quinta-feira, 26 de maio de 2011

O vendedor de livros verdes



O moço gritou do outro lado da rua:
Olha a revista usada, olha a revista.
Eu olhei e vi um monte de folhas impressas, grudas uma a outra por grampos cobres.
Eram páginas sortidas, sortudas de ficarem olhando uma para as outras cara a cara.
Folhas diversas, coloridas, em preto e branco, sépias de serem sépias devido ao tempo.
Adorei a cena, só não prostrei-me para reverenciá-la.
Admirei.
É belo juntar os fatos, as fotos, as folhas, as figuras todas, fazendo amizade, umas com as outras.
Um querido aluno, quieto de ser falante pra ele, começou a desenhar pintando com giz pastel oleoso.
São desenhos pequenos em tamanho de folha.
O mais lindo foi saber que um amigo de sala, vende os trabalhos por um real.
O desenhista, anota todas as vendas, nome a nome, para registrar a nobreza desses gestos densos e racionais.
Outro menino mais velho, quis de toda maneira, que um amigo entendesse que um desenho bacana, não precisa necessariamente ser um desenho perfeito, na dita perfeição de uma hiperrealidade. 
que o desenho seja torto, de uma tortura sem atrocidades.
A menina prodígio me disse que as folhas pintadas de verde, são mais árvore do que as árvores que são sustentadas por cimento e pedra na avenida.
Existe coisa assim na nossa cidade, a fim de dar sentido ao nome do bairro.
Árvore grande, é como um nome de caminho inteiro, é como a cera que se dilui em banho maria, de maria que se conhece.
O vendedor não precisa vender mais nada, ele precisa dar um descanso, ele precisa perceber o valor.
Valorizada está a cantiga a ser gravada e executada em público, propagada.
A perna que adorna o corpo, espera um joelho novo e espera um pai, que ansiosamente se revolucione.
A gente vem da linhagem, mas a gente vem pra mudar, a gente vem pra doar e a gente vem pra vender.
O vendedor de doações é um sujeito que depende de esperança, de esperar um barulhinho de galho, uma mexidazinha de nuvem, um verde que suspire, morangos