terça-feira, 18 de outubro de 2011

Asas retratos


Prefiro a fotografia ao vídeo.
Refiro-me ao momento do estático e a sua propriedade de termos mais tempo para uma observação mais apurada.
O fundo ali, preparado para transparecer um outro rosto, uma maçã, uma estátua chinesa, um doce.
As imagens em sequência merecem uma atenção repetitiva que tem um outro tipo de encantamento.
O fato é que meu irmão mais moço guardou todas as fotos do nosso pai, juntamente com seus porta retratos. 
Colocou num baú especial, num esconderijo rígido, planos de madeira e gaveta.
Também é fato que achei - pra mim - desnecessária medida.
Outro dia mesmo, observando a foto da familiagem toda reunida, vi o sujeito ali - sorriso exposto - me pedindo uma música.
Toquei-lhe o pedido e toquei.
Retoquei a foto que tinha na cabeça.
Aquela imagem do momento em que o juiz punha um ponto final na partida do palmeiras, num momento raro de vitória, onde eu e ele tocávamos as palmas das nossas mãos em sintonia de sinal.
Toquei as cordas do violão e lembrei-me dos toques da sua mão na minha mão.
Mamão com açúcar.
O fato é que a foto é um registro em papel de um registro mais sublime.
Julguei a medida desnecessária, mas respeito o gesto, gestando ainda mais em mim, a sua imagem perpétua no nosso caminhar direto para casa.
A sua imagem também é a sua, perpétua.
Você que ainda caminha comigo e conosco nessa trajetória familiar, compartilha a mesma rede de energia cosmética, bela e univérsica.
Nós que ainda nos temos a todos, recorremos diariamente à lembrança braçal da fala firme e do toque berrante.
Fizeram questão de fotografar-lhe o reduto de filtragem e - até ali - encontraram preciosas pedras.
Gaveta não tem propriedade no nosso território. 
Reunimos a tropa toda para fotografarmos os detalhes e colocarmos tudo nos nossos asas retratos