terça-feira, 25 de janeiro de 2011


Foram vinte e dois hai kais.
Não foram vinte e dois dias, mas foram vários deles.
Diferentes, muito iguais, com água, com açúcar e sal, com garfos e colheres, garfos e mais talheres.
Areia, mas não deserto.
E não deserto mesmo, afinal essa é a minha praia.
Não vou embora, afinal a areia na ampulheta desce, aguarda uns instantes embaixo, até que uma mão venha revirar-lhe o sentido, refazendo-a areia de volta em cima.
Sou grato pelas fotos, pela sensibilidade dos olhares, pela minha cara de paisagem diante das belezas, naturais, artificiais, artefactuais e sobrenaturais.
Vistas e revistas, revisitadas pelas retinas, pela alma, pelo coração e pelo imprevisto.
O não previamente visto é o pai do improviso.
O improviso em cima do sempre olhado, mas nem sempre visto.
Acabo de ler que amar é enxergar o avesso e acrescento que amar é dar muita importância a ele.
O avesso é mais instigantemente amoroso do que o direito.
Outro dia ouvi que a conformidade está em tomarmos a forma da fôrma e que devemos transbordar, ir além da borda.
A borda direita submete-se ao seu avesso.
Penso que não devemos ser avessos a nada e avessos em tudo.
Como um vento forte, a brisa praianeira, cavala e troteira, vem espiralando sua fortaleza pelas serras e vem chegando.
Aconchegando a lembrança, transmutando de lugar a conformidade e dando novos espaços às velhas e conhecidas coisas.
As coisas conhecidas merecem espaços novos para que possam movimentar-se largamente, ou ainda, espremerem-se nos andares trabalhadores de rabiscarem novas formas para si mesmas.
Desconhecemos a origem mão que transmuta o sentido da ampulheta, porém importa mais a natureza da areia

Amarelo só.
Abre a boca e vê.
Vermelho duplo.

Pontas agudas.
Percepção vegetal.
Sumo de sangue.