quinta-feira, 31 de março de 2011


Há choque entre placas tectônicas?
O que há é um deslizamento entre elas.
Estão, uma sobre a outra, quietas, falantes, tocadas por um toque essencial.
De repente, num movimento mais brusco, resultam falas ásperas e raspantes.
Um barulho, um estrondo, rachaduras e farpas, tristeza e uma dor latejante que só o tempo redeposita parecido, porém de outra forma.
Aqui estão elas, as placas, uma sobre a outra, tocantes novamente.
Deslizes.
As pessoas estão grudadas à terra sob uma lei de realidade invisível, porém perceptível.
Percebe-se por realidade própria que estamos todos ligados à terra.
Movemo-nos, esfregamo-nos, entre a tradição, a ruptura e o realinhamento.
A árvore e seus frutos.
A árvore é a pá do pedreiro, o instrumento, a ligeira pá que tem vontade própria e força.
Madeira de lei no cabo e metal puro, de liga resistente, na forma que segura e projeta a massa que gruda os tijolos e dá acabamento às paredes.
Um talentoso chinês faz malabarismos com seu corpo e com materiais diversos.
Penso em quantas vezes todo esse procedimento não deu certo, ou falhou em suas partes.
O resultado é bonito, é plástico.
O medo resiste ao tempo e deve ser por isso que as coisas várias se repetem.
O malabarista não teve medo do erro, queria apenas amar a si mesmo para poder amar os outros.
Essa é a força da lei que prende os artistas à terra.
Amar bastante a si mesmo e às suas convicções, para poder deslizar com os outros e criar um tipo de amor maduro que possa resistir às várias e realçantes ondas.
Desde o século dezenove o xilogravador já sabia sobre a grande onda japonesa.
Nesse mesmo século o pintor sem orelha também ficou sabendo mais coisas do que já sabia, expressando como fundo de tela, as imagens que recebia do oriente.
Por elas começou a orientar-se.
Sábios esses seres terrestres que se juntam em placas e juntam-se nas praças para apresentá-las em massa.
Pequenas peças são ensinadas às mulheres para que possam gerar renda.
Uma renda fina, que ao ser tocada pelas unhas bem feitas, tornam-se femininos poemas, sussurrados nos ouvidos dos homens e registrados nos corredores deles

quarta-feira, 30 de março de 2011



Acabo de receber uma graça:
A arte é como deus. Basta crer para ver. Ela está em tudo e em todos. Os que os artistas fazem é manifestá-la.
Veja que recebo essa graça logo após ter escrito o texto abaixo.
O que houve foi uma observação atenta e minuciosa, que manifestou-se em graça palavreada.
Uma graça alcançada.
Alcançada pelos braços, pelos pés, sem por os pés pelas mãos, graça tranquilisada.
Desejo ser tocado constantemente por essa manifestação real, tocado pelo espírito sereno e feroz dessa leoa transplantada em flor pela natureza divina dos provérbios e das tercinas.
Há pássaros que pousam nos cinco fios paralelos esticados entre dois postes.
Há quem veja na cena algo de profundo interesse e fotografa.
Há o que através da leitura da fotografia, conota grafismos específicos e transforma tudo em música.
Há os que crêem e os que nem vêem a fina camada de azul que assovia entre os intervalos do cobre encapado.
Não nos cobre nada, nem de ver mais do que a arte privilegia, afinal os que mais cobram têm outros privilégios.
Não nos cobre nada, pois a prata que blinda, não é o mesmo ouro que brilha nas asas da fada rubi  

Meu curso é a comunicação feita através do texto não verbal.
O texto imagético, por exemplo, no qual a imagem fala.
Ao acaso, folheando um jornal, deparei-me com uma pequenina entrevista feita com o Antunes Filho.
Ao ser perguntado sobre como educar as pessoas a apreciarem o teatro, ele respondeu:
"A sociedade hoje é muito materialista. Como posso falar sobre a espiritualidade da arte?"
Completa dizendo que essa turma ama tudo que é caixa. Até o teatro virou mercadoria.
A caixa, a embalagem, a gente feito coisa, a desigualdade justa.
Penso que o importante mesmo é continuar dizendo, pintando, desenhando, costurando, tricotando, teatralizando, servindo à arte naquilo que ela quer dizer.
Ela talvez esteja particularizada no entre meio das coisas.
Falar sem a palavra, dizer.
É dificílimo mesmo a turma entender, ou então, talvez só a turma entenda, o importante é dizer para a turma, a turma se contradizer, porém ainda assim, é importante dizer da forma que se entende, nesse minuto, nesse segundo.
Digo isso, tendo quase certeza que esse texto contém coisas importantíssimas e quase certeiras e definitivas, quase.
Ao meu ver, arte é mistério, está no entre meio mesmo das coisas e deseja ser descoberta, deseja que alguém lhe tirem a cobertura que a esconde.
Descubram-lhe e lhe configurem.
Dêem-lhe figura, forma, jeito de coisa, coisa material.
Uma flor me deu a mão que cuida do jardim iluminado e tudo ficou ainda mais claro

terça-feira, 29 de março de 2011


A afirmação eu ouvi de longe:
Eu fiz meu pé.
Precisa ser artista demais pra fazer esse pé.
É claro que sabemos todos que fazer o pé, ou fazer ou a mão, carrega em si, um significado mais simples, qual seja, pintar as unhas de ambos os membros.
Pensei na possibilidade de moldar esse pé, para que, ao fazê-lo, pudesse tornar-me semelhante àquela-la que fez o mesmo.
Pintura, modelagem, unhas, pés, unhas e mãos.
Todo um processo que resulta na oportunidade de expressar encanto e felicidade.
Uma pequena tela, ou um pequeno pedaço de papel chamado agora, de unha.
Um pequeno jardim que exala um doce aroma chamando pelas cores do momento, do instante, das estações.
Imaginem o tocar descalço desse pequeno suporte do corpo mágico.
Mágico na maneira como promove dança ao vagar pela sua casa arrumando e melhorando os lugares das coisas.
Um papo pendurado na estrutura de metal fininho, recebeu o contato das mãos umedecidas pela louça fina e o plástico de guardar frios.
Quente é a sola do pequeno suporte que se agrada com a chegada do solado rasteirinho de couro fino.
As unhas da leoa rápida está sempre a procura da terra rasgada pelas obreiras do subsolo.
As mãos da guerreira preparam-se agora para dedicarem-se à pintura do espaço dedicado à habilidade de outras mãos que esperam aprendizado.
Assim é a boniteza do fazer o pé dessa estrela.
A estrela que caminha flutuante, entre o esmalte saindo do vidro e o oxigênio que oferece tempo pro caminhar do perfume

segunda-feira, 28 de março de 2011


Pra que serve isso?
Pra você olhar com os olhos dos outros.
Do outro, do outro, do outro.
De tanto você olhar com a sensibilidade dos olhos dos outros, você começa a olhar com a sensibilidade dos seus próprios olhos.
Há um xilogravurista que exprime em suas obras o que vê de forma sensível e faz isso durante toda a sua vida.
Com a ajuda de um vendedor ele vende toda a sua produção.
Outros também exprimem o que vêm e não têm quem os ajude a comercializar as obras.
De uma, ou de outra forma, quem vir todo esse conjunto de imagens estará, aos poucos, apto a ver com seus próprios olhos, podendo também expressar-se através de imagens.
Existem pessoas que não acreditam que o processo de criação dê-se assim, achando que a criação é um privilégio para poucos.
Pra que serve tudo isso?
Moleques grudaram no chão uma moeda de um real

domingo, 27 de março de 2011


Uma viagem tranquila.
Uma transmissão de pensamentos, suave, uma paisagem longa.
Um projeto que cabe tudo.
Linhas, pontos e formas podem gerar estrelas, gente valente, imagens históricas, paz aos homens de boa vontade.
Vontade é o que não falta.
Uma vontade louca de acertar quase sempre, apesar da limitação orgânica e psíquica da gente que foi feita de barro e costelas, constelações.
Uma manada de estrelas destinadas à loucura da vontade.
Ouço ao longe o som estridente da cuíca e do tamborim.
O surdo toca os ouvidos de quem passa desacordado pela rua quase deserta.
Desértico é o coração de quem anda a elevar a cena à condição de tela sobre tela.
Cena é realidade estampada na retina, nas retinas, retendo tudo o que de tudo há nela.
O projeto é grande e é pequeno, é audacioso e é singelo.
As notas vão se aproximando dos instrumentos, assim como os marimbondos aproximam-se das faces dos irmãos brincalhões.
Brincadeira desvencilhada do perigo quando não se tem noção.
A noção é mais exata quando o toco de madeira atiça os insetos em suas casas.
A viagem é tranquila e a menina está ali, inquieta, estampada em letras, anunciando.
A paisagem lateral, vista da janela, é recheada de verde, folhas, de pedras guiantes.
Antes de tudo vem o carinho.
Acima de tudo está a criatura e acima dela o criador.
Na terra ou no céu, as estreitas visões do paraíso apontam para o itaim.
A buzina alucinada do carro na contramão depõe contra a mão aguda dos malfeitores.
A mão no sino da capela diz que o anjo veio pra anunciar.
Veio e ainda está presente pertinho do plástico escuro, sobre a calçada

sábado, 26 de março de 2011



Particularmente sinto-me integrado.
Como folha de alface fresca no frescor dos meus cinquenta e uns.
Uns instantes atrás, atrasei-me com os meus discursos e atravessei a rua apressado depois de ver alguém debruçado, cheio de pressa, dentro do saco de lixo preto.
Revolvo aquilo que não posso resolver, sem me ver revolto sobre a minha insignificância.
Os anos fazem isso com a gente.
A gente se contradiz e diz o que vem do coração, órgão contraditório que é.
O coração nos pede coragem e a gente age abraçando.
Abraço é como parto.
Parto e reparto.
Repartir e não partir do abraçar apertado.
Sempre achei interessante a expressão apertado, dita quando estamos com muita vontade de liberar, depois de filtrado pelos rins, o líquido quente guardado na bexiga.
Bexiga é símbolo de festa e é com festa que recebo a oportunidade de particularizar a paciência com os outros e não particularizá-la para mim mesmo.
Paciência é algo precisado quando vemos sair do lixo, o alimento que a gente precisa.
Que lixo é esse que nos remete ao luxo de saciarmos a nossa fome de tracejar sobre os panos?
É urgente que desenhemos sobre as camisetas claras e é claro que nelas apresentemos nossa tentativa de ajuste.
Ajustemos pois o nosso corte de cabelo e barba, e quando tudo isso estiver novamente desajustado, que a gente possa ter alguém com mão experimentada no trato delicado.
Trato nesse texto de algo distante da loucura e muito mais próximo do esquisito.
A esquisitice toda baseia-se no nosso consumo de oxigênio desenfreado, afinal, precisamos respirar um pouco, enquanto a caravana passa, escoltada pela cavalaria bravia, de um mundo sem estribos

quinta-feira, 24 de março de 2011


Eu fiz parte da elite estudantil que estudou na escola, enquanto muitos eram excluídos dessa instituição.
Hoje não.
A escola e o ensino são democratizados.
Todas as crianças e adolescentes estão na escola e se não estiverem, os pais são chamados para esclarecimentos, podendo até serem presos.
Essa democratização aconteceu há pouco tempo, sendo que no início desse processo ainda havia repetência e os alunos nessa situação não se sentiam motivados a continuar na escola, o que acarretava muita evasão escolar.
Foi inventada a progressão continuada, que prepara os alunos para poderem repetir o ano apenas no final de cada ciclo.
Dessa forma foi conseguida a quase exclusão da evasão escolar, afinal a inteligência prática dos jovens, percebeu que eles podem circular livremente pela escola sem serem molestados pelo fantasma da repetência.
Para controlar a ira de alguns descrentes nesse sistema, foi inventada uma recuperação bimestral com reforço em matemática e língua portuguesa, onde durante apenas uma semana, são recuperados os conteúdos não assimilados pelos estudantes durante um bimestre.
Dessa forma todos continuarão na escola, onde todos têm a mesma chance de sucesso futuro, dependendo do seu mérito pessoal, perpetuando a idéia da desigualdade justa.
Na minha grosseira maneira de entender, esse é um processo de passatempo contemporâneo, onde todas as gentes contam suas historinhas básicas, para todos os bois dormirem, enquanto o tempo passa, os dias amanhecem e alguns poucos cofres permanecem mais cheios.
Hoje, na hora do almoço, saí com meu automóvel do colégio e vi, do outro lado da rua, duas professoras de uma escola pública, levando seus alunos uniformizados para passear.
Todos eles seguravam uma única cordinha cuja função era formar um cercadinho, pretendendo que nenhuma das crianças se atrevesse a sair correndo para atravessar uma das ruas, na cidade do medo.
O medo é um forte antídoto contra a discordância rebelde.
Eu sou cheio de medos e superfícies, o que me provoca instantes mínimos de descrença.
Creio na minha ira sossegada gritante.
A minha ira é olhar as coisas com o olhar da filosofia da arte, univérsica.
Minha ira é olhar as filas, as vilas e os vilões, como olho as centogêmeas  filhas da urgência, com o tempo que urge

quarta-feira, 23 de março de 2011


Três é um número primoroso.
Três subiram o monte para ver um ser luminoso colocar-se na condição de luz.
Há luz, portanto, passando pelas tramas do algodão no tecido estampado com maestria pela lindeza dos gestos.
Três janelas se abrem para a comunicação de uma verdade absoluta, que realça a poesia dos instantes e monumentaliza em carne e ossos a feminina ligeirice da fantástica.
Passa o tempo, caminha o barco, os barcos, a viagem e os caminhares.
O tempo tem esse poder mesmo, porém somos nós quem o agiliza com o encadeamento de imagens abundantes.
As nossas imagens são vertiginosamente consequentes e a consequência disso é que o nosso tempo é transverso e versa por todos os lados em assimetria moderna e simetria clássica.
O classicismo de nossos discursos confundem-se com as manifestações sofisticadas e rebeldes das nossas graças.
A respiração quase recua quando as gargalhadas tomam conta do tempo esperto, horizontalizado.
Mais esperto é o riso, o sorriso, a festa que fazemos quando as horas enfileiram-se em posição de sentido.
Sentimos que é assim que firmamos o braço no braço de ferro.
Sintonizamos a imagem no monitor colocando uma palha de aço na antena.
Lustramos a nossa imaginação somando agora três vezes mais empatia e vibração, ainda mais agora, que o couro cobre os pés e descansa sobre os dorsos dos quatro.
Quatorze é um número santo.
Os passarinhos sem gaiolas que não sejam próprias, vão abraçando a poética de ambos os abraçadores e cantam bonito, com boniteza lúdica e voadora.
Bumerangues de sonhos e realidade cobrem o céu.
De um lado saem a imaginação e o insight e do outro o grafismo e a pincelada segura.
Dois lados de uma mesma moeda cunhada em papel de pão com tinta de colorir certezas

segunda-feira, 21 de março de 2011


É como acordar um passarinho e ele piar baixinho, com sono da delicadeza.
Delicada fala que acalanta os ouvidos de quem ouve o pio, o rodopiantes das asas que descansam dos voos rasantes sobre um dia cheio.
Recheado de diretrizes e bases, educadas por inteiro, na educação da casa e da rua.
Esse pássaro maduro que em breve fará exames e constatará que aina voará vários céus e nuvens, até continuar seu balé num canto mais seguro.
Cantarolando os dias, eu vou observando de baixo, a poética voadora dos seus olhos densos de olhares certeiros.
Aqueles que retiram das coisas, aquilo que as coisas são e sempre desejaram ser.
O olhar passarinho é arebentador de qualquer gaiola louca, ou serena, bravia, ou bem leve.
Leva no olhar a saga de perceber os detalhes de uma diagramação voraz, que adapta os tecidos aos seus cortes e seus cortes aos tecidos que são revestidos pela pele.
Pelo sim e pelo não, a voracidade rege a mansidão da realeza.
O vento pia, faz um barulhinho no vão da janela emoldurada pelo alumínio prateado.
O vento trás o pássaro, a passarinha.
O vento é amigo sincero, e tanto lá, como cá, revoa a lembrança de um pouso bonito.
Acordar você com um sopro, uma flauta, oboé, ou sax, é uma dose sonora de ressonância duradoura.
Acordei com você que seria assim melódica a valsa.
Uma dança depois do trabalho, com direito a regadorzinho verde, de apresentar-se verde à sala.
O pio é leve, sem gaiola alguma, no jejum quaresmal dos exames.
Examinemos pois o celeste espaço que habitamos por inteiro e gracejemos.
Fazemos graça com óculos escuros e paredes ralantes, imagina se não faremos com o espírito arejado pela fé.
Acreditamos nas penas e nas peles.
Cremos na nossa pista que anima grandes voos.
Preparamos o meio da noite para que o meio de um dia inteiro possa surgir atrás dos prédios e das tabas.
Ele pode, ele vai e ele pede, para surgir em luz, e luz de farolete

sábado, 19 de março de 2011


Nem todos os tijolos são grandes e vieram de demolição.
Lição programada para ensinar que nem tudo precisa se repertir à exaustão.
Gente se repete como gente de todos os lugares, repetidas em gente de ação repetitiva.
Nós somos interpretação.
Façamos juz a isso, sejamos interpretativos à nossa maneira.
O retorno e o entorno dos maneiristas.
Não precisamos seguir o rastro do vinil riscado.
Basta que sejamos a caixinha de fósforos pesando sobre a agulha do toca discos.
O disco vai tocar a nossa música arrojada.
Sabemos que não precisamos esperar uma outra toada.
Podemos, devemos e vamos propor uma nova pegada.
Uma pegada de pés estranhos, estrangeiros na sua própria terra.
Reside aí a coisa boa e não o tóim, embora tudo aquilo que nós admiramos, nos salta aos olhos justamente por ser tóim, ou chique.
Chique de uma chiqueza bem simples, sem revolteios, ou utilidades.
Tóim de uma feiura degustável e inútil.
Hoje, é útil pensarmos em arte como algo pessoal e intransferível, porque é dessa forma que ela nada tem a ver com o capital.
Todo mundo é colocado à prova pelos cientistas artistas visuais e quase todo mundo não tem essa ciência.
Paciência, todo mundo continuará sendo tocado e repetindo a toada que o artista útil e marqueteiro toca.
Nosso pecado capital é não ter verba para bancar o banco de imagens, sons e gestos.
A capital do nosso estado de coisas é a pequena loucura que incomoda a acomodação dos desabitantes do interior.
É habitual que isso ocorra, é a força do hábito.
A nossa renda é a portuguesa, a pernambucana, é a que a aranha tece.
Hoje, assim como ontem, pretendemos subir pelas paredes dos banheiros, com as pernas longas e os pés gajosos tocando de leve o azulejo liso

quinta-feira, 17 de março de 2011


Os gatos pingados.
Nem todos os gatos são pardos, alguns têm manchas, são malhados.
Malhados pela corrosão dos desentendimentos e confusões entre a poética e a hermética.
O hermetismo das falas transversas provocam descompassos reversíveis.
Provocar é apressar a tentativa de entendimento sobre as teses que se apresentam através das palavras.
O gato pinga de estrebuchar-se todo, após tomar um banho forçado.
São pingados porque são poucos os que acostumam-se a gostar de água.
Pingado eu gosto de manhã, com pão na chapa, a não ser que seja na sua casa com pão na tostequeira coberto com queijo esperto.
Assim, pingado já não é.
É café montado a maneira de itália.
A arte não consegue e nem deve sair da gente, mesmo se conseguisse querer tanto.
Ela quer tanto que a gente fale sobre as coisas dela, que a gente objetiva alguma coisa que a represente.
Nós não nos representamos em nada, nada nos representa, tudo a gente interpreta.
Não no sentido de representar de mentirinha, mas de verdadeirona.
Assim comunicamos-nos, nós e o mundo, eu e tu, nós e vós, eu, você e os outros e todo mundo.
Estamos em comunhão.
Criaram polêmica sobre um desenho publicado no jornal, feito por um menino de quatorze anos.
Um desenho feito sobre a representação de uma xilogravura japonesa do século dezenove, chamada a onda.
A onda anterior era libia.
Wave é uma canção da bossa nova.
Nova é a onda?
Nada do que foi será, é claro, afinal a nossa interpretação é totalmente volúvel, mesmo que tenhamos nos pés calçados fundamentalistas, do jeito que já deve ter sido um dia.
Na crista do galo está a crista da onda, já que ele teve que cantar três vezes para um sujeito legal negar tudo o que havia vivido.
O galo português, dependendo da cor, mostra chuva, ou mostra sol.
As manchas nos nossos pelos fazem com que muitos nos interpretem malhados.
Malhamos, a custa de suor no rosto, o ferro frio

quarta-feira, 16 de março de 2011


Dia cinza abre uma janela escancarada.
Janela interna que traz pra fora muita fumaça e cinzas.
Quanta coisa guardada dentro da casa que suporta tanta ventania e enxurrada.
Aguarda sustentada por toras alicerçantes vindas de histórias reais que treinaram sua seiva.
Essas toras não são secas nem cascudas, ainda reina nelas o sangue sugado da terra úmida.
Todo esse território é jardim redondo.
É nesse jardim que arredondam-se as conquistas e as lutas por tudo aquilo que é justo.
Justamente em dias cinzas é que os olhos entram pela janela e expiam a tristeza, espiando a realidade nem sempre tão justa.
A janela e seus vidros redondos, circulares, fazendo circular as lembranças, asas justas da memória.
O dia e a saída segura.
Não segure-se não.
Pule a janela e revisite seus sonhos e sua força da caixinha.
A sua força me força a ser mais forte.
Formemos portanto, uma orquestra sincera e melódica.
Toque seu pulso e sinta a sua verdade tocar-lhe as toras.
Sustentar-se-á com essa certeza e seu tear tecerá mais imagens e relíquias.
A caixinha de música teve a corda toda revirada.
A sua bailarina dança e sua leitura vai tornando-se ainda mais perfeita.
O seu texto vai amanhecendo um dia claro, um arco.
A sua íris aparece subindo leve, por trás das montanhas admirantes

terça-feira, 15 de março de 2011


Um dia como hoje é quente.
Quente de esperar na fila pelo meu papel de serviçal constante, na lista de participantes do processo reprodutivo.
Procuro não fazer papel de tolo nesse caminhar medonho de fumaça e radiação.
Tremores tenho na hora de passar pelas corredeiras de madeira em tronco, milhas acima do riacho meio fundo.
A terra em placas, desloca-se embaixo do mar e os peixes fazem tanto barulho que as ondas tornam-se gigantes e entornam barcos e gente.
Tornei-me azul, um avatar as avessas, deslocado do caminho poético para um menos mágico e mais objetual.
Um objeto de cerâmica esmaltada que pretende guardar as fúrias das filas e das valas.
Um animal furioso que tende a derrubar as cercas do quintalzinho do menino maluco por games de ossos e tiros.
Um bicho sem pé nem cabeça, pronto para esgueirar-se por entre a geléia de aço e outras ferragens.
O dia hoje é quente e veloz, é vertigem e honradez.
Caminho eu, caminha você e caminhamos comungados nessas estâncias mais espirituais.
Paradoxo humano e vivente, sobrevivente.
Sobreviventes de uma fila interminável de crentes no poder tênue das personas sozinhas acompanhantes.
Poder que experimentaliza e experencia o valente poder do santo espírito que transparece nas coisas e nas gentes.
Como planejar alguma coisa se é inevitável que tudo ocorra?
Planejamento é ra coisa que dá bastante dinheiro e essa coisa boa, é boa demais para que eu possa me perturbar com ela.
Planejar é coisa pra mercadores.
Somos apenas marcadores de fatos que nos extasiam pela simplicidade com que se apresentam.
Marcamos com uma letra e com uma nota, tudo aquilo que denota um tom e detona uma torta

segunda-feira, 14 de março de 2011


Eu tenho uma casa.
Uma morada em mim, onde tudo acontece e transparece em verdade.
Translúcida moradia que quer sempre estar em parede e meia com as outras tantas que estão dispostas a compartilhar suas texturas e suas pinturas.
Sou ela, a casa e a tenho em mim.
Um corpo moldado em barro e construído sobre um caminho enorme de caminhar bastante.
Um corpo que se pretende doado, partilhado, a partir do seu pensamento constante e inacabado.
Uma casa cheia de coisas a serem redescobertas e reconduzidas aos seus devidos lugares.
Uma morada dedicada a companhia e a decisão antiga de oferecer um canto e um abrigar dos respingos dos mais variados chuviscos.
Chuvas que são tantas a molhar os rostos e os corações de tanta gente em tantos lugares e em suas residências.
Resido no meio da rua, desde quando acordo e me ponho a andar ligeiro.
Estou vivo e vivo a cantar canções sobreo casas muito engraçadas porque pertencem as personas e não por não terem teto e não terem nada.
Resido onde estiver falando e falando bastante para confundir aquilo que já é confundido por natureza.
A natureza me coordena.
Ela me leva ao jardim de bençãos, onde a flor redeada me espera e me opera.
A taba é redonda e a toba também.
A casa pede uma cabeça segura, para mover a sua estrutura ainda um tanto rígida.
A casa é atendida e eu agradeço.
Toca a campainha e a companhia reside aqui, morando no mesmo lado da nossa rua

domingo, 13 de março de 2011

Um desafio.
Mais um entre tantos, assim como cruzar fronteiras.
Nas mãos um caderninho laranja, cor da laranja de suco doce, levemente cítrico, para que o encontro tenha alguma espectativa e possa trazer alguma surpresa.
Quase todo mundo sabe que no começo tudo são flores, o que eles não sabem é que algumas flores podem viver suas cores por longos anos.
Uma quantidade verdadeiramente grande deles.
Uma corrida com barreiras admite até que se toque algumas delas, permite até que algumas sejam derrubadas, tamanha é a força e a vontade da persona que põe-se nessa luta e devoção.
Hoje não concordei com a frase de um escritor muito famoso publicada num vídeo cartaz dentro do metrô.
A frase expressava que quando pensamos demais nos outros corremos o risco de não pensarmos na gente mesmo.
Tenho quase certeza que sempre que pensamos em fazer algo aos outros, o que move essa decisão é uma infindável vontade de fazer feliz a nós mesmos.
Como é bom ver um sorriso largo, uma alegria não contida na outra persona.
Dá até uma explosão de cores e risos dentro da gente, quanto bem que traz, quanta vontade de viver mais a gargalhada.
A verdade é que pensamos muito em nós mesmos e adoramos essa tarefa, mesmo que pareça a princípio tão desafiadora.
Vi de longe, na caminhada que fiz entre a rodoviária da manchester e a casinha em votorantim, algo que me pareceu ser uma raposa, porém ao chegar mais perto vi que se tratava de cimento e tijolo jogados num canto.
Uma mistura jogada no terreno baldio que trouxe-me de presente o animal.
Pensei até em fotografar, porém não o fiz, já que sabia que iria escrever sobre isso.
Imagem descrita e trasncrita.
Pensei também que muita gente irá pensar tratar-se de uma loucura qualquer, pois que seja uma pequena loucura então.
Ando meio complacente com as expectativas das pessoas sobre as visões translúcidas dos que teimam em achar figuras nos ladrilhos brancos do banheiro.
Uma viagem inteira de ônibus e tanta coisa pra colocar e recolar na lembrança, desafiando tudo isso a virar expressão artística poética, nos momentos de observação reservada para ser presente para o outro.
Comunica-se tanto quando o pescoço puxa a cabeça pra frente e traz o corpo pra traz, somando tudo isso a um passinho mais pra frente, representando numa doutora,antedidática expressão da medicina.
Essa última frase só foi escrita pra que vocês possam exercitar a integração imagética com a verdade dos fatos.
Penso e desafio minhas patas a colorir com desenho algo plano ou volumétrico.
Isso faz parte de um enredo maior que inclui a beleza matérica e a destreza etérea do riso.
Riso esse, que é um instrumento mágico de introdução do corpo no tempo e no espaço.
Quanto tempo demora para o passado ser passado a limpo?
A limpeza dos gestos é proporcional ao tamanho da vassoura transformada em coroinha

sábado, 12 de março de 2011


Um vaso com flores preso ao antebraço.
Vários zumbidos pequeninos recheando o caminho dos membros indicadores.
Quando o fundo de um deles é um espelho, ele mistura-se ao do outro para uma coreografia dedilhada, como numa vasta melodia instrumental.
Esses instrumentos são sincronizados sem serem absurdamente idênticos.
É dessa forma que o concerto torna-se irrediavelmente diferente do que fora antes.
Uma interminável oportunidade de conjuntos diversos, trazendo uma beleza impossível de ser traduzida em expressa qualquer coisa.
O final é sempre história, já que a graça está no fato de tudo ser sempre história mesmo.
Houve um tempo em que história inventada era estória.
Numa sábia decisão, os sujeitos da norma culta, definiram que tudo seria história mesmo, tanto as inventadas como as determinadas como realidade pura, nua e crua.
Aí está a marca desse novo conceito:
As inventadas são as histórias todas, entre as nuas carimbadas pelo despreconceito e as cruas, desejosas de cozimento em microondas.
As puras, essas identificam-se com as outras todas e as perfuma.
Inventamos todas, as reais e as imaginárias, já que para tornarem-se realidade, todas elas precisam ser imaginadas anterirmente.
As mais belas talvez sejam aquelas qu são imaginadas apenas segundos antes do abracadabra.
Palavra mágica que abre, reabre, transborda pra fora de tanta abertura, de abrir-se verdadeiramente, bordada que é com tanta verdade instantânea.
Num momento é imaginação, é ideia, noutro é verdade, um soco delicado.
Palpável idéia que beija e torna beijada a marca indelével do fato.
Para tal fato, foto em papel não existe.
O papel adquire característica celular e não celulóide.
A madeira passível de recortes a faca, agora é corpo maleável que molda-se à ideia da escada rolante.
Um filho enrola o rocanbole a seu gosto e detona.
Detona o gosto pela alegoria provocada pelo sorriso groselha.
Se colocares o olho e enxergares a groselha como coisa qualquer, alcançarás o paraíso, já que qualquer coisa é ideal e resultado.
A palma da mão exorta a presença de um deus que nem precisa de maiúscula para rechear a gente com uma história contada pela cabeça na lua, cheia

quinta-feira, 10 de março de 2011


Um anfíbio capaz de ser enfeitiçado.
Aqui no começo de uma estrada feita de cimento, assim como as pistas do rodoanel, existe uma pedra com a pichação que exalta o anfíbio.
O senhor dos anéis, das jóias, contador de histórias que busca agregar nas profundezas dele mesmo, algo que mereça um crédito e uma confiança sem fim.
As fábulas mostram muitas possibilidades de feitiços que só podem ser desfeitos, se feitas algumas ações espirituosas e cheias de graça.
Das janelas a fabulosas criatura dotada de alma e sutileza, espia as cenas todas para ver expiadas da sua vida as trajédias, os maus espíritos e os pequenos calos.
Queremos ver todas as cenas dos próximos capítulos muito diferentes daqueles moldes há muito fabricados pelos novelistas de fino trato.
Existe um molde, um modelo, uma fórmula onde os personagens apenas mudam de nome e os figurinos de época e data.
Desejamos a molecagem da mudança, da surpresa, do movimento arritmico da reviravolta das frases.
Queremos ver cenas diversas, reversas, gente virando gente e criando pernas, braços, abraços.
O trabalho enobrece as personas, dá-lhes a nobreza que desejam e anseiam.
Anseiam pela massa da pizza redonda recheada de estrumellos e todo mel que há nessa vida.
Os anfíbios, os batráquios, os répteis, as aves, aqueles que são da água, da terra e do ar, fazem do fogo a sua carga de energia mais severa.
Calor das vísceras que efervescem a vida de todos os que encontram pelos caminhos vitoriosos da batalhação.
Luta é o que não nos falta.
Crença no espírito efervescente que repõe e impõe energia transformadora, move montanhas de um lado para outro mesmo.
Os vales que valem a pena são assim, movediços


A garota entra na fortaleza iluminada e integra-se na paisagem redonda da felicidade que tem o mesmo formato.
Encontra-se com as coisas inevitáveis, quando está disposta a tocar de leve as pétálas dos brincos.
A flor, cada arbusto, cada árvore frondosa, nada escapa aos botões brilhantes da menina que transcende os muros da obviedade.
O discurso da porta é longo, quase deixa marcas sonolentas, mas isso é um detalhe dourado, o que realmente importa, é a necessidade que os seus olhos têm de colocarem-se a mirar o fundo de uma coisa eletrizante.
Importa pouco se estás com toda a atenção nas falas, o que realmente importa é que um turbilhão imenso e forte é trazido à tona, quando colocas o olhar no extremo ponto, que só você enxerga.
Esse ponto é como o big bang desencadeador do universo, e o seu universo desencadeado você doa de mão beijada a todos que estão atentos à sua atenção acolhedora.
O queixo nem é o ponto.
É um instante eterno, belo, frondoso e florido.
Os papéis estão soltos sobre a mesa retangular e as mãos dispõe-se a tocar-lhes as faces.
O que vai acontecer a partir daí, o mundo vai conhecer em instantes futuros.
Deus de sempre é assim.
O que vai mudando é uma experiência após a outra, mas a experenciação é a mesma e diz respeito ao espírito das coisas.
O que emana das pessoas é devidamente reensinado e redimensionado.
Esse processo não é controlado, quem regula é o outro, à menina cabe apenas doar o olhar certeiro.
O outro regula se quiser, pois todos devem saber que ninguém é obrigado a nada e muito menos a partir dos oferecimentos estéticos e éticos da menina que dispõe pastilhas sobre a base.
A base é esta.
Ela coloca seus olhos no centros nevráugicos das coisas e as coisas lhe oferecem o sumo, a alma, as suas deliciosas dádivas.
Quem segue o aroma desse espetáculo acumula bençãos.
Um pássaro pousa num dos fios de alta tensão devidamente coberto pela camada de borracha.
Eu, pássaro, tampouco pouso, acompanho de perto

quarta-feira, 9 de março de 2011


Amanheceu.
Dia bonito, azul, luz de fora e luz de dentro.
Caminharei nesse observatório e em todos os seus pedaços com visão periférica.
Assim como os olhos de lince, os meus se pretendem ligeiros.
Achar um vidro totalmente transparente para entregar ao velhinho que o procura.
Dentro dele coisas multicores, talvez com a predominância de um vermelho de rubricidade par.
Contas a pagar, objetos a doar com clareza e objetividade.
Um dia como outro qualquer não seria e não há.
Os dias amanhecem sem sombra de dúvida e recheado delas ao contrastar com as casas, os prédios e tudo o que pode haver dentro deles a se destacar pela aparência.
Vamos pra lida, afinal lidar com as multicores das tarefas e dos serviços é o nosso empregar de forças.
Impregnar o emprego de surpresas.
Surpreender positivamente, já que o negativo revela as mazelas de um mundo feinho e obscuro, maquiado pelo enredo das novelas bufas.
A mooca sim, essa sim, vem com sotaque e alegria estampados nas gargalhadas todas.
Tenho um lembrança da cantina da escola: Pão furado com recheio de carne moída.
E não é que a guloseima é chamada aqui de carne loka?
Sim, loucos somos nós que travestimos essas coisas todas de um interesse incomum e lírico.
Tal qual gosto da palavra moderno, gosto do lírico.
Tudo aquilo que pode e deve ser transmutado em poesia.
Você e o seu repertório poético revelam de longe a sua competência.
Hábil.
Vejo-te daqui, limpando com poesia, tudo aquilo que permanecia guardado de algum modo nas suas estantes

terça-feira, 8 de março de 2011


Amargo regresso é um filme onde a sensibilidade de alguém fez com que fosse filmada a cena onde o violonista, ator no filme, duela com um menino cego e autista que toca um banjo.
O menino, em algum momento sorri e o seu sorriso se irmana com o do violonista.
No mesmo instante, o senhorzinho frentista, que é o primeiro a perceber o movimento entre o violonista e o menino, começa a dançar magnificamente ao som dos dois.
Uma senhora assiste a tudo da sua janela alta, porém, é uma moça, lá no fundo, que permanece sentada e imóvel, admirando a cena.
Cena admirável, assim como é admirável a postura feminina, tão diversa e tão una, peculiar e radicalmente diversa da masculina.
Não é por isso que, no emprego, as diferenças de postos e de salários ainda são gritantes, ou talvez até seja por isso, já que no comando estamos nós, os homens, colados à nossa arrogância e nossa brutalidade tão frágil, defensiva.
A moça ficou ali, na cena, admirando.
O menino cego e autista sorri.
Eu escrevo esse texto emocionado e sorridente, admirando eternamente o feminino e considerando, assim como considera a conservadora minha mãe, que o dia das mulheres é todo dia.
Toda hora, horas de múltiplas jornadas e múltiplas visões, incluindo a vocação - o atendimento ao chamado - de serem mães.
Faço a nota que mesmo aquelas que não têm filhos, mesmo essas, não dispensam a vocação.
A moça observa os dois e seus sons sincronizados e hábeis.
Após o desfecho do duelo o menino volta a si mesmo, as mulheres voltam-se aos outros todos.
Um movimento contínuo, meio em si, meio aos outros, algumas ainda numa proporção mais radical aos outros.
Desejo uma força ainda maior a você, que luta para expressar um pouco menos, sobre as farpas que sobram de cada decepção, de cada angústia provocada, de cada esperança desesperançada, enfim, de cada fisgada provocada pela nossa arrogância disfarçada e grosseira.
Que eu possa sentar-me admirando mais.
Que nós não precisemos regressar amargamente a nada.
Que eu possa levantar-me das cócoras e caminhar até o som mágico de uma razão que filma a cena e a expressa na tela real desse mundão, do nosso deus de sempre

segunda-feira, 7 de março de 2011



Observei que o verbo melhorar e o verbo arrumar têm características diferentes.
Ponho-me a falar desses verbos sobre o sujeito e ele mesmo.
Eu não arrumo nada em mim, já que o arrumar carrega em si uma imposição normativa. 
Quando tento me arrumar esbarro no conceito de arrumação, mais ou menos estabelecido pelo social.
Já quando tento melhorar algo em mim, mergulho em mim mesmo, a partir daquilo que compreendi e intronizei, considerando que devo melhorar por tais e tais motes pessoais.
Melhoro porque me conscientizei que devo melhorar e arrumo coisas em mim porque a sociedade considera que devo arrumar.
Devo me arrumar para não rumar pelas minhas próprias pernas, mas porque eles acham que devo rumar pelas pernas gigantes que perambulam pelo sistema digestório e selvagem que nos coisifica.
Prefiro a emoção de uma fala certeira que não pretende outra coisa, senão apresentar as possibilidades de entendimento de convicções firmes.
Preferimos a emoção conjunta, a lágrima bonita que escorre brilhante aqui e ali, carregando de sal o rio que represado, está contido naquilo que ainda não conhecíamos.
Sei que amamos conhecer aquilo que antes havia sido apenas a nós apresentado.
Quanto mistério há na apresentação do tema ao artista e quanto mistério há em tornar real, aquilo que antes, apenas imagem apresentou-se.
Abramos as comportas das nossas represas, mesmo que soltas, já lhes pareçam horizontalizados os ferros.
Uma garotinha sonhou com janelas pequenas e retangulares, com vidros circulares e molduras que chamaram-lhe a atenção pelas cerejas.
Num salto, ou três, perguntou a si mesma se, no mundo, há mais janelas do que portas para os homens.
Pensei no instante simbólico que aos homens pertencem as portas e às mulheres pertencem as janelas.
Pensamos.
O que se sente é o não sentar sobre os louros da vitória, mas levá-los a fazer novo perfume aos feijões.
Sento-me e fico observando a boneca que está colocada sobre o sofá.
A quem pertence a boneca senão a ela mesma?
A cafeteira italiana borbulha depois de deitado o café no seu recipiente tão próprio.
Melhorar é algo que ganhei de presente ao mergulhar no lago fundo.
O lago fundo que é ladrilhado em todos os lados por fina louça portuguesa 

domingo, 6 de março de 2011


Você quer entrar na razão?
Que razão teria para tal feito, já que a entrada das máquinas fica do outro lado?
Cá estou eu escrevendo, usando uma máquina digitalizadora que realça as minhas digitais, estampadas imperceptíveis no teclado.
O realce é dado mais pela intenção da palavra do que pelo registro das letras.
Digitais são exclusivas, pois excluem a possibilidade de serem todas as outras.
Assim funcionam as pessoas nas suas doses diárias de máquinas.
Individualizam as possibilidades, requerendo o egoísmo humano apenas para si.
Ser humano é isso, é aquilo e é aquilo outro, vários montes de egoísmo num único vale.
Não o já dito e escrito vale de lágrimas, mas um vale mais refeição.
Refaremos imediatamente essa questão e passaremos a nos alimentar de versos, de fantasia e de muita imaginação.
A contra indicação de tudo isso é que o egoísmo pode se espalhar por todos os cantos e as pessoas do vale podem se perder entre tanta informação exclusiva.
Exclui-se portanto o egoísmo.
Agora não mais teremos preocupações, apenas a ocupação com o que fazer com uma raça que pensa demasiadamente nos outros.
Uma raça de ocupados com o outro, sem as metáforas agressivas do ego.
Alguém poderá pensar:
Como acordariam homens e mulheres na possibilidade desse texto ser algo racional?
Acordaram todos que esse texto é apenas nais uma forma estranha se colocarmos asas na imaginação, assim sendo, é inevitável que toda essa esperança desapareça como mágica.
Para entrar nessa mágica basta recitar a palavra mágica.
Você não gritou bem alto: Mágica?
Perdeu a chance de tornar-se mais um esperançoso a escrever com alto som, algo que pudesse ser compartilhado com mais um, mais um e mais outro.
Faz bem pouco tempo estive conversando com uma moça que me despertou do sono e eu também a despertei.
O sono era tão profundo que anbos precisamos de máquinas reguladoras de luz para que não ficássemos cegos.
Esforço vão, esse das máquinas, afinal o despertar só foi possível porque ambos os sujeitos são muito atentos.
Têm os olhos arregalados, abertos para o próprio umbigo.
Os olhos estão tão voltados para os umbigos que logo forma-se um imenso cordão.
O nosso bloco está nas ruas e o trio elétrico não espera mais nada, já que a banda toda toca, no ritmo de cada um

sábado, 5 de março de 2011


Bom dia dia.
Dia que já nasceu faz tempo, foi outro dia.
Outro dia semelhante, numa verossimilhança que está longe de ser idêntica.
Idêntico é esse dia de identidade única.
Única na sua duplicidade de sentido.
Esquerdo e direito no direito que temos de arredondamos quase tudo, no sinistro instante, colado a não conformidade com o estabelecido.
Alguém estabeleceu que o direito é esse e pronto.
Está pronto nada, está pra ser terninado e ao pensarmos terminado, ainda restará nuito a ser concluído.
Concluo não estabelecendo nada de seguro, afinal a segurança é um vício que se encontra perdido na imensidão das coisas que jamais daremos conta.
Dar conta é oferecer resultado a um problema complexo e já temos complexos demais para resolver.
Resolvemos então, aplicar uma regra de três e já que toda regra tem excessão, essa nos diz que precisamos ser nós mesmos a tornar os dias diferentes.
Bom dia, dia diferente e torto, que traz na torteza a necessidade de usarmos nossa ferramenta mais certeira para retizarmos o torto dele.
O nosso prazer em desentortar, faz todo sentido quando vemos o reaparecer do reto, sinplesmente para gozarmos o entortar de novo.
O novo torto é ainda nais perfumado e belo.
Ele está rigorosamente pronto para tornar-se reto novamente.
Ele etá formalmente presente na retidão confusa de um traço feito à mãos.
O plural de um gesto, que na singularidade perderia sua graça e júbilo.
A festa do reto é poder se regojizar na curva feita sem compasso

quinta-feira, 3 de março de 2011


O piso é todo decorado pelas formas arquitetadas com delicadeza.
Os vãos são todos diferentes uns dos outros, afinal, o material de cada peça é orgânico de alguma forma, e como tal, não é exato, deus de sempre.
Os vãos, as pequenas porções de espaço a serem faxinadas.
Limpas pelos olhos atentos de uma persona que decora, que entremeia, que costura aos fios, promove as teias de diversas texturas e refinamentos.
Limpos.
Limpeza é algo que não requer compromisso cronológico, não requer a lógica de um tempo exato, talvez tenha alguma lógica do espaço exato.
Que mestra sala, que quarto crescente, que corredor de grandes distâncias, que espaços mais podem e devem ser limpos pelos cinco sentidos?
Tudo vem brilhando ao lado, vem rendendo luz, vem polido por uma educação esmerada.
O carnaval dessas informações vai escorregando os significados mais duros desses elogios todos, vai acrescentando ritmo, vai movimentando os quadris, vai dançando uma nova nota a cada escorregadela pelo sentido imediato da alegria.
A faxina do espírito.
A limpeza é imperatriz da vivência, da sequência vivaz de quem leva com galhardia as tarefas desejosas de beleza e graça.
O espaço cercado pelos passeios das personas, tende a sujar-se de alguma coisa por elas depositadas, por elas expelidas até sem noção.
O espaço onde elas rodeiam, permeiam e resistem, vai se sujando de alguma humanidade.
Humanidade que suja, não necessariamente de sujeira imunda, obscura, mas deixa seus vestígios ruidosos aos olhos mais seguros e revoltados.
Revoltar-se é atirar-se arte a dentro, adentrar-se ao inesperado, aos artísticos gestos, misteriosos e lúdicos postos em fatos.
A faxina depura a revolta.
A torna sinônimo de revisitação das obras, das óperas diárias, fazendo com que tudo possa ser revisitado, tantas vezes for esse tudo pensado.
Limpa, a trajetória é uma paisagem que pode ser ampliada e reexplorada, para que muitos outros contos, possam no devido tempo, serem contados e ilustrados.
A noite ilustra o dia e o dia lustra os móveis, que como tal, movem-se durante a faxina.
Movem-se os móveis, movimentamos nós a sina

quarta-feira, 2 de março de 2011


Eu mesmo escrevi e eu mesmo experimentei não entender:
"A orientação é desorientar o eixo e estabelecer tudo o que não pode ser estabelecido, afinal nada disso faz sentido se não for analisado por um rato de laboratório".
Esse texto está escrito no verso da perna esquerda da minha calça cinza.
O que será que significa ser cobaia?
Só ela pode analisar a orientação que desorientará o eixo?
Nada nessa vida crua faz sentido, desde que a cobaia não saiba analisar o contexto?
O contexto muda quando a cobaia analisa detalhadamente o eixo e descobre que ele é desorientado?
O contexto pede um eixo que oriente a cobaia para que ela permaneça acessível ao sistema?
O rato do laboratório escapou da casinha e foi passear no jardim redondo, fazendo arte pra si mesmo, rendendo homenagem vasta à sua semelhante, artista que é de aprimorar-se para a festa.
Andando a procura de um salto, achou logo dois para atirar-se na alegria de um sorriso aberto e franco.
Cobaias arteiras vivendo no eixo, buscando orientar-se pelo ainda não estabelecido.
Pretendemos estabelecer a arteriocracia, onde a bomba de sódio e de potássio reina e não estoura.
Ramificamos tanto de bombear o sangue para todos os cantos internos, externando a expressividade de cada gesto.
As vozes conjugadas na narração, alternam pegada e poesia, deixando os rastros no asfalto quente.
Rastro de vozes no piso, fazem dele um palco liso, que nos faz dançar não pela escorregadela, mas pelo movimento preciso do nosso abraçar bonito

terça-feira, 1 de março de 2011


Olhares todos.
A forma, a figura, a proporção, a estratégia e a façanha.
O fato, na entranha da intenção, nas entrelinhas da ação espontânea.
Estaria a figura alada, refreando sua estada?
Empinadas estão as asas, amedrontadas pelas retinas afiadas da garota?
Têm medo, ou são ágeis tecidos já desenhando novo movimento ares acima?
Tantas respostas para as mesmas perguntas.
Isso é algo que me deixa ainda mais ansioso com uma pequena frase que li outro dia, impressa em papel de reunião:
" Mais sábio é aquele que faz perguntas do que aquele que dá respostas!"
Acho a frase linda, mas considero que são sábios ambas as figuras citadas.
Fazer pergunta é coisa de personas sagazes, e dar respostas é tarefa de feiticeiros da benevolência.
Tudo é repleto de fantasia e realidade, afinal, a persona que percebeu a cena e registrou o momento é um fantástico exemplo de quem pergunta rapidamente e mais entusiasticamente ainda, responde.
Fico imaginando o inseto alado realçando o seu voo e a felina de fino pelo, apelando para o seu sábio silêncio, um minuto de ferocidade.
Também fico atento à pulsação do seu coração de gata, esperando a indecisão das asas.
Uma cena, um sino, um menino desesperado, não de desesperança, mas de não esperado no momento.
Está ele ali, vendo a cena do outro lado, não aparece na foto, mas está ali, desenhando ratos, fatos queijosos e apetitosas iguarias.
A gata, mais sábia e astuta, preferiu desenhar asas nas suas artérias e voou feliz, ligando essa sua imagem à próxima, mais avoada