quinta-feira, 24 de março de 2011


Eu fiz parte da elite estudantil que estudou na escola, enquanto muitos eram excluídos dessa instituição.
Hoje não.
A escola e o ensino são democratizados.
Todas as crianças e adolescentes estão na escola e se não estiverem, os pais são chamados para esclarecimentos, podendo até serem presos.
Essa democratização aconteceu há pouco tempo, sendo que no início desse processo ainda havia repetência e os alunos nessa situação não se sentiam motivados a continuar na escola, o que acarretava muita evasão escolar.
Foi inventada a progressão continuada, que prepara os alunos para poderem repetir o ano apenas no final de cada ciclo.
Dessa forma foi conseguida a quase exclusão da evasão escolar, afinal a inteligência prática dos jovens, percebeu que eles podem circular livremente pela escola sem serem molestados pelo fantasma da repetência.
Para controlar a ira de alguns descrentes nesse sistema, foi inventada uma recuperação bimestral com reforço em matemática e língua portuguesa, onde durante apenas uma semana, são recuperados os conteúdos não assimilados pelos estudantes durante um bimestre.
Dessa forma todos continuarão na escola, onde todos têm a mesma chance de sucesso futuro, dependendo do seu mérito pessoal, perpetuando a idéia da desigualdade justa.
Na minha grosseira maneira de entender, esse é um processo de passatempo contemporâneo, onde todas as gentes contam suas historinhas básicas, para todos os bois dormirem, enquanto o tempo passa, os dias amanhecem e alguns poucos cofres permanecem mais cheios.
Hoje, na hora do almoço, saí com meu automóvel do colégio e vi, do outro lado da rua, duas professoras de uma escola pública, levando seus alunos uniformizados para passear.
Todos eles seguravam uma única cordinha cuja função era formar um cercadinho, pretendendo que nenhuma das crianças se atrevesse a sair correndo para atravessar uma das ruas, na cidade do medo.
O medo é um forte antídoto contra a discordância rebelde.
Eu sou cheio de medos e superfícies, o que me provoca instantes mínimos de descrença.
Creio na minha ira sossegada gritante.
A minha ira é olhar as coisas com o olhar da filosofia da arte, univérsica.
Minha ira é olhar as filas, as vilas e os vilões, como olho as centogêmeas  filhas da urgência, com o tempo que urge