quinta-feira, 31 de março de 2011


Há choque entre placas tectônicas?
O que há é um deslizamento entre elas.
Estão, uma sobre a outra, quietas, falantes, tocadas por um toque essencial.
De repente, num movimento mais brusco, resultam falas ásperas e raspantes.
Um barulho, um estrondo, rachaduras e farpas, tristeza e uma dor latejante que só o tempo redeposita parecido, porém de outra forma.
Aqui estão elas, as placas, uma sobre a outra, tocantes novamente.
Deslizes.
As pessoas estão grudadas à terra sob uma lei de realidade invisível, porém perceptível.
Percebe-se por realidade própria que estamos todos ligados à terra.
Movemo-nos, esfregamo-nos, entre a tradição, a ruptura e o realinhamento.
A árvore e seus frutos.
A árvore é a pá do pedreiro, o instrumento, a ligeira pá que tem vontade própria e força.
Madeira de lei no cabo e metal puro, de liga resistente, na forma que segura e projeta a massa que gruda os tijolos e dá acabamento às paredes.
Um talentoso chinês faz malabarismos com seu corpo e com materiais diversos.
Penso em quantas vezes todo esse procedimento não deu certo, ou falhou em suas partes.
O resultado é bonito, é plástico.
O medo resiste ao tempo e deve ser por isso que as coisas várias se repetem.
O malabarista não teve medo do erro, queria apenas amar a si mesmo para poder amar os outros.
Essa é a força da lei que prende os artistas à terra.
Amar bastante a si mesmo e às suas convicções, para poder deslizar com os outros e criar um tipo de amor maduro que possa resistir às várias e realçantes ondas.
Desde o século dezenove o xilogravador já sabia sobre a grande onda japonesa.
Nesse mesmo século o pintor sem orelha também ficou sabendo mais coisas do que já sabia, expressando como fundo de tela, as imagens que recebia do oriente.
Por elas começou a orientar-se.
Sábios esses seres terrestres que se juntam em placas e juntam-se nas praças para apresentá-las em massa.
Pequenas peças são ensinadas às mulheres para que possam gerar renda.
Uma renda fina, que ao ser tocada pelas unhas bem feitas, tornam-se femininos poemas, sussurrados nos ouvidos dos homens e registrados nos corredores deles