domingo, 2 de outubro de 2011

Esperas


Veja se você acompanha - grudado a mim - a minha escalada pensamental sobre a reportagem que mostrou  a experiência de quase morte.
Encontrei ali algo que me remeteu à uma espécie de Mitologia cerebral.
Só se volta pra essa pureza mundana se o cérebro ainda funciona.
Desta forma, num ritmo acelerado as imagens gravadas e guardadas, vão aparecendo pra pessoa que está no meio do caminho.
Cristalina, essa informação desceu como uma luva - como se impulsionado pela ação da gravidade - pra dentro da minha cabeça e do meu coração crente.
Quando se volta, tem-se uma história pra contar.
Principalmente a história que fala sobre a enorme e ofuscante fonte de luz, sobre a qual todo mundo ouviu falar a vida inteira.
Todo mundo guardou a imagem e a gravou.
Nada disso, que diz sobre a ciência e a efemeridade da vida útil que temos nessa terra, me faz preferir esquecer a crença nas coisas mágicas da nossa casa.
Simplesmente me encanta a clareza existencial e técnica da capacidade do nosso cérebro.
Continuo adorando a frase do nosso Águia de Haia que diz que há mais mistérios entre o céu e a terra do que a nossa vã filosofia e assim, seguimos quase vivendo, ou quase morrendo.
Eu e você, você e eu.
Idolatro o Pessoa, mesmo entendendo que ele escreveu diferente do que ele quase vivia, vivendo como quem estivesse quase morrendo.
Um grande amigo sempre me diz que a morte nos absolve.
Algo me diz para que creia, mas sigo auto absolvendo a minha absorção dessas esquisitices todas.
Vejo uma maçã sozinha, esperando vermelha, amarela e verde.
Espera o que a maçã?
Digo que ela espera que alguém a veja e a tenha, muito mais além, do que ela simplesmente representa