quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Sabedoria espética


Agora eu posso enfeitar.
Uma menininha, de manhã, sugeriu essa frase como um questionamento.
Eu disse a ela que começaria esse texto, usando a sua pergunta, porém bradando-a como uma afirmação.
Posso enfeitar.
O enfeite arruma, embeleza, enriquece, embora vários críticos de arte contemporânea garantam que quanto mais enfeite, mais informação e portanto, mais desinteressante.
A arte que acontece agora pede minimalismos, redução de elementos que sejam capazes de dizer aquilo que se quer.
Repito:
Posso enfeitar.
Um drible é um enfeite nos toques dos pés na bola.
Um enfeite é um toque.
Um desvio da obviedade.
O que será que leva alguém que nunca teve os pedaços de jornal, cola de farinha e papelão, perguntar se nessa semana iríamos continuar mexendo com cola de farinha, pedaços de jornal e papelão?
É interessante pensar nas infinitas possibilidades de resultados que ele teria se tivesse tido a intenção de agrupar nas mãos os referidos materiais.
Muito mais do que materiais, precisamos do enfeite da sabedoria do desnecessário.
O que desnecessita ao sistema interessa ao esperto espeto.
Adoramos tentar espetar a azeitona, se ela teima em escorregar, distraindo nosso garfo.
O fato curioso não está em ser espeto.
Resta-nos a esperteza de observar, bem de perto, o que pretendemos espetar escorregando sentinela propondo-nos novos modos

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Nuvens de ideias


Uma nuvem é capaz de nos mostrar muitas coisas.
Uma coisa e todas elas.
Essa é a velha história de achar figuras no céu das nuvens.
Essas coisas etéreas, porém nada efêmeras.
Meu pai, quando eu era criança, dizia que eu tinha a cabeça nas nuvens.
Tinha não, tenho, afinal são tantas as figuras que se formam dentro dessa cabeça de pouca telha.
Sempre que essas coisas vão se compondo dentro de mim, eu penso na abstração e na figuração.
Acho lindo estar presente nesse tempo que a tradição rompeu-se dando origem imediata às infinitas possibilidades de achar diferenças nas coisas mais semelhantes.
É pouco a mimese, a semelhança das coisas naturais e verossímeis.
É pouco.
Transcendemos a árvore e chegamos aos pulmões.
O artista que pensou a capa do compact disk do senhorzinho que teve problemas respiratórios, provocou nela uma árvore.
O senhorzinho presenteou seu trabalho com o nome A árvore da vida.
Você deve estar tendo coceiras de vontade de expressar-me:
Mas é você que deu essa interpretação.
Foi?
O que tens a me dizer quando lhe penso um bambuzinho da felicidade?
Um caminho para o céu, uma placa de trânsito, uma bandeira amarela tremulante?
Nada disso?
Uma menina que pensa as coisas da arte perguntou-me de manhã, se as pessoas fingem que não têm ideias mirabolantes como essas nossas.
Eu lhe respondi seguro:
Eles nem fazem ideia, ou melhor, eles têm todas as outras ideias diferentes dessas que mirabolam

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Função

E o funcionário da manutenção de uma escola, me ouviu dizer que eu não gostava muito da simetria.
Eu lhe disse que a simetria acontece quando tudo é igual, de um lado e do outro.
Ele rapidamente conferiu:
Isso mesmo professor, afinal, tudo igualzinho - de um lado e do outro - não deixa espaço para as pessoas pensarem.
Gênio!
A diferença abrindo a possibilidade da dialética, do debate, do surgimento de novas ideias.
Há muito se pensa e se sabe que a simetria faz das coisas, mais bonitas.
Uma beleza organizada, na defensiva, sossegada.
Precisou de boniteza, aplica-se simetria, mesmo que os nossos rostos jamais sejam simétricos.
A imagem e semelhança não é igualzinha em olhos, metades de bocas, narizes e uma orelha diverge da outra.
As orelhas por sinal chegam a um tamanho que vai destoando do rosto murchento.
Eu e os meus orelhões, ouvintes que só vendo.
Qual será o desenho das minhas íris diferentes entre si?
Será que o vidente da íris observa cada uma, ou escolhe uma, assim como a quiromante tem preferência pela esquerda?
Sinistragem.
A boniteza de tudo isso é transversa, é assimétrica, é um bater de palmas diferentes.
Uma palma na outra, avermelhando as duas, não de vergonha, mas de circulação sanguínea.
Adorava o lápis sanguínea para desenhar no papel jornal e, de quebra, acrescentava um giz de lousa branco para alimentar as figuras com luz.
Venho sendo alimentado por muita luz, venho sendo bajulado por ela, venho sendo adulado pelo seu brylho.
Que benção você corar a minha face de um lado e do outro.
Coral de oração onde a simetria da beleza pede licença e aconchega-se na sua lindeza.
Afinal, a lindeza é um estado da matéria, que transcende a obviedade da igualdade midiática e lamparina a sublimação da nossa alma

domingo, 28 de agosto de 2011

Tradução


O nome estava sempre inteiro na memória.
De algumas formas, vez por outra, ele estava estampado nas novas tecnologias dos encontros, a procura da tradução dos sentidos da maduressência.
Essa busca é algo que transcende a capacidade da superfície.
Algo que se avolumou no interior da casa e que se aconchegou fora das estantes.
Uma arrumação desarrumada que pretende agora, encontrar-se na história que caminha, passo a passo, liberta e desenvolta.
Caminhada nem sempre segura, muitas vezes opressora, outras e tantas vezes, delicada e firme.
Acasos, instantes, momentos de canção, poesia desbocada, saindo além da boca para ser recantada no céu que emoldura as fases.
A lua e sua capacidade de deflagrar beleza, sabe refletir sobre a luz e seus reflexos.
O calendário é mais lendário do que nunca, lendário como sempre.
Mostra além dos sinais, dos signos, das doze razões para se crer no humano instinto, uma capacidade de crença inesgotável.
Assim a tradução da necessidade de se digitar um nome na tela, mostrou-se no nascer de uma lynda sequência.
Um lenço também é as suas várias possibilidades de ser um objeto adornador de outros tecidos, tecendo assim, a relevante história dessa arte única, elevada viagem.
Em arte não há evolução.
O que precisa ser expressado, é nesse instante, nessa data, no agora do aparecer das novas coisas.
Hoje, assim como um ano nos remonta, a trama do algodão e da musselina sustenta a leveza de todos os nossos gestos.
Encontramos no fundo de uma caixinha feita com a  pedra granada, uma echarpe capaz de enlaçar duas figuras animadas pelos nós.
Existe tradução.
Uma calça barata, desenhada, é acrescida do seu bordado e ganha pontos das suas linhas.
Há uma fina camada nos movendo e dando suporte.
Assim o céu agradece à terra e o que existe entre esse intervalo, vale para nós como um conto a ser contado.
Contamos

sábado, 27 de agosto de 2011

Rito do céu


O ritual da semana.
Uma semana diferente.
A diferença entre a presença e a ausência.
Tenho a impressão da presença.
Está impressa no peito, no interno dele, no meu, no nosso.
Desejo imprimir na ideia dos outros a ideia do fazer artístico, desejo dele, quando me animava com os fascículos comprados na banca.
Um fazer que tem a característica transfísica que mexe e remexe os espíritos.
A casa da razão mágica dele, se destacou da razão e atreveu-se à mágica.
Só é compreensível assim.
Um passe de mágica, tal qual um passe do mago.
O cartão da lembrança traz no texto a cor esmeraldina.
Que a pedra seja a esmeralda, esmerada no esmero familiar que ele transpira.
Respiramos a ideia que ele tinha de despedir-se de nós, antes que nós nos despedíssemos dele.
Assim foi e assim repartiu dele o desejo.
Os ritos sequenciais mostram que devemos seguir caminhando na direção do suporte que a sua paternidade nos transferiu.
Assim é e assim será doravante.
Avancemos dourados pelo seu brilho e valor

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Papel de pai


Minha irmã achou o papel sobre o qual eu havia pensado de madrugada.
Ela foi arrumar uma maleta histórica do garoto e achou ali, o pepelito.
Foi na casa dela que houve o almoço que comemorou um dia dos pais antigo.
O garoto já se encontrava no início do processo bacteriológico que lhe afligia a perna direita.
A direita é a minha de apoio, afinal, no futebol chuto de perna esquerda, sinistra de botar a bola no - Band o canal do esporte.
Naquele dia de papel do pai, eu também reciclava o papel que também já representava de antanho.
Ele chorou emocionado, depois que li o pretexto.
Sentado.
Celeste.
Alviverde, vestindo a camisa bonita que o neto lhe deu.
Ele ali, era um jardim intenso, cheio de vontade de comer tão fartamente.
Hoje minha irmã achou o papel dentro da maleta que tinha a superfície que imitava pele de cobra.
A imitação sumiu e hoje é cinza esverdeada.
A fotografia do amassado plano de celulose, mostra bem a emoção do encontro.
Fosse ele bem liso e certinho, destoaria do papel parente, aparentado com o divino.
Esse meu, não é só meu - evidentemente - já que a mim nada pertence.
É nosso.
Nossos pertences cabem em poucas caixas de papelão.
Eu que amo papelão, barbante e fita crepe, essas matérias que tanto ajudam no reaproveitar das coisas que nos restam.
Resta-nos a espécie.
Essa espécie humana e divina, opaca e transparente.
Entes tão queridos, espécie em transformação.
Uma espécie de semelhança, que nos empurra pra lá, pra lá, pra lá. 
Pra lá do bem pra frente

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Rugir


A assinatura.
Um desenho que quando eu era pequeno, entendia como uma cobrinha.
Achava bacana, achava o máximo, mas ainda não achava o sentido.
Depois de jovem entendi, enxergando que era o seu jota e o seu sobrenome.
O desenho da identidade, do jeitão, da característica, uma partícula da particularidade.
Ser um risco contínuo já garante o enigma da simplicidade.
Hoje eu volto a desenhar na perna de uma das minhas calças.
Estou recheando-a com uma única linha.
Pedirei a rainha que borde no algodão da camiseta, o gesto e ela o fará com a maestria do mestre simbolizado.
Ela o fará com a emoção explícita que lhe garante a galhardia, a força e o arrojo.
Lágrimas geramos todos os dias para irrigar a seiva ainda bruta do nosso corpo humano.
O garoto da assinatura brilhante ainda vai nos dar muitas referências na sequência.
Ainda nos doará - muitas vezes - o lustro do seu brilho.
Treze ou quatorze vezes, espelharemos as vinte e oito luas aparecentes a partir do sol.
Ruge a sereia do encantamento.
Ruge.
E a fábula urbana diz que o autor terá cada vez menos o seu trabalho remunerado.
Essa fabulosa teoria ganha mais força na lida com as novas tecnologias.
Da forma que recebemos, doamos as obras que dessa forma não são mais nossas.
O novo mecenato passa um novo tipo de chapéu cibernético.
Ruge beleza, ruge

terça-feira, 23 de agosto de 2011

O quentume das patas


A mão de minha mãe mostrou-se fria num dia frio, numa noite mais e mais.
Buscou aquecer-se nas minhas costelas e nem percebeu que era eu, a lhe mostrar o meu ser de fogo.
Disse que meu pai não gostava de mãos frias na sua hora dormindoura.
No seu descanso eterno, minha mãe observou que ele estava com o semblante lindo.
Nesse momento ela teve a intenção de fazer-lhe o último pedido que eu, no mesmo instante, também intencionei:
Fala comigo!
A senhorinha minha mãe é sábia.
Sabia que não era possível que ele respondesse naquele momento, mas que ele nos responderá sempre que nós intencionarmos, assim como dantes.
A maternidade dela é a sua descrição mais densa.
Tudo pode ser revisto a partir de acontecimentos fortes que decidem de forma rude e truculenta.
Essa decisão, num segundo instante,  vem parecendo ser motivo de arrumação de geladeira e casas.
Uma oportunidade diferenciada para colocarmos asas nas coisas mais sutis e mais simples.
Essa mulher vai andar ainda mais, colocando-se à disposição de posicionar-se ainda mais coerentemente.
A minha capacidade de inventar certamente veio desse viés materno, feminino e meticuloso.
Cheia de graça é essa vida hospitaleira.
Nos hospedamos nela, cada um com seu gosto por determinado quarto - e eu - acostumado a gostar do barato, gosto do quarto mínguante.
A dona das invenções me acha pão duro e muquirana quando me vê diante desse tipo de informação.
Tem direito.
E eu esquerdo, tenho certeza de achar possibilidade de ensinar e aprender no meio dessas coisas providenciais.
Temos dedos para apontar e todos eles para juntar, agarrando as coisas e as pessoas fiáveis.
Leoa, nos encontramos entre as letras, as ocas, nós e as nossas casas-redondas.
Caminhamos essa estrada de terra africanabrasileiríndia.
Nela, juntos, vamos afiando nossas patas diferentes

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Lutos


O papai faleceu.
Três e trinta e três.
Essa frase já está na memória profunda.
A frase madrugadeira vinda de uma das irmãs.
Outro dia eu perguntei pra mim mesmo o que teria acontecido de muito ruim na minha vida.
Agora eu tenho a experiência da memória visual que faz doer na lembrança.
É só lembrar daquele homem de voz forte e jeito brincalhão, para que um aperto peitoral inimitável aconteça.
Uma dor que todos sabem que vai transformar-se durante o processo temporal.
Todos sabem e eu fiquei sabendo ontem.
Todos me disseram que o que temos que fazer a partir de agora é lembrarmos das coisas boas que o homem chamado de mestre - no futebol das quintas - fez durante a vida.
Que eu possa ser um pequenino representante do jeito empático e simpático dese homem presente.
Está doendo tudo o que entusiástica e expressivamente a gente brincava junto.
Nós dois somos feitos para brincadeiras inventadas para adiantar as coisas, para propor-lhes uma sequência mais ágil e engraçada.
Ligados na tomada.
Na mesma tomada que tem fiação aqui embaixo e ali em cima.
O homem inventou de ficar ligado no superior.
Esse touro, vai tetando nutrir aqui dentro e solto no chão de terra, a garra do leão risonho

sábado, 20 de agosto de 2011

Terço


Uma garrafa de água mineral.
Estou colocando dentro dela, uma a uma, as coisas que vão sobrando.
Vou enchê-la até a boca e até as tampas vou inchá-la.
Essa coisa literal, fará parte da mostra, da apresentação, do nosso cara a cara com tudo aquilo que vai me sobrando e vai extrapolando as necessidades.
Consumir oxigênio é imprescindível, é necessário, é urgente.
Vício vitalício.
Gosto de reutilizar, reaproveitar, transformando o observado e pensado - em inusitado.
Algumas coisas dentro do que vivo, revitalizo e acho ética e esteticamente viável.
O bonito e o feio, irmanados, se eles já não forem rigorosamente gêmeos.
Tradição e inovação, tradição ou inovação, e a solução dessa dialeticotomia permanece inalterada, girando em torno do faz de conta e do fazer parecer que é diferente, sendo que de longe se percebe a semelhança.
Talvez seja por isso que tudo o que faço, já vem com a certeza que alguém já fez bem antes e eu apenas desconheço.
Adoro pensar que fui eu que criei a dita, em pleno século vinte e um, com ainda mais gente pra pensar comigo.
Ter a consciência e a incerteza é o maior barato de ser criativo no instante hoje.
Ouvi dizer que nós todos temos pressa de realizarmos tudo ao mesmo tempo e que essa pressa nos faz cada vez mais ansiosos.
Estou ansioso por vê-la entrelaçando os fios com as esferas de plástico e ouro.
Rezo.
Anseio ter um terço, do seu ser inteiro

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Tendí


A arte que quem fez não quis.
Esse será o nome de uma exposição de fotografias que - eu e quem quiser - vamos participar.
Um diretor de escola disse - que lá fora - existe a televisão, a internet, a violência, a famíla, o trabalho e que aqui no colégio deveria existir algo diferente.
Achei o máximo.
Não foi o que ele quis dizer.
Ele quis focar na existência de professores estanques, que pararam no tempo e na sua formação inicial, porém, imagina mesmo, uma escola totalmente diferente do mundo de fora.
É o contrário de tudo o que se anda pretendendo no interior das instituições pedagógicas, afinal, cada vez mais, dentro delas, fala-se das relações com as famílias, da interação com as novas tecnologias, das questões da sustentabilidade do meio ambiente, fala-se dos vícios, das escolhas na sexualidade, das gozações entre os colegas de turma, o consumo desenfreado, enfim, o mundo de fora fazendo parte do conteúdo escolar.
Parece óbvio?
Então.
Fico a imaginar uma escola diferente do mundo de fora, aqui, no meu mundo de dentro.
E, inevitavelmente, esse meu dentro, cria coisas para surpreender tudo isso que rola fora dele.
Em mim cabe esse pensar uma coisa diferente, para ser diferente mesmo, sem rodeios, sem escaramuças, sem mercadorias e moedas de troca.
Mirei a câmera do meu celular para um detalhe.
Uma mancha de detergente sobre o piso lajotado.
Cliquei o desconhecido da ideia que o detergente faz do piso.
Estamos mandando para uma mostra de vídeos uma animação desenhística chamada Sopa.
Refere-se à sequência de transformações de uma letra para outra no alfabeto, de A a Z.
Sopa.
Sabe o que a sopa disse para o sapo?
Opa

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Nina


Que maravylha!
Um dia diferente de todos os outros.
Uma viagem tranquila, duas, irmanadas num espírito flexível de embelezar ainda mais aquilo que já é uma maravilha.
Aquela.
Aquarela sobre algodão na aptidão para aquosas delícias.
Uma mescla de destreza, graça e afinidade com os ideogramas.
Ideias em multigramas, quilos de inspiração e uma respiração frenética.
Todo o oxigênio fluindo multigrâmico na cerebridade angélica e calçada.
Calçada na fama de flamar bastante.
Verso anual, inscritos em muito mais do que trezentos e sessenta e cinco dias.
Uma oração inteira dedicada a fazedora de suspiros e panquecas.
Segundos e semanas, meses.
Suspensa no ar, solta por uma corda sol, atira-se em lá sobre a multidão de esculturas de sal.
O sal no sol é a temperância da moça que remoça e amálgama.
A salada de alface e tomate nos aproxima e aconchega.
Uma colcha doce e leve cobre a letra da canção do seu dya que assemelha-se a ser todo nosso.
O dya se diferencia pela companhia das digitais dos dez dedos das mãos diteitas.
Toca a campainha e nos alimento qual tomadas.
Tomamos juntos um gole do outro e batemos nossas palmas

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Colamontagem

Acabei de colar pedaços de jornal sobre montagens feitas com papelão.
Papelão, barbante e fita crepe, adoro mexer com essas manias.
O que cola uma matéria à outra, é o grude feito com três copos d'água e um com polvilho azedo, cozidos no fogo baixo.
Depois de pronto, o fogo da prontidão, é outro.
Um fogo irregulável, que queima de dentro pra fora e faz esfriar o nhoque em cima da mesa.
As caixinhas do meu presente de ontem já fazem parte dessa massa, elevando a moldura, sobre o desenho surrealista feito com caneta esferográfica azul.
Achei de colar tudo torto.
Nunca serei um grande artista, mas pensando bem, pra que que serve ser tudo isso?
Um grande artista está sempre estampado nas revistas e nos jornais, ao lado de tantas outras celebridades.
Artista é celebridade.
Nós, somos cerebridades.
Artistas ganham dinheiro.
Nós ganhamos os rudimentos das pombas.
Nossas pernas são irriquietas porque o nosso cérebro é totalmente móvel e curioso.
Acha de achar beleza nas polianices e nas rebeldias.
Eu saio nas fotos com outras cerebridades - gente esquisita e estranha - de entranhar no molejo das coisas.
Todas as coisas têm molejo, balanço e dançam conforme a música que percebemos delas.
Isso nem é cerebridade minha, isso já vem dos poetas de fogo irregulável.
Muitos desses, que já deixaram vários nhoques esfriando nas mesas.
Joguem pra dentro e pra fora, todas essas coisas produzidas e que ficam juntando poeira nas estantes, nos armários e embaixo das escadas.
Joguem tudo isso, goela adentro das celebridades, todas essas coisas que a gente percebe, sente e não se senta.
Levantemos nossa causa até causarmos mais espanto.
Todo esse discurso é só mais uma vistoria solta, sobre as notícias veiculadas pela TV.
As mídias públicas e propagandistas são sensacionalistas na justa medida que nos aguçam as sensações humanas mais animalescas, nos implorando sem esforço, que compremos a causa dos arrastões da ignorância.  
Ignoramos a bondade dos fatos, por ela ser chata e desprovida de arrojo.
Vou até o fim do mundo para buscar o que nos pertence, já que até chegar lá, necessitarei passar ainda, por muitos mundos de barbante e papelão.
A fita crepe eu guardo no bolso, para as ocasiões que eu precise falar um pouco mais alto

domingo, 14 de agosto de 2011

Nossos pais no país das maravilhas


Não somos como nossos pais.
Somos algo diferentes entre si, entre tantos, entretanto, temos algumas coisas em comum.
Comumente eu me adapto às situações com facilidade.
Quando o doutor me disse que poderia comer de tudo, mas pouco, eu passei a comer como um passarinho.
Ontem eu estava doido de vontade de comer arroz, feijão e bife.
Fui à mesa e devorei meu prato e mais dois restinhos.
Somos assim, eu e meu pai, estranhos como se estivéssemos na entrada da rodoviária e víssemos aquela multidão de diferentes.
Camisetas lisas, estampadas, calça xadrez, bolsas, meias, sacolas, maletas, tudo em conformidade com a esquisitice de tudo que não se parece com a gente.
Ele sabe vender e eu também não sei.
Somos dois péssimos comerciantes de quinquilharias.
Tudo o que fazemos depende da alegria voluntariosa.
Se o meu pai queria que eu fosse alguém diferente desse?
Se assim não fosse, eu seria o pai dele.
Eu e meu pai somos feitos da mesma massa jogadorística de cintura, mas a dele é mais robusta que a minha.
Eu adoro saber que minha mãe mandou encadernar a minha coleção dos gênios da pintura que meu pai comprava na banda de revistas.
Meu pai me acompanha nas travessuras de acreditar no espírito santo.
Ele tinha uma escultura feita em gesso de São Judas Tadeu e eu adoro pensar em Maria como uma mulher de fibra.
Nossos ídolos não são os mesmos e nem nossa aparência assemelha-se, mas eu e ele amamos o futuro e as coisas impregnadas nas pessoas que o povoam.
Aquelas que nós conhecemos e as que ainda vamos conhecer na providência.
Providenciei de encontrar meu nono, seus bolos recheados com pão de Ló umedecidos no licor e meu vô Cury, com sua história ainda não devidamente contada, ou sabida.
Os dois viveram de aprender coisas que não dominavam antes, e um deles inclusive, depois de trabalhar com serviços muito pesados, aprendeu a delicadeza da confeitaria.
Vivi a meninice de comer rosinhas de açúcar escondidas em latas de bolacha.
Nunca vi um desenho que meu pai tenha feito, mas tenho certeza que desenhar, ele desenha

sábado, 13 de agosto de 2011

Bordados


Fotografamos uma escultura singular.
A moça disse:
Olha que cena maravilhosa.
Quando arregalou os olhos para a cena, ela quis mostrar-me os frutos de uma árvore bonita no jardim da empresa.
O que vi foi a escultura.
Uma lixeira de madeira bonita, tendo dois galões de produtos com limpeza sobre a dita.
Um galão vazio deitado.
O outro em pé com um quarto de líquido cor de rosa dentro.
Uma generosa escultura.
Enquanto fotografamos as cenas da árvore e da escultura, surgiu das cinzas um segurança carrancudo dizendo:
Ei, não se pode fotografar no recinto do empreendimento.
A moça esperta foi saindo devagarinho, pois já rangia os dentes com braveza indômita, vendo no ato, uma truculência do poder.
Eu, pedagogicamente, disse ao enternado, mostrando a foto da escultura:
Moço, esta lixeira não pode ser fotografada?
Ele respondeu:
Ah! Esse produto pertence àquele faxineiro que está limpando os vidros do prédio.
Eu retruquei saindo esperto e devagarinho:
Ah bom!
Bom foi ficar pensando o resto do dia inteiro - que para o poder - dois galões de produto de limpeza, servem apenas para dar brilho aos vidros prediais.
Foi só atravessar a rua e nos deparamos com duas caçambas recheadas com telas branquíssimas, prontas para serem pintadas e sublimadas pelo nosso espírito.
Foi chegarmos nas caçambas e muitas outras pessoas chegaram também.
Conseguimos recolher quatorze painéis e levamos de lambuja, a observação de várias pessoas interessadas nos cacarecos entulhados da última decoração do banco em questão.
Que reconstituição darão aos restos, só o tempo dirá.
Estou, aqui com meus botões - vendo de perto - as linhas tornarem bordados, os desenhos feitos nos jeans das calças há algum tempo.
Essa reconstrução demonstra a limpeza da alma, da moça que fotografa as bordas 

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Plástico orgânico


Achei de montar uma caixa com pedaços de amostras de revestimento para móveis.
Fiz questão de fechar todos os lados.
Você deve estar pensando:
Uai! Então isso é um cubo e não uma caixa.
Um cubo feito para suportar um copo com água.
Uma das amostras tem a superfície vítrea.
Ideal para a umidade do copo transparente e suado pelo serviço
Encapamos muitas molduras feitas com tiras de papelão e fita crepe.
O grande interesse mesmo esteve sobrevoando as pessoas que inventam sobre o básico.
Foram muitas invenções voluntariosas.
As invenções dos voluntários, aqueles que sempre demonstram vontade.
A invenção - portanto - é filha da vontade que é prima irmã do querer.
Vou inventando uma cola modelar, que funciona apenas se você tiver a intencionalidade de modelar com os dedos.
Passa e repassa, seca os dedos sobre a cola e o papel, e volta a passar tudo isso sobre todas essas coisas.
Dedos, cola, papel e papelão.
Pensei tanto em suspender as molduras que não percebi as paredes todas que devem suportar as peças.
As paredes vão suportar e as peças não serão suspensas.
Elas terão apoio forte.
O apoio nos molda e alavanca.
Avançamos febris sobre as decomposições com a destemida amazona urbana.
Miçangas plásticas são fortes aliadas nesse heróico brado cidadão.
Inventemos pois um novo cumprimento, que pode espelhar-se nos abraços para parecerem-se mais com o universo.
Um verso só, que alimentará o mundo, a pureza.
Há uma lei que prevê que as crianças começarão a ser alfabetizadas no teclado e não mais utilizando-se da caligrafia.
Eu compreendo e desejo ver de perto esse espetáculo.
Somos voluntários

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Velhodenovo


Curso de cuidador de idosos.
Essa era a frase escrita no pano preso no alambrado da antiga loja de pneus.
Que maravilha ter a certeza de que as pessoas estão vivendo mais e que - a certa altura - não podem mais serem cuidadas por si mesmas.
A maravilhosa necessidade de se precisar do outro e se precisar no outro.
A implosão do: Ado ado ado cada um no seu quadrado.
Que dádiva termos a condição de sermos - moços e nem tanto - eternamente cuidados pelas pessoas, nos abraços, braços e bençãos.
Maior dádiva ainda é essa, de podermos cuidar fazendo canções, fazendo carinhos acústicos, táteis, enfim, demonstrar carinhos, desfazendo nossos monstros, demonstrando.
Vamos providenciando uma surpresa após a outra.
Também sei que por trás da frase escrita com letras vermelhas no tecido branco, existe a oportunidade do emprego, do pregar-se na tarefa.
Pusemo-nos a colar pedaços de jornal sobre duas estruturas de papelão.
Uma suporta e a outra emoldura.
Quanto mais cola feita com polvilho e papel, mais rija fica a peça.
Assim é o trabalho que dá trabalho e acalma, forjando uma terapia intensiva que culminará na amostragem dos feitios, num corredor educativo.
Faz quem quer.
Do querer depende o nosso perfume e o perfumar do outro.
Adoro banho. Adoro tomar banho. Não saio de casa sem banho.
Herança indígena.
As sementinhas são ocas além dos seus pequeninos furos centrais.
Ocas, vão desaparecendo dela.
Moramos nelas.
Ocas.
Demoramos nelas, no exato instante em que batemos os olhos na peça.
Demorou-se ainda mais quando você ocupou-se da refazedura dela.
Mais delas e sua linha de resistência.
Faz quem quer e - ainda bem - que para o bem da decoração, os corações estão se mostrando disponíveis.
Aqui nos dispomos a espalhar-nos todos, sendo aromatizados pelo nosso querer.
Esse, que nos deseja deus de sempre, além da peça

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A fala


Escreveu-me que a minha pele tem brilho.
Branca, por ela vê-se as veias.
Os pelos pelo jeito são tantos ao somarem-se às pintas pretas e vermelhas.
Um brilho que remete à proteção oleosa, porém - para o meu deleite - os seus olhos cheios de olhosidade enxergam além dessas fronteiras.
Poliglota, você traduz em várias línguas o sentido múltiplo aplicado à essa pele já revestida com alguma rugosidade experiente.
Experimentamos a fala concentrada na audição predileta.
Adoro ouvir a sua felicidade materna.
Rendo nessa linha um parabéns ao algodão do cabelo da minha, nesse dia de aniversariante.
A maternidade talvez seja a nascente de todas as coisas belas e das pessoas abençoadas pela compaixão e pelo perdão.
Providenciamos encarar de frente a providência divina, que tanto nos poetiza a vida - esse arcabouço de surpresas.
O que não nos surpreende a gente manda surpreender.
Manda mesmo, não pede.
Pedir a gente pede aquilo que a gente já conhece.
Andar com as próprias pernas exige o conhecimento do tamanho do sapo, e eu adoro a anfibiologia.
Pensando bem, a gente vê que que quase nada tem a importância que a gente imprime às coisas insignificantes.
Eu quase nada sei sobre história da arte.
O que aprendi é que não devemos nos ater à ditadura dela, ao seu sequenciamento, já que em arte não há evolução.
O que me alerta mesmo é a tradição e a ruptura, contida na dita cuja.
O que a gente observa, é a atividade do artista como reprodutor de tudo o que é natural e, depois da máquina fotográfica, elevamos a sua libertação da mimese.
Assim, nos cabe a democrática escolha dialética entre a figuração, ou a abstração.
Hoje na prova de inglês o povo adolescente não sabia o significado da palavra híbrido.
Ainda assim podemos hibridizar todas as coisas, até neologizar e dançar entre as suas abstrações.
Agradeço o fato que faz da sua pele, um brylho só

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Pele

Pele.
O maior órgão do corpo humano.
Veste os músculos, os ossos, os tecidos, cobrindo a casa que determina os fatos.
A cabeça raciocina intercalando as coisas conhecidas, repensando a casca que na pele guarda a delicadeza da beleza.
Beleza densa, tenra e terna.
Belezura que se faz no liso, na sua lisura, sua lida, sua lisa.
Carícia que no toque se destaca e significa.
Pele.
Lugar de encantar e embalar os sonhos.
Armário da estampa e da essência.
Estante do tempero e da temperância.
Desenhar sobre a pele parece desnecessária tarefa.
O desenho do humano é montado pela pele.
Ao fazer bem feito de cada uma das gentes que nascem e transformam-se, cabe o encanto de uma pintura.
A pintura natural, gerada pela pigmentação química, a sua geléia real, melanina.
A natural cadência da pele que dança seu corpo em movimento.
O que se move é o mover da sua pele.
O perfume que exalas, exalta a pele , enaltece o gosto.
Aos peles vermelhas cabe o banho no riacho e a pesca.
À sua pele cabe o suave caminho que nos leva ao mar.
Nado de nadar bastante, tentando chegar na margem quase sem perder o fôlego, e a alcanço.
Suas margens fazem a melhor paisagem para ninar a pele, bolsa dos meus olhos

domingo, 7 de agosto de 2011

Camomila


Chá de camomila não acalma aquele que não quer viver um grande amor.
Não amansa aquele que não sabe onde por o coração.
O chá de camomila é doce como é doce o fato que de fato é uma foto.
Diante de tantas poses em fila, a mais bela é a da flor.
A flor da camomila.
No vidro sem embaço, um leve toque no espelho

sábado, 6 de agosto de 2011

Consequencia


O prefixo in traduz o não.
Mais uma vez, ouvi numa palestra que não se deve dizer não antes de um pedido expresso.
Ao invés de um: Não cole o desenho na placa de papelão, deve-se dizer: Traga o desenho sem colá-lo no papelão, imperativo, programação neurolinguística.
Outra vez pareço fazer uma colocação idólatra, enaltecendo a imperatividade da disciplina.
Impero, já que o astral me diz que o touro é terrestre teimoso.
A inconsequencia pode induzir situações desagradabilíssimas, tal como a demissão de uma profissional que tenha contas a pagar, filhos para cuidar e tantas coisas práticas que acontecem sem se esperar e sem merecimento.
Uma ação inconsequente e gratuita que prejudica e não enaltece.
Enalteçamos pois, a ações consequentes do protagonismo juvenil, dispostas ao voluntariado corajoso.
As ações do coração não têem obrigação de serem boas, nem voltadas ao bem, mas quanto bem me faz a sua coragem voluntariosa e bela.
Adoro o termo acervo poético.
Tudo isso faz parte desse arsenal, da nossa munição dispostas a viver intensamente, dando pitacos de erva doce na massa integral.
O pão leva água e não leite.
O fermento eleva e dá delicadeza à massa

quarta-feira, 3 de agosto de 2011


Precisamos de uma placa de papelão de caixa.
Nós não temos papelão em casa.
Eu também não, vou buscar no supermercado ou na mercearia.
Preciso que vocês tragam a caixa desmontada.
Por que é que vocês trouxeram a caixa montadíssima, com fita adesiva e tudo?
Mas não era pra trazer assim?
Bom, com a placa de papelão nas mãos, a primeira coisa a fazer é colar com cola bastão, o desenho escolhido no centro da placa.
Onde nós colocamos o desenho mesmo?
E assim segue-se a saga da comunicação entre os mestres e os mestres.
E um professor das exatas observou que dos duzentos primeiros colocados nas olimpíadas de matemática, cento e cinquenta são alunos de colégios militares.
Atribuiu a relação entre a competência de resultados e a disciplina rígida.
Por que não?
Por que sim?
Por que?
?
Depois de colados os desenhos no centro das placas, umas menores do que as outras e com pouquíssima sobra de papelão além do desenho, eles foram montar uma moldura usando quatro tiras de papelão compridas, com dois dedos de largura.
Depois de montadas, por favor, não colem as molduras sobre as placas, porque ainda iremos encapá-las para dar um melhor acabamento.
Passados alguns poucos minutos:
Está boa a colagem que nós já acabamos de fazer, das molduras sobre as placas?
Por que teria importância algum acabamento?
Assim segue a lida da concentração e da disciplina, dos mestres e dos mestres.
Dentre vários personagens, três meninas e um menino tiveram quatro ideias diferentes das minhas, muito mais iluminadas, e me deixaram cheio de satisfação e esperança na minha própria evolução.
Tudo isso é história engraçada, cheia de graça e vivacidade, cada um viajando nas suas circunstâncias e nas suas afinidades.
Hoje, tive a ideia de pedir para quem quiser, que apareça vestido com uma fantasia e sabendo de coração, uma frase para ser expressa numa peça dramatúrgica.
O título vai ser Um por todos e todos por um contra o imbatível Cada um no seu quadrado

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Imaginação e cura


Perseguir-se por dentro.
Ir seguindo a minha corrente sanguínea foi o meu primeiro exercício de imaginação.
Vou percebendo o caminho da ação viral, sentindo as reações internas do corpo.
A ação nociva começou na garganta irritadíssima, depois foi impregnando as narinas, os seios da face e quase atingiu o ouvido direito.
Sinistro.
O processo foi chegando ao lacrimejar do olho direito e depois do olho direito.
A minha ação de resistência foi lavá-los com água boricada.
Excreções.
Úmidas, molhadas, secas e ressecadas.
Formadas e expelidas com vontade e força, relavadas constantemente.
Aquilo que fora dor superficial e calafrios, abranda-se agora, aliviada.
Repouso e líquidos.
Receita correta e difícil de ser implementada, provavelmente pelo tempo longo da minha inexperiência com a gripe e o agito constante desse ser ansioso e inquieto.
Tudo isso é dança e chá de camomila, espelhados.
Uma música entoada, toada das águas calmas, que funciona na mesma balada domar vermelho.
Vamos ver se eu aprendo aquilo que eu escrevo tanto.
Mais um instante de vivência corporal e almática, no qual devemos acreditar sempre, mostrando que o mistério apresenta-se, porque foi muito anteriormente revelado

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

190


Cento e noventa conjuntos de palavras.
São registrados de forma a serem passíveis de poderem ser lidos.
Que lê reage, relê, produz outros tantos conjuntos e, de alguma forma, consegue traduzir a poesia em vivência.
A vivência poética, na minha compreensão e no meu sentimento, só pode ser vivenciada sorrindo enaltecendo a beleza.
Claro que esse meu sentimento e essa minha compreensão não é compactuada com todos, e talvez, nem com a maioria das gentes.
Não há problema, ou há!
O problema gera conversação, dialética, debates internos e externos.
Há o sorriso doce e há a angústia sofrida, há o capital e há o interior.
Eu é que me ocupo a dedicar-me ao sorriso.
Ocupo-me ainda mais, após a manifestação da doença e da dor aflitiva.
Eu é que apaixono-me pela alegria, pela graça, pela festa da palavra e dos traços, pela poesia que encanta-se além da moldura.
Quando escrevo isso, não quero erguer uma torre enorme para trancar-me no alto.
Adoro o chão e a teimosia do depois a gente conversa sobre dinheiro.
O touro empaca no brincar com as palavras e com a força da sua expressão.
Como disse o poeta, a palavra dita não admite rascunho.
Eu digo que as não ditas são importantíssimas, na medida que são ditas pelos olhos.
Essas palavras sim - as ditas pelos olhos - podem falar também por imagens, de tal modo, que as pinturas, os desenhos e os objetos, nos falam claramente como vocação.
Lembrei-me que passamos pela experiência de visualizarmos a experenciação de um casal que optou por não ter filhos.
Escrevi isso, pensando e sentindo que a razão de tanta ocupação financeira, ligada ao trabalho, teve como fundamento a sobrevivência dos filhos até tornarem-se gente adulta.
No momento que esse processo encerra-se, sinto cada vez mais a necessidade de avançar para águas mais profundas.
Desejo dizer o que é dito pela poesia líquida.
Quando a nossa casa torna-se xícara, depositamos nela a água que é fonte de vida e pureza.
Sabendo que pureza é mundo - e esse - deseja não ser tão imundo, tornamo-nos regador e fonteamos o nosso atravessar de avenida, enquanto eu ainda rio