quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Sabedoria espética


Agora eu posso enfeitar.
Uma menininha, de manhã, sugeriu essa frase como um questionamento.
Eu disse a ela que começaria esse texto, usando a sua pergunta, porém bradando-a como uma afirmação.
Posso enfeitar.
O enfeite arruma, embeleza, enriquece, embora vários críticos de arte contemporânea garantam que quanto mais enfeite, mais informação e portanto, mais desinteressante.
A arte que acontece agora pede minimalismos, redução de elementos que sejam capazes de dizer aquilo que se quer.
Repito:
Posso enfeitar.
Um drible é um enfeite nos toques dos pés na bola.
Um enfeite é um toque.
Um desvio da obviedade.
O que será que leva alguém que nunca teve os pedaços de jornal, cola de farinha e papelão, perguntar se nessa semana iríamos continuar mexendo com cola de farinha, pedaços de jornal e papelão?
É interessante pensar nas infinitas possibilidades de resultados que ele teria se tivesse tido a intenção de agrupar nas mãos os referidos materiais.
Muito mais do que materiais, precisamos do enfeite da sabedoria do desnecessário.
O que desnecessita ao sistema interessa ao esperto espeto.
Adoramos tentar espetar a azeitona, se ela teima em escorregar, distraindo nosso garfo.
O fato curioso não está em ser espeto.
Resta-nos a esperteza de observar, bem de perto, o que pretendemos espetar escorregando sentinela propondo-nos novos modos