terça-feira, 31 de maio de 2011

Chão de estrelas


Passei pelo corredor da escola e vi um menino desenhista, na biblioteca, lendo um jornal atentamente.
Nem precisaria ser atentamente.
Só o fato dele estar lendo o jornal com a folha dupla aberta, já é um fato diferente.
Achei tudo isso ainda mais interessante pelo fato de ser essa imagem, uma imagem que deveria ser óbvia, natural, a mais comum.
Não é.
A maioria das pessoas da idade dele e até da minha idade está mais disposta a outras diversões.
Não me aborreço com isso.
Sei que as gerações nascem uma após a outra e cada uma possui manifestações próprias, além das já agregadas.
Uma aluna bradou em alto som:
Não estou usando de tecnologia nesse desenho.
Logo, uma amiga interferiu:
Não está usando uma tecnologia de ponta, mas está usando a tecnologia que esse lápis grafite lhe oferece.
Nada mais explicativo.
Outro garoto me disse que o tio é viciado em video game e é casado e tem filhos.
Resumindo, tudo é questão de equilíbrio, esse equilíbrio tão distante.
E lá vem outro garoto me dizendo que ficou um mês de castigo - sem net - e não lhe fez falta.
Meu primo parou de fumar e disse que faz questão de tomar café sem açúcar para provar que a história que uma coisa puxa a outra é história fiada.
Afiada é a lâmina que nos impulsiona para a felicidade.
Cada passo é uma fisgada.
E não há outra maneira.
Sobreviver é uma travessia onde nos equilibramos sobre uma lâmina fina.
Viver e conviver é arte, por conta da delicadeza e presteza da observação.
O olhar atento sobre a cena que apresenta uma lâmina de barbear antiga, posicionada para cortar um globo ocular, é a ilustração perfeita para a trilha humana, nesse caminhar terrestre.
Nós, flutuamos densos, espalhando nossa sombra sobre o concreto plano, modelando esse espaço escuro sobre as lajotas lisas, as pontilhadas de borracha e as outras, de texturas, as mais diversas

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Diversos


Cento e quarenta é um número, que sem o zero, sobra a preferência.
O zero é engraçado, é redondo, é circular, ou oval, elíptico.
Hélice que movimenta o helicóptero, que já havia sido pensado pelo gênio, no século XVI.
Um ano antes de começar esse tal século, o pedro andava a circular por nossas terras.
Nossas, dos índios, dos negros, dos brancos, nossas de sermos nós, o todo que anda a remodelar essa natureza tão bonita.
Nossa natureza anda pelas próprias pernas, com as suas tão ligeiras, quentes e espertas.
Cem vezes nós cantamos as pedras e as sinas delas.
Eu embalei a minha, ganha no sossego da beleza, na sua pureza e destreza.
A sua cor é que me embala, canta e me nina.
Me nina e eu, menino, ando recolhendo as coisinhas que os outros vão deixando jogadas pelo chão.
Não gosto das coisas que podem ser reaproveitadas, serem espalhadas pela terra asfáltica e pelos pátios.
Tanta gente fala para tanta gente que isso é feio, mas ainda existem as gentes que espalham-se em defeitos.
Eu e os meus tantos.
Juntei um pedaço de cimento duro.
Juntei um pedacinho de tijolo, quase.
Juntei, colando e grampeando.
Juntamos o tecido com o verbo e saimos andando.
Cantarolamos versos.
Diz!
Diz versos

domingo, 29 de maio de 2011

Robe


Ele tem sessenta anos.
Olha o bom bom, esse você vai levar de graça.
Dois pacotes é três e dois é cinco.
Levando dois, ganha uma batata, ou uma água.
A batata não tem sal nem gordura.
Olha o bom bom de morango, coco, meio amargo, não tem erro, é provar e levar.
Quando ele passou por mim fui logo dizendo:
Vou comprar dois pacotes porque você é muito bom.
Quero a água!
Água é um símbolo bonito de vida e vida em abundância.
Ele, que tem sessenta anos, disse que nenhuma firma quer mais, mas ele ainda mandou alguns currículos.
Disse que mesmo que eles lhe chamem, agora ele não quer mais.
Eu quero.
Quero permanecer na batalha dos que necessitam de invenção e criatividade.
E?
Essa pergunta é extraordinária.
Vimos duas caixas de madeira que guardam frutas no ceagesp, jogadas, encostadas num poste.
Eu disse que adoro desmontar essas caixas, grudar uma à outra, colar papéis de seda encapando-as, produzindo um quadro fantástico.
E?
A pergunta veio segura e firme.
Olha o bom bom!
Olha o bom bom!
Você dando a camiseta, o desenho e a pintura são cem reais.
A camiseta é linda, mas o desenho esticado no chassis tem um outro conceito, sendo assim, tem outro valor.
Preço e valor são irmãos gêmeos não univitelìnos.
E?
E assim seguimos sorrindo e alimentando o nosso conhecimento, encontrando no seu robe branco em felpos, o espaço perfeito para pintarmos o nosso conceito

sábado, 28 de maio de 2011

É preciso


Cantarolando, contaremos uma nota preta.
A arte como produto e pronto.
Sim, as linguagens da arte fazem aparecer.
E se eu apareço ela aparece e se eles aparecem, eu e ela aparecemos também.
Ela e eu, eu e a arte, a arte e ela também, nós todos.
Nós produzimos frutos.
Eles surgem de tecnologias diversas.
De tempos em tempos, ressurgem.
Urge alguma coisa pronta.
Ver essa coisa toda junta é muito bom galera!
Galeria.
Ver as coisas separadas também.
Ver as coisas no momento que elas acontecem, acontecendo no encantamento de cada um, é uma iluminação mais do que justa.
Os produtos da arte e dos artistas são luminárias trazendo luz criadora aos instantes escuros, indecisos, duvidosos.
Preciso ingerir uma pera, um suco de frutas.
Luz é o que é preciso, sobre as notas impressas pela casa da moeda.
Precisamos de tão pouco.
Necessitamos comprar vegetais, frutas, legumes  e arroz integral para o almoço.
O resto do tempo, do café e do jantar, ficaremos desenhando, riscando e gravando, com a caneta esferográfica que achei na sala de aula, e não era de ninguém

quinta-feira, 26 de maio de 2011

O vendedor de livros verdes



O moço gritou do outro lado da rua:
Olha a revista usada, olha a revista.
Eu olhei e vi um monte de folhas impressas, grudas uma a outra por grampos cobres.
Eram páginas sortidas, sortudas de ficarem olhando uma para as outras cara a cara.
Folhas diversas, coloridas, em preto e branco, sépias de serem sépias devido ao tempo.
Adorei a cena, só não prostrei-me para reverenciá-la.
Admirei.
É belo juntar os fatos, as fotos, as folhas, as figuras todas, fazendo amizade, umas com as outras.
Um querido aluno, quieto de ser falante pra ele, começou a desenhar pintando com giz pastel oleoso.
São desenhos pequenos em tamanho de folha.
O mais lindo foi saber que um amigo de sala, vende os trabalhos por um real.
O desenhista, anota todas as vendas, nome a nome, para registrar a nobreza desses gestos densos e racionais.
Outro menino mais velho, quis de toda maneira, que um amigo entendesse que um desenho bacana, não precisa necessariamente ser um desenho perfeito, na dita perfeição de uma hiperrealidade. 
que o desenho seja torto, de uma tortura sem atrocidades.
A menina prodígio me disse que as folhas pintadas de verde, são mais árvore do que as árvores que são sustentadas por cimento e pedra na avenida.
Existe coisa assim na nossa cidade, a fim de dar sentido ao nome do bairro.
Árvore grande, é como um nome de caminho inteiro, é como a cera que se dilui em banho maria, de maria que se conhece.
O vendedor não precisa vender mais nada, ele precisa dar um descanso, ele precisa perceber o valor.
Valorizada está a cantiga a ser gravada e executada em público, propagada.
A perna que adorna o corpo, espera um joelho novo e espera um pai, que ansiosamente se revolucione.
A gente vem da linhagem, mas a gente vem pra mudar, a gente vem pra doar e a gente vem pra vender.
O vendedor de doações é um sujeito que depende de esperança, de esperar um barulhinho de galho, uma mexidazinha de nuvem, um verde que suspire, morangos

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Erre com um erre só



Era uma vez.
Essa.
Essa vez.
Acabo de assistir uma palestra motivacional e pela enésima vez ouço falar que a única coisa que existe é o agora.
Um amigo comentou que ele pensa que esses palestrantes motivacionais só querem vender livros e ganhar dinheiro.
Não sei se é isso mesmo.
Eu sei que o é isso mesmo depende de um agora bem feito e tudo o que depende de ser bem feito deve ser feito por uma pessoa só, nós.
Interessante isso.
Nós é um pronome só que reúne muita gente.
Começamos por nós mesmos.
Terminamos em nós mesmos, porém se deixamos registros, corremos o risco de permanecermos por mais tempo, num futuro que ainda não é.
Ontem eu pensava na cultura da imagem e hoje, toda imagem é passivel de ser registrada.
Ontem eu pensava nela registrada, publicada e propagada, enfim, a imagem que viaja léguas dentro da nossa conversa interna.
E como é linda a conversa que a gente versa com a gente mesmo.
E como é mais linda ainda a conversa ilustrada por imagens, ou aquelas que são as próprias imagens em profusão, as ideiasimagéticas.
O homem da palestra disse que o lugar mais importante é onde você está.
A pessoa mais importante é aquela com a qual você está.
E a coisa mais importante a ser feita nesse lugar, nesse instante, é fazer essa pessoa feliz.
Tudo nesse instante, tudo no agora e tudo também noutro instante, reluzindo na frase estampada no sachê de açúcar:
Apaixone-se mais vezes pela mesma pessoa.
Realmente eu tenho a impressão que os conferencistas motivacionais e os escritores de autoajuda repetem-se muito, mas esse é o segredo, afinal, novela faz sucesso porque é uma repetição das histórias iguais que nós praticamos dia após dia, nos esquecendo delas no instante seguinte que as praticamos.
A prova dos nove então, é praticarmos insistentemente as histórias diferentes, estranhas, artísticas na contramão do ter tudo e na mão de termos aquele tão pouco que necessitamos.
O fato é que cada um necessita de quantidades de pouco e muito, diferentes.
O fato é como a foto, viajamos juntos uma viagem própria que mais do que minha ou sua, é nossa, naquilo, que só de nós depende

segunda-feira, 23 de maio de 2011

É isso mesmo


É isso mesmo.
A minha estranheza consiste em tentar, com muita calma, fazer com que as pessoas compreendam o que eu quero dizer.
Podem crer.
Eu quero sempre dizer alguma coisa.
E sempre tenho a certeza que estou sendo o mais objetivo dos homens.
Dois mais três igual a cinco e também significa vinte e três e até um vinte e oito.
Este último, além de ser uma escola de samba dessa minha cidade é um dia de atenção sorrisificante.
É isso mesmo.
Um aluno veio correndo me mostrar um desenho e foi logo dizendo:
Olha o que eu produzi durante uma aula X!
Apressei-me em dizer:
Eu também fazia isso. Desenhava nas aulas X e Y, nas contracapas dos meus cadernos.
Esperei um tempo, empostei a voz e fui logo me retrucando:
Vejam bem. 
Prestem muita atenção.
Eu ficava desenhando nas aulas X, Y e até na Z.
Olhem bem para mim.
Vejam o que me tornei:
POBRE!
E o povo ficou matutando:
Mas ele é tão feliz!
É isso mesmo, é todo um processo.
A gente emposta, encosta, revolve e reviravolteia.
A gente aniversaria, ria, rio, rimos e rimas.
Outro dia escrevi que sou pobre pobre pobre de marré marré marré.
Não nos basta escrever, a gente vive de acreditar em tudo e em todos.
Encontrei um cara na loja de artigos de plástico que me disse:
Eu sou só, dependo de mim mesmo e se parar de trabalhar adoeço e morro.
Resolvo, portanto, achar alguma felicidade rindo de mim mesmo.
Muita gente já disse isso, mas dito assim e por ele, foi bem mais interessante.
Quando a gente junta os trapos pra inventar um novo costume, jamais o costume será igual.
Rindo de si mesmo, você reinventa um manto, partindo de qualquer trapo.
Rindo de nós mesmos, a gente inventa uma nova prova dos nove, dos dez, onze, ad infinitum.
Ad mirável, extra ordinário.
É isso mesmo

domingo, 22 de maio de 2011

O amor não parte


Uma cena rápida de novela.
Um moço e um velho.
O moço diz que teve alguns casos com algumas moças, mas nada sério.
Segundo ele: Foi apenas sexo mesmo.
É nesse instante que o velho diz que na época da sua juventude, ele amou todas as suas mulheres.
Ficava noivo de todas elas.
Noivava, amava, tinha carinho e respeito, amava.
O noivar, significava pra ele o compromisso.
Talvez descobrisse alguma coisa nele, na moça, ou em ambos, que o fazia partir dessas relações apaixonadas.
Chamou-me a atenção a cena porque tenho certeza que o amor jamais vai embora.
A paixão é um substantivo masculino e feminino que transita e não guarda o endereço da garagem.
O amor é esse, que jamais vai embora.
O moço representa a face do homem líquido, das relações fluidas, desse nosso tempo que parte da obsolescência do produto, da coisificação das pessoas, que as faz, para os mais desavisados, obsoletas.
Desejo ardentemente ser de uma outra parte, de uma outra gênese, sou afeito ao compromisso que acontece, no amor à primeira vista.
Invariavelmente eu creio, e crendo, me comprometo.
O compromisso é devotado e é dedicado vastamente, completamente.
Abrange todo o amor que olha de verdade.
O amor não parte

quinta-feira, 19 de maio de 2011

O ouro disso


Pássaro nunca fui.
Adoro desenhar asas nas coisas.
Talvez isso lhes traga algo inovador nas suas formas originais.
Dá-me uma dica, um gosto seu e eu farei tudo para enaltecer e edificar esse gostar.
Adoro mais isso do que colocar desenho de asas nas coisas, nas gentes e nos bichos.
O extraordinário pede que coloquemos algo a mais naquilo que segue a ordem natural, ordinário.
Extra, plus, over, a mais e mais.
Esse sinal de mais é mais um sinal da saúde.
Talvez a cruz de sacrifício, talvez uma dorzinha, uma fisgada pequena pra servir de motivo.
Dor nem precisa, precisamos de provocação.
É muito bom ver você feliz ao ouvir uma breve poesia sobre o pronunciar do seu bom gosto

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Ser mão


Ser mão é mais fácil do que ser pé.
O pé tem um trabalho danado pra sustentar a casa inteira.
A mão é devaneio, é escritora, desenhadora.
Os dedos são mais compridos nas mãos do que nos pés.
A escavação da terra faz-se com as mãos, os pés são afeitos a passear por ela.
As descobertas estranhas são empreendidas pelas mãos, os pés decidem se usam mais as suas plantas.
Os pés ficam plantados quando querem que as mãos representem os frutos da árvore com seus galhos braços.
As sementes são plantadas na esperança dos frutos e o grande barato é não poder vê-los frutificando.
Na maioria das vezes, colocamo-nos a esperá-los.
Ter a certeza na espera.
Imaginar a lua, que foi vista numa cidade pelos olhos dos outros.
A lua está, mas não quer ser vista, quer apenas  aparecer na memória embelezada.
Matisse disse que a pintura que retrata uma mulher, não é uma mulher, da mesma forma que Magritte afirmou que a pintura hiperrealista de um cachimbo não é um cachimbo.
Enfim, as mãos , os pés, o corpo, seus membros e a cabeça, são matéria enfeitiçada pelos traumas diários que as coisas lhe impõe.
Matéria recebedora de feitiço e de encantamento, que enquanto respira, faz circular o sangue e eletrizar os neurônios, conversa consigo mesma e apresenta a fotografia aos que parecem perceber a mesma coisa.
O bicho do pé é uma ranhura do pé geográfico.
Calor é chama.
Na ponta dos pés, o desenho dessa trajetória não consegue representar o frio que acontece, enquanto chamamos nossas mãos para um encontro caloroso

terça-feira, 17 de maio de 2011

O luar do ser


O luar do ser tão iluminado, é a sina de um satélite que recebe a luz de graça.
Da sua graça recebe a luz.
Um reflexo das suas ações transformatrizes que, com o molde da sua matriz, faz novas as formas das suas belezas.
Uniforme é a coisa mais inexistente do universo.
Somos quase iguais e ninguém é mais nem menos, nem menos e nem mais e é a contradição de tudo isso.
Existe um vulcão com várias erupções e a nossa presença nesse mundo cheio de buracos é um núcleo fogoso. 
Você se parece com um satélite, menos do que se parece com uma estrela, um astro gigante, uma expansão dinâmica.
As fagulhas cósmicas são pedaços de beleza divina, ressoando nos espaços psíquicos de toda gente.
Gente é um espaço observador de uma realidade individual que almeja multiplicar-se na soma disso, com a realidade do outro.
As árvores que eu vejo no mesmo jardim que você embeleza, você  vê de uma outra maneira singular.
Quero dar um abraço forte na árvore que tem múltiplas formas.
Um versículo deve conter a resposta exata.
Um capítulo deve agitar as hipóteses que inspiram perguntas.
Eu te pergunto:
Quantas frases existem no texto que você escreveu no papel posto sobre o assoalho do palco durante a sua representação superstar?
Tudo isso supera o estar.
No texto existem tantas frases quanto a vida que entregas ao apreço desse senhor.
Você é um ser tão astral.
A brasa dos pelos se parece muito.
Pelo jeito, se parece demais, com a prata do luar do nosso sertão 

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Marré


Eu sou pobre de marré, marré, marré.
Um pobretão que deseja receber dois mil reais por mês para desenhar.
Produzir imagens manuais e escrever sobre elas, viver amando.
A única garantia que ofereço à pessoa física, ou jurídica é a confiança que eu tornarei pública a minha produção mensal.
E um aluno maravilhoso grita:
Eu não sou artista plástico, eu sou artista prático!
Extraordinário.
Eu disse a ele que isso me inspiraria a escrever o texto blogático de hoje e aqui ele está.
O texto, o gesto de ousadia, o ré o o si, afinados na canção feita pra ela: sou rico.
Maré de feitiços, maré alta na baixa do sapateiro.
Um samba de breque nada, um baião de dois sem muita pimenta.
Sem muita.
Com toda.
As somas das pobrezas lindíssimas, que têm como resultado a gentileza.
Eu gosto

sábado, 14 de maio de 2011

Ó positivo


O dia seguinte é o que se segue.
Estamos seguindo o hoje e o agora.
Ontem foi dia de festa e a festa está entrando direto pelo dia seguinte e pegando o caminho sem volta.
Uma alegria de toda sorte, a festança de toda nossa gente.
Estamos todos agraciados, pelo divino estar com o céu na nossa cara, que acaricia o nosso rosto, já que está na cara que tudo isso é música.
A cara da música é a face auditiva da escrita sonora.
Damos um sonoro sim para tudo o que é encanto cósmico, belo, cosmético.
A menina canta o bicho e sou encantado por ela.
O fato mostra o desenho do céu pintado com giz de cera, usada para encerar assoalhos de madeira.
Essa madeira é de lei e os caninos internalizados e mostrados pela tomografia, ainda não mostravam que o sangue é primordial.
Vem dos ancestrais o Ó positivo.
Está no sangue a fortaleza do espírito, mesmo que seja material o processo.
Precisou a presença da realeza para que os meninos ficassem com a posse desse entendimento.
Quando os sorocabanos se encontram o braço direito se levanta e a boca pronuncia : Ó!
O cumprimento é prova de educação refinada e afinada.
Hoje é o dia que continuamos seguindo a espiritualidade da zootecnologia.
A nossa técnica é despertar a ciência no coração dos aflitos e a emoção no coração dos que se afligem ainda mais

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Bege



As vezes a gente fica bege e segue em frente.
Faz cara de paisagem, reafirma a verdade na qual acredita e pinta uma foto mais vistosa.
Visto que a gente veste sempre a mesma pele, a mesma carapaça, a mesma esperança, vamos vendo o sol nascer quadrado sem necessariamente estarmos encarcerados.
Presos pela cabeça, no bálsamo da notícia e no aromático que há nas trocas do nosso sangue.
Quem tem na bolsa o antídoto, vai fazendo o impossível para não perder dele, a tampa.
A antítese da fala grossa e rouca do noticiário é o mergulho cego num gosto internalizado pela falta de numerário.
O capital é a alma de toda atividade lucrativa, desde que o lucro seja dividido obrigatoriamente por pouquíssimos.
É fácil fazer a conta.
Contou-me meu avô, um dia, que a paixão e a tenacidade do gostar da alma é um poder que faz compor e cantar canções bonitas e alegres.
O poder de construir impérios e rios de moeda corrente é uma outra espécie de paixão.
Compreendo que eu posso mover o teclado de celulares para fazer ligações sem tocar nos aparelhos, mas sei que posso por uma questão mágica, empírica e anedótica.
Sei disso para poder contar de forma teatral toda essa e as demais histórias do folclore artistico personal.
Eu não estou aqui para dar conselhos, estou aqui para contar histórias.
Já viram como conta, a maestrina da casa redonda?
Imagina uma comunhão de vozes e tons, arrancados sem força e saltitados através de uma garganta forte.
Um vulcão reafirmador da verdade internalizada.
A estabilidade bege não muda a paisagem que atravessa a rua, mas solidifica a gelatina da nossa crença pagã, que nos mantém respirando

terça-feira, 10 de maio de 2011

A mimese se transfigura


É fato.
É foto, mimese, aproximação do real, chegando bem perto do objeto e apresentando dele, a aparência.
É fato.
Um instante visionário.
Um momento de céu, onde a mão e a cabeça vão dando forma a outras coisas que não são nuvens.
Usando-se nanquim, os traços vão se juntando e riscando contornos, disso e daquilo.
Isso, é uma coisa vasta, que transcende os braços abertos e representa a abrangência do espírito e a providência que ele representa.
Energia elétrica é o que sustenta a comunicação entre os neurônios e providencia a expressão.
Sugiro que é essa energia que é exalada pelos couros cabeludos e sai passeando pelos gases até encontrar seus contatos.
Dessa forma são simplesmente explicadas as coincidências.
Adoro as dourações das explicações simplistas, que propiciam as interpretações voadoras, ou mesmo as rasteiras, dos pensadores de plantão.
Rastejantes são as coisas que principiam na terra e vão armazenando dela os nutrientes desse chão.
Voadoras são as coisas, que depois de tudo isso, ainda sentem prazer em multiplicar pelos ares a experiência  adquirida com todo esse encantamento.
É fato.
A compreensão artística é uma possibilidade ampliadíssima, mesmo quando nos é cobrado em Sistema, como acabou de me dizer o meu irmão, o porteiro

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Na rede de equilíbrio


A identidade secreta do paciente é a doença.
Várias coisas parecem terríveis e de tanto parecerem acabam por identificarem-se com.
A paciência é a identidade cotidiana do senhor que acordou mais velho.
Adoro cortar tomates e coloca´-los na panela para que a água deles, possa cozinhar a mistura.
A mistura é o grau.
O grau mais alto da mais alta patente, essa que manda nos dizer que não temos que, nada.
A nossa experiência nos embeleza no deparar-se com duas realidades artísticas:
A estética do feio e a estética do belo.
Eu compreendo demais a estética do feio, as vídeos instalações poliédricas que projetam imagens estáticas de um contraste entre retângulos.
Preto e branco, branco e preto.
A senhora quis passar na frente da câmera para desvirtuar a imagem sólida, mas a segurança não deixou que a imagem virgem se encaminhasse por outras vertigens.
A estética do belo muitas vezes confunde-se com a massa ensandecida.
Todo mundo entende o belo e o tédio não se expressa de forma imediata.
O tédio vai se configurando ao longo do tempo, de uma vida curta e ultrarrealista.
A mistura é bela no que há de feio nela.
A feiura é a confusão da identidade do tempo, é a confusão que há entre o ontem e o amanhã.
Belo é o instante que agora nos honra, esse no qual a gente admite que as pessoas inconformadas têm os seus jeitos e não se conformam de jeito nenhum.
Podemos estar com a família assinada, ou a encontrada, essas duas que são as mesmas.
Estaremos treinando o nosso desenhar o tempo todo.
Compreender da forma como eu compreendo é de dificílimo entendimento.
Sei que o meu desenho é comportado, é medroso e desenganado, doente.
Dói de uma forma doce, que não alcança o diabetes.
Meu dia é assim feito o nosso desenho.
A identidade expressa da doença, é a nossa sanidade 

domingo, 8 de maio de 2011

Nosso fio condutor


Em mim parece que em ti não perece o parecer transparente que em ti se expressa.
Essa frase aconteceu e foi dita e redita num ambiente de arte emparedado por chapas de madeira.
Bonito ambiente, quase rústico, na rusteza da contemporaneidade ansiosa.
Ares repletos de miudezas bordadas com linhas pretas e fios coloridos.
Andamos tentando compreender o fio condutor até chegarmos ao piso térreo.
Quem vai ceder?
Essa pergunta no século vinte e um parece uma deformação social.
Ganha perde, perde ganha, ganha ganha e ganha quem tem língua solta pelo chão.
Esse chão que se inspira no céu, na medida que esse céu seja como aquele que te inspirou uma fotografia não realizada em papel.
Em ti não perece a insistência, já que a arte é o resultado dessa lida.
Poesia é criação latina.
O poema reversa.
Em ti há resistência, força muscular, liseanismo cutâneo.
A gente fica sabendo de cada coisa, nesse mundo cheio de cada coisa.
Moldando uma reciclagem de papel me anima a poesia.
Poesia temperada com hortelã, alimenta o trigo com pouca água e muito aroma.
Coisa ardida é essa coisa maravilhosa para a memória, no feitio da cama feita para a salada.
Você me cede toda a sua sapiência e competência e eu aceito e retribuo.
Coração de mãe não se engana, feminino que é.
Assim nós aprendemos e com paciência montamos as malas.
Com nossas rodas rodopiamos sobre os nossos próprios eixos e com o conjunto de seis números, abrimos o nosso cofre, quebra cabeças das nossas riquezas

quinta-feira, 5 de maio de 2011

A verba e a verborragia


Estou a procura de uma verba.
Um incentivo para que eu desempenhe o meu ofício de desenhista.
Que eu faça isso e também multiplique um pouquinho aquilo que eu fiquei sabendo, transpassando tudo para os outros, que como eu, desejam conectar suas antenas nessa sintonia.
Que essa verba seja privada e que não me prive da libertação dos signos das coisas.
O dinheiro público deve mais à educação, à saúde e à segurança.
A verborragia é uma síndrome compulsiva, hemorragia que verte sangue pelo sangue palavriado.
Estou desenhando sobre uns panos brancos, do tipo daqueles que a minha nona quarava, sacos de estopa.
O estopim da criação, o gatilho da identidade e da edificação das coisas estranhas.
O estranho sempre me encantou sem que eu tivesse consciência disso.
Para mim, essas coisas que nos impeli a emitir sons e gestos imantados, sempre foi consequência de ter acordado.
Nada vai mudar, continuarei a ver figuras nas nuvens e nos borrões das solas dos sapatos, no detergente caído sobre o chão do supermercado.
O da Vinci já esquematizou figuras e figurões, advindos dos bolores nas paredes, porém isso, nem foi tão estranho.
Ele dissecava cadáveres em tempos de caminhadas silenciosas em carros de boi e de madrugada rascunhava os primeiros atlas do corpo humano.
A verba ajuda o verbo e vice versa, assim versamos sobre aquilo que fazemos de fato.
O fato é que nem precisamos de tanto capital.
A capital da nossa vontade é tê-la pulsando, no nosso interior

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Cavalo azul royal

Penso entrar numa cápsula criadora quando entro no meu automável.
Lindo de um lindismo sem pintura no teto e principalmente, sem as coberturas internas das portas.
Posso ver-lhe as entranhas, seus mecanismos, parafusos e vidros.
As ideias me são generosas quando entro nesse espaço móvel.
Aprendo a escrever em todos as linguagens dentro dele.
Cantarolo melodias, balbucio palavras ritmadas, ponho-me a bater as mãos na direção encapada com uma borracha esfarelenta, mas produtora de um som grave e esperto, ou seja, vou vivendo.
Esses meses, sua lataria de tanque tem levado algumas pancadas, sofrido uns traumas e resistido bastante, como fosse sendo remodelada e reembelezada por elas.
Embaixo de chuva, numa autoestrada, um gol com os pneus carecas afrontou-lhe a traseira no seu lado direito.
Outra chuva e mais uma vez, um carro brilhantemente preto, com os pneus mais carecas ainda, tentou desviar dele, que estava parado no sinal vermelho, mas atingiu o royal embaixo do farol direito, que permaneceu intacto.
De resultado mesmo, apenas um mini amassado embaixo do acrílico rubro.
Outro dia, com meu filho na direção, ele recebeu seu último trauma barulhento.
Também o meu rebento estava com o corcel royal parado no sinal e uma senhora, do seu lado direito, não o viu, e rispidamente, quis entrar à esquerda.
A máquina criadora sofreu apenas um arranhão no parachoque frontal.
Nesses três casos, os outros veículos sofreram danos bastante visíveis e a cápsula da criação permaneceu apenas com seus discretos arranhões.
Arranhado, sem tinta, sem tapetes, sem a maçaneta da porta do motorista, mas ávido pela presença de alguém em seu recheio, para trocar umas palavrinhas, oferecer um som, agregar mais possibiidades àquelas que o senhor traz quando passeia a pé.
A máquina me traz, me leva e dentro dela sou capaz de organizar uns versos.
Fora dela, organizo mais, acrescento alguma coisa nervosa, um ruído mais histérico, uma sensação paciente e vou me oferecendo na medida que o meu coração e a minha vontade permitem.
Eu e o meu cavalo permitimos bastante.
Nosso trote vai marcando com borracha de pneu e sapatênis as folhas de celulosee, a atmosfera que nos cerca a todos, e essa, vai recebendo o perfume dessas trocas hiperrealistas.
Como cubistas, vamos tentando ver as coisas com múltiplas perspectivas aplicadas num único plano.
Contrastes analíticos e sintéticos.
O jardim recebeu a coroa orgãnica do seu pulso e as flores que hoje sugam suas particularidades, particulares também se tornam, na medida que não reconhecem mais, impressões idênticas às suas vizinhas

terça-feira, 3 de maio de 2011

Passando o rodo


Na sala de espera do consultório do doutor eu não leio e nem vejo revistas.
Ponho em revista as coisas da decoração de interiores.
Esse povo entende de espaço, de materiais diversos, de texturas e superfícies.
É bonito o conjunto de sólidos no espaço, suas arestas, seus lados e suas cores.
A imagem abstrata é interessante vista desse prisma.
Pensar no nascedouro dela, produzida em pintura, no final do século dezenove.
Hoje o abstracionismo veste meus olhos no consultório, nos portões, nas traseiras dos caminhões e em todos os lugares possíveis de juntarem-se materiais diversos e seus desenhos inusitados.
Olhem o rodinho deslizando pelo piso, pintando com água e detergente os ladrilhinhos previamente escolhidos.
Uma pintura que dura o tempo do nosso piscar de pálpebras.
Ouvi minha diretora dizer que o Monteiro escreveu, que a vida é um piscar ao nascer, outro na criança, mais um no adulto e mais outro ao virarmos hipótese.
Uma tese, pequena e sujestiva.
Tese inspiradora, que nos eleva à condição de observadores, nos empurrando pra frente, assim como o pano de limpeza percorrendo seu território.
Nossos olhos pedem espaço para passarem seu rodo descobridor, retirando a cobertura das coisas, vendo delas, as suas novas identidades.
Assim desejo fazer a faxina, como faxina a criança e o bebê.
Esperança no rodinho de borracha, que agora espera em pé, com a madeira beijando o ladrilho da área de serviço

segunda-feira, 2 de maio de 2011


Estamos cobertos por uma nuvem de ideias.
A ideia que não é fixa e não se fixa em nada.
Nem no céu, que é o espaço aberto às aeronaves em movimento.
A ideia aposta todas as suas fichas na imaginação, que é a capacidade que todos têm de fazer imagens na cabeça.
Produzimos imagens no cérebro a partir da observação de tantas coisas que nos aparecem, diante dos nossos sentidos, alicerçados todos, pelos olhos.
Esquerdo e direito.
Ambidestro no sentido multidimensional dos sentidos das coisas.
Faz sentido a gente se emocionar com as imagens que povoam a nossa mente e mais sentido ainda faz, expressarmos essas imagens, propondo várias formas de leitura para o mundo todo.
Esse mundo todo, que está ao alcance dos nossos olhos.
Os nossos próximos.
O mundo todo é o que está bem perto da gente e é esse que podemos interagir na busca de novas tarefas imagéticas.
Fazermos arte é podermos ensinar às pessoas novas formas de escrita em diversas linguagens.
Alfabetização ambidestra com sons, gestos, linhas, formas e cores, gerenciando tudo, a fim de movimentarmos uma nova ordem mundial.
Esse mundo que é a ordem da pureza, já que o imundo é a ordem do impuro.
Na pureza do toque celular, nossas mãos formam um globo nas cabeças.
O globo ocular, a esférica terra, a bola que insiste em caminhar para o gol.
Tantas oportunidades de atrito interferem, até que ela possa chegar ao seu intento.
Grama, pés, joelhos, cotovelos, oxigênio, gases.
Todas as farpas a serem enfrentadas até a imagem ser produzida, externamente, no espaço externo à nossa mente.
Pronto!
Essa é a nuvem cheia de ideias.
Essa que pousa sobre os nossos couros cabeludos e parece estar louca pra chover de forma intensa, na fronte sem pelos, dessa gente desmedida

domingo, 1 de maio de 2011


Meu filho está com febre.
Foi atacado por vírus, mas antes de tudo isso, ele achou na montoeira de livros, um, editado pelo centro acadêmico da faculdade de artes plásticas da FAAP.
Um livro entitulado, POEMAS, editado e multiplicado através de xerox
Encontrei no livro um poema meu, nominado Doce Infantil.
Eu contava dezenove anos, farto de uma qualidade infantil, enxergando no poema algo atualíssimo.
Reescrevo-o assim:
Doce árvore.
Empresta-me aquele mel escondido entre seus braços tão verdes.
Doce céu.
Empresta-me o seu jardim com suas contas cintilantes.
Doce terra.
Empresta-me seus córregos cheios com gotas de orvalho.
Irriga-me com suas lições trazidas por suas sementes.
Sou um triste homem.
Empresta-me a sua criança, devolvendo-me a minha doçura, as minhas contas verdes, meus pés descalços, minhas lágrimas infantis e devolva-me a semente, para que quando ela se desenvolver, ela possa emprestar-me seus verdes caules, para que me sirvam de apoio na velhice.
Acho que nunca fui um homem triste.
Eu devia ser carregado pela tristeza própria das incertezas juvenis.
Hoje agradeço, e agradecido sou sempre, por ter a oportunidade de contatar os braços da grande árvore, o seu céu, a sua terra recebedora da aliança e as sua lições.
É como se fosse escrito pela sua caneta moderna, verde de apoiar-me segura, na minha velhice infantojuvenil