segunda-feira, 31 de janeiro de 2011


Começo esse texto dizendo que a gente enxerga muito mais quando olhamos para trás.
Sim, para trás.
Quando olhamos para frente e vemos um muro feito de tijolos desde o chão até uns dois mil metros para cima da nossa cintura e mais uns dois mil metros para cada um dos nossos lados.
Só iremos enxergar alguma coisa além dele se formos descascando sua argila queimada com nossas unhas.
Risco a risco, rasgo a rasgo, desbastando o barro duro até transpassarmos a profundidade dos tijolos que se encontram logo à frente dos nossos olhos.
Veja que, ao enxergarmos coisas semelhantes à nossa frente, após termos gasto os tijolos, é possível que precisemos moldar mais peças de barro para reconstruirmos o muro e imediatamente tornar a desbastá-lo.
Essas empreitadas do olhar são danças diversas sobre as palavras que nos significam.
Apresentei um pedaço de giz para duas dezenas de jovens e disse que ele era o mote, o motivo e o tema, para suas várias representações em diferentes linguagens artísticas. 
Alguém pediu:
Como seria uma poesia?
Preparei a voz e fui logo dizendo:
Antes eu era inteiro, inteiro eu era uma vez.
Fui amarelo, agora sou branco, resultado do susto que você me fez.
O muro começou a ser desbastado, mas era só o começo.
Segundos depois alguém perguntou:
Como seria em música?
Preparamos todos as nossas vozes e cantamos:
TA TA e quebrando o pedaço de giz, ele fez...PLEC
Cantamos novamente:
TA TA PLEC...TA TA PLEC...
E não é que eles começaram a compreender que essas coisas artísticas têm uma outra dimensão, diferente daquela que pede apenas para as abelhas das colméias produzirem mel? 
Quando todo esse repertório poético acabar de gastar todos os tijolos à nossa frente, o que veremos pode até ser mais maravilhoso do que tudo o que vemos quando olhamos para trás, mas o que eu acredito mesmo, é que o grande barato de nós abelhas, seja recomeçarmos a tecer novos tijolos para o mesmo muro