sábado, 12 de novembro de 2011

A predileção


Um menininho ao ver numa sala pequena um monte de placas de papelão, perpendiculares ao chão e desenhadas com traços pretos formando figuras, revelou:
Tia, é assim que você aprende a contar as suas histórias, né?
Conseguem imaginar a quantidade de histórias que passou pela cabeça dele para que proclamasse essa frase em alto e bom som?
Parece aquele outro menininho que ao ver a demolição de uma casa, exclamou para o pai:
Papai, estão construindo um terreno.
Essas são as mágicas revelações surgidas da racionalidade humana.
A razão que suporta a tese que a casa tem quatro paredes, um chão e um teto.
Sim, existe o terreno, a casa, as placas de papelão, o peixe, a jabuticaba, a dona benta e a benção que é extrapolar o limite do significado de cada uma dessas coisas.
A casa se casa com as placas que casam-se com o B da benta, que encanta-se com os peixes que desfilam pelo riacho onde a narizinho reina.
Assim revela-se o dia em que as coisas abrem toda a possibilidade para serem redescobertas e reconhecidas.
O reconhecimento se faz na medida que as nossas antenas, sintonizadas deus de sempre, casam o preto com o preto e com o brilho que o preto tem