quarta-feira, 18 de maio de 2011

Ser mão


Ser mão é mais fácil do que ser pé.
O pé tem um trabalho danado pra sustentar a casa inteira.
A mão é devaneio, é escritora, desenhadora.
Os dedos são mais compridos nas mãos do que nos pés.
A escavação da terra faz-se com as mãos, os pés são afeitos a passear por ela.
As descobertas estranhas são empreendidas pelas mãos, os pés decidem se usam mais as suas plantas.
Os pés ficam plantados quando querem que as mãos representem os frutos da árvore com seus galhos braços.
As sementes são plantadas na esperança dos frutos e o grande barato é não poder vê-los frutificando.
Na maioria das vezes, colocamo-nos a esperá-los.
Ter a certeza na espera.
Imaginar a lua, que foi vista numa cidade pelos olhos dos outros.
A lua está, mas não quer ser vista, quer apenas  aparecer na memória embelezada.
Matisse disse que a pintura que retrata uma mulher, não é uma mulher, da mesma forma que Magritte afirmou que a pintura hiperrealista de um cachimbo não é um cachimbo.
Enfim, as mãos , os pés, o corpo, seus membros e a cabeça, são matéria enfeitiçada pelos traumas diários que as coisas lhe impõe.
Matéria recebedora de feitiço e de encantamento, que enquanto respira, faz circular o sangue e eletrizar os neurônios, conversa consigo mesma e apresenta a fotografia aos que parecem perceber a mesma coisa.
O bicho do pé é uma ranhura do pé geográfico.
Calor é chama.
Na ponta dos pés, o desenho dessa trajetória não consegue representar o frio que acontece, enquanto chamamos nossas mãos para um encontro caloroso