sábado, 31 de dezembro de 2011

Reluz


Amanhã será um outro dia e mais um.
Decidi contar os dias por eles mesmos, na semana que tive uma apresentação teatral diferente em cada noite, no início desse mês de dezembro.
Decidi não, percebi.
Observei que precisava me dedicar a cada dia inteiro, fazendo muitas coisas diferentes, aproveitando cada instante, para que no final, tudo pudesse ainda ter energia para ser desfrutada, internalizada e expressada na harmonia dos passos.
Eu gosto da ceia diferenciada, embora ache que cada um trazendo um prato cheio - no final - acabará sobrando muita coisa, mas também isso é bacana, afinal teremos um prato japonês no dia seguinte: O Soborô!
Sobrará fartura para andar dois mil e doze avenidas, ruas e vielas.
Lembre-se que o resto não é sobra e o que sobrar nos será possível colar, justapor, amalgamar no que ainda temos para transformar o que tínhamos anteriormente num agora reluzente.
E como nem tudo que reluz é ouro, que a gente possa colocar luz de novo naquilo que merece ser apresentado

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Salada na mesa


Uma mesa farta, as vezes até duas, ou três.
Eu gosto de cortar as coisas para temperar o arroz, o feijão e também gosto de fatiar o tender bem fininho.
Gosto de cozinha, de vez em quando.
Adoro lavar, mas aprendi a deixar a louça para a Nossa Senhora secar.
O escorredor, um dos instrumentos que ela toca.
Gosto do nome e da coisa - escorredor.
Vez por outra penso nas gotículas d'água escorrendo, sem que ninguém esteja fotografando o processo.
Quantas coisas acontecem, sem que praticamente ninguém dê conta.
Dar conta é o que mais se dá nesses tempos regidos pelo capital, de tal forma e maneira, que nem bem iniciamos o ano e já temos muitas a pagar.
Recebamos pois, a tarefa de nos determos mais nos detalhes bonitos das coisas que são  todas: os detalhesinhos das canções, dos toques, dos tanques, dos repiques e das borboletas que saem com frequência do armário de mantimentos, onde está o saquinho de um quilo de feijão preto, brotando.
Uma festa para os sentidos.
Acho que não faz muito sentido, um dia reservado para a passagem de um ano inteiro.
Para ser inteiro, um ano precisa ser o que é, um passageiro da nave que navega uma vida inteira.
Antes disso tudo ser bonito, isso é bem parecido com aquilo, desde que isso e aquilo, tenham o mesmo frescor e o perfume de uma colorida salada de frutas, disposta na mesa, disposta a oferecer-se a todos com a mesma doçura e encanto

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Brim


Há questão dos símbolos.
Existem referências por toda parte e parte delas pode tornar-se indecifrável.
Um touro pode colocar uma música pra você ouvir, no instante que você deseja que ele seja objetivo.
Nada mais simples do que dizer alô, estou indo, ou vindo, pronto.
Pronto.
Apronta-se mais uma vez e a gente vai tocando o barco, mesmo que o dito não tenha cordas, ou caixa acústica.
O barco tem uma caixa enorme.
Ele tem as cordas e as velas, e essas nem acesas estão, porém acesas podem estar, desde que haja vento, ou tempestade.
Não façamos tempestade num copo d'água tampouco, afinal, há tanto mar nesse copo que está meio cheio e meio vazio.
Um oceano de palavras colocadas num aquário, sendo sorteadas para compor a letra da canção.
Também a letra, é motivo e motivação para devaneios exatos, feito o que diz sobre o quadro escuro, que feito com tais cores, tanta robusteza oferece.
O gosto é uma questão de silêncio e barulho, de música e sons vulcânicos.
A pequenina tristeza da menina faz com que ela se abstenha de algum detalhe, mesmo que seja para descansar os cílios que roçam nas lentes.
Que lindas as folhas vermelhas do bico de papagaio que fala até pelos cotovelos.
Esse talvez seja o instante em que pensamos se os leitores estão no mesmo pique, porém, mesmo assim fazemos nosso pic-nic.
É simples assim, como reciclarmos a maçaneta, ou colarmos a mãe na pérola.
Brinco de brindar com você, no balcão.
Brinco

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Tudo nela


O poder da transformação bonita, ou pelo menos, curiosa.
Ontem ao pegar o meu automóvel no estacionamento, percebi que o marcador das marchas, na maçaneta do câmbio, estava jogado no chão.
Coloquei-o de volta e segui o meu caminho.
Hoje, porém, fui engatar uma marcha e a maçaneta do câmbio esfarelou na minha mão.
A ação do sol e do tempo fizeram-lhe estrago.
Com uma pedra branca, o rosqueador de plástico que sobrou, com olhos de boneca, com cristal e durepox, fiz uma maçaneta nova que está a espera de ser colocada no seu lugar de propriedade.
Olho para a observação de minha mãe, que diz sobre a quantidade de presentes que uma criança ganha, fazendo-a desfazer daqueles presentinhos menores em tamanho.
O ser menor em tamanho, faz com que ela não aprecie os outros valores que a coisinha possa ter.
Tudo é uma questão de perspectiva.
Tudo nela, pra mim é bonito.
Você pode pensar em minha mãe, na criança, na maçaneta, mas de quem estarei eu, falando agora em pensamento e escrita?
Tudo nela, pra mim é bonito

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Na venda do seu quindim


Nenhuma lágrima nos olhos de cortar cebola.
O ano cumpre-se e não promete, afinal, os anos somos nós a cumprir nos instantes aquilo que a gente propõe.
Põe de antemão, acredita.
Adoro mexer a cebola e o alho - picadíssimos - sobre a manteiga derretida na panela comprada às dúzias, do moço que precisava seguir urgente para a Guatemala.
Nem sei se foi pra lá mesmo que o sujeito foi, mas também isso vai do meu gosto particular pelo adjetivo pátrio, guatemalteca.
Adorar aquilo com tanto fervor, no fervo que é ser sorocabano de coração.
De um sorocabanês nem tão forte assim, porém divinamente imitado pela atriz que coloca sutileza e leveza no escracho.Na cidade grande os molhos se juntam num rosê bonito, mexido pela colorista que trabalha a saia com a costureira.
O ano que vem vindo cumprir-se-á no mecanismo de comércio dos tecidos, magicamente adoçados com cores e traços pela dupla que veste e calça.
Ta chovendinho e as telas secam bem devagarinho sobre as vasilhas de sorvete de um quilo

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Doze em doses


Passam doze nuvens por um ano inteiro.
Aquelas nuvens onde encontramos diferentes figuras.
Esse ano, as doze nuvens movimentaram-se de tal forma, que não foram apresentadas apenas doze imagens fixas.
A cada trinta, vinte e oito, ou trinta e um movimentos dessas manchas brancas celestes, uma nova figura mágica foi transparecendo.
Vislumbramos cada uma dessas transformações e hoje brincamos de rememorar as mais antigas formas, afinal, não é de hoje que essas formas sussurram coisas nos nossos ouvidos.
Essas coisas são maravilhas que nos são anunciadas nas pedras opalas, nos filetes de ouro encrustrados, nos pedaços de passagens de ônibus que tornam-se objetos animados e mais.
Energia ânima que anima nossos dias, já animados pela sua própria natureza.
As folhas que aparecem verdes no caule de cor seca, remontam ao nosso conhecimento que diz que para cada cor vegetal, existe uma substância associada a esse desenvolvimento.
São lindos os vermelhos dessa empreitada e o termo literal - desenvolver - não cabe nessa embalagem, afinal envolver é tudo o que nos envolve.
No vasinho colocado na nossa janela - moldura das coisas cinzas artificiais - as flores que não são de plástico, não morrem, transformam-se

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O quarto


Olha o terço aqui de novo.
Nova forma de olhar o sujeito que entrou no meu automóvel para tentar uma ligação direta.
Ele deve ter olhado o terço pendurado no espelho e se viu, sem forças para levar o meu meio de transporte, que  hoje me leva para as escolas e meus serviços.
Quebrou a peça que move os faróis, porem quando fui trocá-la no auto elétrico, o moço consertador, mostrou-me a beleza da borboleta conjugada ao chão.
Essa força deve ser muito parecida com essa outra que me fez terminar duas telas numa tacada só.
Pensei em começar pela estrelícia detalhada e assim o fiz.
Pensei em parar por ali, mas não consegui estancar a força que levava os meus olhos para as marcas do pincel nas tintas espalhadas sobre o linho branco.
Antes de tudo isso começar - logo de manhãzinha - eu acordei pensando na definição impossível da arte.
Arte é manifestação humana.
É a nossa reexpressão de qualquer coisa através do grafismo, do pictórico, da modelagem, do movimento, do gesto, dos sons, e de outras coisinhas que interpretam nessas práticas, as coisas que passeiam dentro e fora da gente.
É sabido que existem substâncias de fora, que quando incorporadas, realçam a observação humana dessas coisas.
Desde sempre, tive a certeza que - para mim - a incorporação dessas substâncias seria a interrupção das minhas expressões nativas, fluidas e altamente prazerosas.
Um prazer careta, de um prazer solitário e egoísta.
E é assim que é e vem sendo.
Rio e vibro a toa com a minha mão ouvindo o que a superfície suporta.
Eu, você e as ferramentas nos damos muito bem, nos motivamos e passamos a contar a história que não é soprada nos ouvidos

domingo, 18 de dezembro de 2011

Amor à louça


Isso é mais do que sabido.
Fazer pratos com amor faz com que o seu sabor tenha uma inevitável verosimilhança com sua imagem bela e doce.
O lagarto frito, agora cozinha na pressão.
Sem pressão alguma, as partes vão se mutando para caminhos ainda mais saborosos, de maneira que a poesia dos instantes, desenhe e pinte na louça - antes branquinha - arabescos simbólicos relativos ao espírito mágico dessas coisas.
O colli disse no livro - o que é arte?:
Eu não poderia escrever esse livro sobre o conceito da arte, senão a partir dos produtos dos artistas.
Da mesma maneira, os atos amorosos não são o amor exatamente.
Eles são produtos desse caráter que mora na profundeza dos seres que são vivos e na      vivência, amam.
A mesa está posta e sempre enfeitada com essas coisas bonitas que vêm dos dispostos a disporem do seu tempo e das suas coisas, arranjando-as de forma lúdica e metamorfa.
Eu prefiro ser essa esquicitice ambulante, do que não reparar que a superfície da direção do automóvel é desgastada ao longo de um vasto espaço de tempo.
Um tempo que é dividido em instantes, todos eles preenchidos com leves toques das mãos roçando sutilmente a superfície.
O toque amoroso não desgasta e nem precisa - no futuro - de uma capa, que tenha a pretenção de proteger alguma coisa que o depertença

sábado, 17 de dezembro de 2011

Na minha frente


Afirmam que deve-se empinar o nariz para falar com os superiores, afinal, pensa-se que eles apreciam esse tipo de atitude, parecida com a de muitos deles.
Penso que não consigo desempenhar essa função.
Também não estou disposto a emprenhar essa função.
Não faz parte do meu biopsicotipo, embora essas coisas sejam passíveis de mutações ao longo dessa jornada expressiva sobre este chão batido.
Não estou disposto embora posto, nascido e descoberto.
Disseram-me que eu não devo baixar a cabeça.
Eu olho sempre pra frente, não abaixo a cabeça nem empino o nariz, olho cada vez mais pra frente e para frente, de forma egoísta, apresentando essa minha ética estética.
Pra frente eu só faço o que eu quero fazer e faço porque não posso viver sem fazer.
Coisa de artista pobre de grana e espaço comercial.
Adoro café da manhã de hotel cinco estrelas, principalmente por causa do aroma do lugar, do suco de laranja e do pão mole, por quantas vezes o bantú se dispuser a encher-se e ir além do meu satisfazer-me.
A vontade.
Coisa de pobre de grana, mas que já se regalou um dia no poder do preço das coisinhas.
Meu espírito transborda de alegria com esse apreciar as coisas boas da vida e da vida em abundância.
Quando olhamos para frente, não dá tempo - nem jeito - de empinarmos o nariz ou baixarmos a nossa testa.
Existe todo tipo de gente na minha frente

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Vida e descobertas


O mundo deve descobrir-me, foi o que disseram alguns amigos.
O mundo já me descobriu há cinquenta e dois anos, num treze de maio taurus.
O descobrimento voltou a cobrir-me com um cueiro bem apertado por conta do medo das mães desse tempo.
Medo que afirmava que o movimentar do bebê da gente, provocaria estragos nos membros.
Hoje, talvez nem por isso, faço um movimento para gingar sobre os protocolos, embora ainda ancorado na educação que preza pelo zelo com o bom senso.
Adoro aqueles que ultrapassam esses limites e brincam com o senso e sua bondade.
Aqueles que geram as ações das pedras rolando, as ações que transformam as emoções fortes em música, poesia, e ouras tantas linguagens artísticas.
Eu preciso do tema - da palavra geradora - pra ilustrar essas motivações com pintura, desenho e outras coisas desse tipo, mais suaves e com bela nota.
O mundo da gente se redescobre dia a dia e nós vamos descobrindo uma a uma, as pessoas que vão nos ajudando a imaginar, inventar e dar muitas voltas por cima, por baixo e pelos lados.
Assim se faz o meu jogo de cintura que dispensa a amarração do cinto, já que o que sinto voa e plana por aí

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Vigas mestras e discípulas



Hoje li a coluna de um filósofo.
Sem favor, leia você também.
O texto está grudado numa das páginas do jornal folha de são paulo, na ilustrada, pensado e grafado pelo pondé.
Fala do nosso desejo infindável e traiçoeiro.
Ele - o desejo - nos trai.
Ele fala que a recusa em abrir mão do nosso próprio desejo em favor de algo maior, destruiu a noção de caráter.
Falo agora de uma característica peculiar, egoísta, artística.
Eu estava a cinco minutos atrás arrumando um pequeno terço - presente de minha mãe - que fica aplicado no espelho do meu automóvel.
Pensei que não posso andar com o cotovelo para fora do vidro, pois dessa forma, terei participação num acidente automobilístico - esse é um fazer mágico que me transpassa o meu pensamento de vez em quando.
Mágica consciente e pouco provável que aconteça.
O fato da marginal da rodovia ter velocidade máxima de sessenta quilómetros não está em questão.
O fato é que via-se ao longe os carros quase parados.
Parado eu fiquei por um minuto inteiro, terminando de prender o tercinho com o araminho de fechar o plástico do pão quadrado.
Um minuto depois, três carros atrás de mim, colidiram.
O que estava logo atrás do meu carrinho, depois de ser abalroado, conseguiu frear.
Eu desejo acreditar nessas mágicas além dos pequenos quereres, acreditando nesse algo maior e meditando sobre ele.
Algo maior que eu é a necessidade do outro.
Vejo com clareza que é necessária a troca de afeto e carinho, é necessário um beijo e principalmente um abraço bem dado, doado sem fronteiras.
Egoismo meu o abraçar sentindo a energia carregada desprender-se de mim sem ser impregnado no outro.
A energia foice.
Ceifamos a carga alterada para mais.
O outro e o algo maior.
O outro e a crença mágica.
Nossos desejos trocados, ficando menores do que dantes.
O outro e eu, você e nosotros

sábado, 10 de dezembro de 2011

Essa


A vida é essa.
Essa com a qual enxergo as folhas vermelhas de um vermelho flor.
Essa cujo instante me aproxima do pêssego e permite que eu me aproxime de você e do relógio que o menino postou na foto do perfil.
Aquela frase que diz que parente a gente não escolhe me deixa a escolha de colher mais vida: nessa.
Essa semana a menina disse também que só acreditava nessa vida, até se casar com um macumbeiro.
Achei graça na graça do santo.
Energia pura - essa que essa vida impõe - assim como aquela que com as mãos impostas a gente cura.
Duramos instantaneamente na cura instantânea que gruda/cicatrizando todos os instantes.
É num instante como esse, que eu dei responsabilidade à velhice pelo fato de ter lido duas vezes a mesma frase.
O que me fez olhar para a meninada representando e depois olhar rapidamente para o papel onde estava escrito o texto, foi o instante referente ao suposto erro.
Um dia depois fui entender porque a menina perguntou se eu queria que ela imprimisse o texto com letras maiores.
O local da leitura tinha pouquíssima luz e eu troquei os óculos para ficar mais bonito.
Essa é a vida - muitas e muitas vezes - improvisada e bela.
Bela é a vida e não eu.
Eu instantaneamente viro nós, no meu mais integral egoismo ínstimo






Foto de Sandra Maria Della Nina

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Calorento


Na verdade.
A menina acha muita coisa bonita porque ela não contém toda a delicadeza que o jardim interno dela contém.
Na verdade não cabe a mentira.
A mente em tiras, tira a nossa capacidade de interagir com as partes e parte de nós se corrompe quando elas não se comunicam.
É assim que a verdade dói.
Dói quando desaparece e desaparece não porque dói.
Tiras separadas são paralelas e, portanto, jamais são justapostas, sobrepostas, ou encontram-se num abraço.
O barulho externo dos meninos foi substituído pela concentração em cada gesto.
Havia um interesse no tic tac do tempo e eles não podiam errar a marcação.
Não podiam na verdade deles, eu mesmo errei, quando repeti a minha fala e dei a desculpa que se tratava da minha idade avançada, afinal, no começo da apresentação eu disse que seria a versão idosa dos meninos e meninas que estavam se apresentando.
A moral da história do livro surrealista é que a gente mais velha não deve perder-se do menino que habita dentro.
Digo apenas que faço muitas coisas relativas à arte durante todo um dia, porque não consigo ficar sem fazer.
Uma verdade aparece sobre a outra e mais outra e mais uma e assim o que era a manga fruta, vira manga da camisa. 
Essa que eu avisto daqui, mas que não visto agora, devido ao calor que faz - mesmo sem mangas

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Caudas novas



Vida bela essa que transcende as coisas visíveis.
Desde bem cedo, hoje eu andei pensando no que falar sem parar, para representar o surrealismo que existe no livro trabalhado pela turma durante o ano.
A ideia é produzir um filmezinho com as imagens se relacionando com as palavras ditas e gravadas.
Pensei em gravar direto, sem parar um só instante, falando, falando, falando, partindo do relacionamento da maçã com a maçã do rosto.
Como diria meu amigo joão: O lado sul do real.
Quantos lados tem a figura geométrica que não possui diagonais?
Talvez fosse melhor colocar o substantivo no singular:
Diagonal.
Para que não haja dúvida num mundo onde os adultos perguntam se o inferior fica para cima, ou para baixo.
Também nesse sentido o superior manda sempre.
Manda e desmanda, fala e desfala, perguntando apenas quanto se ganha quando a falcatrua crua, escondida aparece em oportunidade.
Oportunidade de ouro para enganar e desobedecer a desordem benevolente que acredita em tudo.
Tenho pena até da mocinha do call center.
E é essa a pena que enfeita a cauda do povão que o piano de cauda representa em sons.
É essa a pena que se solta da cauda do pavão que evolui na passarela.
Os sons feitos com o gosto do pêssego em calda, estacionado sobre o piano de cauda, fazem parte importante das bonitezas do instante, que mostra a fluência do processo

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Pequeno tênis envolvendo a tese


Uma festa dos pequeninos.
Uns mini pezinhos nuns calçados mais mini ainda.
Daqui dava pra ver quem sorria fácil e desta forma, dançava com a cabeça e com o corpinho todo.
O mote era um elefante diferente, xadrez de um xadrez colorido.
Quando ia ser diferente dos outros cheios de cores, virava cinza.
Não virava cinzas, apenas cinza - e os meninos que sorriem já são os diferentes, xadrezes.
Imaginem se outro dia atrás a gente ia ver um joelho metalizado, uma prótese.
A dor não vai doer mais, o que vai mover é uma parte embebida na outra, numa rotina de músculos em movimento.
Quando o amigo do meu pai falou-lhe que os joelhos dele também doíam mas ele jamais iria operá-los - meu pai deu de ombros - queria andar melhor pelos canais da televisão.
Colocou, sem querência é claro, uma bactéria no metal e por dentro.
Resolveu que não ia mais doer e ficamos com a sua lembrança dançante.
Ele ainda é muito engraçado e colabora muito com a nossa diária graça.
As pessoas são xadrezes e coloridas tal qual um acolchoado costurando quadrados, cada qual de uma cor.
Eu ia dizer que a matemática das cores é diferente tal e qual, mas não disse, escrevo, cravo:
Um vermelho mais um azul é igual - a um roxinho.
Eu não fico roxo de raiva, talvez fique roxo de flor de batata doce.
O que o povo viu num cobertor xadrez?
Viu primeiro o cobertor, depois viu as cores, depois o xadrez, as linhas, a laranja, o peão e o bispo.
E teve quem não viu nada e no nada que viu, viu um mundo cinza, nas cinzas que as coisas coloridas se misturam depois de queimadas no azeite da inquietude.
Cinza também é cor e cor das boas, é cor igual a da bactéria que a gente não vê mas existe.
Bactéria boa de gerar pesquisa.
Quero ter esse baque etéreo da música que vem assim, voando ao redor do instante.
Na instantânea diferença de cada um, que tendo a paciência pra ouvir sorrindo, tende a ser paciente de um hospitaleiro doutor em causas

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Batoques

O espaço eterno de um abraço.
O instante desse gesto fervoroso.
Aconchego quente, onde os espíritos se misturam.
Eu escrevo pelo simples fato de experimentar o uso das palavras para alertar a importância do atar.
Ato porque atas também e porque é prerrogativa das orações dos que creem no poder do afeto.
Gosto muito de tudo isso e do espaço que gruda.
É diferente do velcro, onde um é positivo e o outro negativo.
Ambos são positivos no abraço.
O negativo desabraça, beija o ar e infeliz, olha para o próprio desespero.
Tempera em mim o seu perfume que mistura-se a tudo isso que foi descrito.
O espírito é perfumoso.
De um aroma fino, que aparenta-se conosco nesse toque dos tambores.
Ouvimos encantados, o som do batuque esquerdo

domingo, 4 de dezembro de 2011

Camisa longa


Um dia e um instante que nos deixa com fome.
Uma fome que perdura, enquanto andamos com sacolas nas mãos.
Esperamos na conversa, sentados em cadeiras de madeira, vendo as pessoas e os nomes dos cavalos sendo pronunciados dentro do cilindro horizontal.
Nunca estive antes no local famoso, onde os equinos banham-se expostos às mangueiras.
Havia também aquelas que são árvores frutíferas, compondo um corredor bonito, com seus verdes indo embora em perspectiva.
A massa fina nos encheu o aparelho digestório e depois ganhamos a tarde com aquilo que nos foi ofertado pela amizade e pelo trabalho.
O nome revestiu com jornal a base de mdf e cobriu a bancada com vidro transparente.
O ícone popular foi revisto várias vezes de múltiplas formas, sempre impresso sobre páginas de livros antigos.
Foi bom ver essas páginas, sem estampa alguma, serem coladas nas paredes e no teto, tal qual a ideia sobre a qual comentei na sala de aula na semana passada: Quero ter uma parede para colar todos os presentes feitos em papel sulfite A4 que ganhei nesses trinta anos de troca com os queridos.
Tudo é bom quando pensa-se no momento que é mágico.
Mágico é o instante que receberá de presente um seguinte que será o primeiro, trazendo um segundo na manga esquerda longa da camisa branca

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Perfumante


O instantâneo do amor é realidade pura, quando a gente ri, ou chora a toa.
As vezes o choro nem é tão a toa assim.
Choramos com certa dor, quando o amor é chamado à lembrança.
Quando é resgatado do fundo.
A pessoa amada não está presente por algum motivo, seja o motivo, ele qual for.
O filme indiano mostrou o moço amoroso beijando a cicatriz da amada.
Beijar cicatrizes é tarefa primeira do amoroso.
O romantismo tende a ser refinado e doce com as cicatrizes e até com os cortes que ainda sangram daqueles que são amados.
Também por isso o amor é conjugado no plural.
O conjugar, o amalgamar, o juntar com, não é essencial ao ato amoroso, ele é o ato amoroso.
O fato de não se amar sozinho já é bastante propagado através da fala e da escrita e é profundamente uma dita verdadeira.
O amar conjuga-se, faz-se com o outro e esse fazer é uma ação amorosa e não amante.
Tenho quase certeza que é ato da razão, embora tenha carga de emoção extraordinária.
O que há é o espírito, por isso diz-se que o espírito é santo.
O amor é santo, de tal forma que o malfeitor ama, em algum determinado instante, tenha o instante, a medida que tenha.
O amor é essa coisa bonita que nos faz baú poroso de guarda.
Guardamos para que nos sobre mais para multiplicarmos bastante pelos buraquinhos da pele perfumada

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

As coisas vão aparecendo sobre as manchas e entre elas.
Elas aparecem e com paciência, o espectador da obra pintada e desenhada vai interagir e alimentar o seu arsenal interior de imagens, para que possa gerar mais conhecimento, conjugando-as com aquelas que já possui dentro e bem fundo.
O que é de dentro vai ser exposto na medida das ações que possam gerar a partir desse processo de apreciação.
Também participo desse processo pós fato, já que é para mim, impossível não rever e ver outras figuras saltitando pelo plano pensado definitivo.
Na nossa história humana e bela, nem isso tudo é definitivo.
Dúvida é luz.
Definitivo - sem a menor sombra produzida por alguma dúvida - é o amor que tudo isso calça e causa, tão fundo e bem dentro

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Pedagogicamente assim


A pedagogia do esquecimento.
Informa-mo-nos e esquecemos rapidamente aquilo que passa e passa num instante.
Instantâneo.
Agimos no instante brevemente posterior à informação.
Reagimos à ela num zás.
O zás que vai tornando-se esquecimento sublime, de tão guardado no fundo que fica.
Todas as informações são guardadas na máquina computadorizada - cabendo num chip - item por item.
A nossa máquina cerebral esquece.
Guarda e esquece.
O esquecer é essencial para que possamos seguir fazendo e acontecendo a partir de alguma coisa boa, alguma coisa que tenha uma beleza, uma superfície bonita.
Aquilo que se lembra vindo do bem fundo, pode gerar insegurança, tristeza, feiura.
Lembramos por pirraça, por înveja, ciúme, agredindo as coisas da gente, impulsionando os sentidos para agredir o que é do outro.
Esquecer faz sentido, mesmo que pareça politicamente incorreto.
Com certeza, os espertalhões contam com o esquecimento da gente para tirarem proveito de todas as situações que lhes possam gerar renda.
O fazer os pontos da rendeira é instintivo, muito mais do que lembrança, já que ela vai pontuando como aprendeu a andar com bicicleta.
Os espertalhões contam com o esquecimento.
Eu me esqueço no presente, me esqueço no instante, esqueço-me egoista.
Dizem que as coisas guardadas aparecem em forma de doenças e de protuberâncias na pele e nos órgãos.
Dizem, pesquisam, lembram e para não esquecerem, publicam.
Também publicam para que a gente se lembre e possa explorar num momento de inspiração falante.
O dizer é a pedagogia do zás, fazedora e acontecitória.
Quero me esquecer assim, vendo além da janela da parede monetária, enxergando além das coisas que as nuvens mostram, olhando para a história contada pela sua pele, esquecendo-me mais velho e mais moço, esquecendo-me no desenho da minha camiseta que hoje é minhoca pisada e amanhã será paralelepípedo 

domingo, 27 de novembro de 2011

O pano vive e reina


Acabo de enrolar um tecido pintado com as cores das fábulas.
O desenrolar do pano vai trazer a chance de novas figuras saltarem do seu silêncio predisposto.
Não nos vemos ainda, já que vejo apenas o verso do tecido em reviravolta cilíndrica.
Sem pressa, a caneta fará a parte dos contornos pretos.
Vou guiar a minha mão abrindo caminho para a passagem das coisas.
Um canal de seiva densa e bruta, já que leva o sangue original de cada peça.
Não saberei jamais como se dá esse processo de surgimento dos seres, que agora tornam-se representados, mas isso é apenas curioso e eu julgo menos importante.
O que importa mesmo é a exportação dos seres.
A partir do instante que aprecem em detalhes e contornos, serão para sempre lembrados, vivendo nesse novo plano.
Meu plano é que o vagaroso desenrolar do rolo, produza um resultado final com harmonia entre as partes.
Quiçá possamos também nós, sermos muito equilibrados nessa composição terrestre, onde nos dispomos com bermudas, calças, vestidos, meias sortidas, túnicas, sapatos, dorsos dos pés, agasalhos, camisetas sem mangas, corações arpoados, mentes brilhantes e doação permanente.
Uma multidão de diferentes, respeitando o espaço justaposto, onde cabe o um e cabe o outro

sábado, 26 de novembro de 2011

A nuvem doura


De vez em quando observo as nuvens.
Na estrada elas adquirem movimento e vão transmutando as figuras que nelas enxergo.
Tenho olhado manchas coloridas, postas na realidade prática por uma figura de beleza fantástica, que trava a batalha pictórica - ela e o tecido - vencendo-se definidora do próprio encanto.
Eu, oficineiro tracista, o que faço a partir dessas formas é apenas deixar aflorar as figuras com os traços pretos feitos à leves penas.
O que fico a pensar curioso, é no desejo que essas figuras têm de aparecer com aquela determinada forma e posição.
Onde estavam antes da maestrina propor as manchas?
Curiosidade minha.
Você vai me dizer que elas estavam no meu cérebro desde sempre.
Dir-te-ei que não.
As sedutoras manchas é que guardam as figuras, uma a uma.
A maioria delas são seres vivos dos reinos, vegetal e animal.
As linhas são como suas vértebras, suas ranhuras e suas menbranas, guardadas por um tempo, até transparecerem para esse mundo visível, o nosso.
A coisa se passa assim, simples encantamento que encanta as figuras nominadas.
Redescoberta da roda, que vez por outra, aparece na mancha.
Corações são compostos pela tinta que doura

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Excretando exercícios


Eis uma equação bem simples.
O nosso sistema capitalista, neo liberal, nos educa para sermos bons consumidores.
Participando de muitas palestras e reuniões, tenho percebido que nós professores, temos o desejo e a necessidade que todos os alunos-sujeitos sejam curiosos, observadores, detalhistas na riqueza que cada coisa sugere, que tenham ânsia pelo saber, sejam estudiosos e aprendedores - portanto - que sejam como professores.
Pensando que a nossa educação passa por problemas complexos, pensei em unir esses dois conceitos, num exercício de imaginação vulgar e alucinada, mesmo sabendo que esses sujeitos terminam a escola básica com dezessete anos.
Nesse exercício simbólico, os sujeitos seriam consumidores de livros, se energizariam com o conhecimento produzido e excretariam revoluções

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Alma urbana


A querida deu-me a alegria de observar que desenhar não é uma tarefa tão simples como eu julgava.
observando uma pergunta da aluna na prova de redação, dei-me conta que escrever também não é tarefa tão fácil.
Deu-me vontade de explicar que para ler um texto o interpretando, é preciso acompanhar o significado de ada palavra e ir aos poucos extrapolando os seus limites significativos.
Devemos nos embrenhar por entre as múltiplas significações dos verbetes usados em sequência e buscar extrair da somatória deles a história que deseja ser contada e praticada.
Por exemplo, se o maluco beleza diz: Eu gosto da cor leite!
O que o maluco quer que a gente faça?
O gosto pode vir do cheiro do gado feminino, assim como o branco da pintura sugerida, pode ser o início de um dia bonito regado a café da manhã com pão na chapa.
A cor leite inspira a nossa necessidade do campo e para isso, é necessário que ele seja pintado no nosso corpo e na nossa alma urbana.
Ontem pus-me a pensar na quantidade de cobertura asfáltica e cerâmica com a qual estamos impermeabilizando o nosso solo.
Anteriormente já foi sítio, ou fazenda.
E pensar que fazenda é um pedaço de tecido para se fazer vestido.
Acabo de tirar meu tênis e colocar meus pés para borbulharem na avenida principal

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Meu erro


Parecemos idiotas.
Lemos cada texto bonito, uns livros difíceis, sabemos umas coisas complicadas e seus porquês.
No final e no meio das contas o que vale mesmo é o quanto vai se ganhar com o comércio das coisas.
Um cinzeiro custa um real, porém na nota vale mil, dólares.
No final e no meio das contas vale o comércio e o lucro.
A produção é para os idiotas do meio inverso.
A produção parece-me valer mais.
A produção de uns traços imaginando figuras sobre uma pintura fantástica.
Tudo isso vale muito, assim como vale um abraço num ribeirinho mulato e magrelo, um aperto de mão no índio vermelho e a auto observação desse artista magrelo, branquelo e enrugadinho, no espelho do banheiro pequeno.
Ver-me mais velho instigou-me a pensar sobre o quanto é importante para o mundo o vale tudo pelo dinheiro e principalmente pela grana mais fácil.
Pensei também na minha necessidade de brincar com as palavras e dizer as coisas que eu acredito.
As coisas da minha crença, sem pecado.
Acredito no bom dia, na elegância e na boa educação.
Uma querida observou que até nas situações que pedem palavrões sonoros, eu falo: Caramba!
Caramba! Eu acredito na idiotice dos que sabem sobre a esperteza dos malfeitores.
Para os malfeitores, os meus erros 

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Dobra que dobra o sino



Dobraduras são mais fáceis quando se vinca bem vincadinho o papel.
Passa-se a unha sobre a dobra, por mais que isso possa causar arrepios.
Vinca-se e a dobra aparece como mágica, num toque, num gesto.
Disse aos meus alunos que ainda era tempo de querer ser curioso na sesxta, ou na sétima série.
Todos passaram a produzir com dobras no papel quadrado, uma pirâmide de base quadrada.
Uma estrela com quatro pontas nasceu de outras duas tiras retangulares, dobradas uma ao contrário da outra.
Os contrários unindo-se para originar a fonte de luz, posta sobre a pirâmide anterior.
A base é a mesma, mas as formas de pintura, soam as mais diversas.
Eu adoro essa forma de trabalhar antiga, onde se parte do modelo.
O que se consegue a partir desse inicial processo, é surpresa em cima de surpresa.
Pudéssemos descrever as várias formas pictóricas e gráficas, ficaríamos felizes para sempre com os resultados.
A felicidade eterna não nos é possível, portanto, fiquemos com os momentos e com a possibilidade constante de imaginarmos inúmeras coisas sem modelo.
A curiosidade vai dar conta dessa empreitada, mesmo que dessa forma ainda paire um modelinho escondido nas entranhas da criação.
Nascemos e desde então nos sujeitamos a sermos sujeitos inspirados pelo que vemos e sentimos por todo corpo.
Do nosso jeito dobramos os materiais que nos são impostos.
Dobro a minha cintura e danço do meu jeito atabalhoado e engraçado.
Danço na sua frente e no seu lado.
Danço de dançar colado.
Colado como a estrela que enfeita a árvore modelada pelo pinheiro.
O meu modelo de conduta pauta-se pelo vinco fora de moda que é a dobra da minha barra.
Dançamos sem movimentar um nada, movimentando tudo

sábado, 19 de novembro de 2011

Calçada larga


Muito ouro talvez nem seja muito.
Cinquenta anos de duração de pares pertinentes.
Pares que andam multiplicando seus afetos na alegria dos sinais: os doze, ou ainda mais.
Leões, touros, peixes, gêmeos sagitariando em aquários, capricórnios escorpinicando as libras das balanças das virgens, áries sem o câncer da discórdia.
Multiplicação dos pães para saciar a fome de semelhança nas diferenças.
Ouro dos sábios.
Reclino e inclino meu rosto sobre o seu colo e o seu ombro para colar meu sinal no seu.
O céu e o seu desenho feito com estrelas motivam os humanos para a interpretação dos mapas daquilo que é sentido mais do que sabido.
Ouro dos sábios.
Peço que as latas sejam meu material de modelagem e que ajam dentro da minha sabedoria.
A minha sapiência do gosto é o papelão e a fita crepe.
Com esses sinais eu faço o impossível para descrever-te na sua quadrimensão.
Papelão e cola com pequenas linhas feitas a pó de ouro.
Assim calças a calçada da minha avenida estreita

quinta-feira, 17 de novembro de 2011


Última aula para a turma do nono ano.
Nessa instituição não haverá mais aula de Arte no próximo ciclo de estudos.
Tecnicamente não estaremos mais juntos na possibilidade oportuna da criação e da utilização dos mecanismos da imaginação.
Ao lembrar-se disso, uma das meninas que eu vi nascer e tive a chance de conviver durante as aulas por oito anos, trouxe à cena a primeira vez que ela me viu.
Naquele dia, entrei na sala onde ela estava sentada num círculo de amigos da sala da pré escola e cantei uma canção - inventada na hora - que falava sobre a matemática que estava escrita na lousa.
Contei rapidamente para os alunos sentados perto da gente que numa festa de formatura do terceiro ano, um aluno do primeiro ano do ensino médio me encontrou e cantou uma música que eu não lembrava.
Nem a melodia, nem a letra.
Ela cantou a música inteira.
Falava de uma galinha inventora.
Enquanto ele cantava lembrei-me das cadeirinhas da saletinha do pré na escola de Campinas.
O aluno, agora grande, não esqueceu da canção composta quando ele era bem pequeno.
Fomos todos pequenos e agora crescemos, num salto gigante entre a fantasia fabulosa e fábula fantástica, que  representa tão bem a nossa entrega total aos fatos todos e não só esses

quarta-feira, 16 de novembro de 2011



Eu estava andando sobre a calçada.
Um pássaro atravessou a minha frente num voo rasante e foi embora para o outro lado da rua.
Logo pensei em descrever essa cena nesse texto.
O pássaro veio de um terreno sem construção entre tantos prédios, estacionamentos, bancos e lanchonetes.
Gosto de imaginar vocês visualizando a cena em sua magnitude fabulosa e espetacular.
Um zás de pássaro me fez imaginar que se eu estivesse um metro a frente, o passarinho tinha acertado a minha face esquerda.
E lá iríamos nós, eu e o pássaro, voando e brincando de atravessar avenidas

terça-feira, 15 de novembro de 2011


Você estava nascendo e ele já tinha uma lambretta.
Esse você pode ser eu, pode ser você, o que importa é que ele tinha uma lambretta e já desenhava com nanquim.
Hoje podemos ler e o lemos.
Ele já fazia composições com efeitos ópticos, sangrando as figuras pretas e revelando quadrados e ratângulos justapostos.
Seus desenhos e pinturas foram usados para estampar tecidos que embrulham pessoas com beleza colorida.
Essa beleza que é dolorida de uma dor intuitiva e prazerosa para quem a vê de longe, de perto e nunca tão dentro.
A beleza mais pra dentro é uma beleza desnecessária, na medida que é uma beleza que já o é deus de sempre.
A beleza da lambretta é uma das que vai e vem e vai e volta.
Volta a ser beleza na velhice do ser que pinta e que encanta novamente com as justaposições e sobreposições das camadas de tinta.
Achei bonita a última camada que emoldura a figura abstrata, agora escolhida.
O cineasta espanhol nos ensina e lemos bandeiras, paredes e piel.
Se gostas tanto dele deverias vestí-lo.
Estou achando bonito descrever uns traços sobre a pintura bela que atrai as linhas.
São elas ali, vestindo, habitando a pele da pintura

sábado, 12 de novembro de 2011

A predileção


Um menininho ao ver numa sala pequena um monte de placas de papelão, perpendiculares ao chão e desenhadas com traços pretos formando figuras, revelou:
Tia, é assim que você aprende a contar as suas histórias, né?
Conseguem imaginar a quantidade de histórias que passou pela cabeça dele para que proclamasse essa frase em alto e bom som?
Parece aquele outro menininho que ao ver a demolição de uma casa, exclamou para o pai:
Papai, estão construindo um terreno.
Essas são as mágicas revelações surgidas da racionalidade humana.
A razão que suporta a tese que a casa tem quatro paredes, um chão e um teto.
Sim, existe o terreno, a casa, as placas de papelão, o peixe, a jabuticaba, a dona benta e a benção que é extrapolar o limite do significado de cada uma dessas coisas.
A casa se casa com as placas que casam-se com o B da benta, que encanta-se com os peixes que desfilam pelo riacho onde a narizinho reina.
Assim revela-se o dia em que as coisas abrem toda a possibilidade para serem redescobertas e reconhecidas.
O reconhecimento se faz na medida que as nossas antenas, sintonizadas deus de sempre, casam o preto com o preto e com o brilho que o preto tem

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Coelhos e cartolas

Uma folha de papel totalmente preenchida com texturas diversas, grafadas pelo atrito do grafite com chão, parede, muretas, pastilhas, moedas e outras coisinhas mais.
Sobre essa nova superfície impressa no papel, desenhamos e colorimos com uma camada suave da matéira do lápis de cor.
Quanta informação pode guardar uma superfície áspera?
Saltar aos olhos as figuras decorrentes dessa impregnação, depende de uma região específica do cérebro.
Parece que foi assim que o senhor Michelangelo já previa a figura dentro do bloco de mármore.
Antevendo a figura, ele apenas retirava da pedra aquilo que restava e sobrava a peça.
Já o menino de Vince, via as figuras saltando das manchas de bolor nas paredes e nós,  pertencentes a essa vida bem vivida, vemos figurar as coisas nas densas nuvens que vagam  pelo céu que nos cobre.
Dar o mínimo de atenção para quem não tem nenhuma, já ajuda bastante na providência de um sorriso, durante o dobrar das folhas quadradas que almejam ser um sólido estrelado.
Estrelar a solidez de um sistema líquefeito não é tarefa simples.
Dar um pouco de atenção, já que de atenção dependemos todos, inclusive nós, que atentamos tanto para essas coisas de pouca importância.
Acabei de ver um documentário sobre a pedagogia do oprimido e sua vinculação estreita com a solidariedade, bondade e dedicação ao outro.
O conhecimento depende da necessidade e a necessidade desse sistema quadradinho que nos enquadra, é muito distante da união e muito mais próxima da individualização, do cada um no seu quadrado.
Olho bem de perto a questão estudada e vejo que devo colocar as mão no ombro daquele que olha pro céu e vê um coelho, bem perto da cartola

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Reconhecendo


Alguém me levou a pensar sobre a dificuldade que é dar aulas sobre Arte.
Quero dizer que essa dificuldade não é maior, ou menor do que ensinar matemática, ciências, ou língua portuguesa.
É uma dificuldade de natureza diferente.
Diferente por natureza e por desenvolvimento.
Pensei que o que hoje interessa aos que pensam questões para exames seletivos, é a ruptura com a tradição clássica acontecida no final do século dezenove e que propiciou o surgimento das vanguardas no século vinte.
Essa ruptura tirou do artista o peso da aptidão para os trabalhos manuais e gerou a possibilidade da criação de imagens jamais pensadas até então.
O retratar a realidade com maestria deu lugar a sutilezas mentais que transformaram a própria realidade.
A frase de Klee expressa magistralmente essa ideia:
Eu não represento o visível, eu torno visível.
Esse poder de criar uma nova natureza com naturalidade é a essência do que deve ser apresentado e representado às pessoas, no exercício constante da observação sensível de todas as coisas e situações.
Essa capacidade - com certeza auxilia - nos fazeres todos de quem permanece vivo, para transformar tudo aquilo que precisa ser transformado.
Fazer aquilo que a gente já sabe fazer faz tempo, não nos desafia suficientemente no nosso caminhar conhecedor

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Os panos


Visitante nove mil e nove, espelhar na visita.
A visita que fiz ao amigo moldureiro.
Dois pedaços de tecido já pintados e grafados já estão em suas mãos a espera da colocação das madeiras que lhes darão suporte.
Esperam por um bom trabalho, algo que faça com que suas aparições sejam mais sustentadas na verticalidade da mostra.
É uma espécie de gosto.
É uma espécie de rosto.
É uma espécie de espelho refletindo os sinais.
É o de nós sempre posto.
É brilhante e é fosco.
É uma espécie sem vinco é o menos e mais.
Cantarolava isso antes de chegar em casa.
Logo após ter deixado ao largo, os panos.
Uma pessoa, duas, duas faces, humanos, dois cavalos.
Parece-me uma guerreira, algumas, seu dogma posto.
Asas para que te quero?
As cabeças selvagens já descansam numa fisionomia menos feliz, aquela que está estampada naquele que nem de moldura precisa, já que acontecerá na própria parede.
Assim testamos as vinhas, as uvas, os frutos marcados nos panos achados recheados.
Já foram forro de banco em seu teto.
Não desses bancos que usamos para sentar.
Mesmo esses nos são caros, afinal nos colocamos a disposição, recheados com a graça da contemplação.
Daqui de longe vemos o aquário, de perto, sabemos como água fora dos potes

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Receitas a pé


A gente toma um remédio à noite porque ele provoca dores musculares.
Eita frasezinha esquisita que apenas mostra a nossa própria esquisitice.
Quando escrevo a nossa, quero dizer: a minha.
Os tais efeitos colaterais, muitas vezes estão esparramados por todos os meus lados.
Um dos efeitos da minha esquisitice é sempre querer ser efeito, provocar um efeito, ou muitos deles.
Efeito.
Fazer, fazer e fazer mais e não fazer porque o cartaz da faculdade diz: que a gente é aquilo que a gente faz, mas também por isso.
Afinal, a gente é isso mesmo, assim como a filosofia interpreta as coisas que são feitas, a gente aproveita e inventa a nossa filosofia de fazer a transformação.
A mesma instituição de ensino, prega em outro cartaz: Seu futuro sem improviso.
Que chato.
Meu futuro, meu passado e principalmente o meu presente eu quero cheio de improvisos, assim como a cena mais linda do filme do pirata, onde um dos dois soldados mais engraçados diz para o outro:
Ele faz isso planejado, ou improvisa?
Ele sabia que o tal pirata vive de improvisar com graça e poesia, tendo como efeito colateral, mais graça e poesia ainda.
No mesmo filme a mocinha tem uma pequena falha num dos dentes mais no fundo da boca.
O que prova que mesmo na boniteza existe um improviso que faz a diferença necessária à curiosidade.
Ensina-me muito e sabes bem disso, de tal forma que a sua forma de encarar as coisas de forma menos improvisada, me oferece a cartela de cores, para que eu salte do pano à mancha, fazendo florescer na junteza dos nossos sinais a nossa retórica oportuna e bela.
Receitas de doce devem ser seguidas à risca e as dos salgados permitem mais improvisos.
Assim caminhas ensinando-me a rechear as panquecas.
Rechear é uma das múltiplas sabedorias do seu receituário

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Bem hoje


Bem hoje e a pouco lembrei-me de uma notícia particular dita na manhã de ontem.
Ela dizia sobre a morte de uma aluna que estava frequentando o primeiro ano do curso feito na faculdade onde sempre desejou estudar.
O coração.
O coração da menina e o da questão.
Fomos desenhar com flores, eu e minha mãe, um coração sobre a grama que hoje cobre a história do nosso pai.
O do pai já havia feito surpresa ao parar de bater ao lado dela.
O coração e a sua beleza.
Os desenhos tenho guardado, assim como no coração do cérebro guardo as canções líricas em inglês e os textos allan poe, ficção fixada no crer das coisas.
Todos os traços tensos não tensionavam as figuras ditas nos rostos e corpos femininos.
O coração e sempre ele.
O nosso pai já respirava com surpresa quando já respirava novos ares no seu lirismo gracioso.
Bem hoje onde a vida marca presença, me lembro da notícia surpreendente.
A surpresa da morte faz.
O fazer transforma a nossa marca e marca-nos a testa e a fonte.
Façamos pois desse, o momento da corrida que começa na letra cê e espelha-se.
O resultado é um coração só, que não esquece.
Um só coração que alcança viver de dança e dança no viver dos nossos pés e dos nossos braços lembradores


Uma ilustração de Luisa Blascovi

Angélicos


Hoje é dia de celebrar a festa da vida que insiste.
Seu codinome morte, também resiste quando é chamada em plena existência vital.
A morte apelidada no erro, no tropeço, no dedão do pé inchado e no desrespeito a todos os outros que não nos são tão caros.
Existe dificuldade em seguir vivendo satisfazendo aquilo, que tantos outros que estão fora de mim necessitam.
Quando a nossa necessidade não é tão grande assim, a gente pode e deve viver observando reviver na surpresa daqueles que não somos nós mesmos.
Só podemos fazer surpresa para que não é a gente mesmo e assim, muitas vezes, somos surpreendidos.
Surpreendemos quando a nossa vida é um detalhe importante, abraçado à vida do outro.
O nosso abraço fortíssimo nos mostrou uma vida toda de aproximação, carinho e afeto, que estava andando essencialmente junto com os nossos dias, os lindos e os não tão lindos tanto.
Carregados somos com uma energia que assemelha-se àquela da rosa, do jasmim, das folhas, da ovelha e das garças.
Hoje é dia de celebrarmos aquela vida que é essa, é bonita e é também essa, que ainda será mais vida em abundância.
Inspiramos, expiramos e - relaxados na dor - respiramos levitando, na eterna conversa com os anjos

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Ô e Ó

Ô senhorzinho, eu não entendo nenhuma das frases que você escreve no face!
Sou egoista pra caramba.
Sou egoista até o último.
Até o último segundo, até saber amar você.
Pequena letra de canção.
O que isso tem a ver com a última frase da canção do ser?
Qual seja:
Eu quero ser mais do que ter e enxergar em nós, sempre muito mais do que eu e você.
Sim, claro, claríssimo.
É egoismo até o último grau, apenas em dois.
Apenas o outro e a outra, aquele e aquela.
Somos nós dois e mais todo mundo e principalmente aqueles que não sabemos, ou não compreendemos.
Mais do que eu e você.
Eu e tu somos muito mais lindos, beatyfull, ou por que não ousar: Beutiful como quer o espanhol, cheios de boniteza e astúcia.
Somos assim, eu e você, o nosso máximo que quer multiplicar se dividindo, dividindo-se multiplicando beleza no coração de muitos, assim como podem querer também aquele e aquela.
Assim somos além das frases que sempre têm significado factual, ou seja, sempre querem dizer algo e dizem pra ser bem feito.
Não entendido, não há como realizar, mas mesmo assim vai provocando, instigando, gerando a dúvida tão bela e rica.
Chacrinha já ensinava:
Eu vim para confundir, não para explicar.
Eu já adoro explicar:
Leia cada palavra que vem depois da outra e una seus significados.
Pronto, você me lê.
Nos lê.
Nos lê e nos projeta, reflete e multiplica luz

domingo, 30 de outubro de 2011

De fato


Ela é uma amiga da família.
Que frase é essa meu santo antoninho da rocha marmo?
Tem a célula mãe da sociedade.
Tem a amizade embutida.
A frase, mesmo que seja eu a interpretá-la assim, tem tudo isso e muito mais.
Tem ela, a menina, a mãe, a mestra da família, a dona das palavras e das imagens coloridas.
Quisera a autora sabê-la toda assim, toda vale, toda ondulação bonita, toda numa perspectiva infinita.
As pessoas têm visões de dimensões diversas e eu, penso que sou estranho de estranha estampa e órgãos.
É estranho como o que eu penso, penso ser de forma tão óbvia e simples, porém apenas é o que eu penso, afinal, parece claro que os outros observam o que eu penso de forma bem diferente.
Pensam ser mera filosofia.
A frase original me estranha, mas não me assusta.
O que me assusta mesmo é a capacidade do ser humano de ser, em tudo, mais humano ainda.
Assusta-me não poder imaginar outra forma que não seja transcender um pouco, o limite do humanismo, acendendo um romantismo lírico e factual.
O fato é que você está mais próxima de todo esse encantamento do que a minha vã filosofia.
O fato és

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Prolixo


Isso é arte, não é lixo.
Frase dita por uma menina, ao ouvir a outra amiga artista perguntar quantas árvores haviam sido derrubadas para se fazer um objeto grande, com dobraduras feitas sobre vinte e quatro quadrados de papel.
A peça chama-se rosa mágica.
O mágico engano foi pensar em desmatamento desmedido para a fabricação de papel.
O meio ambiente sofre e sofre por mais de mil motivos, mas é certo que não sofrerá mais, depois do surgimento de uma rosa mágica que já foi transformada em tartarugas, ciclopes, flores outras, outras estrelas e mais tantas coisas que os ambientes internos das pessoas propiciou aos sete ventos externos.
Você deve estar pensando como uma menina artista pode pensar - nessa hora - em desmatamento criminoso e não na produção artística?
Como todos os miúdos - desse tempo preocupado com a sustentabilidade - ela ouviu repetidamente essa história real do desmatamento para a produção de celulose, mas esqueceu-se que há a necessidade legal do replantio.
Ninguém se esqueceu - da mesma forma - dos burlares de leis que existem nesse país e no mundo inteiro.
Complexo entrave mental da aprendizagem e do ensino.
Isso é arte, não lixo, parece coisa de prolixo que fala pelos cotovelos, mas parece mais uma lixa, desbastando os exageros das mesmices da fala curta

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Oceano


Quando imaginei escrever esse texto, pensei em escrever algo definitivo.
Defino melhor.
Diante de uma cultura violenta em seus mais variados jeitos e faces, imaginei não haver forma de transformá-la em algo mais nobre ou humilde.
Quando se mostra um plano ou programa de boa convivência na escola, colhe-se choro e ranger de dentes.
Quando no centro de ensino e aprendizagem programa-se um trabalho sobre o lixo, colhe-se centenas de papéis jogados nas escadas, papéis de enxugar as mãos nos ralinhos das pias e vasos sanitários abarrotados por toda espécie de dejetos.
Porém, descobri que nada disso é definitivo.
É um momento menos inspirado da gente.
Vai bastar apenas um aperto no botão da descarga.
Não. Não pense nesse botão próprio ao banheiro.
Não.
Uma descarga de fazeres fantásticos e fabulosos, como fantástico e fabuloso é um gesto de carinho e afeto.
Basta,
Basta querer ser um pouco mais gentil e paciente.
Basta.
Basta carregar de um querer irritante e um descarregar de abraços e boas falas.
O povo adora o pânico na televisão superlotado de graça feita com a desgraça dos outros.
O povo adora e doura.
Eu sou povo e não mergulho nessa onda.
Basta.
O masculino dessa basta deve homenagear essa cultura tosca e sangrenta. 
Ao mesmo tempo, no intervalo entre as aulas, duas atrizes, um ator e um texto impecável, reavivam o tema forte e destacam da tragédia uma esperança lúdica, cênica - de possível perseverança.
Quando eu escrevo essas bonitezas, sei que muitos pensam que essas coisinhas são piegas.
Eu digo que são ações possíveis, legítimas e altamente eficazes para a consolidação de uma cultura de paz.
Portanto, não defini nada e tampouco escrevi algo definitivo.
Desejo a você um canteiro arranjado com flores e copinhos de quibe recheados com tabule.
Junto tudo isso a um canto suave nos ouvidos para que você toque o ombro dos tristes.
Vou até meu automóvel - e lá - descansa uma camiseta já usada, mas limpíssima que ofertarei a um sujeito bom de desenho que me agradeceu pela aula simplezinha, ministrada na última segunda.
Vou atravessando esse mar na esperança de encontrar um divisor de águas, para que eu possa multiplicar meus verbos

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Manga verde

Não tendo nada para escrever com graça, tendo a imaginar que escrevo um rio.
Rio nada e rio de achar graça em quase tudo, até no ato de obter retângulos quando foram pedidos quadrados.
O que será da Grécia se os jovens não souberem sobre suas colunas?
O presente de grego é andar mal das pernas no financiamento de suas coisas.
A coluna mestra tem a quarta vértebra quase obscurecendo, mediana de furos e fragilidade.
A nossa fragilidade ante tantas ocupações desnecessárias, mas que saltam os olhos de tanta urgência.
Urge nada, é a gente que pensa e pensa bastante, porém, ao mesmo tempo que pensa, a gente sente.
Sinto calor bastante.
Bastante hoje que não me basto, penso em falar demasiado e ando falando.
Não havia lâmpada boa no banheiro da lanchonete, mas o sanduíche de queijo branco, reluzia.
Luzia de novo e fazia luz forte, saborosa, cheia de branquear mais o queijo.
Minas de energia e agilidade.
No fundo e na superfície, o que vale mesmo é o vale de felicidade que me aproxima.
Bem próximo da sua perspectiva estou eu.
Olhando para dentro do ser, estar e permanecer.
Faz sentido tudo aquilo que pensamos.
Faz e doa sentido, sem doer nem um milímetro.
Talvez doa o joelho e as costas.
A costa atlântica nos aproxima do portão de espelhos.
O nosso espelhar ligeiro reza sem ser lenda ou fábula.
É fabulosa a aptidão que temos ao desenharmos os mapas das testas.
Que linda essas linhas que nós temos, ramificando a história de tudo o que pensamos e sentimos pelo terceiro olho.
Olho entre as vidraças e você está tocando meu ombro, bem no toquinho da manga curta, da camiseta filha

domingo, 23 de outubro de 2011

Noel


E a menininha disse ao pai, moço simples de falar bem mais simples ainda:
Não minta, me dizendo que papai noel não existe!
As coisas existem e insistem na nossa cabeça memorial.
Eu falava sobre análise psicológica e a sua aptidão para tal empreitada e a ideia já havia, calcificada em ti.
Havia por um cálcio independente, maleável, moldado pelo tempo da experiência.
Depois de tantos anos, só no ano passado tive a visão da psicanálise como a cura pela fala.
Escutemos pois.
Acho crível escutar pelos olhos, afinal os visuais enxergam a história interna das coisas.
A historieta da maçã dentro da cesta de frutas, que passou pela macieira e pelo chão coberto de folhas, muito antes de alcançar a mão do atravessador.
A banca da feira conta, sem rodeios, que a moça sem dinheiro alcançou a fruta, antes de levar a mão ao bolso.
Suas mãos - bem antes - haviam acariciado a própria barriga, essa muda dependência de gêmeos.
A fala imagética dos monitores já nem impressionam mais, tal a veracidade dos fatos e suas violências explícitas, na carne dos fatos.
Viagem artística?
Apenas mais uma contemplação da ideia que alia percepções até encontrar mais equilíbrio.
Penso que viemos pra cá pra manejarmos nossas ações de múltiplos sentidos no sentido de acareciarmos esse efêmero equilibrar dos nossos pratos.
Os pratos dos outros nos interessam por demais e é dessa forma que formatas a confecção de uma imensa escultura em movimento.
Aquela que movimenta-se pelo assentar do outro e de si mesma.
Um acentuar de vida, na vida que é tão bonita de ser sentida, sonhada e energizada de raciocínio.
Um semear seu, que espera e almeja ver maçãs.
Uma voracidade, uma vontade e a capacidade de ver além da casca.
Esse poder que tens de não desacreditar de um noel que é a mescla do pai com seu espírito

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Pedas


A avenida tem nome de santo.
Nessa São Paulo estão podadas - uma a uma - as árvores todas.
Os fios da contemporaneidade estão vencendo de goleada as belezas dos galhos das frondosas.
A poda pode com tudo, poda de pés de qualquer coisa.
Vão podando nossas asas, nossos galhos, nossa possibilidade crítica e até a nossa vontade de contestar o fato de termos bactérias nos infectando.
De tudo um pouco, acabei de participar da experiência de professar com o professor da história e nossos alunos em comum.
Professamos sobre a bossa nova, sobre o samba das comunidades e o samba paulista.
Claramente não foi apenas sobre essas coisas que versamos sobre.
A docilidade, o encanto, os gestos, as frases, o capitalismo, o jazz e parangolés, dançaram em tema e gracejo.
Tudo versado na base da sensibilidade, do improviso consciente e na participação de ex alunos - esses - que são companheiros de viagem e divertimento emocional até sempre.
A saída desse episódio foi a entrada de todos no desenvolvimento da série.
Que venha a tropicália e todas as invenções de tons, de zés e da gente que tem implicância com o marasmo.
A sua voz foi citada em todos os momentos e instantes de reflexão sobre o trabalho e sobre os pés das coisas.
O teste dos pezinhos.
Trabalhamos na causa da vitalidade, da mágica e do raciocínio.
Trabalhamos na sensível diferença entre uma pergunta lisa e uma resposta um pouco mais rugosa.
A superfície rasgada da conversa sem poda, evoca e assume a internalização do decodificado

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Asas retratos


Prefiro a fotografia ao vídeo.
Refiro-me ao momento do estático e a sua propriedade de termos mais tempo para uma observação mais apurada.
O fundo ali, preparado para transparecer um outro rosto, uma maçã, uma estátua chinesa, um doce.
As imagens em sequência merecem uma atenção repetitiva que tem um outro tipo de encantamento.
O fato é que meu irmão mais moço guardou todas as fotos do nosso pai, juntamente com seus porta retratos. 
Colocou num baú especial, num esconderijo rígido, planos de madeira e gaveta.
Também é fato que achei - pra mim - desnecessária medida.
Outro dia mesmo, observando a foto da familiagem toda reunida, vi o sujeito ali - sorriso exposto - me pedindo uma música.
Toquei-lhe o pedido e toquei.
Retoquei a foto que tinha na cabeça.
Aquela imagem do momento em que o juiz punha um ponto final na partida do palmeiras, num momento raro de vitória, onde eu e ele tocávamos as palmas das nossas mãos em sintonia de sinal.
Toquei as cordas do violão e lembrei-me dos toques da sua mão na minha mão.
Mamão com açúcar.
O fato é que a foto é um registro em papel de um registro mais sublime.
Julguei a medida desnecessária, mas respeito o gesto, gestando ainda mais em mim, a sua imagem perpétua no nosso caminhar direto para casa.
A sua imagem também é a sua, perpétua.
Você que ainda caminha comigo e conosco nessa trajetória familiar, compartilha a mesma rede de energia cosmética, bela e univérsica.
Nós que ainda nos temos a todos, recorremos diariamente à lembrança braçal da fala firme e do toque berrante.
Fizeram questão de fotografar-lhe o reduto de filtragem e - até ali - encontraram preciosas pedras.
Gaveta não tem propriedade no nosso território. 
Reunimos a tropa toda para fotografarmos os detalhes e colocarmos tudo nos nossos asas retratos