segunda-feira, 18 de julho de 2011

Casa quatro


Na casa quatro eles moraram.
Construíram uma nova e mais uma e mais uma.
Vivem construindo imagens, umas após as outras, colibrindo, florindo, dando ares novos à imaginações mais novas ainda.
Uma cadeira e todo mundo senta.
Uma cadeira mais, e mais uma casa senta-se no seu acento, acentuando a efervescência dos cortes no linóleo, feitas pelo dono da propriedade do traço.
Visitei meu calçado para lembrar-me dos couros e das suas ferramentas.
Pirografei na memória o oeste e os fortes sobre o monte de pedras.
Uma vida inteira, dedicada por ele, aos traços seifados na burraccha e reencarnados no papel arroz.
Um sangue purificado corre pelas linhas tintadas num certo relevo que vibra na superfície de celulose.
Suas mulheres gravadas referem-se sempre à mesma.
Essa que tem na alma o texto do colibri, do pequeno beija flor.
Um texto ao qual pertencemos com muito orgulho e gozo.
Ao caminharmos pela praia do nosso tempo, ouvimos com clareza, todos os instantes dentro da concha.
Não há como não ver em tudo e em todas as tarefas, todos os dias que nos pertencem e nos fazem senhores dos nossos próprios atos mais dignos.
Somos dignos de notas.
Todas as notas cantadas nas músicas que nos cantam, desde sempre.
Na casa quatro há.
Uma conexão significativa que transcende o zodíaco, o tabuleiro e a avenida.
Uma casa, duas, três e mais, assim construídas sobre a rocha, na sustentação da crença e da certeza