segunda-feira, 10 de janeiro de 2011


Visitei uma exposição sem pinturas, sem molduras, sem tinta pelas paredes, cem.
Centenas de vezes vemos isso na mira de um horizonte cheio de casas, caixas de madeira, antenas, fios de cobre cobertos com plástico, baldes de plástico recheados de envelopes vazios de contas e de cartas, cheios de cheiros e perfumes.
Visitamos quase sempre exposições com pinturas, molduras, tintas e paredes inteiras de massa fina, corrida.
Numa desembestada correria, a massa pintou por aqui e por ali, antes de dar uma passada num passado não muito distante.
Dista um metro, o meu braço das garras do canário.
Dista um milésimo de segundo o seu canto.
Quando penso na primeira frase do meu único livro: "Venham pela entrada das máquinas", logo vem a minha cabeça a noção maquinária de um cérebro humano.
E eu venho tentando ser menos máquina, ser menos abstrato e venho sendo um desenhador de detalhes loucos para serem entendidos.
E não é que, de repente e num repente, passam a me entender na minha pequenina pegada?
Um entendimento imediato, uma noção claríssima das coisas espiraladas que disponho sobre a louça.
E nenhuma xícara se quebra, apesar do movimento incessante da mesa, arremessando a toalha para todos os cantos da rosa dos ventos.
Um rosa celulóide dos pedaços de madeira esmigalhados, que se transformaram para dar sabor ao risco, ao traço, à forma das coisas vistas e revistas.
Nada foi transcrito no rosa e ele foi mantido como uma camisa de linho sem ser passada.
Esta camisa costurada a partir de toalha macia e grossa, com tintas estampando seus cem bolsos.
Todo esse objeto versículo, vai emoldurando uma caixa sem tampa, apoiada em um dos seus lados.
De frente, o que nós vemos é o fundo