terça-feira, 5 de julho de 2011

Passatempo




Passatempo.
Uma palavra intensa, cheia de vagarosidade.
Eu sou um sujeito elétrico e quando a gente se sabe assim, a gente vai entendendo mais o movimento das pernas e do corpo inteiro, transitando os gestos sem economia de rapidez estapafúrdica.
Digo isso pensando novamente no passatempo, agora como forma domadora dessa intenção elétrica gesticulante, que se pensa eterna.
Passa-se cola com os dedos na base de papelão, passa-se cola no papel jornal, aplica-o na base, tornando-se a passar os dedos com mais cola sobre o papel estampado com letras.
Antes desse processo, corta-se um a um, os pedaços de jornal, sejam eles dotados de texto escrito, ou cheios de cores.
Dê coração para interiores.
Num misto de intencionalidade racional e casualidade mágica, a colagem dos pedaços vai compondo um texto visual, um dogma imagético, um todo sacramental e lúdico.
Talvez esse passatempo seja mais provocador do que um palavreado que não admite rascunho.
Não nos esqueçamos que também amamos um palavreado parafraseador ou não.
Ao tomar meu café da tarde deparei-me com a sorte do açúcar que não havia lido antes e não consegui me enxergar nela:
Invente menos problemas!
Meu inventário é recheado de problemas que emprego pra mim mesmo e é montado para o meu eterno passatempo.
Imagino que a embalagem do adoçador quer falar dos problemas que arranjamos para os outros, mais do que os que arrumamos pra nós mesmos.
Inventar é arrumar um jeito de estabelecer provocação para aquilo que o tempo se encarrega de deixar absurdamente igual e chato.
Talvez seja por isso que meu desenho insiste em ser tridimensional.
Desejo que a profundidade dele seja aquela necessária ao tempo bem vivido.
Altura, largura e profundidade.
Trilegal, trielétrico, tridimensional na medida que a profundidade do nosso texto vai adquirindo o dinamismo corporal.
Somos os espíritos das torradas com manteiga e queijo, na diferença que existe entre isso e um sanduíche feito com o mesmo material.
Passatempo.
Na minha massa vai queijo ralado e é isso que a deixa crocante.
Isso me intriga no ponto exato, esse que me coloca entre o seu arroz doce e aquele seu salgado