terça-feira, 8 de março de 2011


Amargo regresso é um filme onde a sensibilidade de alguém fez com que fosse filmada a cena onde o violonista, ator no filme, duela com um menino cego e autista que toca um banjo.
O menino, em algum momento sorri e o seu sorriso se irmana com o do violonista.
No mesmo instante, o senhorzinho frentista, que é o primeiro a perceber o movimento entre o violonista e o menino, começa a dançar magnificamente ao som dos dois.
Uma senhora assiste a tudo da sua janela alta, porém, é uma moça, lá no fundo, que permanece sentada e imóvel, admirando a cena.
Cena admirável, assim como é admirável a postura feminina, tão diversa e tão una, peculiar e radicalmente diversa da masculina.
Não é por isso que, no emprego, as diferenças de postos e de salários ainda são gritantes, ou talvez até seja por isso, já que no comando estamos nós, os homens, colados à nossa arrogância e nossa brutalidade tão frágil, defensiva.
A moça ficou ali, na cena, admirando.
O menino cego e autista sorri.
Eu escrevo esse texto emocionado e sorridente, admirando eternamente o feminino e considerando, assim como considera a conservadora minha mãe, que o dia das mulheres é todo dia.
Toda hora, horas de múltiplas jornadas e múltiplas visões, incluindo a vocação - o atendimento ao chamado - de serem mães.
Faço a nota que mesmo aquelas que não têm filhos, mesmo essas, não dispensam a vocação.
A moça observa os dois e seus sons sincronizados e hábeis.
Após o desfecho do duelo o menino volta a si mesmo, as mulheres voltam-se aos outros todos.
Um movimento contínuo, meio em si, meio aos outros, algumas ainda numa proporção mais radical aos outros.
Desejo uma força ainda maior a você, que luta para expressar um pouco menos, sobre as farpas que sobram de cada decepção, de cada angústia provocada, de cada esperança desesperançada, enfim, de cada fisgada provocada pela nossa arrogância disfarçada e grosseira.
Que eu possa sentar-me admirando mais.
Que nós não precisemos regressar amargamente a nada.
Que eu possa levantar-me das cócoras e caminhar até o som mágico de uma razão que filma a cena e a expressa na tela real desse mundão, do nosso deus de sempre