quinta-feira, 14 de abril de 2011


O espaço está aberto a todo tipo de aeronaves e máquinas que voam.
As que permanecem paradas também têm espaço nesse canto que busca transformar tudo em ouro.
Um ouro diferente desse que compra aeronaves e pessoas.
Uma áurea investida dos olhos de dentro nas coisas que são possíveis de ver aqui de fora.
As de fora vivem maquinando com as coisas que vivem aqui dentro.
Máquinas maníacas por movimento e invenção.
Inventaram uma história dizendo que o homem foi à lua e lá pôs os pés.
É muito legal imaginar que essas coisas podem ser forçosamente falsas.
Inventaram outra que um atirador, ex aluno, atirou em doze jovens dentro de salas de aula.
Talvez seja mais forçoso imaginar essa coisa como farsa, já que esbarra numa falsa força.
Inventor sem cabeça, ou com ela toda voltada para a fotografia do garoto e do urubu, no tórrido solo da África com fome.
O espaço entre uma invenção e outra é preenchido pela sórdida realidade que assolam as cabeças das gentes inventoras dos próprios pés, andando nesse mundo inventivo e azedo.
Eu adoro um azedume, um açúcar, um adoçante salgado e doce.
Adoro a multiplicidade das possibilidades das coisas.
Gosto da arte e da parte que toca o corpo dos objetos.
Amo a feminina pedra que salta aos olhos e enfeita as contas de ouro, diferente daquele que compra pessoas e aeronaves.
Esse feminino voa, flutua sobre os cantos da mesa de madeira retangular, desejada e conquistada.
O refrigerante famoso nos conta que há mais coisas melhores acontecendo do que as piores que são notícias de última hora.
A nossa última hora é o nosso melhor instante.
Um voo entre uma mensagem e outra, desfilando entre uma letra e outra, digitalizadas pelos polegares.
Sim, o plural de polegar é polegares e o desenho por eles feitos com os indicadores, pinça.
As pinças.
Pinçamos uma folha de manjericão do círculo de massa coberto com tomates bacanas.
Inventamos uma janta mais do que esperta.
Inventamos da hora, na hora, a última e a primeira, reciclamos todas.
Reinventamos as horas e dentro dela ficamos a reinventar os gestos e os movimentos.
Restauramos a dualidade da gente, das gentes e dos seres que existem e insistem nas coisas.
Revisitamos esse multiforme costume, essas roupas, essas vestes.
Vestes? Vestes as vestes?
Consegue vê-las?
Claro.
Assim as aeronaves sobrevoam a derme e a epiderme.
A nossa pele sobrevoa a alma e a gente gosta demais.
Gostamos de mais.
Esse demais, que é um lugar que foi construído bem longe do território de menos.
Esse território distante, onde não nos vemos