quinta-feira, 9 de junho de 2011

Mecânica


A lingueta da maçaneta.
Eu pensava na semana passada, ser esse o problema da porta do meu automóvel.
A porta do motorista.
Não era.
A maçaneta estava quebrada mesmo, porém, a porta não abria por fora, porque era a fechadura que estava quebrada.
Hoje soube, que também a fechadura só não era.
O real problema está alojado no miolo onde gira a chave.
Quando essa história me foi apresentada pelo rapaz da oficina que vende auto peças, lembrei-me das histórias todas.
Lembrei-me de todo o processo.
Anteriormente ao fato da quebra da maçaneta, há dois anos atrás, a chave da porta tinha um segredinho na virada.
Hoje, o segredo permanece e só eu o conheço, ou seja, nesse exato momento estou novamente treinado para abrir e fechar a minha porta, no gira gira da chave.
Na oficina, aproveitei para trocar as duas lâmpadas faltantes nos faróis dianteiros.
Já está escuro e, daqui há pouco, vou experimentar a visão nova, das pistas da rodovia.
Como pode a beleza tornar-se mais bela?
Não pode.
A beleza é um movimento e tem pequenos rodopios andantes entre as tintas, reflexos e fios.
Esses que vão se encontrando uns com os outros, numa dança que vai espalhando luz por todos os cantos daqueles que teem o privilégio de enxergar a beleza no seu gesto dançante.
Consegue-se ouvir a música quando se pensa nos fios tremulando qual bandeiras em dia de festa.
O primeiro oficineiro que visitei com meu automóvel para perguntar se ele tinha a fechadura, perguntou-me se a mesma era elétrica.
Fui logo dizendo:
Você tem certeza que está vendo o meu carro?
Para quem não o conhece, ele é bem engraçado, o automóvel azul royal.
Respondi que a fechadura é mecânicíssima.
De tal forma mecânica, que agora tem seus próprios truques a ensinar-me muito.
Um toque especial e a porta se abre e se fecha.
Toques especiais são necessários para que se consiga cantar, escrever, desenhar e fazer essas peraltices todas.
Outro dia um aluno me perguntou se os artistas necessitam de angústias e tristezas para expressarem-se.
Respondi a ele que muitos artistas funcionam dessa forma, porém no meu caso, se estou angustiado ou triste, não consigo expressar-me em nada.
Ando cinquentenário me expressando muito e apaixonado, elétrico e mecânico, tal qual modernos italianos em acalorada conversa