quinta-feira, 5 de maio de 2011

A verba e a verborragia


Estou a procura de uma verba.
Um incentivo para que eu desempenhe o meu ofício de desenhista.
Que eu faça isso e também multiplique um pouquinho aquilo que eu fiquei sabendo, transpassando tudo para os outros, que como eu, desejam conectar suas antenas nessa sintonia.
Que essa verba seja privada e que não me prive da libertação dos signos das coisas.
O dinheiro público deve mais à educação, à saúde e à segurança.
A verborragia é uma síndrome compulsiva, hemorragia que verte sangue pelo sangue palavriado.
Estou desenhando sobre uns panos brancos, do tipo daqueles que a minha nona quarava, sacos de estopa.
O estopim da criação, o gatilho da identidade e da edificação das coisas estranhas.
O estranho sempre me encantou sem que eu tivesse consciência disso.
Para mim, essas coisas que nos impeli a emitir sons e gestos imantados, sempre foi consequência de ter acordado.
Nada vai mudar, continuarei a ver figuras nas nuvens e nos borrões das solas dos sapatos, no detergente caído sobre o chão do supermercado.
O da Vinci já esquematizou figuras e figurões, advindos dos bolores nas paredes, porém isso, nem foi tão estranho.
Ele dissecava cadáveres em tempos de caminhadas silenciosas em carros de boi e de madrugada rascunhava os primeiros atlas do corpo humano.
A verba ajuda o verbo e vice versa, assim versamos sobre aquilo que fazemos de fato.
O fato é que nem precisamos de tanto capital.
A capital da nossa vontade é tê-la pulsando, no nosso interior