segunda-feira, 7 de março de 2011



Observei que o verbo melhorar e o verbo arrumar têm características diferentes.
Ponho-me a falar desses verbos sobre o sujeito e ele mesmo.
Eu não arrumo nada em mim, já que o arrumar carrega em si uma imposição normativa. 
Quando tento me arrumar esbarro no conceito de arrumação, mais ou menos estabelecido pelo social.
Já quando tento melhorar algo em mim, mergulho em mim mesmo, a partir daquilo que compreendi e intronizei, considerando que devo melhorar por tais e tais motes pessoais.
Melhoro porque me conscientizei que devo melhorar e arrumo coisas em mim porque a sociedade considera que devo arrumar.
Devo me arrumar para não rumar pelas minhas próprias pernas, mas porque eles acham que devo rumar pelas pernas gigantes que perambulam pelo sistema digestório e selvagem que nos coisifica.
Prefiro a emoção de uma fala certeira que não pretende outra coisa, senão apresentar as possibilidades de entendimento de convicções firmes.
Preferimos a emoção conjunta, a lágrima bonita que escorre brilhante aqui e ali, carregando de sal o rio que represado, está contido naquilo que ainda não conhecíamos.
Sei que amamos conhecer aquilo que antes havia sido apenas a nós apresentado.
Quanto mistério há na apresentação do tema ao artista e quanto mistério há em tornar real, aquilo que antes, apenas imagem apresentou-se.
Abramos as comportas das nossas represas, mesmo que soltas, já lhes pareçam horizontalizados os ferros.
Uma garotinha sonhou com janelas pequenas e retangulares, com vidros circulares e molduras que chamaram-lhe a atenção pelas cerejas.
Num salto, ou três, perguntou a si mesma se, no mundo, há mais janelas do que portas para os homens.
Pensei no instante simbólico que aos homens pertencem as portas e às mulheres pertencem as janelas.
Pensamos.
O que se sente é o não sentar sobre os louros da vitória, mas levá-los a fazer novo perfume aos feijões.
Sento-me e fico observando a boneca que está colocada sobre o sofá.
A quem pertence a boneca senão a ela mesma?
A cafeteira italiana borbulha depois de deitado o café no seu recipiente tão próprio.
Melhorar é algo que ganhei de presente ao mergulhar no lago fundo.
O lago fundo que é ladrilhado em todos os lados por fina louça portuguesa