sábado, 13 de agosto de 2011

Bordados


Fotografamos uma escultura singular.
A moça disse:
Olha que cena maravilhosa.
Quando arregalou os olhos para a cena, ela quis mostrar-me os frutos de uma árvore bonita no jardim da empresa.
O que vi foi a escultura.
Uma lixeira de madeira bonita, tendo dois galões de produtos com limpeza sobre a dita.
Um galão vazio deitado.
O outro em pé com um quarto de líquido cor de rosa dentro.
Uma generosa escultura.
Enquanto fotografamos as cenas da árvore e da escultura, surgiu das cinzas um segurança carrancudo dizendo:
Ei, não se pode fotografar no recinto do empreendimento.
A moça esperta foi saindo devagarinho, pois já rangia os dentes com braveza indômita, vendo no ato, uma truculência do poder.
Eu, pedagogicamente, disse ao enternado, mostrando a foto da escultura:
Moço, esta lixeira não pode ser fotografada?
Ele respondeu:
Ah! Esse produto pertence àquele faxineiro que está limpando os vidros do prédio.
Eu retruquei saindo esperto e devagarinho:
Ah bom!
Bom foi ficar pensando o resto do dia inteiro - que para o poder - dois galões de produto de limpeza, servem apenas para dar brilho aos vidros prediais.
Foi só atravessar a rua e nos deparamos com duas caçambas recheadas com telas branquíssimas, prontas para serem pintadas e sublimadas pelo nosso espírito.
Foi chegarmos nas caçambas e muitas outras pessoas chegaram também.
Conseguimos recolher quatorze painéis e levamos de lambuja, a observação de várias pessoas interessadas nos cacarecos entulhados da última decoração do banco em questão.
Que reconstituição darão aos restos, só o tempo dirá.
Estou, aqui com meus botões - vendo de perto - as linhas tornarem bordados, os desenhos feitos nos jeans das calças há algum tempo.
Essa reconstrução demonstra a limpeza da alma, da moça que fotografa as bordas