quarta-feira, 26 de janeiro de 2011


Eu vejo flores.
Flores eu vejo coloridas pelas cores que há nelas, por todos os motivos que motivam a nossa melanina a colorir nossos corpos.
Um motivo aparentemente natural e transparentemente sobre o natural.
Encapando-o com uma carga elétrica entre o olhar e o espanto.
Uma coisa que insistimos em nomear com nome algum.
Algum desses que a gente cerca pra achar que tem o nome da gente.
Essa coisa flutuável entre o olhar e o ver, chamam de arte.
Arte nada, parte.
Parte de um escândalo que as coisas provocam nas retinas.
É uma parte das coisas e não a coisa inteira, a coisa que se parte, arde-se toda, como chama de queimar azeite.
Me chama e te chama e os chama.
Aceitamos o fato por princípio, mas o meio e o fim também por nós são admirados.
Ela me viu na flor, em flor, entre a pétala minúscula e o miolo, ela me viu nessa entrelinha.
Na doce ira de quem bate um prego na parede para pendurar um belo quadro.
Um choque no cérebro, uma dormência no músculo anterior das costas e o movimento circular que pretende impor a ela, uma dormência de outra natureza.
Empilhar as palavras, remetendo seu significado às entrelinhas, deseja dar trabalho a quem lê o empilhamento.
Deseja isso, mas também pode desejar saciar um trauma, uma pancada, ou uma veladura escura no coração peludo.
Sobre isso não teço profecia, pois se existe está guardado num local que a minha vista não alcança.
Dar trabalho é a mesma coisa que oferecer um presente que necessita ser acrescentado - não para fazer sentido - mas para que possa, com a graça do outro, oferecer outros tantos sentidos verdes, alaranjados.
A dama acrescenta rendas e rendilhados ao espaço visual da sala grande.
A sala expande-se de tal forma que, o primeiro ponto da linha que borda, transborda