quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011


Acabei de ler a palavra hospitalidade.
É no hospital que estão os doentes, aqueles que sofreram algum trauma, seja ele de qualquer espécie.
Porém, é também no hospital que estão as pessoas que podem recuperar, salvar, tornar a morte em vida.
Vi a hospitalidade na possibilidade de acolher.
Acolher a ansiedade como forma catalizadora da criatividade.
A morte da obviedade das coisas e a nova vida acendendo nelas.
É tanta sede de sorver das coisas algo diferente do que lhe foi imposto que acabamos por impor-lhe um novo significado.
O código existe, nele repousamos inconscientemente para acordarmos aos pulos, achando uma invenção, reobservando aquilo que tão banalizado foi.
Tínhamos papel sulfite e o papel de jornais.
Apresentava-se a oportunidade das cores várias e do totalmente branco, a fim de que, com a intervenção hospitaleira da imaginação, tudo isso pudesse tornar-se uma pulseira, um brinco, um anel, ou um colar.
A velha e sempre interessante conversa sobre arte e artesanato interessou de tal modo que todas as novas coisas que surgiram na história do mundo nessa manhã, foram únicas em sua variedade.
Imagine um quadrado de papel sulfite grafado com canetas hidrográficas verde e laranja, em riscos paralelos, porém de diversos tamanhos, sendo furado no centro.
Com o espaço exato para caber uma mão.
Pronto!
Tornou-se uma pulseira plana e malemolente, feita em segundos.
A beleza era tão grande, que era a junção da rapidez da execução, com o sorriso do criador.
Ele havia descoberto, tirado a cobertura, desvendado, tirado a venda, descortinado, aberto a cortina das possibilidades que permeiam a nossa existência, a existência dos outros e a existência das coisas.
Uma panqueca de carne moída com molho de tomate no interno, recoberta com molho de espinafre.
Saboreia-se como quem vê a divindade num triângulo retângulo com dois cortes e uma dobra tornar-se uma cadeira.
E o povo querendo juntar coisas, juntar mais, agregar matéria em mais matéria, esquecendo-se que uma forma plana com um corte e uma dobra, quando gigante colocada numa praça, a gente pode passar por dentro.
E gente é feita pra passar por dentro, afinal, por fora, é quase como esquecer-se no virtual.
A sua hospitalidade faz com que as pessoas sempre pareçam estar na própria casa.
Por dentro dela, da própria, que é o único lugar possível de mudar a posição da mesa.
E o mármore cortado fino, é jardim belíssimo, para debruçarmos os talheres e os nossos saberes