sábado, 31 de dezembro de 2011

Reluz


Amanhã será um outro dia e mais um.
Decidi contar os dias por eles mesmos, na semana que tive uma apresentação teatral diferente em cada noite, no início desse mês de dezembro.
Decidi não, percebi.
Observei que precisava me dedicar a cada dia inteiro, fazendo muitas coisas diferentes, aproveitando cada instante, para que no final, tudo pudesse ainda ter energia para ser desfrutada, internalizada e expressada na harmonia dos passos.
Eu gosto da ceia diferenciada, embora ache que cada um trazendo um prato cheio - no final - acabará sobrando muita coisa, mas também isso é bacana, afinal teremos um prato japonês no dia seguinte: O Soborô!
Sobrará fartura para andar dois mil e doze avenidas, ruas e vielas.
Lembre-se que o resto não é sobra e o que sobrar nos será possível colar, justapor, amalgamar no que ainda temos para transformar o que tínhamos anteriormente num agora reluzente.
E como nem tudo que reluz é ouro, que a gente possa colocar luz de novo naquilo que merece ser apresentado

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Salada na mesa


Uma mesa farta, as vezes até duas, ou três.
Eu gosto de cortar as coisas para temperar o arroz, o feijão e também gosto de fatiar o tender bem fininho.
Gosto de cozinha, de vez em quando.
Adoro lavar, mas aprendi a deixar a louça para a Nossa Senhora secar.
O escorredor, um dos instrumentos que ela toca.
Gosto do nome e da coisa - escorredor.
Vez por outra penso nas gotículas d'água escorrendo, sem que ninguém esteja fotografando o processo.
Quantas coisas acontecem, sem que praticamente ninguém dê conta.
Dar conta é o que mais se dá nesses tempos regidos pelo capital, de tal forma e maneira, que nem bem iniciamos o ano e já temos muitas a pagar.
Recebamos pois, a tarefa de nos determos mais nos detalhes bonitos das coisas que são  todas: os detalhesinhos das canções, dos toques, dos tanques, dos repiques e das borboletas que saem com frequência do armário de mantimentos, onde está o saquinho de um quilo de feijão preto, brotando.
Uma festa para os sentidos.
Acho que não faz muito sentido, um dia reservado para a passagem de um ano inteiro.
Para ser inteiro, um ano precisa ser o que é, um passageiro da nave que navega uma vida inteira.
Antes disso tudo ser bonito, isso é bem parecido com aquilo, desde que isso e aquilo, tenham o mesmo frescor e o perfume de uma colorida salada de frutas, disposta na mesa, disposta a oferecer-se a todos com a mesma doçura e encanto

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Brim


Há questão dos símbolos.
Existem referências por toda parte e parte delas pode tornar-se indecifrável.
Um touro pode colocar uma música pra você ouvir, no instante que você deseja que ele seja objetivo.
Nada mais simples do que dizer alô, estou indo, ou vindo, pronto.
Pronto.
Apronta-se mais uma vez e a gente vai tocando o barco, mesmo que o dito não tenha cordas, ou caixa acústica.
O barco tem uma caixa enorme.
Ele tem as cordas e as velas, e essas nem acesas estão, porém acesas podem estar, desde que haja vento, ou tempestade.
Não façamos tempestade num copo d'água tampouco, afinal, há tanto mar nesse copo que está meio cheio e meio vazio.
Um oceano de palavras colocadas num aquário, sendo sorteadas para compor a letra da canção.
Também a letra, é motivo e motivação para devaneios exatos, feito o que diz sobre o quadro escuro, que feito com tais cores, tanta robusteza oferece.
O gosto é uma questão de silêncio e barulho, de música e sons vulcânicos.
A pequenina tristeza da menina faz com que ela se abstenha de algum detalhe, mesmo que seja para descansar os cílios que roçam nas lentes.
Que lindas as folhas vermelhas do bico de papagaio que fala até pelos cotovelos.
Esse talvez seja o instante em que pensamos se os leitores estão no mesmo pique, porém, mesmo assim fazemos nosso pic-nic.
É simples assim, como reciclarmos a maçaneta, ou colarmos a mãe na pérola.
Brinco de brindar com você, no balcão.
Brinco

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Tudo nela


O poder da transformação bonita, ou pelo menos, curiosa.
Ontem ao pegar o meu automóvel no estacionamento, percebi que o marcador das marchas, na maçaneta do câmbio, estava jogado no chão.
Coloquei-o de volta e segui o meu caminho.
Hoje, porém, fui engatar uma marcha e a maçaneta do câmbio esfarelou na minha mão.
A ação do sol e do tempo fizeram-lhe estrago.
Com uma pedra branca, o rosqueador de plástico que sobrou, com olhos de boneca, com cristal e durepox, fiz uma maçaneta nova que está a espera de ser colocada no seu lugar de propriedade.
Olho para a observação de minha mãe, que diz sobre a quantidade de presentes que uma criança ganha, fazendo-a desfazer daqueles presentinhos menores em tamanho.
O ser menor em tamanho, faz com que ela não aprecie os outros valores que a coisinha possa ter.
Tudo é uma questão de perspectiva.
Tudo nela, pra mim é bonito.
Você pode pensar em minha mãe, na criança, na maçaneta, mas de quem estarei eu, falando agora em pensamento e escrita?
Tudo nela, pra mim é bonito

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Na venda do seu quindim


Nenhuma lágrima nos olhos de cortar cebola.
O ano cumpre-se e não promete, afinal, os anos somos nós a cumprir nos instantes aquilo que a gente propõe.
Põe de antemão, acredita.
Adoro mexer a cebola e o alho - picadíssimos - sobre a manteiga derretida na panela comprada às dúzias, do moço que precisava seguir urgente para a Guatemala.
Nem sei se foi pra lá mesmo que o sujeito foi, mas também isso vai do meu gosto particular pelo adjetivo pátrio, guatemalteca.
Adorar aquilo com tanto fervor, no fervo que é ser sorocabano de coração.
De um sorocabanês nem tão forte assim, porém divinamente imitado pela atriz que coloca sutileza e leveza no escracho.Na cidade grande os molhos se juntam num rosê bonito, mexido pela colorista que trabalha a saia com a costureira.
O ano que vem vindo cumprir-se-á no mecanismo de comércio dos tecidos, magicamente adoçados com cores e traços pela dupla que veste e calça.
Ta chovendinho e as telas secam bem devagarinho sobre as vasilhas de sorvete de um quilo

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Doze em doses


Passam doze nuvens por um ano inteiro.
Aquelas nuvens onde encontramos diferentes figuras.
Esse ano, as doze nuvens movimentaram-se de tal forma, que não foram apresentadas apenas doze imagens fixas.
A cada trinta, vinte e oito, ou trinta e um movimentos dessas manchas brancas celestes, uma nova figura mágica foi transparecendo.
Vislumbramos cada uma dessas transformações e hoje brincamos de rememorar as mais antigas formas, afinal, não é de hoje que essas formas sussurram coisas nos nossos ouvidos.
Essas coisas são maravilhas que nos são anunciadas nas pedras opalas, nos filetes de ouro encrustrados, nos pedaços de passagens de ônibus que tornam-se objetos animados e mais.
Energia ânima que anima nossos dias, já animados pela sua própria natureza.
As folhas que aparecem verdes no caule de cor seca, remontam ao nosso conhecimento que diz que para cada cor vegetal, existe uma substância associada a esse desenvolvimento.
São lindos os vermelhos dessa empreitada e o termo literal - desenvolver - não cabe nessa embalagem, afinal envolver é tudo o que nos envolve.
No vasinho colocado na nossa janela - moldura das coisas cinzas artificiais - as flores que não são de plástico, não morrem, transformam-se

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O quarto


Olha o terço aqui de novo.
Nova forma de olhar o sujeito que entrou no meu automóvel para tentar uma ligação direta.
Ele deve ter olhado o terço pendurado no espelho e se viu, sem forças para levar o meu meio de transporte, que  hoje me leva para as escolas e meus serviços.
Quebrou a peça que move os faróis, porem quando fui trocá-la no auto elétrico, o moço consertador, mostrou-me a beleza da borboleta conjugada ao chão.
Essa força deve ser muito parecida com essa outra que me fez terminar duas telas numa tacada só.
Pensei em começar pela estrelícia detalhada e assim o fiz.
Pensei em parar por ali, mas não consegui estancar a força que levava os meus olhos para as marcas do pincel nas tintas espalhadas sobre o linho branco.
Antes de tudo isso começar - logo de manhãzinha - eu acordei pensando na definição impossível da arte.
Arte é manifestação humana.
É a nossa reexpressão de qualquer coisa através do grafismo, do pictórico, da modelagem, do movimento, do gesto, dos sons, e de outras coisinhas que interpretam nessas práticas, as coisas que passeiam dentro e fora da gente.
É sabido que existem substâncias de fora, que quando incorporadas, realçam a observação humana dessas coisas.
Desde sempre, tive a certeza que - para mim - a incorporação dessas substâncias seria a interrupção das minhas expressões nativas, fluidas e altamente prazerosas.
Um prazer careta, de um prazer solitário e egoísta.
E é assim que é e vem sendo.
Rio e vibro a toa com a minha mão ouvindo o que a superfície suporta.
Eu, você e as ferramentas nos damos muito bem, nos motivamos e passamos a contar a história que não é soprada nos ouvidos

domingo, 18 de dezembro de 2011

Amor à louça


Isso é mais do que sabido.
Fazer pratos com amor faz com que o seu sabor tenha uma inevitável verosimilhança com sua imagem bela e doce.
O lagarto frito, agora cozinha na pressão.
Sem pressão alguma, as partes vão se mutando para caminhos ainda mais saborosos, de maneira que a poesia dos instantes, desenhe e pinte na louça - antes branquinha - arabescos simbólicos relativos ao espírito mágico dessas coisas.
O colli disse no livro - o que é arte?:
Eu não poderia escrever esse livro sobre o conceito da arte, senão a partir dos produtos dos artistas.
Da mesma maneira, os atos amorosos não são o amor exatamente.
Eles são produtos desse caráter que mora na profundeza dos seres que são vivos e na      vivência, amam.
A mesa está posta e sempre enfeitada com essas coisas bonitas que vêm dos dispostos a disporem do seu tempo e das suas coisas, arranjando-as de forma lúdica e metamorfa.
Eu prefiro ser essa esquicitice ambulante, do que não reparar que a superfície da direção do automóvel é desgastada ao longo de um vasto espaço de tempo.
Um tempo que é dividido em instantes, todos eles preenchidos com leves toques das mãos roçando sutilmente a superfície.
O toque amoroso não desgasta e nem precisa - no futuro - de uma capa, que tenha a pretenção de proteger alguma coisa que o depertença

sábado, 17 de dezembro de 2011

Na minha frente


Afirmam que deve-se empinar o nariz para falar com os superiores, afinal, pensa-se que eles apreciam esse tipo de atitude, parecida com a de muitos deles.
Penso que não consigo desempenhar essa função.
Também não estou disposto a emprenhar essa função.
Não faz parte do meu biopsicotipo, embora essas coisas sejam passíveis de mutações ao longo dessa jornada expressiva sobre este chão batido.
Não estou disposto embora posto, nascido e descoberto.
Disseram-me que eu não devo baixar a cabeça.
Eu olho sempre pra frente, não abaixo a cabeça nem empino o nariz, olho cada vez mais pra frente e para frente, de forma egoísta, apresentando essa minha ética estética.
Pra frente eu só faço o que eu quero fazer e faço porque não posso viver sem fazer.
Coisa de artista pobre de grana e espaço comercial.
Adoro café da manhã de hotel cinco estrelas, principalmente por causa do aroma do lugar, do suco de laranja e do pão mole, por quantas vezes o bantú se dispuser a encher-se e ir além do meu satisfazer-me.
A vontade.
Coisa de pobre de grana, mas que já se regalou um dia no poder do preço das coisinhas.
Meu espírito transborda de alegria com esse apreciar as coisas boas da vida e da vida em abundância.
Quando olhamos para frente, não dá tempo - nem jeito - de empinarmos o nariz ou baixarmos a nossa testa.
Existe todo tipo de gente na minha frente

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Vida e descobertas


O mundo deve descobrir-me, foi o que disseram alguns amigos.
O mundo já me descobriu há cinquenta e dois anos, num treze de maio taurus.
O descobrimento voltou a cobrir-me com um cueiro bem apertado por conta do medo das mães desse tempo.
Medo que afirmava que o movimentar do bebê da gente, provocaria estragos nos membros.
Hoje, talvez nem por isso, faço um movimento para gingar sobre os protocolos, embora ainda ancorado na educação que preza pelo zelo com o bom senso.
Adoro aqueles que ultrapassam esses limites e brincam com o senso e sua bondade.
Aqueles que geram as ações das pedras rolando, as ações que transformam as emoções fortes em música, poesia, e ouras tantas linguagens artísticas.
Eu preciso do tema - da palavra geradora - pra ilustrar essas motivações com pintura, desenho e outras coisas desse tipo, mais suaves e com bela nota.
O mundo da gente se redescobre dia a dia e nós vamos descobrindo uma a uma, as pessoas que vão nos ajudando a imaginar, inventar e dar muitas voltas por cima, por baixo e pelos lados.
Assim se faz o meu jogo de cintura que dispensa a amarração do cinto, já que o que sinto voa e plana por aí

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Vigas mestras e discípulas



Hoje li a coluna de um filósofo.
Sem favor, leia você também.
O texto está grudado numa das páginas do jornal folha de são paulo, na ilustrada, pensado e grafado pelo pondé.
Fala do nosso desejo infindável e traiçoeiro.
Ele - o desejo - nos trai.
Ele fala que a recusa em abrir mão do nosso próprio desejo em favor de algo maior, destruiu a noção de caráter.
Falo agora de uma característica peculiar, egoísta, artística.
Eu estava a cinco minutos atrás arrumando um pequeno terço - presente de minha mãe - que fica aplicado no espelho do meu automóvel.
Pensei que não posso andar com o cotovelo para fora do vidro, pois dessa forma, terei participação num acidente automobilístico - esse é um fazer mágico que me transpassa o meu pensamento de vez em quando.
Mágica consciente e pouco provável que aconteça.
O fato da marginal da rodovia ter velocidade máxima de sessenta quilómetros não está em questão.
O fato é que via-se ao longe os carros quase parados.
Parado eu fiquei por um minuto inteiro, terminando de prender o tercinho com o araminho de fechar o plástico do pão quadrado.
Um minuto depois, três carros atrás de mim, colidiram.
O que estava logo atrás do meu carrinho, depois de ser abalroado, conseguiu frear.
Eu desejo acreditar nessas mágicas além dos pequenos quereres, acreditando nesse algo maior e meditando sobre ele.
Algo maior que eu é a necessidade do outro.
Vejo com clareza que é necessária a troca de afeto e carinho, é necessário um beijo e principalmente um abraço bem dado, doado sem fronteiras.
Egoismo meu o abraçar sentindo a energia carregada desprender-se de mim sem ser impregnado no outro.
A energia foice.
Ceifamos a carga alterada para mais.
O outro e o algo maior.
O outro e a crença mágica.
Nossos desejos trocados, ficando menores do que dantes.
O outro e eu, você e nosotros

sábado, 10 de dezembro de 2011

Essa


A vida é essa.
Essa com a qual enxergo as folhas vermelhas de um vermelho flor.
Essa cujo instante me aproxima do pêssego e permite que eu me aproxime de você e do relógio que o menino postou na foto do perfil.
Aquela frase que diz que parente a gente não escolhe me deixa a escolha de colher mais vida: nessa.
Essa semana a menina disse também que só acreditava nessa vida, até se casar com um macumbeiro.
Achei graça na graça do santo.
Energia pura - essa que essa vida impõe - assim como aquela que com as mãos impostas a gente cura.
Duramos instantaneamente na cura instantânea que gruda/cicatrizando todos os instantes.
É num instante como esse, que eu dei responsabilidade à velhice pelo fato de ter lido duas vezes a mesma frase.
O que me fez olhar para a meninada representando e depois olhar rapidamente para o papel onde estava escrito o texto, foi o instante referente ao suposto erro.
Um dia depois fui entender porque a menina perguntou se eu queria que ela imprimisse o texto com letras maiores.
O local da leitura tinha pouquíssima luz e eu troquei os óculos para ficar mais bonito.
Essa é a vida - muitas e muitas vezes - improvisada e bela.
Bela é a vida e não eu.
Eu instantaneamente viro nós, no meu mais integral egoismo ínstimo






Foto de Sandra Maria Della Nina

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Calorento


Na verdade.
A menina acha muita coisa bonita porque ela não contém toda a delicadeza que o jardim interno dela contém.
Na verdade não cabe a mentira.
A mente em tiras, tira a nossa capacidade de interagir com as partes e parte de nós se corrompe quando elas não se comunicam.
É assim que a verdade dói.
Dói quando desaparece e desaparece não porque dói.
Tiras separadas são paralelas e, portanto, jamais são justapostas, sobrepostas, ou encontram-se num abraço.
O barulho externo dos meninos foi substituído pela concentração em cada gesto.
Havia um interesse no tic tac do tempo e eles não podiam errar a marcação.
Não podiam na verdade deles, eu mesmo errei, quando repeti a minha fala e dei a desculpa que se tratava da minha idade avançada, afinal, no começo da apresentação eu disse que seria a versão idosa dos meninos e meninas que estavam se apresentando.
A moral da história do livro surrealista é que a gente mais velha não deve perder-se do menino que habita dentro.
Digo apenas que faço muitas coisas relativas à arte durante todo um dia, porque não consigo ficar sem fazer.
Uma verdade aparece sobre a outra e mais outra e mais uma e assim o que era a manga fruta, vira manga da camisa. 
Essa que eu avisto daqui, mas que não visto agora, devido ao calor que faz - mesmo sem mangas

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Caudas novas



Vida bela essa que transcende as coisas visíveis.
Desde bem cedo, hoje eu andei pensando no que falar sem parar, para representar o surrealismo que existe no livro trabalhado pela turma durante o ano.
A ideia é produzir um filmezinho com as imagens se relacionando com as palavras ditas e gravadas.
Pensei em gravar direto, sem parar um só instante, falando, falando, falando, partindo do relacionamento da maçã com a maçã do rosto.
Como diria meu amigo joão: O lado sul do real.
Quantos lados tem a figura geométrica que não possui diagonais?
Talvez fosse melhor colocar o substantivo no singular:
Diagonal.
Para que não haja dúvida num mundo onde os adultos perguntam se o inferior fica para cima, ou para baixo.
Também nesse sentido o superior manda sempre.
Manda e desmanda, fala e desfala, perguntando apenas quanto se ganha quando a falcatrua crua, escondida aparece em oportunidade.
Oportunidade de ouro para enganar e desobedecer a desordem benevolente que acredita em tudo.
Tenho pena até da mocinha do call center.
E é essa a pena que enfeita a cauda do povão que o piano de cauda representa em sons.
É essa a pena que se solta da cauda do pavão que evolui na passarela.
Os sons feitos com o gosto do pêssego em calda, estacionado sobre o piano de cauda, fazem parte importante das bonitezas do instante, que mostra a fluência do processo

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Pequeno tênis envolvendo a tese


Uma festa dos pequeninos.
Uns mini pezinhos nuns calçados mais mini ainda.
Daqui dava pra ver quem sorria fácil e desta forma, dançava com a cabeça e com o corpinho todo.
O mote era um elefante diferente, xadrez de um xadrez colorido.
Quando ia ser diferente dos outros cheios de cores, virava cinza.
Não virava cinzas, apenas cinza - e os meninos que sorriem já são os diferentes, xadrezes.
Imaginem se outro dia atrás a gente ia ver um joelho metalizado, uma prótese.
A dor não vai doer mais, o que vai mover é uma parte embebida na outra, numa rotina de músculos em movimento.
Quando o amigo do meu pai falou-lhe que os joelhos dele também doíam mas ele jamais iria operá-los - meu pai deu de ombros - queria andar melhor pelos canais da televisão.
Colocou, sem querência é claro, uma bactéria no metal e por dentro.
Resolveu que não ia mais doer e ficamos com a sua lembrança dançante.
Ele ainda é muito engraçado e colabora muito com a nossa diária graça.
As pessoas são xadrezes e coloridas tal qual um acolchoado costurando quadrados, cada qual de uma cor.
Eu ia dizer que a matemática das cores é diferente tal e qual, mas não disse, escrevo, cravo:
Um vermelho mais um azul é igual - a um roxinho.
Eu não fico roxo de raiva, talvez fique roxo de flor de batata doce.
O que o povo viu num cobertor xadrez?
Viu primeiro o cobertor, depois viu as cores, depois o xadrez, as linhas, a laranja, o peão e o bispo.
E teve quem não viu nada e no nada que viu, viu um mundo cinza, nas cinzas que as coisas coloridas se misturam depois de queimadas no azeite da inquietude.
Cinza também é cor e cor das boas, é cor igual a da bactéria que a gente não vê mas existe.
Bactéria boa de gerar pesquisa.
Quero ter esse baque etéreo da música que vem assim, voando ao redor do instante.
Na instantânea diferença de cada um, que tendo a paciência pra ouvir sorrindo, tende a ser paciente de um hospitaleiro doutor em causas

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Batoques

O espaço eterno de um abraço.
O instante desse gesto fervoroso.
Aconchego quente, onde os espíritos se misturam.
Eu escrevo pelo simples fato de experimentar o uso das palavras para alertar a importância do atar.
Ato porque atas também e porque é prerrogativa das orações dos que creem no poder do afeto.
Gosto muito de tudo isso e do espaço que gruda.
É diferente do velcro, onde um é positivo e o outro negativo.
Ambos são positivos no abraço.
O negativo desabraça, beija o ar e infeliz, olha para o próprio desespero.
Tempera em mim o seu perfume que mistura-se a tudo isso que foi descrito.
O espírito é perfumoso.
De um aroma fino, que aparenta-se conosco nesse toque dos tambores.
Ouvimos encantados, o som do batuque esquerdo

domingo, 4 de dezembro de 2011

Camisa longa


Um dia e um instante que nos deixa com fome.
Uma fome que perdura, enquanto andamos com sacolas nas mãos.
Esperamos na conversa, sentados em cadeiras de madeira, vendo as pessoas e os nomes dos cavalos sendo pronunciados dentro do cilindro horizontal.
Nunca estive antes no local famoso, onde os equinos banham-se expostos às mangueiras.
Havia também aquelas que são árvores frutíferas, compondo um corredor bonito, com seus verdes indo embora em perspectiva.
A massa fina nos encheu o aparelho digestório e depois ganhamos a tarde com aquilo que nos foi ofertado pela amizade e pelo trabalho.
O nome revestiu com jornal a base de mdf e cobriu a bancada com vidro transparente.
O ícone popular foi revisto várias vezes de múltiplas formas, sempre impresso sobre páginas de livros antigos.
Foi bom ver essas páginas, sem estampa alguma, serem coladas nas paredes e no teto, tal qual a ideia sobre a qual comentei na sala de aula na semana passada: Quero ter uma parede para colar todos os presentes feitos em papel sulfite A4 que ganhei nesses trinta anos de troca com os queridos.
Tudo é bom quando pensa-se no momento que é mágico.
Mágico é o instante que receberá de presente um seguinte que será o primeiro, trazendo um segundo na manga esquerda longa da camisa branca

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Perfumante


O instantâneo do amor é realidade pura, quando a gente ri, ou chora a toa.
As vezes o choro nem é tão a toa assim.
Choramos com certa dor, quando o amor é chamado à lembrança.
Quando é resgatado do fundo.
A pessoa amada não está presente por algum motivo, seja o motivo, ele qual for.
O filme indiano mostrou o moço amoroso beijando a cicatriz da amada.
Beijar cicatrizes é tarefa primeira do amoroso.
O romantismo tende a ser refinado e doce com as cicatrizes e até com os cortes que ainda sangram daqueles que são amados.
Também por isso o amor é conjugado no plural.
O conjugar, o amalgamar, o juntar com, não é essencial ao ato amoroso, ele é o ato amoroso.
O fato de não se amar sozinho já é bastante propagado através da fala e da escrita e é profundamente uma dita verdadeira.
O amar conjuga-se, faz-se com o outro e esse fazer é uma ação amorosa e não amante.
Tenho quase certeza que é ato da razão, embora tenha carga de emoção extraordinária.
O que há é o espírito, por isso diz-se que o espírito é santo.
O amor é santo, de tal forma que o malfeitor ama, em algum determinado instante, tenha o instante, a medida que tenha.
O amor é essa coisa bonita que nos faz baú poroso de guarda.
Guardamos para que nos sobre mais para multiplicarmos bastante pelos buraquinhos da pele perfumada