terça-feira, 3 de maio de 2011

Passando o rodo


Na sala de espera do consultório do doutor eu não leio e nem vejo revistas.
Ponho em revista as coisas da decoração de interiores.
Esse povo entende de espaço, de materiais diversos, de texturas e superfícies.
É bonito o conjunto de sólidos no espaço, suas arestas, seus lados e suas cores.
A imagem abstrata é interessante vista desse prisma.
Pensar no nascedouro dela, produzida em pintura, no final do século dezenove.
Hoje o abstracionismo veste meus olhos no consultório, nos portões, nas traseiras dos caminhões e em todos os lugares possíveis de juntarem-se materiais diversos e seus desenhos inusitados.
Olhem o rodinho deslizando pelo piso, pintando com água e detergente os ladrilhinhos previamente escolhidos.
Uma pintura que dura o tempo do nosso piscar de pálpebras.
Ouvi minha diretora dizer que o Monteiro escreveu, que a vida é um piscar ao nascer, outro na criança, mais um no adulto e mais outro ao virarmos hipótese.
Uma tese, pequena e sujestiva.
Tese inspiradora, que nos eleva à condição de observadores, nos empurrando pra frente, assim como o pano de limpeza percorrendo seu território.
Nossos olhos pedem espaço para passarem seu rodo descobridor, retirando a cobertura das coisas, vendo delas, as suas novas identidades.
Assim desejo fazer a faxina, como faxina a criança e o bebê.
Esperança no rodinho de borracha, que agora espera em pé, com a madeira beijando o ladrilho da área de serviço