diferenciar os valores é algo bem trabalhoso.
É o sentir que nos leva a buscar a descoberta das coisas, descobrindo-as.
Tirando-lhes a cobertura.
Desmascarando-nos da nossa razão, nos mostramos totalmente.
Quando sentimos, basicamente sentimos raiva, ou serenidade.
Reforçamos o bem, ou reforçamos o mal.
Ouvi, no texto de um filme, que talvez paciência demais seja covardia.
Já na minha perspectiva, muita paciência, é ousadia

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Som na caixa


A menina disse:
Você é o meu único professor de arte que sabe desenhar.
É incrível a relação direta que há entre arte e desenho.
Talvez tenha sido a primeira representação das coisas feita pelos sapiens.
Lá no fundo da caverna, provavelmente por motivos de fé, eram representados os humanos, suas ferramentas de caça, os bichos, aquilo que a gente via ao redor e até previa.
Meu menino quando tinha cinco anos, para doar os seus brinquedos mais velhos, fez com que eu os desenhasse num caderno de cartografia.
A cartografia da fé e da crença que ele ainda os possuia.
Era dele mesmo e ainda é.
A menina crê no desenhista que representa as coisas bem parecidas com o que elas são, a partir das suas formas.
A minha letra também é bonitinha, ela representa bem as palavrinhas, na lousa e no papel.
O desenho é parecido com a música do violão.
É fácil de se levar pra onde a gente vai.
Basta uma esferográfica, ou um lápis, basta o violão.
O poder da historinha, das falas simbólicas, do risco, do rabisco, do traço e da linha.
Tudo é a mesma coisa que representa as coisas de forma gráfica.
Ainda hoje, quem desenha bem é quem representa de forma mais fiel, aquilo que a gente Vê.
Ainda hoje, eu desejo explicar que a arte vai além dessas histórias.
O barato também é aquilo que não se vê.
A barata resiste.
Preciso do flautista que encanta os ratinhos.
Nessa velha história, o autor diz que são ratinhos, os que seguem a melodia.
Não poderia ser outro, o bicho?
É isso aí bicho!
O bicho que sou, desenha esse tempo.
Esse onde as coisas ainda precisam de flautistas

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Tapetes e topetes


A velocidade no mercado.
Há velocidade nos mercados.
Formigas, gente, rodinhas, meias e sapatos, passeiam esbarrando-se pelos corredores.
Corredores mesmo.
Corredores que somos.
Mesmo que a areia do tempo passe por um buraquinho estreito, os sapatos e as formigas trabalham raspando suas solas no chão.
Uma veloz sacada parece mais uma rápida ideia que se esvai.
Parece uma mancha, essa que o sapato provoca escorregando caminho ligeiro, ele feito com listra vermelha.
Paz.
A velocidade do mercado parece não permitir uma palavra tão singela e meiga.
Nunca antes a meiguice e a singeleza foram tão severas.
Paz.
Com raiva se faz muita coisa, porém que coisas?
Com a paz se faz bastante, mas que coisas?
As coisas são vermelhas, rosas, brancas, pretas, violetas e marrons, na coloração que duas íris podem ter e querer.
Eu gosto demais de transmitir tranquilidade - agora mais experiente - no ponto exato que a tranquilidade se inquieta de tal modo, fazendo surgir mais ideias para serem modificadas.
A mudança de móveis na sala onde a velocidade da eletricidade transita pelos conduítes, é uma mudança mais que necessária, na mesma medida que as formigas e os sapatos são lixados.
O lixo da tranquilidade é a superfície do travesseiro.
O fato do tronco do poder nem se lixar para as coisas que saltam aos olhos, despertam em nós mais interesse.
É interessante como o tapete cultural é tecido delicadamente pelas mãos guiadas por um tanto de fome

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

motor


Meu automóvel parece uma câmara de ideias.
Ele é simples, riscadinho, tem motor recauchutado e leva.
É só entrar pela porta do carona e as ideias aparecem como por encanto.
Você deve estar pensando:
Por que será que a gente deve entrar pela porta do passageiro?
Não é por razão mágica ou encantamento, o fato é que o ladrão que não o levou, estragou a porta do motorista.
É também por esse motivo que chamo o automóvel de carro fitness.
Exercício para o corpo e para a alma.
Num salto curto, eu passo pelo banco da direita e me sento sobre o estofado esgarçado, do banco da esquerda.
A direção me serve de instrumento de percussão e alguns sambas melódicos já aconteceram entre uma rua e várias avenidas.
Um carro inteligente me oferece essas histórias belas, que o faz cavalo da prússia, a peregrinar pelas vielas inspiradoras da captação da poesia de todas as coisas.
Exercitar formas de reenxergar as coisas é uma tarefa recorrente alcançada pelos meus olhos, a partir de muitos equívocos e trombadas.
Os erros ainda são frequentes, afinal esses olhos são mecanismos orgânicos e humanos.
É assim que nos aproximamos de Deus, nos aproximando da alma paciente de todas as coisas.
A paciência é como o bem personificado, já que a ira, é como se fosse a modelagem da maldade.
É impossível ao humano, ser algo mais do que humano e veja que isso, já é boniteza quase suficiente.
Suficiente é quase, apenas porque parece que nada nos agrada, ou nos satisfaz totalmente.
Nunca nos encontramos num estado de êxtase eterno, a não ser na eternidade do nunca.
O que eu e o meu carro queremos - no momento da ideia - é transcendermos por uns instantes essa nossa humanidade mecânica.
A distância entre eu e o meu carro, é a inteligência dele

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Olha o bacalhau


Olha o bacalhau, olha o bacalhau e o troféu abacaxi.
O simplesmente necessário.
Dai ao cesar o que é dele.
O que ele prefere, ou até o que ele merece.
Não, talvez dê a ele aquilo que a sua vista alcança.
Não que eu me coloque num ponto mais elevado, mas dois pontos - um em cima do outro - indica que alguém vai falar.
Não que seja algo importante demais, mas a fala vem antes da escrita.
Alguém precisou falar para que eu pudesse ter essa ideia de escrever sobre o professor.
O que professa.
O que fala pelos cotovelos, aquilo que a maioria nem sonha em querer ouvir.
Essa é a beleza.
O cara nem sonha e a gente já ousa, para que a nossa chatice possa ser compartilhada.
O que é chato, a nós também pertence e nos pertencendo, temos a possibilidade dela nos apartarmos.
O que é chato, assim é se lhe parece.
Tudo é do jeito que é, porque se parece.
Aparece assim, não por acaso, mas por ação pressentida e pensada.
Se quisermos que transpareça, desapareça, ou até que se transforme na aparência, basta-nos dar-lhe outra forma.
Desta forma, tal coisa já não é mais aquela.
Que coisa então é essa toda?
A coisa é toda essa que compartilhamos a metáfora e aquela que induzimos à lembrança.
Todas essas que coisas onde achamos semelhança.
Das diferentes coisas, cabe a nós, amadurecermos seus frutos 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Nau e fraga


Existem coisas saborosas e nutritivas.
Ao mesmo tempo que têm sabor, nutrem.
Os náufragos precisam de uma nau que naufrague, apesar que a frase colocada assim na prova, talvez nos informe que pouca gente sabe o significado do substantivo nau.
Fraga pode ser um terreno escabroso, ou um penhasco.
Escabroso é pensar que escabroso é horrendo, horrível, tenebroso.
Estamos à beira do abismo, num penhasco, ainda preso à cordas.
Náufragos nutrindo-se, mesmo que ainda não saibam e eu ainda não sei.
A nave vai.
Existem palavras saborosas e difíceis, no sentido de conhecermos o seu significado.
Fiquei sabendo que existem analfabetos funcionais, aqueles que conhecem as palavras, mas não compreendem os seus porquês.
Imaginam vocês, não conseguirmos montar uma frase compreensiva.
A minha nave vai.
Todas as frases que monto fazem sentido no conjunto. 
Causa-me graça essa informação, já que penso no leitor tentando juntar esses meus signos com os seus e os meus significados.
Interpretações.
Os náufragos precisam de uma nau que naufrague.
Precisamos - eu que escrevo e você que lê - irmos a fundo na palavra que nos ajude na colagem com a sua vizinha, para que o resultado nos nutra de alguma forma.
O sabor existe, porém cada um nutriu um gosto próprio e eu respeito.
Náufragos mergulham na insistente procura. 
Meu respeito é tanto que continuo propondo batismos

domingo, 19 de fevereiro de 2012

A noz e a batata


A nós, as batatas.
Molho de tomate e molho de mostarda.
Na mistura não vai ovo e o importante é deixar o fogo muito baixo.
Há demora no preparo e essa é a razão do sucesso.
A lentidão do preparo.
Vamos nos preparando lentamente, passo a passo e persistência.
É necessária a técnica e a destreza originais.
Resta-me saber se essa origem é oriunda de algo anterior a fecundação.
Que beleza se assim o for.
Ser originário de algo misteriosamente existente, já que há como pensarmos na sua possibilidade.
Pensamos na possibilidade e a coisa aparece, em espírito, forma e graça.
A graça do feminino e o dom da maternidade.
Domínio da tácnica e do talento, misturados.
O processo criativo é místico e está a serviço da terra.
Nessa mistura vai um ovo

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Hortelãs


Antigamente tudo era hortelã.
Eu nunca tomei água, onde antes tenha boiado um pequeno ramo dessas folhas.
Uma linha no espaço atravessa o buraco de um botão gigante.
A nossa deficiência caminha sobre o fio.
Num instante dessa semana apreciei a frase que dizia sobre a capacidade de observaramos as nossas deficiências, além de enxergarmos as deficiências dos outros.
Uma cadeira de rodas com um menino esperto, indicava a rapidez com que ambos enfrentariam a jornada.
É certo que ambos atravessariam o pequeno buraco do botão enorme.
Ambos, o menino e a cadeira.
Os homens e as coisas, enfrentando vorazes a trajetória inevitável, de baixo para cima.
A sinuosidade da linha parece que nos enche de energia ativa, para que no impulso, possamos alcançar aquele pedaço de linha que ainda existe depois do botão.
Existe espaço de linha após o botão, esperança.
A esperança em nós é certeza.
Faz parte da roda.
Roda que da cadeira é parte.
Depois que inventaram a roda, levar algo muito pesado ficou muito mais simples.
Uma grande ideia que norteia a ideia da simplicidade dentro do complexo.
No papel, o menino e a cadeira estão no meio do caminho entre o início da linha e o botão, porém estão a um terço da linha toda.
Um terço.
Desenho no pano, um copo.
Bebo a água bela, num ondulado movimento, sabendo que pode haver no fim da linha, um leve perfime, que me leve sobre rodas, ao jardim das hortelãs


Texto escrito sobre desenho da aluna Marilia Manes de Miranda

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Brincos


Um desenho complexo, cheio de detalhes, depende de um olhar investigativo.
Muitas vezes as pessoas preferem a obra desenhada, contemplada com um olhar rápido.
Perceber o todo e a beleza dela.
São duas formas distintas de contemplação, porém as duas são maravilhosas oportunidades de crescimento interior.
Ambas são provocadoras de diálogos internos, álogos.
Esses processos de animação mental me encantam.
Interessa-me a mescla entre essas duas possibilidades na confecção do objeto pintado e desenhado.
No confeccionar a gente vai percebendo as nuances entre o perto e o distante, o macro e o micro, o cosmos da beleza cosmética dentro do mundo da pureza grega.
Algo que possa ser bonito de longe, propiciando na aproximação, ainda mais beleza, construindo novas histórias por dentro e por fora, de dentro para fora e de fora pra dentro.
Todas essas coisas que movimentam o meu ser e o meu existir, movimenta também aquela que pressente a hora exata de entrar em ação bordada.
O instante exato que faz com que a mente possa realçar o poder das mãos.
Artesanato é trabalho manual que se abraça à arte no momento sublime de nos encantarmos com essas coisas tão simples dentro da sua complexidade.
As linhas são tão poderosas.
Elas são os traços que a espada da gente remonta no ar que nos mantém.
Belo pra mim é a criança que brinca em nós, essas brincadeiras de gente grande

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Enérgicos


A energia.
O toque pelo toque.
Vai ser tema até de gincana.
A energia.
Essa que emanamos e todas as coisas emanam, na intenção de tudo o que é bom e tudo o que é mal.
Ontem meu amigo porteiro disse:
Ainda bem que nóis é o que nóis é.
E a moça arrematou:
Ainda bem que nóis não é o que nóis não é.
O toque do divino no humano é da hora.
Veja que esse nóis é empostado na caipirice da nossa elitista percepção.
Essa elite não é de tropa alguma, pois tem exatamente a energia que vai se transformando à medida das perguntas que fazemos, instante a instante.
Com as respostas vamos avançando nas ações que nos permitem alcançarmos um certo equilíbrio.
A energia vital é a presença de uma emoção transparente que permeia as nossas iniciativas que nem sempre são as mais gostosas, as de sabor mais ameno e doce.
O gosto pelo maior equilíbrio entre as forças nem sempre nos enche de alegria e preguiça.
Eu sou preguiçoso quando a minha energia me trai.
Estamos aqui pra isso.
Para a alegria, para a preguiça e para o trabalho árduo que - de vez em quando - pode não nos trazer a alegria que nós até merecemos.
A energia está ao alcance do nosso corpo inteiro e é ela que nos anima as palavras ativas.
Nóis é?
O que nóis não é?
Pois é, o zé que mora na gente, deseja ser mais esperto do que o josé

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

A coisa


O bicho sem pé nem cabeça aparece muito.
Vira e mexe, mexe e vira.
Lá está ele, dando a ar da sua graça.
Quando a letra do nosso coração escreve a nossa vivência, tudo é cercado de beleza que vai expandindo-se em luz.
Circo luz.
Círculos sobrepostos e justapostos, expandindo-se.
Uma vida circense, nômade, viajante entre o céu e a terra, a terra e o céu.
Uma casa coberta pela lona multicor onde mora a razão e a mágica.
Uma casa com rodinhas é uma casa que não vive só em movimento, é uma casa que conduz ao movimento.
O movimento da bailarina e do palhaço descrevem seus passos no ar e desenham novas possibilidades de felicidade instantânea.
A casa é o bicho e se ela não tiver cabeça nem pé, vai ter portas e janelas - sempre abertas

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Esperas


Esferas gráficas.
Bolhas, bolas de gude, isopor, bolhas de sabão, rolimãs, pontas de caneta.
Escrevo e desenho o que passa na cabeça.
Esferas no plano são circos luz.
Não espero muito, ajo.
Aço na ação firme de compartilhar os minutos e segundos, mesmo que a interpretação seja variada e muitas vezes não coincida com a prima ideia.
Partilha bonita, onde o seu e o meu devaneio fazem parte da mesma energia animada.
Estava caminhando pensando em não comprar uma caneta permanente, pois pensava que não iria usá-la brevemente.
Eis que no mesmo instante - no carro ao lado - cumprimenta-me o filho do casal que pediu uma assinatura minha num trabalho.
A assinatura vai ser feita com a caneta, que agora passa a ter necessidade mais urgente.
A minha interpretação é que essas coisas acotecem, vindas através de uma energia vital que independe do acaso.
A caneta já se encontra na minha bolsa.
Agimos de acordo com a energia que é a mesma do abraço apertado e livre, recheado com toda a sinceridade que nos é cara.
A senhora quer que eu use uma faca para cada coisa, uma para o queijo, uma para o pão e uma outra para a margarina.
Esse é um requinte que não me cabe, desde que, as minhas mãos deixem tudo limpo, logo após a refeição

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Circo luz


Círculos.
As esferas planificadas.
O plano inexiste já que se propõe bidimensional.
Sendo imaginário nos diz apenas sobre duas dimensões.
Desenhamos no plano, apenas altura e largura.
São traços que vão desvendando as figuras sobre as manchas do papel branco.
Papel manchado e purificado pelas nossas ideias.
Tudo isso faz parte desse nosso circo luz.
Círculos.
Sete cores em sete círculos que formam um círculo maior.
Essa foi a visão da moça bonita, que aquarela os dias para que as noites possam soar bonitas na boniteza das poças de nanquim.
Os materiais são ferramentas para desempenharmos e desenvolvermos a nossa técnica.
As ideias se materializam a partir desse processo de aprendizagem.
Aprendo com o grafite, com as canetas hidrográficas e as esferográficas.
A esfera que escreve, esferográfica.
O moço demorou bastante para ver que o Ar te mantém vivo e a Arte mantém vivo o ser que está disposto à inquietude.
Dispomos sobre a mesa o circo luz.
Os círculos não viciosos começam a transmutarem-se em si mesmos, por nossa livre e espontânea vontade

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Álogo interno


O ar te mantém vivo.
Oxigênio de genialidade vital.
Arte mantém vivo o sujeito.
Estamos todos sujeitos à observação dos outros e a observar a todos.
Esse observatório é laboratório de aprendizagem diária e crescimento, já que dizem que o labor e a labuta engrandecem o homem.
Trabalho é laboratório, tanto quanto o ócio, esse amigo de nós mesmos.
Grande é a oportunidade que nós todos temos de nos vincularmos ao divino, tornando-nos mais próximos do nosso próximo.
Um abraço no cartão e no abraço dos braços, encanta a possibilidade de encontrarmos a porta de entrada do paraíso.
Esse lugar que de tão santo, nos enche de graça e beleza, aqui na esquina.
Se a gente faz alguma penitência, no sentido de nos privarmos de algo que gostamos bastante, fazemos isso porque queremos nos ver obrigados por nós mesmos, a lembrar ao outro, que o amamos tanto que podemos fazer algo que ele talvez não faria.
Esse despreendimento talvez faça com que ele se lembre, por si só, que ele faça algo que lhe traga mais felicidade do que caminhar apenas pelas suas próprias pernas.
Eu amo caminhar pelas minhas próprias pernas, porém sei, com absoluta certeza, que isso não é sempre possível, afinal, a nossa vida tem o requinte do social.
Acho possível viver sozinho, porém a vida será mais curta, mesmo que você curta o diálogo interno, assim como eu também curto

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Salve salve


Ontem esse espaço passou em branco.
Branco é a reflexão total.
Se é sua, então tem estilo.
Quando fores pedir algo a Deus, peça paciência, afinal, se pedires força, pode ser que você a use demasiada para espancar os coitadinhos.
Acabei de ouvir essa frase sensacional, relacionada à educação.
Educação é muito mais do que escola, vai além dos seus muros e tem mais a ver com o relacionamento entre as pessoas.
Muito mais do que com o conjunto de conhecimentos fomentados pela humanidade.
Ar te mantém vivo.
Viver é ultrapassar os limites do já conhecido, ultrapassar os limites do já previamente gostado, ir além do pagode, do metal pesado, ou do samba canção.
Viver é conjugar-se com os outros, estabelecer contato, felicidade, angústias e travar questionamentos constantes, buscando um certo equilíbrio.
O artista olhou a sua obra hiperrealista e disse a ela, em italiano:
Parla!
O parlamento é lugar de debates.
Parlamentemos pois.
A vivência paciente das relações humanas, têm os seus bons tratos, seus bons dias e boas noites

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Bordando à tinta


Existe um salto entre o bordado dos biquinhos dos panos de prato e da toalha, e aqueles que passeiam pelos panos tingidos.
Não tenho a medida exata do salto, se ele é grande ou pequeno, mas o percebo na sua extensão sutil.
A sutileza que existe na fala da garota, depois das férias:
Eu não tinha nada pra fazer, então fiz esses bonitos desenhos.
No mesmo instante pensei em Desenhos ocupacionais.
Eu sempre adorei o nome de um curso superior:
Terapia Ocupacional.
O máximo, essa intenção fantástica em comunicar alguma coisa que anda escondida e deseja ser descoberta, já que existe uma cobertura tênue que envolve todas as coisas.
O descobrir as coisas passa, sem dúvida, pela ocupação com o ofício do desenho.
É maravilhosa a forma com que a simplicidade do desenho expressa todas as necessidades de representação das emoções humanas.
Feitas em traços, as representações trazem novas e variadas interpretações.
Inter(entrar) - pretar (no escuro) para trazer à luz.
Enquanto estamos sem fazer nada, temos a oportunidade de reapresentar tudo

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Inconformidade

Sempre exercitar novas formas de enxergar, ou seja, de significar todas as coisas.
Introduzir esse conceito na vida de outras tantas pessoas deve acontecer de forma natural, a partir daquele que deseja desempenhar tão digna tarefa.
Digna por se tratar de um inconformismo.
Estar inconformado, fora da formação dos idênticos, ou do tudo igual.
Se todos enxergam da mesma forma, todos estão conformados dentro da mesma forma.
Vamos repetir sempre o exercício das múltiplas formas de enxergar.
Vi um sujeito fazendo careta para um colega no intuito de provocá-lo, vi um outro dando um tapa no braço de um outro e assim os sujeitos vão tomando essas atitudes, também pela avalanche de apelos externos.
O apelo da sustentabilidade do óbvio, do banal, do fútil, da mesmice, da apatia e do tédio.
Não me esqueço da frase que pensar dói.
Eu devo ser masoquista, afinal um dos meus maiores prazeres sempre foi pensar.
Vamos com paciência, dar vários exemplos de elegância, simplicidade e mais paciência ainda. 
Não é de hoje que os mais variados assuntos me interessam, além do fato de serem múltiplas as minhas escolhas.
Variadas no gosto e no estilo, buscando dar entrada à toda diversidade de formas de expressão.
Hoje o samba e o rap misturam-se por conveniência, ou simplesmente por satisfação

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

ideário


Existe uma distância gigantesca entre aquilo que eu gostaria de transmitir para as crianças e a possibilidade que elas têm de internalizá-las, transformando em conhecimento.
Eu exagero e adoro fazer isso, exagerar no empenho.
Sei que o equilíbrio é o sensato, porém desta feita, admiro minha insensatez.
Numa palestra, eu ouvi que a responsabilidade da comunicação é nossa, ou seja, de quem comunica.
Não descarto essa responsabilidade e ainda me alegro com as pessoas que, não só compreendem, como avançam no entendimento e na produção de resultados factuais, relativos à essa compreensão.
A comunicação é uma via de mão dupla e está intimamente ligada ao interesse do professor, do receptor e vice versa.
É certo que todos os alunos de determinada série, já receberam a informação que os três ideais da revolução francesa são, liberdade, igualdade e fraternidade, porém, quando pergunto às pessoas, quais são os ideais da revolução francesa não recebo resposta alguma.
Minto, recebo a resposta que já faz algum tempo que elas receberam a informação e esqueceram.
Digo a eles que as informações fora de uso, são descartadas.
O conceito da arte está em desuso.
As provas ainda são indicadores instantâneos.
A verdade é que os produtos da arte são usados para entretenimento e decoração, prazeres fugazes.
Algo que vai além desse conceito fútil, é comunicar, discutir e compartilhar as ideias relativas à arte, tendo a certeza, que esse processo promoverá em todos os envolvidos, uma prática mais ética, que ultrapassa o senso estético da própria arte.
A beleza é compreender que a rede de informações que a arte compreende, produz um raciocínio que norteia todos os assuntos e práticas.
Desde segunda-feira, vários alunos já me disseram que arte é tudo.
Digo sempre que discordo, diferenciando arte e cultura.
Nem toda cultura é cultura artística.
Discordo desse modo, porém, entre todas as atividades humanas, a arte é que imprime na gente um tempero diferente.
O nosso temperamento inovador, depende da irreverência e da antevisão da ideia da arte

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Satisfaz


O pequeno desafio é você criar um blog para postar suas produções artísticas.
Sou artista e professor.
Agradeço demais o dom de professar porque ele me equilibra usando o pequeno território cartesiano da razão.
A mágica - a criação e a sensibilidade - para mim são quase óbvias, afinal são todos os minutos do dia dedicados ao relacionar tudo com o fazer artístico.
Meu profundo entendimento e apreciação pela sua interferência bordada sobre o tecido desenhado e tingido.
A não compreensão do resultado final - por tantos outros - é como um troféu para nós, que temos a certeza que tudo o que fazemos é brincar com coisa séria.
Ouvi agora na televisão, que brincar é essencial para o envelhecimento.
Brinquemos pois, com o menino que pergunta para que serve isso?
Isso - o pano que será estendido num chassi de madeira - serve para decorar escritórios, residências e paredes de instituições.
Também serve para oferecer prazer para quem contempla e para quem se arrisca na expressão.
Arriscar-se e arriscar-nos é podermos dizer o que estamos pensando, sabendo que pensar dói bastante, porém essa dor é um mistério de satisfação