segunda-feira, 6 de junho de 2011

As cousas


Você chutou alguma coisa na calçada.
Estou calçado na ideia de apresentar ao mundo algo novo, diferente do que eu vi nesse instante e no anterior.
Calçado estou com sapatos forrados com os forros macios de um couro sevado a corte.
Cortou-me o coração ver as imagens grosseiras que passeiam pelas telas planas dos mercados e dos supermercados.
Nada é mais barato do que mil coisas reais.
As coisas são de uma realidade cada vez mais bruta e vivo pensando para que serve o que eu faço, quando o que faço é arte.
Servir.
Eu nasci para servir.
Adoro servir quente ou frio, gelado ou tórrido.
Nesse outono invernal, os ipês anunciam a primavera através dos seus lábios.
Os seus, não os dos ipês.
Os seus são de pronunciar e anunciar as coisas da realeza, que fazem-se reais à medida que são suas.
Ouço lá de baixo, um grito.
Um desses, diferentes daquele que, aos berros, alguém pronuncia para fazer mêdo.
Você atravessou a rua imaginando, à toa, feliz, distraída e bela.
Esse espaço é o espaço da beleza que existe entre o que já existe e aquilo que está na porta de entrada do conhecimento do mundo.
Algo aparece.
Alguma coisa vai atravessando o espaço da rua.
Ela vai e vem, vem mais do que já foi.
Tudo passa por essa coisa que parece uma porta ou janela, sendo que já é surpresa, com certeza.
Passar é um ritual egoísta que torna-se autruísta quando estusiasmado pela luz que a coisa entoa.
Ouça.
Veja o som que a coisa mostra.
Atravesso a rua que separa um lado de todos os outros