terça-feira, 23 de agosto de 2011

O quentume das patas


A mão de minha mãe mostrou-se fria num dia frio, numa noite mais e mais.
Buscou aquecer-se nas minhas costelas e nem percebeu que era eu, a lhe mostrar o meu ser de fogo.
Disse que meu pai não gostava de mãos frias na sua hora dormindoura.
No seu descanso eterno, minha mãe observou que ele estava com o semblante lindo.
Nesse momento ela teve a intenção de fazer-lhe o último pedido que eu, no mesmo instante, também intencionei:
Fala comigo!
A senhorinha minha mãe é sábia.
Sabia que não era possível que ele respondesse naquele momento, mas que ele nos responderá sempre que nós intencionarmos, assim como dantes.
A maternidade dela é a sua descrição mais densa.
Tudo pode ser revisto a partir de acontecimentos fortes que decidem de forma rude e truculenta.
Essa decisão, num segundo instante,  vem parecendo ser motivo de arrumação de geladeira e casas.
Uma oportunidade diferenciada para colocarmos asas nas coisas mais sutis e mais simples.
Essa mulher vai andar ainda mais, colocando-se à disposição de posicionar-se ainda mais coerentemente.
A minha capacidade de inventar certamente veio desse viés materno, feminino e meticuloso.
Cheia de graça é essa vida hospitaleira.
Nos hospedamos nela, cada um com seu gosto por determinado quarto - e eu - acostumado a gostar do barato, gosto do quarto mínguante.
A dona das invenções me acha pão duro e muquirana quando me vê diante desse tipo de informação.
Tem direito.
E eu esquerdo, tenho certeza de achar possibilidade de ensinar e aprender no meio dessas coisas providenciais.
Temos dedos para apontar e todos eles para juntar, agarrando as coisas e as pessoas fiáveis.
Leoa, nos encontramos entre as letras, as ocas, nós e as nossas casas-redondas.
Caminhamos essa estrada de terra africanabrasileiríndia.
Nela, juntos, vamos afiando nossas patas diferentes