terça-feira, 31 de maio de 2011

Chão de estrelas


Passei pelo corredor da escola e vi um menino desenhista, na biblioteca, lendo um jornal atentamente.
Nem precisaria ser atentamente.
Só o fato dele estar lendo o jornal com a folha dupla aberta, já é um fato diferente.
Achei tudo isso ainda mais interessante pelo fato de ser essa imagem, uma imagem que deveria ser óbvia, natural, a mais comum.
Não é.
A maioria das pessoas da idade dele e até da minha idade está mais disposta a outras diversões.
Não me aborreço com isso.
Sei que as gerações nascem uma após a outra e cada uma possui manifestações próprias, além das já agregadas.
Uma aluna bradou em alto som:
Não estou usando de tecnologia nesse desenho.
Logo, uma amiga interferiu:
Não está usando uma tecnologia de ponta, mas está usando a tecnologia que esse lápis grafite lhe oferece.
Nada mais explicativo.
Outro garoto me disse que o tio é viciado em video game e é casado e tem filhos.
Resumindo, tudo é questão de equilíbrio, esse equilíbrio tão distante.
E lá vem outro garoto me dizendo que ficou um mês de castigo - sem net - e não lhe fez falta.
Meu primo parou de fumar e disse que faz questão de tomar café sem açúcar para provar que a história que uma coisa puxa a outra é história fiada.
Afiada é a lâmina que nos impulsiona para a felicidade.
Cada passo é uma fisgada.
E não há outra maneira.
Sobreviver é uma travessia onde nos equilibramos sobre uma lâmina fina.
Viver e conviver é arte, por conta da delicadeza e presteza da observação.
O olhar atento sobre a cena que apresenta uma lâmina de barbear antiga, posicionada para cortar um globo ocular, é a ilustração perfeita para a trilha humana, nesse caminhar terrestre.
Nós, flutuamos densos, espalhando nossa sombra sobre o concreto plano, modelando esse espaço escuro sobre as lajotas lisas, as pontilhadas de borracha e as outras, de texturas, as mais diversas