terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O jardim das coisas mesmas


A minha primeira aula do ano costuma ser um rolo compressor passando na cabeça dos jovens alunos.
Eles costumam ser bem educados em relação a essa minha atitude avassaladora.
Dezenas de informações diversificadas e tudo ao mesmo tempo, na mesma hora.
Tudo programado para causar surpresa, tudo muito gesticulado, cheio de caretas e sons diversos.
As informações são do tipo: "O menino de treze anos olhou para a árvore e percebeu que ela absorvia muita energia solar, de forma a receber e otimizar ao máximo essa energia".
A árvore precisava da energia e a família dele também, ou seja, o agente motivador da sua percepção sobre os fazeres da árvore e construir o aquecedor solar e conseguir vinte por cento a mais de energia do que os aquecedores solares convencionais, foi ele e sua família não possuírem aquecedor em casa.
Difícil é informar os alunos sobre algo que não carece de necessidade, ou seja, algo chamado ARTE.
Todo artista sabe que é impossível não produzir arte para si mesmo, sem que alguém de fora precise disso.
Arte é inevitável para o artista, porém, na escola eu não me comunico apenas com artistas.
Acabo de ler uma mensagem enviada por uma jovem que teve minha aula hoje, dizendo que já fez seu blog e deu-lhe o nome de Arte pelos olhos.
Seu primeiro post foi um pequeno texto onde ela diz que um professor a ensinou que todo mundo tem dentro de si algo de artista, que está doidinho para ser expressado no momento que esse alguém permitir.
Na turma de ontem fiz uma observação sobre o pequeno livro do jorge colli, onde ele diz que só pode escrever o livro chamado - O que é arte? - por causa dos produtos da arte e não por causa do conceito.
O menino, na tarde de ontem mandou-me uma mensagem que diz:
A capa do livro do jorge tem uma comida na capa.
Ele já estava lendo o livro de uma pequena busca na rede.
O moço, a moça e outros mais que eu ainda não tenho notícia, já passeiam pelo jardim sobrenatural, onde são plantadas as coisas que necessitam apenas, serem elas mesmas

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Caoticumenato


Arte, deus e o amor são mistérios profundos.
Todos eles nos querem dizer alguma coisa.
O novo é obrigatoriamente diferente.
Não há como não nos interessarmos pelos casos e coisas, misteriosos.
A razão vital que nos mantém é a busca pela significação do mistério.
Hoje pensei que a arte é a busca tranquila - a manha do gato - pelo diferente e pela diferença.
De tanto olhar - no intuito de copiar o retrato do adoniran - acabei desenhando um chapéu muito parecido com o que ele usava.
Praticamente idêntico, porém não era o chapéu do senhor do samba paulista.
Isso não é novo, não é um pensar inovador.
O matisse já desenhou e pintou um cachimbo e depois escreveu ao lado da imagem:
Isso não é um cachimbo.
Você vai me abordar dizendo que não é a mesma coisa, afinal o cachimbo é um cachimbo qualquer e não o cachimbo de alguém específico.
Sim, é verdade, porém nada que é a representação de alguma coisa é a própria coisa.
É a sua reapresentação.
Representação que carrega diferenças do objeto de origem.
Tudo isso passa pelo interesse de alguém.
Há muitos que não têm o menor interesse pelo topete do nietzsche, ou a sua representação em desenho.
O homem do matisse tem na cabeça, uma gaiola sem pássaro, coberta com um pano branco.
Para tantos jovens sentados nos bancos escolares isso é novíssimo, já que ignoram o assunto.
Esse distanciamento do assunto ocupa um professor que interessa-se tanto pela história das coisas.
Tudo isso é dependente do gosto que se tem por aprender, embora o psicanalista tenha dito ontem na tv, que a geração atual é a geração delivery, para quem, todas as coisas vêm trazidas às mãos, prontas.
Prontas do jeito que algum outro apronta.
Eu desejo estar no meio dos aprontões, embora eu seja muito arrumado.
No meio desse furacão caótico maravilhoso, caminhamos na busca do novo e o novo se distrai com o pequeno detalhe que o torna assim, misteriosamente diferente

domingo, 29 de janeiro de 2012

Escola aberta


O início das aulas.
Um conjunto de informações básicas que poderá acarretar conhecimento.
As pessoas aprendem com mais facilidade a partir de três formas, quais sejam - a auditiva, a visual e a cinestésica.
As palavras com seus sons, sua imagem e o seu toque, indicam coisas que devem ser associadas para gerar mais conhecimento.
O ser humano comunica e produz resultados positivos, a partir da compreensão - pelo outro - daquilo que o um quis dizer.
Tudo isso é verdade, porém a comunicação ainda é uma via de mão dupla e a disposição para o aprendizado é importantíssima tanto para o aluno como para o professor.
A primeira frase deste texto não é a mais correta, afinal o início do aprendizado das pessoas começa no nascimento e possivelmente até antes dele.
O coraçãozinho do bebê aprendeu que deveria começar a pulsar?
O recém nascido aprende - no instinto - que sua respiração agora deve acontecer de outra forma.
A água não existe mais nos seus pulmões e agora, o ar é o responsável pela sua sobrevivência.
O aprendizado é constante.
É inteligente amar o aprender e não necessariamente o contrário.
Penso que não somos inteligentes apenas por termos a capacidade de aprender, mas sim pelo gosto que temos pelo aprender.
Refletindo e agindo, reiniciamos esse processo maravilhoso que não começa agora, mas prossegue na confiança recíproca, entre todas as pessoas que participam juntas e compartilham além dos muros da escola

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Extra


Várias pessoas estudiosas entendem a arte como uma linguagem.
Pensando que nós lançamos mão das linguagens plásticas, visuais, cênicas, musicais e da dança para a expressão da arte, vivo acreditando que ela é alguma coisa que deseja falar e precisa da gente.
Entendo a arte, a partir dessa lógica, como sendo um mistério.
O mistério que deseja expressar-se e não pode fazer por si só.
Acho bem razoável esse raciocínio, assim como vejo todo dia, a maioria das pessoas não fazer ideia do que seja tudo isso - e não sabendo - desentendem, não compreendem e não se interessam por uma coisa que imaginam não ter valor em si.
Jorge Colli no seu livreto, O que é arte?, já disse que só pode escrevê-lo a partir dos produtos da arte e não do seu conceito.
Penso que arte é um mistério, assim como deus.
Pode-se tratar da coisa como religião e nós como missionários.
É algo bem semelhante, até no sentido que pessoas apegam-se a ela de tal forma, que acreditam mesmo que podem oferecê-la como produto de consumo fácil, pensando no bem estar próprio e até, de vez em quando, no bem estar do próximo.
Cada dia tenho mais clareza que arte é algo a ser vivenciado plenamente, já que não há como não tê-la em contato permanente, mesmo que a gente tente fugir de qualquer forma.
Ela arranja uma forma de expressar-se pela gente.
Fiquei feliz quando a nutricionista disse que a coisa diet retira totalmente um dos ingredientes do produto e deu o exemplo:
Um sorvete normal tem colesterol, gordura saturada e açúcar.
Quando ele é diet, é retirado dele, o açúcar, por exemplo.
A moça relatou:
Se houvesse a possibilidade de todos os componentes do sorvete serem substituídos...
Eu disparei na hora:
Ele seria um CHUCHU.
Nesses momentos, o mistério sente uma necessidade enorme de extrapolar o seu espaço e adentrar no nosso

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A pedra e o musgo da gente


Uma afirmação pejorativa não vale nada e vale muito para prejudicar a sua própria energia.
Isso é matemático.
Reforce o negativo, fale coisas grosseiras, reafirme as coisas que são más e a maldade vai sugerir que você de desencante e que você fique raspando com as unhas, o móvel imóvel da sala.
Uma luz é a sua delicadeza e elegância.
Um painel pintado, desenhado e bordado tem a cara dessa lamparina felizarda.
Não que o objeto seja feliz, mas a posse da sua significância nos deixa extremamente bem e de bem com a vida.
A vida que é nossa e que é de soma e multiplicação para muitos outros.
Uma pedra enfeitada com musgos que deseja ser pedra polida, precisa de um pequeno tremor de terra para ser atirada no rio e alcançar o seu intento.
O musgo pode servir aos peixes, porém a pedra não perguntou pra ele se o sonho dele era esse.
O musgo perguntou à pedra se ele podia se grudar a ela?
A vida é esse emaranhado de coisas que se perguntam e se respondem e também pode não ser nada disso e tudo isso ao mesmo tempo.
No meu jeito estranho de pensar, o que tem graça mesmo, é o raciocínio que existe na pedra e no musgo da gente

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Até mamãe


Ainda bem que o pai da moça que voltou do Canadá sabe e acha que tudo isso que está acontecendo com a família dele é uma brincadeira.
Eu soube disso depois que ele retrucou uma fala do jornalista, que criticou o fato de um caso como esse ser notícia.
E eu, brincalhão que só, emendei face a face:
Ei, está todo mundo aqui?
Não!
Só não está a médica brasileira que está no Zimbabwe.
Um amigo logo comentou:
Então seria: " Volta médica brasileira"?
E eu retruquei novamente:
Seria, mas ela ainda tem muito trabalho por lá.
Enfim, está todo mundo sonhando - inclusive eu - postar alguma coisa e virar gente famosa, num clique.
Eu me incluí, porém eu já sou demasiadamente famoso, sabendo que até mamãe tem alguma crítica a fazer sobre a minha pessoa.
Coisa de gente famosa e que não preza pela unanimidade.
Já disseram que toda unanimidade é burra.
A minha dúvida idiota mais frequente é saber se eu trabalho, ou se eu ganho dinheiro.
As duas coisas?
Não, eu pensei em muito dinheiro, porém a minha progenitora disse que quem pensa assim, no dinheiro, é gente sem formação.
Meu Deus, nasci tão bonitinho, tudo no lugar e com os olhinhos penetrantes.
Ainda bem que formei-me em artes visuais e trago nos olhos o bom das coisas.
Trago mesmo.
Absorvo e fico trampando no tecido pra ver se com o bordado e o tingimento da linda, ainda consigo aproximar-nos da caixa de surpresas que nos trará a glória de não sermos percebidos pela ignorância

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Milagres de fé


O fio transparente da anunciação.
Anunciar com transparência o seu ponto de vista é, pra mim, motivo de muita satisfação.
A luz que passa entre a trama de algodão do lenço muito bem passado é um presente para os meus olhos, da mesma forma que me são presentes, as manchas coloridas pelos pigmentos Tupy.
Um índio me confidenciou que a taba é grande e comporta o seu coração de forma inscrita.
O cardio encontro encosta em todas as paredes de palha e a curiosidade mora no fato que mostra o não incendiar das mesmas, no contato.
O fogo da luz e o fogo da paixão pelo sentimento espiritual da arte translúcida, são modelos da esperteza de um coração em chamas.
As letras das canções de amor começaram a ser compreendidas na sua extensão enigmática e misteriosa.
Eu sou envolvido facilmente pelo mistério e encho-me de graça com tudo isso.
Essa dimensão artística da vida, presume uma vivência instantânea que não admite o exercício de imaginação para o dia seguinte.
Essa frase anterior eu escrevi direitinho, porém não é algo que eu pratique fielmente.
Ocupo-me ainda, apesar do avançar da idade, com aquilo que pode apresentar-se mais grosseiramente amanhã.
Luto bravamente em verso, prosa e atitudes verdadeiras, para ultrapassar esse meu limite ingênuo, que ainda me faz pensar que posso controlar completamente o acontecer das coisas futuras.
Minhas mãos, direita e esquerda, vão escrevendo e desenhando bravamente para tornar real o meu conjunto de opiniões e contradições.
Encanta-me o mistério e encanta-me a forma graciosa que os seus milagres se diferenciam daqueles que a maioria pretende ver acontecidos

domingo, 22 de janeiro de 2012

Mover montanhas


O oposto da característica da pintura impressionista.
De longe vê-se as manchas e precisa-se chegar bem perto para se perceber os detalhes da figura.
De longe a nossa amiga viu as regiões montanhosas, ao longe, guardadas na sua memória.
As linhas feitas com uma tinta preta, vão se amalgamando com o tecido, levemente esparramando-se sobre as fibras coloridas.
A firmeza da convicção do bordado é o braço direito da moça bordadeira.
O mapa estético está traçado e pronto para ser transformado no instante seguinte.
A gente gosta do conceito, mas ele só é importante para a história das artes plásticas contada nos livros.
O que nos é importado é um sentimento inabalável de necessidade de colocarmos publicamente essas manchas, essas linhas e essas figuras combinadas.
Farei uma surpresa menos surpreendente pra você.
O conceito é quase o mesmo.
Vamos publicar e propagar essas belezas para os mais novos e para os mais velhos.
O garoto de treze anos mostrou que uma árvore que absorve energia do sol para a sua sobrevivência, pode ser inspiradora do novo, num processo tão velho quanto o natural.
Vinte por cento mais de energia, é energia suficiente para mudarmos as montanhas de lugar

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Bordas


A moça está bordando o tecido penetrando na sua malha detalhada.
Escolhe a linha e a linha lhe escolhe.
Escolhe a agulha e a agulha a acolhe.
Existem coisas nas quais nem penso, assim como o comentário de minha mãe sobre o enjoo da roupa de cama.
Eu durmo, leio e desenho sobre a cama e nem sei direito qual é a cor da fronha, do lençol, ou do cobertor.
Desta forma não enjoo da roupa e nem do frango meu de cada dia e dia após dia.
Existem coisas sobre as quais nem me debruço.
Preciso pensar mais nos detalhes dessas coisas delicadas.
Estou bordando com caneta fina de fino trato.
Donde teria vindo essa figura com pé bailarínico?
Os tai dais estão encantando as figuras desejosas de surgirem à vista.
A prazo vou distraindo minha ansiedade com os traços de um paralelismo instantâneo, irritante no seu esconderijo.
A moça do bordado destacou a florescência e vem destacando-se na fluência e nos recursos.
A senhorinha observou que a seta não aponta direto para a pomba, mas sim para o galo de briga.
E a paz da pomba estende as suas asas às asas da outra ave que ameaça a vidência.
A flecha é sábia e organiza o caótico mundo da pureza inabalável.
A pureza aí, mora na divertida delícia que é participar dessa dança cuja música é feita com linha, agulha e lumbramento.
Deslumbrar-nos não nos cabe, afinal é de mais lamparinas que carecemos

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Diversão e sucesso


A nossa certeza de quase nada e a pretensão de querermos adivinhar o futuro.
Foi pedido para que escrevêssemos uma única palavra num pedacinho de papel, um sonho, uma querência.
Várias pessoas escreveram:
Muito dinheiro.
Duas palavras e muitos sorrisos e risadas.
A única palavra mais escrita foi sucesso.
Quase resumindo, que maravilha a união de muito dinheiro com sucesso, porém, o único senão é que as pessoas deram essa resposta como quem imagina, ou como quem sonha, ou ainda como quem entra em transe.
Professo que adorei quando ouvi duas pessoas, cada uma ao seu tempo, professarem a palavra diversão.
Ai como será lindo quando unirmos o sucesso divertido que é termos muito dinheiro.
Meu filho observou que preciso do mercado para imaginar-me dedicado ao ato de pintar e desenhar sobre tecido.
O mercado que propõe que alguém pendure tudo isso na parede e contemple, dividindo e multiplicando esse prazer com os amigos e parentes que comungarem o seu espaço.
Maravilha essa dinâmica.
Que maravilha o garoto que olhou para uma árvore e construiu um aquecedor solar que armazena vinte por cento a mais de energia do que as placas convencionais.
Estou colocando em paralelo de necessidade, o uso da energia solar e o uso da obra na parede.
É por tudo isso que admiro a diversidade das pessoas na rodoviária lotada.
O menino precisou abstrair a árvore, olhando além do seu signo e percebendo a forma com que ela absorve a energia do sol para a sua sobrevivência.
O menino vê a poesia que há em tudo o que está fora dele.
Precisamos desse nosso garoto pra colocar na mancha de tinta sobre o tecido, o desenho linear do mapa, que mostra onde se esconde o tesouro da dúvida, que é o sucesso que sucede tudo isso e mais

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Quietude barulhenta


Quieto, quase em silêncio, cabeça e pés apoiados naqueles macarrões colocados na superfície da água na piscina.
Meditando, tentando ver as cores dos chacras.
Deitado ali, eu enxerguei o vermelho, o laranja, o azul e o branco.
O verde todo estava nas beiradas, nas folhas, nos caules, nos cocos, na canga, na toalha, na paisagem da foto e fora dela.
O som marinho e o verde da água daquele dia, trouxeram as cristas brancas em diferentes velocidades.
As palavras - por aqui - emudeceram sem símbolos coloridos, ou qualquer outro rastro.
Todas elas ficaram sendo professadas por mim, nas falas professorais e quase objetivas sobre as atitudes das pessoas em conjunto.
A praia está mais limpa, com as pessoas mais conscientes e menos cegas aos, sacos de lixo dispostos por todos os cantos.
Levamos o sol ao local, divertindo os almoços e os cafés da manhã.
A diversão da lembrança foi raspar com a colher da própria fruta, a massa branca da polpa.
A previsão era de chuva.
Agradeço a oportunidade de passear por uma construção tão lindamente projetada e construída e agradeço o olhar verdadeiro das estrelas, dos pequenos bichos e das flores lindíssimas que nos ensinaram a admirar e olhar ainda mais para dentro das coisas das quais nos apropriamos.
Engoli todas essas imagens, textos, sons e gestos.
Estão aqui, de uma forma, ou dessa outra, dispostas a interferir e interagir contigo

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A santa idade


Precisa-se de cartazista.
Encontrei essa frase no meio de cartazes de um supermercado, presos na cerca metálica.
Achei o máximo o artista pintando a pincel sobre cartolinas, fazendo recortes em forma de estouro e essas coisas do arco da velha.
Ao escrever isso, dei-me conta que a expressão deve-se à coluna da velha arqueando para aproximar a senhora do olhar pro chão.
Olha onde pisa moleque!
A história vai sendo contada aos instantes.
Resolvi não escrever sobre os adesivos colados, aos montes, na traseira do carrinho popular.
Um verdadeiro sincretismo religioso se a maioria das imagens não pertencessem a religiosidade da carne.
E você segue me entendendo cada dia mais claramente, já que a imagem da santa jazia no meio de todas as outras.
Os pássaros permanecem em constante movimento, mesmo que as suas asas nem necessitem de tanto movimento assim

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Tricentésimo


O tricentésimo conjunto de palavras.
Adjetivos ordinais numa ordem simples e dinâmica.
Três vezes cem, sem nada que a desabone.
Abonadas estão as palavras, com seus significados nessa nossa língua mátria.
As mulheres jamais saem de casa feias.
Gostam-se de um gostar de todo jeito.
Embelezam-se de tantas formas que não há como não se colocar bom gosto.
A multiplicidade de vestirem calças, vestidos, calçados e bolsas, salpicam as ruas e avenidas com a voracidade e a compulsão pelas cores e listras.
O gostar é o parente mais próximo do amor.
Há que se gostar muito e os gostos são os mais variados.
É justamente aí que separam-se os primos.
O amor é um só e vem dentro e sem tampa.
O gostar sublime.
Ama-se de tudo que é vivo.
Gosta-se de plantas, mas ama-se as pessoas e os bichos.
Esses gostam, porém não amam.
A gente ama e ama de tanto gostar dos jeitos, manias, detalhes e composições.
Ama a gente e ama o outro.
Três vezes cem e mais três e mais cem.
Assim não é o tanto que se ama, mas o quanto a gente gosta de gostar bastante.
Não sou capaz de amar?
Amar é a coisa mais difícil do mundo, já que a coisa mais fácil é gostar.
Um artista então, gosta como uma cama gosta de um quarto.
Não há outro lugar pra ele que não seja fazendo essa coisa estranha de artesanar.
Outro dia li algo belíssimo que pedia para fazermos artesanato da dor, juntando os caquinhos.
Comentei que adoro mosaicos.
Esse adorar é gostar demais e bastante tudo o que une e junta.
Aproximemos.
Artesanemos pois, de tal forma que o nosso gosto nos aproxime cada vez mais e mais e mais, do nosso amor que nos enche de graça e riqueza

domingo, 8 de janeiro de 2012

Escriba


Escrever.
Ler é ver.
Escrever é reapresentar o que se viu, através das palavras.
A gente escreve porque lê as coisas, lê as suas e as nossas situações.
Existem exames que buscam provar e atestar a boa testa pela boa redação.
Existem coisas assim.
Outras tantas coisas são, assim e assado, por uma vida inteira e mais três meses.
Não conseguimos definir uma linha de raciocínio para os nossos desenhos pictográficos, porque o barato é a cara ideia que temos, da multiplicidade belíssima de raciocínios.
Quando vemos uma coisinha, já mora lá uma outra coisinha coçando a nossa vista, visto que coçamos mais por dentro do que por fora.
O trabalho que dá nos é dado dentro do jogo.
Estava convicto na hora, achando que tudo isso não é um jogo.
É um jogo e deve ser um jogo bonito, onde a nossa desigualdade busca o tempo todo igualar-se na boniteza.
Tudo é uma questão de gosto e também isso é jogado nas atividades interativas da gente.
O moço da novela foi expressar o seu gosto e pôs uma venda a perder.
Não que não se deva colocar à vista o gosto, mas há que se ter a compreensão do novo - e esse - chega sempre e chega avisando.
O aviso do escritor é importante até o ponto que representa uma parcela daquilo que ele compreendeu e daquilo que a coisa compreendia.
Apreender parece-me sempre importante, internalizando para que seja colocado à prova no momento solicitado.
Torno-me solícito, a medida que observo ainda mais atentamente cada um desses instantes compartilhados pela nossas retinas.
Nesse instante, apresento o meu olhar, admirando o seu olhar fulminante.
Escreves

sábado, 7 de janeiro de 2012

Localizar barbantes


Tingir tecidos enrolados, amarrados com barbante, ou linha.
Tai dai é isso.
Uma surpresa atrás da outra e muito mais a frente e além.
Surpresas bonitas.
Vários tecidos diferentes produzem fundos maravilhosos para receberem uma figura estranha nas suas entranhas.
Outro detalhe interessante nos tai dais são as pequenas manchas nas pequenas entranhezas do tecido.
É diferente tecer uma composição com as linhas finíssimas como fosse um desenho.
É divergente até.
Diferente de ver gente e representá-la.
A composição dessa forma lúdica de pintura é obra do casamento perfeito entre o acaso e a opção objetiva das amarrações, da cor e suas localidades.
Localizar o ponto exato, onde deve residir a figura, talvez seja a maior aventura futura.
O local do êxtase e da sublinação do encantamento.
Locar um pequeno espaço e torná-lo maior.
O local preferido do meu sentimento é localizar-se bem próximo do seu que faz tanto sentido

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Compulssível


Numa espécie de homenagem aos muitos que não entendem nada do que eu escrevo, decidi contar o que se passou há pouco:
Subindo a avenida com meu automóvel, à direita - sobre uma loja de colchões - observei um painel gigante onde apareceu escrita a palavra Koil. Não fui ao dicionário inglês-português, mas no mesmo instante, imaginei uma mola, afinal a minha cabeça levou-me ao personagem do desenho animado: Os Impossíveis.
O nome dele é Koil, o homem mola.
Desta forma não foi tão impossível fazer a associação da palavra com os colchões e suas molas. Já imaginaram se não for nada disso?
A graça está exatamente nesse descompasso com passado, presente e um incerto futuro.
O que importa se ao dirigir-me ao dicionário, encontrei a palavra grafada com C e não com K?
No painel está escrita com K, mas com certeza, essa é mais uma brincadeira, parecida com a da moça do caixa do supermercado onde comprei o chocolate do padre.
Ela me disse que adora doce e mais doce e mais doce e esse é o motivo que a faz ser gordinha.
Eu disse: Vocês são impossíveis!
E ela reafirmou: Nãoooooo
Nós somos COMPULSSÍVES

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

A noz, as batatas


Estou vendo daqui, dois planos feitos com algodão pintado.
Vejo uma estrelícia multicor, marcas na massa acrílica feitas com a boca de um copo plástico, vejo verdes muito claros, vejo uma quase tartaruga, um canário da terra.
Vejo contrastes equilibrando a cena diferente do natural.
Uma composição feita com coisas da natureza, coisas da cabeça natural, coisas inventadas pelo espírito, e mais coisas na contra luz.
Na luz desse dia bonito vejo secando um verniz acrílico, colocado sobre tudo, para dar mais graça ao rebento.
Rebento que vem vindo à luz por esse que digita esse texto na busca da elegância que - nessa língua - já tem  elegância no bastante.
Espero daqui, secar a camada grossa de verniz acrílico.
Esses instantes de esperança, são parte lindíssima dessa minha vida galopante, regada também na gordura e na proteína da noz.
Nas pastelarias e nos bares, nós buscamos bolinhos de bacalhau com mais peixe do que carboidratos.
Antes da passagem do ano passado para esse, foram bolinhos riquíssimos que - fritados no azeite - nos renderam momentos de divina esperteza e beleza.
A receita pedia o dobro de batatas do que de filés de bacalhau, porém, a matriarca definiu que as quantidades seriam as mesmas.
Ela tende - quase sempre - à nobreza dos números.
Enquanto seca o verniz, o sabor da guloseima, enche de beleza o nosso interior e o interior dos amigos da gente.
Aos inimigos, se eu os tenho, mais esperança