quinta-feira, 30 de junho de 2011

A flor radiográfica


Interessa-me a matéria, o universo da sua mistura, as interações entre as transparências, opacidades, rudezas e gostosuras.
Um detalhe após o outro, interessa-me o todo, a sua rapidez e a sua incompreensão com a paradez e a repetição dos sentidos marchadores.
Isso que você vai ganhar, pode e deve ser modificado, recondicionado, rerremodificado, revisto e reinventado, num movimento hiperconstante, onde consta a sua presteza e rapidez.
A sua, a nossa e mais ainda, a possibilidade de tinnerizar as cores dos pedaços das revistas, na intenção de produzir uma mescla de todas elas, a serviço da viçosidade das esperanças num mundo mais vigoroso e justo.
Quadros geralmente são encostados nas paredes e, é por tudo isso, que desta feita ele estará em suspensão.
Um leve distanciar da rigidez das paredes e seus tijolos.
A radiografia da for é ela própria, a que a filha tanto aprecia.
O nosso universo é fantástico, mesmo que eu não seja expressionista.
Sou impressionado e expressionado pela sua expressiva conduta.
Tenho a impressão que, tanto eu como você, refletimos o lirismo das peles lisas e seus perfumes.
O acetato é pele, as patas de vacas é borboleta, o texto é caixa, as figuras são campos e tudo o que mais nos impele são impalas correndo sobre a África.
As patas dos impalas ao tocarem seus cascos na terra árida, fazem brotar as opalas.
Imaginemos esse instante de fantasia, tornando-se tesouro vívido, vivido e tocado, beijado e acariciado.
Vivemos provocando artesanalmente, a doce sensação de admirarmos o poder de perto, sem relarmos o dedo no seu banhado a ouro.
Seguimos bebendo as lágrimas e o seu sal

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Uns tuns


Tum, tum, tu turu tum tum.
Um tambor aderente soa um som gostoso, no ranger dos ossos e da lã sobre seu colo.
É nesse contexto que as fagulhas e pontas de agulhas apontam para os pontos certeiros.
Pontos que parecem os dedos das mão ágeis, que retiram a sacolinha do lixinho branco.
Tu não vês, porém, o dedinho lhe enfeita o gesto.
E o meu aluno me disse obrigado, depois deu ter-lhe dito, não tem de quê!
Agradecimentos de quem se reconhece na diferença absoluta, no sonoro falar do violino percebido.
E ele me acha parecido com seu pai.
Um pai deve parecer e ser assim bem paciente, permitir-se curar.
Ser mais paciente e menos doutor.
Você me carrega e eu ando e dando corda, avoamos.
O soro fisiológico para a solução das dores é a fisiologia da afeição.
É interessantíssimo como a espiritualidade do fazer é cósmica essência curativa.
Não faço mais do que minha querência, quando dedico-lhe alguma palavra, ou colagem.
Eu tinha toda a ideia na cabeça, foi só eu sair pra rua e já me ofereceram mais matéria.
Muito boa a sensação de poder oferecer-lhe mais gentileza multiplicada.
Um raio X real, porém diferente de todos os que eu havia pensado.
Pensando e sentindo a fluidez dessa matéria de feitiço espiritual.
Eu ia usar a matéria original, mas alguém interveio e usarei a xerocópia.
A originalidade do querer ver minhas mãos no ofício, é sua.
Nada mais justo, que os tambores ressoem tuns, no tu que só em ti é um coração volante

terça-feira, 28 de junho de 2011

O vale, além do dinheiro


Vale dizer que aprendi a olhar pro chão para olhá-lo de frente.
O dinheiro é a árvore que dá dinhos.
Dá dinhos num jogo complexo.
Essa árvore nasceu de uma única flor, a dinha.
Hoje, essa árvore dinheiro produz seus dinhos, os mesmos.
A flor única ainda resiste, embora não deseje mais produzir dinheiros.
Aquele único dinheiro, produzido pela única flor, hoje reproduz seus frutos à maneira hermafrodita.
Da flor, resta seu nome e é dessa forma, que perpetua-se a história.
Uma história escrita por quem sabe que dinheiros valem a pena na sua forma singular.
O panda já tem bracinhos.
O vale está cheio de alegria e trabalho, roçado, pele a pele, tronco a tronco, seivado.
Quando bebemos lágrimas, já estamos transpirando a tristeza e expiando as possibilidades de malfazejos aproximarem-se dos nossos poros e das nossas cascas permeáveis.
O sal tempera os destemperos e a árvore frondosa que nos cabe está vibrando no jardim redondo.
Tudo vale no valor da certeza que nos alavanca e nos impulsiona para sermos uma espécie de adubo orgânico, desorganizando o tudo por dinheiro com o organizar das nossas estantes, presas, porém com parafusos espanados.
Um aluno pediu para ver de perto o seu retrato, para ter certeza que aquilo não havia sido impresso por máquina.
Há nele algo muito impresso.
O garoto passava delicadamente os dedos sobre o rosto de papel.
Tive a certeza que com esse gesto, ele queria saber além do desenho feito a grafite.
Queria compreender donde vinha a energia única e sementeira, da flor impressa

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Dinheiro é um pé de dinho


A imagem e à semelhança do dinheiro
Uma sorte
Um norte
Um corte
Uma carta 
Jogo, ganho, e nada
Nado em dinheiro
Ganho com seis, ou doze
Ganho com treze, quatorze
Se ganho, dividimos
Nós nos provocamos e a arte vai nos ganhando
Assim, deus de sempre

Reeducação cosmética



O português e a estranheza dos a torres.
É verdade que essa é a pronúncia de um imigrante alemão para a palavra atores.
É verdade também que somos torres de pedras animadas pela nossa confiança e artistez.
Um jovem professor, ligou e me disse que estava muito irritado com a classe que ele acabara de deixar.
O fato é que foram os alunos que não deixaram que ele comunicasse todo o conhecimento que ele queria transmitir.
Para que haja uma troca de saberes, talvez seja necessário que a pessoa com mais sapiência sobre o assunto a ser tratado, consiga expressar sua sapiência.
O fato é que foram os alunos que não deixaram que ele comunicasse todo o conhecimento que ele queria transmitir.
A ideia é imaginarmos um país superlotado de gente que interpreta, que traz à luz, que amplia possibilidades, que interessa-se pelo conhecer as coisas e os mundos diferentes.
Na mesma hora pensei em dizer ao garoto que os alunos são assim mesmo, estão no final do bimestre e cansados de tanto estudar e ele estava cabeludo de saber que é assim, porém, de súbito, resolvi dizer-lhe que não ficasse nervoso, afinal, estamos nos estertores de um bimestre sem muita graça escolástica.
Um tempo, logo depois do fato, fiquei pensando que realmente eu acertei em não responder ao menino cheio de cabelos, que a educação não tem mais solução e que, graças a deus de sempre, eu estou quase me aposentando.
Acertei, porque cabe a ele, jovem menino educador, propor uma escola completamente diferente dessa que vivemos hoje e cabe a mim igual tarefa, na medida que sou um comunicador da arte como ela é, fazedor que sou de algo intensamente provocador.
Ter nas mãos e na cabeça, a beleza cósmica de provocar qualquer coisa, quaisquer a torres, quaisquer mosquitos que não tenham manchas brancas pelos corpos pequenos, menor que seus parentes mais próximos.
Fazer arte é provocar, e na provocação - seja ela de menor ou maior ousadia - ativar no outro humano, a sensação de algo faltante.
Se algo lhe falta, que ele possa ter a vontade de preencher o vazio.
Hoje descobri a única utilidade dessa coisa espantosa, provocar.
É dessa forma que alunos fazem arte.
Provocaram o menino até que ele esbarrasse no nervo e reagisse.
A reação é uma novíssima expressão artística.
Qundo descobri que a palavra cosmos significa beleza, redescobri que a sua adcosmética é ainda mais bonita que a memória linda, que mora em mim

domingo, 26 de junho de 2011

A torres


Ela contando a história do jeito que eu conto é muito mais do que um conto.
É uma contação de contas num rosário de graça.
Um conjunto de intenções, onde mora o debate das várias ideias reviravoltadas sobre a educação dos nossos sentidos.
Uma reeducação constante, onde constam todas as possibilidades e oportunidades de encantamentos e reinterpretações do já dito, escrito e do já lido e revisitado.
Um fotografar constante dos pedriscos que se juntam na calçada.
Nem precisamos medir, e todos os documentos empilhados sobre a madeira, couberam na caixinha recém paramentada.
Foi um festival de pensares juntos, conjuntos, feitos como a hora, que insiste em aparecer espelhada ou justa.
Quem sabe faz a hora e faz na hora.
Sabemos que nem tudo é possível ao movimento de nossas mãos, porém, um toque no material escolhido e tudo o que a poesia da coisa quer, ela faz.
Depois de tudo pago, impresso, visto e revisto, a vida ainda permanecerá olhando pra gente, lá no fundo.
Para cada copo d'água, uma colher muito cheia de farinha de trigo, o pão nosso de cada dia, colando um pedaço sobre o outro, enriquecendo a capa.
Um grude, uma cola de peles enaltecendo a parte luminosa e quente de um dia invernoso, hibernado na sensação.
Tenho a sensação que um dia, nós vamos acertar na mega sina.
As pequenas sinas acertamos todos os dias, fazendo soar sinos nas torres das casas das razões de todas as mágicas.
Moramos nas vilas e nas vielas, nas torneiras de couro e nas fivelas.
Cinto que segura as calças.
Calças e continuamos a andar a pé, sobre o soro das águas, açúcar e sal 

sábado, 25 de junho de 2011

Janelas


Um tempo cinza e a feira é livre.
Um dia bonito e nada é de graça, só nós fazemos graça.
Nós e a turma do circo místico, holístico, olhístico.
Enxergamos no aperto um salto de soltura imensa, laçando com fio elástico o outro que enxerga bem parecido.
O olho elástico alcança a elasticidade do sentido de todas as coisas, afinal, uma cadeira é muito mais do que sentar-se.
Sentamo-nos sob a grande árvore e arvorecemos de comprar tomates.
Fazer uma cesta com alface americada é devotar-lhe graça nesse mundo temporoso de andar bem devagar.
De vagar na divagarânsia dos poemas é a nossa praia mais próxima.
Andamos de andarmos sobre a areia somando às conchas.
Ouvimos uma delas e os oceanos todos compõe uma única canção aquática.
Um tigurfi de pedra lisa atirada no lago pelos meninos e meninas.
Uma tenda sem teto, um cubo mágico unicolor, duas cabeças pensam muito melhor que uma só pensando sozinha.
Amamos pensar aqui dentro e você aí dentro.
Aqui fora, pensamos seres vizinhos, conversadores de conversas gigantes, que aldeiam mais que um globo só.
Acompanhados estamos de nós mesmos e de tantas caixas.
Vestimos nas coxas, abridores de fitas adesivas e nos arriscamos a cortá-las ao meio.
Abrimos caixas e acompanhamos de perto, as surpresas que elas guardam.
Não as guardamos, nem aguardamos, nem fazemos papelão.
Colamos acreditações compreendidas, para melhor compreendermos o que nos cerca.
A nossa cerca é um pouco mais frágil do que essa, que a revista, determina a feira 

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Um papel entre as páginas


Um papel adorável para a encenação da paixão é aquele que recebe seu retrato.
Depois de pronto, ele conta a história da menina que tornou-se mulher com a força das circunstâncias temporais.
Um temporal cósmico sobre as terras dessa garota transcendental.
Um papel que a represente, requer tradição e modernidade.
Uma atriz vidente que na vigência do sorriso, apresenta ao público seus sonhos transcritos.
A árvore que desencadeou o plano branco celulóidico, tem raizes profundas que retiram a água da fonte e nutrem a seiva bruta.
Uma frase grafítica e a face bela e rara enaltece a riqueza da intenção.
Agora só resta emoldurar a folha com outras tantas matérias ricas de história e gênese.
Origina-se assim uma poesia feita com anéis e seus dedos.
Retratar é tratar novamente.
Tratamento feito com claros e escuros que, no decorrer da contação, vibra na sutileza das presenças docemente esperadas.
Retrato a mulher que doravante segue menina.
Um riso, uma piada, uma dose de temperamento sobre o corte dos tomates.
Tomara que a minha cara encare a face, cara a cara e face a face, minha cara.
Minha caríssima moleca, embrenha-se retrato adentro.
Um dos papéis mais lindos da sua carreira está supercolorido, aguado em azuis, pendurado na parede esquerda, outro entoa um canto, xilografado na parede materna.
São tantos os papéis, que no frigir dos ovos, um deles absorve a gordura das batatas.
O corte fica por minha conta, nos pequenos pedaços de coisas para encarar temperos.
Com a cara mais lavada do mundo, tento imitar seu rosto.
Com a alma mais lavada do planeta, encontramo-nos na trama de celulose.
Com muito cuidado juntamos as partes e montamos um jogo de expressões, onde cada um dá a sua cara à tapa.
Uma bofetada gráfica, onde o risco é apenas um traço forte, que se arrisca a abraçar entrelaçado, o nosso peito

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Seis


Seis vezes o trovão uivou do céu.
O som veio forte e rijo.
Foi impregnando cada coisa, nas suas moléculas, suas células, seus átomos e suas partes presumivelmente menores.
As coisas todas são motivadas pelo som bonito da intenção pura e simples do bem querer.
Assim você gosta das pedras, das árvores, gosta das canções e das palavras que as compõe.
Admiro os gestos das suas mãos no contato com a matéria prima orgânica, ou sintética.
A tecnologia das sensações, é voltada a acariciar a motivação do outro.
Os motes e motivos são todos vindos do barulhinho do trovão empregnador de felicidade.
Olhamos para a tela plana e vimos o lar enaltecer-se em cores, doce lar feito e idealizado pelas pessoas beneméritas.
Somos adeptos e filhos do trovão.
Reflexos do relâmpago, da luz, da iluminação singela que traduz beleza.
Ontem ouvi dizer que a origem da palavra aluno, mostra que ele é o sujeito no qual, deve-se colocar a luz do conhecimento, afinal, ele ainda é um ser sem luz, aluno.
Pensei diferente, talvez na mesma linha, porém entranhando.
A luno, sem lua.
Lua que não tem luz própria e que necessita da luz solar para ser visível.
A lua toda estava no seu coração, no instante que você desejou que meus olhos pudessem aprender um tanto mais.
Uma ligação, um toque e meus olhos pegaram com as mãos.
São seis meses e tantas luas, amalgamando-nos lunares aprendizes

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Batom


Essa manhã, passei observando os alunos que faziam prova de língua portuguesa.
Essa última palavra já teve acento e eu também já o tive, enquanto espalhava pela cidade, cadeiras de madeira, baratas.
Acententei-me com elas, na colocação de grafismos nas cores da bandeira sorocabana, a terra rasgada.
Por onde andam essas cadeiras eu não faço ideia.
Ideias são fazedumes de minha preferência, quando minhas e principalmente dos outros.
Como é lindo poder pensar e achar que uma ideia que você teve, é realmente sua.
Um frisson.
Claro, que na maioria da vezes, estudiosos que estudam sobre todos os assuntos, acham uma referência já escrita daquilo que a gente, naquele instante, pensou ser nosso.
Enfim, acento-me jamais no sossego.
É o desasossego que me desacenta.
Faz-me levantar e olhar com novos olhos, com outros olhos, com a visão espaçosa de quem está livre para saber que a imaginação admite tudo.
Dinamite que explode a pretensa suavidade da preguiça.
Observo a extensão das questões que nos aflige ou atiça.
As respostas estamos dispostos a doar com graça e de graça.
A necessidade da experiência de colocar os dedinhos na tomada para ver se toma-se choque, não é a mesma que move o leitão até a lavagem.
Farto-me com o reaproveitamento e a pintura feita no pano de limpeza, depois de várias passadas pelos vidros sujos de terra e sereno.
Um segredo guardado em bolsa de mulher.
O que será mais pintura?
O pano fininho esticado no chassi, ou as fotos feitas dele, originalmente estampadinho?
Mais pintura é o batom nas bolsas dos olhos.
Dos seus olhos, de misturar as cores

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Com apreço


Um amigo de criação escreveu, que se tiver preço, não tem valor.
O artigo na revista diz que a arte, através dos seus produtos, também tem a ver com o mundo do deus dinheiro.
Deus de sempre não mora novidade nisso.
Qual é o valor disso tudo?
Não fazer aos outros aquilo que você não quer que lhe façam, mesmo que esse outro não esteja lhe vendo.
Vendo.
Interessante essa postura do verbo.
Se eu estiver, lhe vendo.
Vendo nada, lhe dou.
Vendo tudo, eu compro e lhe dou um outro tanto.
Vejo-lhe de forma clara, cristalina, mesmo que o cristal esteja um preço abaixo do preço do diamante.
Amantes do dia, elegemos a noite para as delicadezas. 
O valor que deposito na nossa caixa, recoberta nos toques, é o mesmo que você deposita.
Tanto que preferimos que nada seja colocado nela.
Damos preferência para que uma aranhazinha, nela e dentro, teça uma bela teia, exatamente linda no cruzar das três arestas internas.
Estando te vendo, ou não, não vendo-lhe nada, afinal, tudo o que vejo e vislumbro é teu, dado.
Dado o fato de ver-te de onde estou, valho-me de tudo o que posso para transformar esse tudo, em um pouco mais.
Que a arte é todo o processo, disso não temos dúvida, porém, como é valorizado o colocar os olhos no produto!
Para o produto, as técnicas.
E como é lindo descobrir um jeito novo de fazer tal coisa.
As coisas valem o quanto pesam, apesar dos pesares.
A mais pesarosa e problemática, é a balança da justeza, que na placa colocada na frente do escritório de um advogado aqui na nossa cidade, pende para um dos lados 

domingo, 19 de junho de 2011

Galhos decorados


Ela adora árvores com raízes expostas.
Fui recolhendo galhos, à semelhança daqueles que vimos perto das tendas, no museu.
A ação tão simples de testar o poder das lâmpadas, a sua iluminação externa e essa que nos alumia por dentro, prata e borracha.
Amanhã começo a pedir para alunos e funcionários amigos, carrinhos e bonecas de plástico.
Esses brinquedos baratinhos, para brincar de montar uma coisa grande, com rodas na base.
A tradição diz que menino brinca com carrinho e menina brinca com boneca, mas desta feita, qualquer um pode trazer qualquer um dos gêneros de brinquedo.
Que mal há na filha seguir os passos da mãe na lida com as coisas da cozinha, se além de tudo isso ela ainda cuida dos filhos, do emprego executivo e da troca do óleo do motor?
Será que alguém vai entender um totem modernista, que junta tralhas novas em movimento?
O movimento da peça precisa do toque das mãos, deslocando-a do seu status quo, até alcançar um novo lugar no espaço gigante.
Quais as cores das escolhas dos módulos?
A matéria plástica, soldada com cola quente, refletirá todas as escolhas feitas por tanta gente.
Quanto será o todo dessa tanta gente?
Sou eu a querer que o número de pessoas seja sempre grande, que muita gente se engaje, que muitos possam desfrutar de coisas que até minutos atrás desconheciam.
É através dos pequenos toques que se fica conhecendo.
Um toque como esse, que fez aparecer no canto dessa tela um relógio analógico mostrando dezoito e dezoito.
O incêndio na floresta apresenta um animal que passa por ele e não se apavora com as chamas.
Quem me chama eu chamo também e quem adere ao mote, me dá motivos além dos anéis.
Além do nosso entendimento e do seu, quem me lê agora, segue um mutirão de gente, que se anima com o fato de abraçar uma história.
Do que são feitas as goivas que cavam suas belíssimas xilos, se não for dos pedaços das raízes que você tanto aprecia?
Um toque de cola quente e o cobertor passeia ligeiro para o outro lado da história

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Ressoante


Passei para conversar com quem entende, o funileiro.
O vendedor e colocador de fechadura de porta automobilística, disse-me que o problema seria resolvido apenas com a empurração do pino preso à porta.
Seria nada.
O problema é uma lingueta faltante na fechadura recém colocada, porém, disse-me o funileiro inteligente:
Professor, você está conseguindo abrir e fechar a porta com um jeitinho diferente, não está?
Compreendi de imediato.
Vou continuar contando histórias mágicas sobre o automóvel que promove ideias.
O tradicional me serve para ser desvirtuado, mesmo que eu possua uma técnica primorosa na lida com lápis grafite e lápis de cores.
Que maravilhoso é esse tempo em que estamos inseridos.
Um turbilhão entre o tradicional, o imutável sistema e a transfiguração humana e angélica.
Um alvoroço entre a matéria e o espírito, a carne e a alma, a teoria e a prática.
Amamos fazer, acontecer, causar, esticar o elástico até ele querer esgarçar-se.
Amamos o perfil retratado com os dois olhos, à maneira cubista.
O bidimensional adquirindo facetas tridimensionais.
A foto mostra o instante em que a fera devora a presa e a despreza.
Os destroços são a matéria bruta.
Deles, enaltecemos a plasticidade e transformamo-os em resgate.
O resgatar da técnica, transmutando-lhe o conceito.
A providência divina, por nós não é necessária e vista a partir das necessidades financeiras.
Como é bom ser independente.
Ao largo da imensa dependência que temos de tudo que nos cerca, o que nos abre a porteira é a largura do nosso olhar.
O verbo importar traz no seu rastro a porteira inteiramente aberta, para que toda teimosia reine.
O que há de teimoso em nós, teima em ter visões de raios X, num tempo de ressonância magnética

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Eyes


Eye meu deus.
Meu deus é humilde e olha por tudo e principalmente por todos.
Isso mesmo.
Um olhar que ultrapassa a vestimenta do dinheiro novo.
Preocupar-se muito menos com a grana, vem me tornando muito menos temeroso da morte.
Dirá você que esse é um pensamento senil, porém dir-te-ei que é um pensamento mais sereno.
Ser forever young, porém com mais linhas bonitas na superfície funda da testa, é uma sensação semelhante àquela que se tem quando se é informado, sabe-se deus por quem, de um verso lindíssimo que você mesmo descreve.
As linhas veem sendo grafadas em registos definitivos, afinal, aquilo que é dito, é dito e ponto.
É uma decifração da emoção do instante e das suas coleções.
A sequência do dia, vai nos acumulando de bençãos educadoras.
Vai nos levando pra frente e na direção da construção de um sólido geométrico aberto e com tampa removível.
Custava vinte e nove reais e a mocinha fez por treze.
Meus olhos sustentam os seus e esses me sustentam, adivinhando os meus.
O que dista entre mim e você, diz que os metros são feitos de fios de musseline esticados.
Uma laçada táctil no trabalho de duas agulhas e os metros se misturam e encontram-se em teia.
Eye meu deus.
Tanta coisa assim procede de um desenho feito a grafite por um aluno mais disposto.
O olho que o papel detinha, era acompanhado da palavra inglesa.
O olhar distante e tão perto, trouxe-me a ideia e a vontade.
Divina vontade que tira-nos os feet do chão.
Tiranos fitam e os doces fitam.
Fita e me fita, fito e acalmo-lhe com a botânica crença.
Fitoterápico é o dia, nos quais os papéis se dispõe a receber o nosso gesto 

terça-feira, 14 de junho de 2011

Pés no afinco


Trabalhamos com afinco.
Não existe entre nós privilégio entre qualquer razão e toda emoção.
Fincados com os quatro pés no chão, alçamos voo até uma dimensão onde tudo o que imaginamos, ainda não foi criado.
Não sendo ainda inventada, a elegância da escova, brilha os nossos dentes.
Voamos pelo céu que permeia um espaço onde sempre há uma vaga para o nosso estacionamento.
Mesmo que não apreciemos o fato de estacionarmos em algum canto ou lugar, achamos vaga.
Na nossa admiração pelo cosmo, vagamos pelos campos das ocasiões propícias para que tudo evoque o fato de sempre dar certo.
Tão certos estamos quando o número bate, o símbolo bate e batemos todos à porta dos alcances ainda maiores.
Responsáveis somos pela onda de pés fincados que se desafincam por opção e esmero.
Somos agricultores que não almejam esperança de ver os frutos daquilo que plantamos e plantamos nos instantes de respiro.
Tudo isso acontece quando a bola é alçada na área e estamos de costas para o gol.
Num movimento rápido, giramos o corpo e batemos de bicicleta.
Praticamente explodimos de alegria.
Uma alegria incontida e um sorriso de graça, vindo do moço que enxerga na gente traços de juvenilidade.
Uma graça sobre a graça que se alcança por crença e por experiência.
Um ti ti ti e um piri piri.
Sorrimos quando o relógio parece religar-nos.
Sorrimos sem ponteiros e sem defensores, sorrimos juvenais.
Na cruz, sou a madeira menor e você a maior.
No cruzamento dos madeirames, um imenso coração em chamas.
Chama, chamamos e chamãs.
Um chocalho feito com casca de côco e sementes, anuncia o dia e a noite.
Dormimos sonhando em paz

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Receita


Alguns pedaços de papel, picados a dedos, coloridos e estampados de gente, foram os brinquedos da menina sapeca.
As suas mãos cuidam de distribuir os tons, as cores e as sutilezas, gerando beleza nas folhas alvas e ansiosas por carinho.
A sensação de ter o mesmo carinho pelas colagens de papéis sobre as superfícies, que a donzela púrpura do coração encantado pela coragem, é para mim, o senso de um vasto sorriso.
O lenço foi acariciando o pescoço, com a sua gentileza de arte contida.
Não uma arte contida de ser medrosa, ou tímida, mas contida de estar costurada em tudo que nos aparece.
A ideia que impõe que os bons são a maioria, é uma cruzada binária que tanto solta como enrosca as malhas de aço aparentemente flexível.
Inflexível é o instante onde as pontas do lenço fazem ressaltar a margem linda do rio de musseline.
Dentro, admiravelmente acordam as duas figuras dançantes e humanas.
Acordam para nos dizer que estão entrelaçadas e amalgamadas pela fina camada de tinta e cor, que é aqui onde pulsam o coração e a alma, benditos.
A arte está contida.
A pedra e seu brilho exaltam a peraltice divina da boneca peralta.
O opaco da massa lhe dá suporte.
Eu e você amamos conhecer novas culturas sem as avaliarmos com base na nossa cultura sedutora.
Nossa cultura é aprendiz, e como tal, ama ser instigada pelos arabescos e rabiscos da surpresa.
A novidade é que a maioria tem certeza que a vontade própria é a vontade do outro mais robusto e poderoso, e sabedora disso tudo, admira ser tocada pelas frases que lhe servem de perguntas.
A nossa resposta está contida na produção das duas agulhas de madeira.
Está na escolha perfeita da lã e da linha.
A linha mestra do reaproveitamento é a reciclagem das nossas respostas.
Reutilizamos as perguntas que nos são impostas, de forma desajustada.
Esse desajuste nos direciona ao beco desconhecido que nos acaricia a pele.
Quando descobri que a benção dos santos olhos, na verdade é a benção dos santos óleos, passei a massageá-la direito.
O meu lado esquerdo é melado direito, porém não demasiado doce.
Doce o suficiente para que eu aprenda com a sua objetiva.
Sua lente me salva, daquilo que a receita tenta ditar

sábado, 11 de junho de 2011


A circunferência precisa ser maior.
Bastará um pequeno ajuste, que transformará ainda mais a peça.
As peças são assim.
Elas servem ao ritual da beleza muito mais do que ao ritual da utilidade.
Um brilho surgirá após aquele que já foi mostrado.
Mais um brilho mostrar-se-á.
Amo-lhe de te admirar como um tanto.
Um brilho de raio.
Um brilho sonorizado de trovão.
Uma caminhada no revigor da lembrança.
Um parque, uma circunferência maior, diferente daquela, um rolar de pedra.
Fagulha cósmica, extraordinária

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Mecânica


A lingueta da maçaneta.
Eu pensava na semana passada, ser esse o problema da porta do meu automóvel.
A porta do motorista.
Não era.
A maçaneta estava quebrada mesmo, porém, a porta não abria por fora, porque era a fechadura que estava quebrada.
Hoje soube, que também a fechadura só não era.
O real problema está alojado no miolo onde gira a chave.
Quando essa história me foi apresentada pelo rapaz da oficina que vende auto peças, lembrei-me das histórias todas.
Lembrei-me de todo o processo.
Anteriormente ao fato da quebra da maçaneta, há dois anos atrás, a chave da porta tinha um segredinho na virada.
Hoje, o segredo permanece e só eu o conheço, ou seja, nesse exato momento estou novamente treinado para abrir e fechar a minha porta, no gira gira da chave.
Na oficina, aproveitei para trocar as duas lâmpadas faltantes nos faróis dianteiros.
Já está escuro e, daqui há pouco, vou experimentar a visão nova, das pistas da rodovia.
Como pode a beleza tornar-se mais bela?
Não pode.
A beleza é um movimento e tem pequenos rodopios andantes entre as tintas, reflexos e fios.
Esses que vão se encontrando uns com os outros, numa dança que vai espalhando luz por todos os cantos daqueles que teem o privilégio de enxergar a beleza no seu gesto dançante.
Consegue-se ouvir a música quando se pensa nos fios tremulando qual bandeiras em dia de festa.
O primeiro oficineiro que visitei com meu automóvel para perguntar se ele tinha a fechadura, perguntou-me se a mesma era elétrica.
Fui logo dizendo:
Você tem certeza que está vendo o meu carro?
Para quem não o conhece, ele é bem engraçado, o automóvel azul royal.
Respondi que a fechadura é mecânicíssima.
De tal forma mecânica, que agora tem seus próprios truques a ensinar-me muito.
Um toque especial e a porta se abre e se fecha.
Toques especiais são necessários para que se consiga cantar, escrever, desenhar e fazer essas peraltices todas.
Outro dia um aluno me perguntou se os artistas necessitam de angústias e tristezas para expressarem-se.
Respondi a ele que muitos artistas funcionam dessa forma, porém no meu caso, se estou angustiado ou triste, não consigo expressar-me em nada.
Ando cinquentenário me expressando muito e apaixonado, elétrico e mecânico, tal qual modernos italianos em acalorada conversa

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Estás

Toca o sinal, o aluno sai em desembestada carreira e diz:
Professor, desculpa alguma coisa e fica com Deus!
Tudo isso é extraordinário.
Para quem ousa ficar pensando negativamente nas coisas aparentemente negativas, fique atento ao tanto que as pequenas coisas e rusgas são desimportantes.
Os chefes muitas vezes chamam a nossa atenção mais para demonstrar serviço e autoridade, afinal a verdade é muito mais simples e singela.
Ofereço um exemplo mais claro.
Ninguém tem segurança de nada, afinal só nos resta de clareza a morte, portanto, um adolescente e um jovem, necessariamente vai ter comportamentos estranhos aos mais velhos, dentro de um sistema rígido como o da escola.
Necessariamente.
Desta forma, não há como ter segurança na afirmação que confirma que uma determinada persona vai ter sucesso ou não sua na escolha profissional, tendo como partida a sua atuação disciplinar no colégio.
Digo dessa forma, pois no frigir dos ovos anteriormente cascados, as escolas servem ao trabalho e ao serviço do futuro das gentes de cascas finas.
Assim é que as pequenas coisas, os detalhes, os gestos fora do cronograma, as fagulhas de beleza, as casquinhas de sorrisos, vão fazendo o conjunto que nos agrega e nos conforta dentro desse enorme circo assaltimbanco.
Um toque do seu calçado e o posterior barulhinho da coisa chutada, faz todo o sentido do mundo quando faz com que esse outro se debruce sobre alguma ideia e dê nova forma ao desconhecido.
Dar forma ao anteriormente desconhecido é como poder tocar um instrumento.
É felicidade tal e qual.
É um prazer indescritível a quem por ele não perpassa.
É um momento de deleite solitário, onde jamais se está sozinho

terça-feira, 7 de junho de 2011

Fila a calça


Estava em aula.
Alguém perguntou quem ia ficar para a aula de filosofia que seria ministrada à tarde.
Prontamente um aluno do fundão exclamou:
Nós já estamos tendo aula de filosofia!
E eu mais do que rapidamente disse em som animado:
Grande garoto!
No ano passado li um texto do paulo, o freire, dizendo que o professor deve proporcionar aos seus alunos, momentos onde eles viagem pelo pensamento do mestre.
Que eles não durmam nos instantes onde o professor palestra, mas que eles sejam capazes de caminhar através das histórias mutáveis, enfeitadas e empolgadas, daquele que não dá conselhos, mas conta histórias.
Talvez seja por isso que eu comece a história pelo fim, dando a impressão para quem ouve, que ele ainda não conhece sobre o assunto tratado.
Com o passar das frases e recantos, que seja o ouvinte a descobrir, reinventar e a interpretar o fluente rio do texto, até que ele próprio chegue na composição final, daquilo que eu, havia previsto dizer.
Quem orienta o fluir do rio é o próprio leitor e ouvidor.
O oriente é o território das mensagens flutuantes do pensamento.
Em todos os momentos tenho na cabeça a cena do poeta chinês, que na praça central da grande cidade, escreve seus poemas no chão de lajotas usando um enorme pincel molhado com água, de tal forma, que no mesmo instante em que os leitores vão se deliciando com a composição lírica das palavras, as primeiras frases já vão se apagando.
Lindo!
Quem leu, leu, quem não leu, pensa, ou vai se engajando no próximo encantamento.
Existem também aqueles que não notarão a presença e nem sentirão a falta.
Existem.
Pois que existamos tantos, participando da entrega total, do corpo e da alma, para uma causa onde o pensar veste aquilo que o sentimento calça

segunda-feira, 6 de junho de 2011

As cousas


Você chutou alguma coisa na calçada.
Estou calçado na ideia de apresentar ao mundo algo novo, diferente do que eu vi nesse instante e no anterior.
Calçado estou com sapatos forrados com os forros macios de um couro sevado a corte.
Cortou-me o coração ver as imagens grosseiras que passeiam pelas telas planas dos mercados e dos supermercados.
Nada é mais barato do que mil coisas reais.
As coisas são de uma realidade cada vez mais bruta e vivo pensando para que serve o que eu faço, quando o que faço é arte.
Servir.
Eu nasci para servir.
Adoro servir quente ou frio, gelado ou tórrido.
Nesse outono invernal, os ipês anunciam a primavera através dos seus lábios.
Os seus, não os dos ipês.
Os seus são de pronunciar e anunciar as coisas da realeza, que fazem-se reais à medida que são suas.
Ouço lá de baixo, um grito.
Um desses, diferentes daquele que, aos berros, alguém pronuncia para fazer mêdo.
Você atravessou a rua imaginando, à toa, feliz, distraída e bela.
Esse espaço é o espaço da beleza que existe entre o que já existe e aquilo que está na porta de entrada do conhecimento do mundo.
Algo aparece.
Alguma coisa vai atravessando o espaço da rua.
Ela vai e vem, vem mais do que já foi.
Tudo passa por essa coisa que parece uma porta ou janela, sendo que já é surpresa, com certeza.
Passar é um ritual egoísta que torna-se autruísta quando estusiasmado pela luz que a coisa entoa.
Ouça.
Veja o som que a coisa mostra.
Atravesso a rua que separa um lado de todos os outros

domingo, 5 de junho de 2011


Temos o poder da invenção.
Jamais estaremos desamparados.
Imagine onze equipes, com mais ou menos vinte participantes cada uma, sendo instigados a apresentar um espetáculo de cinco minutos, cantando, dançando e tocando instrumentos.
Alguém tem a função de apresentar essas equipes, uma a uma, usando um microfone em cima de um palco, sem saber absolutamente nada do que vai se passar nos cinco minutos subsequentes.
Ao apresentar a primeira equipe, seus integrantes aparecem com copos cheios com corantes e água, colocando-os um após o outro sobre a beirada do palco.
Logo, o apresentador advertiu o grupo que os aparelhos tecnológicos não poderiam receber carga d'àgua e que seria importante eles puxarem uma mesa grande para a lateral esquerda do palco, afinal eles iam colocar o líquido sobre fundos de latas e iriam bater com baquetas sobre elas, com o intuito de estilhaçar água por todos os lados, a fim de provocar um efeito visual interessante.
Interessante mesmo foi o locutor pedindo para que a platéia se distanciasse da mesa para que não fossem atingidos pelos estilhaços.
Assim seguiram-se as equipes, uma dançando e jogando no chão papéis picados e brilhantes, outra necessitando do chão totalmente limpo para que não houvesse escorregões na apresentação do seu tango.
A próxima equipe precisou trocar a bateria que estava montada no palco, porque o baterista havia ensaiado com a bateria dele e a outra precisou de mais tempo, porque o vocalista teve crise de asma nervosa.
Assim, não houve uma única equipe que não precisasse de coisas, mais ou menos bizarras, que transformavam-se em pequenos problemas, que iam sendo resolvidos na hora pelo apresentador performático e crente.
Jamais estamos, ou estaremos desamparados se temos crença, vontade e disposição.  
Dispor-se é colocar-se em variadas posições, transmutar-se sem preconceito, ou preguiça.
A vida é esse espetáculo dançante e o mais lindo é as outras pessoas não saberem o que se passa do outro lado do rio.
Ouvi depois de muito tempo a expressão "a outra margem do rio" é pensei que esse rio não tem apenas duas margens.
Esse rio é plurimargético e as margens todas, foram criadas para serem percorridas.
Você deve estar pensando que o que deve ser percorrido é o rio e não suas margens, porém eu penso que o  rio é só menor, ou maior, em comprimento e largura, por conta das suas margens, então, são essas que devem ser percorridas, uma a uma, para um pleno descobrimento do seu tamanho.
Um pleno descobrimento da sua dimensão só será conhecido por nós, individualmente, no convívio daqueles que nelas creem.
Dê margens à sua imaginação e ao toque de uma palavra sua, as águas do mar vermelho se abrirão

sábado, 4 de junho de 2011

Na trave



Um pincel achado, quebrado de baqueta.
De quebra ele tornou-se encantador.
Uma ferramenta suave, usada para pintar vários capítulos.
Versículo ele tornou-se agora, achado na ponta dos pés.
Um verso possível e passível de oportunidades diversas.
Esse pincel é só chato no tipo, na composição dos pelos, em sua disposição.
Sua disposição é incrível e redonda.
Você crê na estabilidade instável do acaso inexistente.
Você e nós cremos, acreditamos.
No ponto de ônibus os suportes de madeira do teto, as vezes, servem de proteção contra os raios solares.
Assim é a crença na arte entusiasta de fazer a coisa artística em paralelo.
Fazemos assim em todos os segundos de todos os dias, sem estabelecer uma regra que encaminhe necessariamente tudo na direção financeira.
Um chute sem o meião e a chuteira.
A direção artística é um chute na trave que o árbitro interpreta como um gol

quinta-feira, 2 de junho de 2011

A quinta


Quinta das quintas.
Não ela toda, a tarde.
Um acontecer depois do outro e todos admirando o conjunto.
Um leve cortar os cabelos.
Outro dia vi no trânsito alguém a me cumprimentar.
No instante não me lembrei do nome nem donde.
Era a moça que outrora raspava os meus cabelos
Nessa quinta a tarde, a moça que agora os corta, estava no banco e não tinha hora pra voltar.
Foi só dar a volta no quarteirão e encontrei-me com a cadeira da cabelereira que havia encontrado não por acaso.
Cortou-me o cabelo e lembrou-me da filha, que é outra artista de andar fazendo arte pelos arredores de todo canto.
Atravessei a rua e já estava na loja de comprar pincéis, para que amanhã, os jovens possam gincanear a vontade, pintando um ano internacional de florestas imploradoras de respeito.
Minha mãe gostaria de fazer mercado, mas a conta foi paga no banco e o cartão só poderá ser usado daqui há dois dias.
Por essas e outras andei a colocar meu carro no lava rápido.
Lembrei-me de ter visto um, no posto onde abasteço o automóvel com combustível.
Lá havia um carro para ser lavado de forma demorada, por tratar-se de um carro novo e brilhante.
O moço tratou de passar o meu na frente, pois percebeu que bastava um jato d'água e uma aspiração interna, além do fato do dono do outro carro, ter combinado de ir buscar o dele às seis.
Pronto!
Foram minutos de divertimento, piadas e risadas, além da oferta de alguns eme eles de coca cola seiscentos, afinal, o lavador tem um santana 89 e sabe muito bem do que estou falando.
Nessa dita quinta, lá pelos quintos desse céu maravilhoso, ainda vai haver o encontro com a doutora, a recolocação da maçaneta do lado do motorista e uma última aula do dia, onde jesus me orientará através dos seus estudos sobre outras vidas.
Claro que esses são apenas alguns exemplos do que ainda reserva a quinta.
Existem pelo brasil, algumas da Boa Vista, de tal forma que um artista visual fica satisfeito e feliz ao sabê-las algumas.
Boa vista pra você que me visita, que anima as tardes todas e os dias inteiros.
A vista, ou a prazo, o que vai encantando os instantes é a oportunidade de vivê-los todos.
Meu coração se alegra, funde-se, amalga-se e reinterpreta a sua caixa, obra aberta.
Transparente és, oferecendo-se tão bela, nos nós, certeiros da gravata

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Signo da escápula


São dezessete horas e treze minutos e só entrarei em aula novamente às dezenove e quarenta e cinco.
Acabei de encontrar-me com o bedel e ele me disse que não quis entrar na minha sala, pois ela estava em silêncio e ele não quis atrapalhar.
Disse-me que não teremos a reunião que acontece todas às quartas nesse horário.
A fala dele coincide com a percepção que tive em todo o andamento das duas aulas que ministrei na sexta série.
Ministério é o termo exato.
Desde o primeiro instante não alterei minha voz.
Houve aqueles que apressaram-se em mostar-me seus desenhos feitos durante a semana, aqueles que disseram olá e os que não gritaram outra coisa.
Minha voz, a mesma, a pausada, densa e suave, solta.
Disse:
Tenho quatro coisas importantes a dizer no início dessa aula.
Quando comecei a dizer a primeira, um aluno começou a falar com o outro e esse com mais outro e esse outro ainda, com mais outro tanto.
A minha voz a mesma, densa, severa, suave, em ritmo de precisão.
Havia aluno que já queria que eu falasse sobre a quarta coisa, porém, compassadamente disse-lhe que havia uma sequência, um mantra, um terço, um atabaque soando em um, dois, três, e assim pati cum tum.
A primeira coisa foi dita, a segunda, a terceira e assim.
Claro que depois de tudo dito, disse ainda mais umas vinte e três vezes a mesma coisa, mas esse é o ofício, a dádiva, a conquista.
Senti-me assim, conquistando, trocando figurinhas difíceis por outras difíceis também, afinal, desde que parei meu automóvel no estacionamento da escola, fui abordado por duas alunas que desejavam sentar-se na frente, assim como tantos que assim já fazem.
Foi o que eu disse:
Puxem suas cadeiras e venham sentar-se conosco, venham todos e todas, venham aninhar-se na conversa e no aprendizado constante.
Assim fizeram, e o bedel de forma sensível, capturou aquilo que eu já estava sentindo no durante.
A hora e meia passou voando.
Um pássaro voa e junta-se a outros, nesse céu bem vindo de um outono friorento.
Asas são declaradas nessas salas onde as vozes soam densas e suaves, severas e quase objetivas.
Objetivo é o ato de comprar dois pincéis para um grupo de seis e pedir a todos que providenciem alguns outros.
Objetivo é o ato de desinteressar-se pelo detalhe e interessar-se mais por aquilo que todo mundo vê.
Vês o voo do vê, quando esse inventa, ventando dentro, a ponto de deslocar-se?
Vês?
Tens na vista das costas, dois corações, ali no alto.
Não fossem as costelas, na vista frontal, seria neles o descansar do perfil.
É assim o pluralismo das letras que trazem no desenho, o signo do seu ventre