terça-feira, 11 de janeiro de 2011


Enquanto a água descia fluida pelos carnais canais de vibração contínua, fui pensando e olhando pro papel.
Era um papel tingido e belo.
Um apontador de plástico jazia num copo de vidro transparente e era igualmente belo.
A beleza deve estar na transparência e no tingir de cores todas, as possíveis coisas que as nossas mãos alcançam e aquelas que nossos tentáculos não conseguem roçar.
Já escrevi que as coisas não são pessoas e cada vez que vejo uma coisa muito bonita, mesmo essa, ainda está longe de ser uma pessoa.
Pense numa pessoa má.
Mesmo essa tem um olhar de bondade, uma ternura nos joelhos, talvez seja até um vício, parecer-se com alguma coisa.
Engolia o líquido mais sábio da natureza e me tornava igual ao vidro.
Um recipiente de coisas várias, tornava-me e torna-me, uma pessoa variada em possibilidade.
A oportunidade é o instante e esse mela-se à cultura, e essa agrega-se ao olhar do outro, esse recipiente vítreo que o outro também é.
Apego-me ao desejo de acertar bastante.
Esse desejo que mela-se à certeza de que a vida é essa e mesmo assim não devemos ter pressa.
Esse melaço vem do trabalho das abelhas, em comunidade construindo seus pontos, quando vistos de longe.
Ao chegarmos mais perto, os pontos são hexágonos, os mesmos que vi ao fitar, de cima, um lápis vermelho.
Para sabê-lo vermelho foi preciso outra perspectiva, afinal o hexágono e mais dois centímetros de retângulo, eram dourados e igualmente belos