segunda-feira, 4 de julho de 2011

Mililitros


Ao provocarmos, não deixamos as coisas em paz e dessa forma provocacionamos um novo objeto, passando a coexistir com ele, todas as histórias deflagradas pela provocação.
Há na rua onde passo várias vezes, uma senhora da minha idade que cata papéis e papelões, colocando tudo num carro muito velho.
Todos os dias nos cumprimentamos com um bom dia.
Outro dia, minha filha a ajudou, pagando um guincho para levar o automóvel enguiçado até a oficina.
Foi noutro dia também, que a dita senhora soube que eu sou pai da mocinha.
Ela disse que tudo se encaixou e hoje eu tive a oportunidade de pedir-lhe a doação de uma das suas caixas desmontadas, a fim de provar-lhe que tudo havia se encaixado mesmo.
Estou usando a caixa doada por ela para provocar a aparição de um segundo objeto, que se encaixará no primeiro, já oferecido como presente histórico.
Troquei o óleo do meu automóvel logo bem cedo.
Eu disse ao senhorzinho frentista - que tem a minha idade - que colocasse apenas os três litros porque eu não iria trocar o filtro.
Ele foi muito simpático e ao colocar o terceiro litro, deixou um pouquinho no frasco, dizendo que sempre sobrava um pouquinho.
Mediu na vareta o óleo recém colocado, disse que estava ótimo e me deu o restinho do óleo guardado na embalagem de plástico maleável.
Fui maleável em igual medida, dando conta que ele sabia exatamente que o meu veículo motorizado necessitava apenas de dois litros e novecentos mililitros, ao invés dos três, prescritos pelo manual do fabricante.
Desejei-lhe linda sorte, parei na esquina mais próxima, ergui a tampa do capô e coloquei o restinho do frasco pra dentro do motor.
Cada um dá origem ao objeto que provoca e o frentista, gente boa, ficou super feliz em poder ajudar.
A nossa casa está com um parafuso a mais e dois a menos, sempre.
E é assim que a gente não regula nada e vai doando aos montes, aquilo que o monte precisa pra caminhar sozinho, afinal, o nosso egoísmo é humano, assim como humano é o parafuso que prende a paz nas coisas